quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
Mañana
Dizia-lhe que só virava as páginas quando tinha outras para abrir.
terça-feira, 29 de dezembro de 2015
domingo, 27 de dezembro de 2015
sábado, 26 de dezembro de 2015
Marcador
Tinha dificuldade em ler as expressões asiáticas - achava os sorrisos forçados e artificiais.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
sábado, 19 de dezembro de 2015
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
"In an emergency situation loosen your tie"
Instruções de segurança da Turkish Airlines, companhia em que os homens viajam sempre aprumados. Relativamente às senhoras, aconselhava-se que retirassem os sapatos de salto alto.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Equity
No shark tank, a expressão equity é traduzida como equidade nas legendas. Nunca tinha considerado qual seria o termo em português (capital próprio?) mas equity não tem que ser equitativo de todo.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
Bis gleich
Pessoas que se despedem com "até já" quando manifestamente não nos vamos ver, num futuro próximo ou distante, ou até quando nem sequer alguma vez nos vimos.
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Pela primeira vez vou a um país com um fuso horário que não é um múltiplo de uma hora.
De acordo com o que descobri online, trata-se de um clube relativamente restrito e, em alguns casos, possivelmente até pouco recomendável. Se é certo que alguns estados da Austrália, ilhas da Nova Zelândia e a Nova Terra no Canadá têm fusos horários de meia-hora e três quartos de hora (?), os fusos de meia-hora também são característica do Afeganistão, Irão, Coreia do Norte e Venezuela. No meio disto, a Birmânia, a Índia e o Sri Lanka. E as Ilhas Marquesas na Polinésia Francesa.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Se fosse cão, mordia
Quando surgiu, a aplicação find my iPhone utilizava-se a partir do iCloud, para quem quisesse localizar o seu telemóvel perdido. Um amigo conseguiu recuperar um telemóvel roubado desta forma - ladrões pouco experientes que não o desligaram. Com a mais recente actualização do software do iPhone, a aplicação passa a estar no próprio aparelho. Já me aconteceu andar à procura de umas chaves que tinha na mão ou dos óculos que estavam na cara no sítio correcto. Ainda assim, esta localização da aplicação parece-me de utilidade menos evidente.
domingo, 29 de novembro de 2015
Natal expressivo
Para um jornal já de si volumoso, metade do Expresso deste fim-de-semana são suplementos adicionais só com publicidade.
sábado, 28 de novembro de 2015
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
It's heartache either way
Leio o título "Mas é bonito" da versão portuguesa do livro de Geoff Dyer. Demoro um bom bocado a perceber que se trata do "But Beautiful".
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
terça-feira, 24 de novembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
We are the world
Referir-se a si próprio utilizando a primeira pessoa do plural é uma prática de dois extremos da sofisticação intelectual. É uma característica de textos técnicos e científicos e de entrevistas de jogadores de futebol. Em ambas as situações, transparece uma clara necessidade de acompanhamento quando se manifesta uma opinião: é mais fácil quando temos um conjunto de pessoas que a partilham connosco. Ou isso ou acompanhamento clínico.
domingo, 22 de novembro de 2015
sábado, 21 de novembro de 2015
SNAP out of it
Num cartaz grande, uma afirmação de Jorge Sampaio. Lisonjeira. Por debaixo, a identificação da campanha e do candidato presidencial: SNAP, Sampaio da Nova a Presidente. O acrónimo soa bem, é catchy. E até pode ter o benefício de chegar às camadas mais jovens da população, fazendo a associação com apps para telemóveis espertíssimos (embora, eventualmente, demasiado jovens para votar). Mas, indo à génese do termo, é capaz de não ser a expressão mais feliz para anunciar e publicitar uma candidatura.
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
DIY
Está sentado numa cadeira de madeira, baixa, tosca, desengonçada, de um tempo em que as pessoas tinham uma estatura mais baixa. Está encostado às costas do banco, do lado direito de quem entra. É hora de ponta, e a carruagem do metro, embora não vá a rebentar pelas costuras, vai ainda assim bastante cheia e o local que o velhote escolheu para se sentar perturba a entrada e saída de passageiros. Ele não parece muito ralado, não faz o mínimo gesto para facilitar o movimento dos outros. Só quando chega a sua paragem se levanta, pega na cadeira pelo encosto e sai da carruagem.
quarta-feira, 18 de novembro de 2015
terça-feira, 17 de novembro de 2015
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Sapo a sapo, encher o saco
Há pouco, numa entrevista no telejornal da RTP, João Adelino Faria desculpou-se pelo termo antes de perguntar a Catarina Martins se ela não iria engolir um sapo nos casos de medidas em que o BE discorda do PS e que não estão vertidas no acordo que os dois partidos assinaram.
