sábado, 10 de agosto de 2013

Raquetada na atmosfera

Andam para aí umas raquetes que não servem para jogar ténis – ou qualquer outro tipo de actividade desportivo-lúdica que consista em acertar numa bola. Fui alertado há dias para a sua existência: são, ao que parece, uma invenção chinesa com o intuito de matar mosquitos. Só há dias pude comprovar que não se trata de um mito urbano. Sentado à mesa de um restaurante sino-japonês – buffet de sushi e comida chinesa, chá verde e gorjeta superior a dez por cento do montante pela módica quantia de dez euros – quando vejo uma das senhoras orientais e de pronúncia impossível a dar raquetadas no ar. A primeira sensação é de que se trata de um musculado e viril jogo de wii. Movimentos repentinos, acutilantes, rápidos. E aparentemente também certeiros. Acontece que, sempre que o alvo é abatido, um som crocante anuncia a morte do insecto urbi et orbi. Foi esse mesmo som que me fez relembrar o relato da existência das ditas raquetes e afastou da minha mente a possibilidade da consola de jogos. (Teria sido giro no entanto observar aquela actividade sem que me tivesse sido transmitida anteriormente a existência do objecto.)

Não sei se a raquetes estão na moda mas é provável. Há dias, numa rua onde uma horda de funcionários de um call-centre costuma estacionar a fumar como se não houvesse amanhã, dois deles entretinham-se a jogar com raquetes de praia no passeio. O desafio (ou compromisso como dizem na Eurosport) decorria para júbilo e gáudio de alguns dos demais colegas e para irritação e indignação (onde é que já se viu, disse a senhora que ia à minha frente) de transeuntes que, como eu, viram a sua migração pendular não-motorizada dificultada e, porque não dizê-lo, a própria existência ameaçada por uma bola de borracha escura em manifesto excesso de velocidade.

Ainda bem que sobrevivi porque tudo isto me leva a pensar noutra possibilidade de combinar todos estes elementos – jogar com as raquetes de matar moscas na praia. No actual contexto, mais do que um divertimento estival, parece um desígnio nacional.

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