terça-feira, 13 de novembro de 2012

Norte

Os quilómetros são mais ou menos cem e, de repente, a placa indica menos, muito menos, setenta talvez. Há um momento de alguma incompreensão – será que vi mal? – mas depois vêm à memória uma outra placa, algures entre estas duas que assinalam a distância, e que indica a passagem para indicações em milhas em vez de quilómetros. E a ilusão do número inferior, o setenta, existe e faz-se sentir: é preciso uma certa adaptação para sentir que é preciso mais tempo para que o setenta se transforme em sessenta e por aí fora.

De resto as diferenças não são subtis à vista mais desatenta do que desarmada. Há as matrículas, bem-entendido, que a ter umas letras e uns algarismos mais carregados e um fundo amarelo. E os euros são oficialmente abandonados pelas libras mas o facilitismo do dia-a-dia leva a que notas de dezassete países também entrem nas contas – a câmbio que favorece a casa, claro está. O resto é camuflado pelo uso dos cartões.

E tudo parece normal. Calmo. A cidade é como outra qualquer. Está frio no centro, perto da câmara municipal imponente. Milhentos autocarros e excursões de patetas como nós que querem ir ver os calhaus na costa nortenha, angariadores que nos enfiam panfletos nas mãos e nos perguntam trinta vezes se nos queremos juntar à cáfila.

E é esta calma que parece não encaixar. Não joga quando pensamos que esta a cidade onde ainda há pouco tempo andavam à batatada, onde ainda hoje em dia andam à batatada – houve um assassinato político por estes dias. Onde ainda há muros que não podem ser transpostos pelas diferentes facções: se és do sul, nem penses em ir para a zona protestante se és católico e vice-versa. Todos os anos há demonstrações religiosas de cada um dos grupos que têm que ser acompanhadas por polícia anti-motim.

E por isso a normalidade parece falsa e hipócrita.

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