A expressão tem aliás tido bastante tempo de antena recentemente. Por exemplo, no Governo Sombra, Ricardo Araújo Pereira aconselhou Francisco Assis a, na próxima refeição com o seu grupo de apoiantes, a trocar o leitão na Mealhada por um sítio onde sirvam perninhas de rã para se ir habituando ao "sapinho" que terá de engolir.
Saber fazer cedências é saudável e, possivelmente, sinal de maturidade. Mas há um limite (também saudável) para as muitas (e grandes) cedências que estamos dispostos a tolerar. Em demasia podem acabar em azia - uma expressão que, curiosamente, surge mais no âmbito do futebol do que da medicina.
Este parece-me ser um grande problema actual: um conjunto variado de uma espécie de bombas-relógio, cujos ponteiros avançam sapo a sapo.
A expressão tem aliás tido bastante tempo de antena recentemente. Por exemplo, no Governo Sombra, Ricardo Araújo Pereira aconselhou Francisco Assis a, na próxima refeição com o seu grupo de apoiantes, a trocar o leitão na Mealhada por um sítio onde sirvam perninhas de rã para se ir habituando ao "sapinho" que terá de engolir.
Saber fazer cedências é saudável e, possivelmente, sinal de maturidade. Mas há um limite (também saudável) para as muitas (e grandes) cedências que estamos dispostos a tolerar. Em demasia podem acabar em azia - uma expressão que, curiosamente, surge mais no âmbito do futebol do que da medicina.
Este parece-me ser um grande problema actual: um conjunto variado de uma espécie de bombas-relógio, cujos ponteiros avançam sapo a sapo.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
Novo acordo ortográfico
Na ementa de um restaurante chinês - tido como autêntico, onde os orientais também vão, não como os que normalmente se vêem - um cabeçalho com "novos platos". Dificilmente se poderá ver um melhor exemplo da aplicação do novo acordo ortográfico: a aproximação da linguagem escrita à oral.
domingo, 8 de novembro de 2015
sábado, 7 de novembro de 2015
Não poder comer carne processada é kafkiano.
Concordaram A. e P., entre duas dentadas numa bolacha saudável; depois, simpaticamente, relembraram.
sexta-feira, 6 de novembro de 2015
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
A salsicha da discórdia
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Enquanto (des)carregas
Percebe-se que a bateria do computador está afectada quando demora mais tempo a carregar do que a descarregar.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
O funcionário do aeroporto do outro lado do balcão do check-in pronuncia “Frabang” em vez de “Prabang”, como até então tinha visto escrito.
Não percebo como aquele “p” pode virar um “f” e é só mais tarde me apercebo que, para os entendidos, se trata de Louangphrabang. Assim, junto e comprido e com “ph”.
Do alto da janela do avião dificilmente se vê mais do que o verde gritante da floresta e o castanho do Mekong. O ar é menos carregado, sente-se menos humidade e o calor, embora intenso, é aqui menos sufocante.
O maior contraste talvez seja o do ritmo. Tudo é mais calmo aqui, tudo transmite um tempo que avança de outra forma. Os laoitas falam mais espaçadamente e despedem-se com uma vénia muito ligeira só com a cabeça, ao mesmo tempo que juntam as duas mãos à frente do peito. As buzinadelas incessantes das ruas vietnamitas não se fazem ouvir, nem mesmo quando vários veículos se aproximam de um cruzamento. A cidade está repleta de templos budistas, dentro dos quais os monges de laranja açafrão cantam ao lado de estátuas coloridas e seráficas.
Do alto da janela do avião dificilmente se vê mais do que o verde gritante da floresta e o castanho do Mekong. O ar é menos carregado, sente-se menos humidade e o calor, embora intenso, é aqui menos sufocante.
O maior contraste talvez seja o do ritmo. Tudo é mais calmo aqui, tudo transmite um tempo que avança de outra forma. Os laoitas falam mais espaçadamente e despedem-se com uma vénia muito ligeira só com a cabeça, ao mesmo tempo que juntam as duas mãos à frente do peito. As buzinadelas incessantes das ruas vietnamitas não se fazem ouvir, nem mesmo quando vários veículos se aproximam de um cruzamento. A cidade está repleta de templos budistas, dentro dos quais os monges de laranja açafrão cantam ao lado de estátuas coloridas e seráficas.
segunda-feira, 2 de novembro de 2015
Levam-nos a um estabelecimento que mais parece um restaurante do que o café ou pastelaria que eu tinha imaginado para um pequeno-almoço.
