sábado, 13 de julho de 2013

Sobem a rua os dois, todas as manhãs.

Ele é alto e cheiinho, a ficar careca, dentes de fumador. Tem um andar um pouco desengonçado, como se o fato o estivesse a incomodar e a dificultar a deslocação. Ela tem um cabelo castanho ondulado, uns olhos claros e uma cara suave sem grandes traços, daquelas que facilmente se podem encaixar em diferentes mulheres.

Não os conheço de lado nenhum excepto nesta circunstância e, ainda assim, é como se já os conhecesse. Às vezes conversam, rua acima, como velhos amigos que se encontram após uma longa ausência. Outras vezes, a maior parte das vezes, rendem-se à falta de tema que ocupe aqueles instantes e caminham mecanicamente, olhos na calçada.

Mesmo nesse silêncio que me parece incómodo, sinto-os cómodos um com o outro. Ele é calmo, a calma dele é a solidez que ela vê nele – ela sabe que pode contar com ele. E ele tem tudo o que quer, que é saber que no dia seguinte ela vai voltar a subir a rua ao lado dele.

É esse conforto que os une nessa incómoda caminhada silenciosa.

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