sábado, 23 de janeiro de 2016

Sou uma bola de berlim

É um dos discursos mais conhecidos de Kennedy, juntamente com o também célebre "ask not what your country can do for you, ask what you can do for your country". Em plena Guerra Fria, JFK diz ao lado do Muro de Berlim "ich bin ein Berliner", para gáudio da multidão que o ouvia, uma frase que, nos dias de hoje, certamente seria catalogada de viral.

O que o Presidente americano provavelmente não esperaria, assim como os assessores e tradutores que o ajudaram a preparar-se: a piada em torno da possibilidade de interpretação daquela frase como "eu sou uma bola de Berlim". O alegado teria, inclusivamente, suscitado uma gargalhada por parte da multidão que assistia ao discurso - algo que se pode confirmar no filme infra que não é verdade, o riso vem depois de Kennedy brincar, ao dizer que agradece ao tradutor por lhe traduzir a frase em alemão.

É certo que a palavra "Berliner" pode ser utilizada para designar aquilo que nós designaríamos por "bola de berlim", embora normalmente no caso alemão tenham doce no interior em vez daquele creme amarelo. O termo é utilizado em algumas regiões da Alemanha mas não em Berlim, onde a iguaria é designada por "Pfannkuchen". Mas, para além deste possível segundo sentido da palavra "Berliner", esta acepção culinária da frase teria sido induzida pela utilização do artigo indefinido "ein".

Segundo os entendidos, a polémica é infundada, e a frase do ex-Presidente americano está totalmente correcta. Enquanto um berlinense diria "ich bin Berliner", i.e., sem a utilização do artigo indefinido "ein", esta mesma frase não deveria ser usada por Kennedy, uma vez que ele não era, de facto, Berlinense. Seria o equivalente da frase "eu sou lisboeta" dito por um pouco convincente natural da Baviera. Ao invés, a utilização do pronome "ein" abre portas a uma interpretação da frase menos literal, mais próxima de "sinto-me como um berlinense" ou "sinto-me como um de vós", que era de facto o que queria veicular naquele discurso e aquilo que também poderíamos depreender da frase "eu sou um lisboeta" - embora o português me pareça menos preciso que o alemão neste exemplo.

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