Mas que, tendo em conta o que nos é servido, acaba por fazer sentido. As mesas de madeira têm bancos corridos, sentamo-nos os três de um lado, elas do outro. Primeiro vêm pequenos pratos com lima, malagueta muito vermelha em rodelas e um recipiente com algo que se assemelha a farturas. E, pouco tempo depois, colocam-nos à frente taças consideráveis com uma sopa. Noodles, ervas aromáticas, rebentos de soja e, de acordo com a nossa escolha, carne de vaca. Trata-se da típica phó, inscrição que vi em vários toldos e ementas nos dias anteriores.
Explicam-nos como se come: as farturas dentro da água quente a amolecer, cuidado com a malagueta, reservada aos mais audazes. A lima no fim, só um pouco, para acabar o caldo picante. Fazemos perguntas sobre o prato – por exemplo, se se come normalmente àquela hora da manhã – e pronunciamos o nome como a nossa mente lusa o vê escrito: com um “ó” seco e rígido no fim, como o acento nos indica. A pronúncia fá-las sorrir e ficar um pouco desconfortáveis. Explicam-nos que a vogal tem que ser mais longa
Phóóóó.
Caso contrário pode ser interpretado como outra palavra. E, pela explicação seguinte, mais do que uma singela e inocente palavra, percebemos que o segundo significado é um palavrão. A bad word. O vietnamita também é traiçoeiro.
No imediato, dado o aparente desconforto com que nos ensinam as vicissitudes da pronunciação curta e longa de vogais, não ousamos perguntar qual o famigerado segundo significado da palavra phó com um “ó” curto. Mas, passado algum tempo, um de nós não consegue suster a curiosidade e rasga o desconforto com a pergunta. Segue-se um novo pequeno riso, um trocar de opiniões a dois (a duas, neste caso) na língua autóctone, baixinho como se por milagre da natureza algum de nós conseguisse minimamente entender. E depois, com algum embaraço, vem a revelação
It means bitch.
E este bitch, dado o secretismo inicial, sabe-nos a pouco, parece demasiado inócuo para ser a bad word. Não é assim tão bad para o nosso referencial ocidental.
Passados uns dias, a propósito de algo de que já não me lembro, oiço, em bom português, a frase
Ou então comemos uma phó.
Não resisto a perguntar se se trata de uma phóóóóó ou de uma phó.
Explicam-nos como se come: as farturas dentro da água quente a amolecer, cuidado com a malagueta, reservada aos mais audazes. A lima no fim, só um pouco, para acabar o caldo picante. Fazemos perguntas sobre o prato – por exemplo, se se come normalmente àquela hora da manhã – e pronunciamos o nome como a nossa mente lusa o vê escrito: com um “ó” seco e rígido no fim, como o acento nos indica. A pronúncia fá-las sorrir e ficar um pouco desconfortáveis. Explicam-nos que a vogal tem que ser mais longa
Phóóóó.
Caso contrário pode ser interpretado como outra palavra. E, pela explicação seguinte, mais do que uma singela e inocente palavra, percebemos que o segundo significado é um palavrão. A bad word. O vietnamita também é traiçoeiro.
No imediato, dado o aparente desconforto com que nos ensinam as vicissitudes da pronunciação curta e longa de vogais, não ousamos perguntar qual o famigerado segundo significado da palavra phó com um “ó” curto. Mas, passado algum tempo, um de nós não consegue suster a curiosidade e rasga o desconforto com a pergunta. Segue-se um novo pequeno riso, um trocar de opiniões a dois (a duas, neste caso) na língua autóctone, baixinho como se por milagre da natureza algum de nós conseguisse minimamente entender. E depois, com algum embaraço, vem a revelação
It means bitch.
E este bitch, dado o secretismo inicial, sabe-nos a pouco, parece demasiado inócuo para ser a bad word. Não é assim tão bad para o nosso referencial ocidental.
Passados uns dias, a propósito de algo de que já não me lembro, oiço, em bom português, a frase
Ou então comemos uma phó.
Não resisto a perguntar se se trata de uma phóóóóó ou de uma phó.
domingo, 1 de novembro de 2015
Descansamos um pouco após a primeira tirada a subir o monte.
Bebemos água – apesar do céu carregado, do caminho relativamente acessível, o calor faz-se sentir e cola-se-nos à pele. A vista não é a que queremos, a camada de nevoeiro não nos deixa ver tudo o que se poderia alcançar.
Paramos para almoçar num casinhoto, à beira de um cruzamento entre duas estraditas de cimento, juntamente com outros grupos de turistas que fazem trekkings como nós. A seguir ao almoço
“F’ied ‘ice with chick’n”,
a preferência que tinhamos manifestado ao início da manhã, somos rodeados por senhoras que treparam a encosta connosco de manhã e que, pelo caminho, já haviam manifestado a vontade de que lhes comprássemos algo
“You buy something f’om me, sir’”,
com um sorriso de dentes escuros mas contagiante. Algumas fizeram o percurso de chinelos e de pés imundos, uma com um bebé corpulento às costas o tempo todo. Abrem os sacos e mostram-nos o que têm para vender, colocam em cima da mesa. Não conseguimos dizer que não e deixamos algum dinheiro em troco de algumas bolsas, trapos e instrumentos musicais.
Quando acabamos as compras pós-prandiais, a nossa guia senta-se connosco e oferece-nos duas alternativas. A partir daqui, a maioria dos trekkings segue a estrada de cimento que foi colocada para as motos atingirem a montanha até à aldeia no sopé. Em alternativa, propõem-nos seguir um little path, sem turistas, e much more beautiful. É mais difícil e escorregadio, e só pode ser feito porque hoje não choveu. De imediato, e obviamente, escolhemos a segunda opção.
O caminho exige a nossa constante atenção mas, nos intervalos em que deixamos de olhar para baixo e pensar no próximo obstáculo, vemos os campos de arroz. Quase como numa espécie de socalcos, alimentados por pequenos carreiros e cursos de água.
A certa altura passamos no que parece ser as traseiras de uma casa, um grupo de miúdos riem-se à nossa passagem e falam entre eles. A nossa guia ouve a conversa e ri-se também. Explica-nos (traduz-nos) que os miúdos comentam que nunca viram gente tão grande.
Paramos para almoçar num casinhoto, à beira de um cruzamento entre duas estraditas de cimento, juntamente com outros grupos de turistas que fazem trekkings como nós. A seguir ao almoço
“F’ied ‘ice with chick’n”,
a preferência que tinhamos manifestado ao início da manhã, somos rodeados por senhoras que treparam a encosta connosco de manhã e que, pelo caminho, já haviam manifestado a vontade de que lhes comprássemos algo
“You buy something f’om me, sir’”,
com um sorriso de dentes escuros mas contagiante. Algumas fizeram o percurso de chinelos e de pés imundos, uma com um bebé corpulento às costas o tempo todo. Abrem os sacos e mostram-nos o que têm para vender, colocam em cima da mesa. Não conseguimos dizer que não e deixamos algum dinheiro em troco de algumas bolsas, trapos e instrumentos musicais.
Quando acabamos as compras pós-prandiais, a nossa guia senta-se connosco e oferece-nos duas alternativas. A partir daqui, a maioria dos trekkings segue a estrada de cimento que foi colocada para as motos atingirem a montanha até à aldeia no sopé. Em alternativa, propõem-nos seguir um little path, sem turistas, e much more beautiful. É mais difícil e escorregadio, e só pode ser feito porque hoje não choveu. De imediato, e obviamente, escolhemos a segunda opção.
O caminho exige a nossa constante atenção mas, nos intervalos em que deixamos de olhar para baixo e pensar no próximo obstáculo, vemos os campos de arroz. Quase como numa espécie de socalcos, alimentados por pequenos carreiros e cursos de água.
A certa altura passamos no que parece ser as traseiras de uma casa, um grupo de miúdos riem-se à nossa passagem e falam entre eles. A nossa guia ouve a conversa e ri-se também. Explica-nos (traduz-nos) que os miúdos comentam que nunca viram gente tão grande.
sábado, 31 de outubro de 2015
Chegamos à estação de comboio com a mesma hora de antecedência de quando chegámo à ida.
Depois de ter jantado num restaurante pouco interessante, onde praticamente só estavam pessoas com o mesmo objetivo: aguardar pela hora de embarque. Alguns usavam as mesas para jogar às cartas.
É certo que à ida tínhamos que levantar os nossos bilhetes. Balcão 9, segundo estava escrito no voucher, um balcão destinado a turistas. Entregámos os vouchers, seguimos o conselho da senhora do outro lado e sentámo-nos à espera. Meia hora? Se não foi, terá sido perto. Depois de impacientemente lhe termos perguntado o que estava a demorar tanto – pensámos que se tratava de recebermos uns bilhetes, nada mais – e de ela se ter desculpado, uma rapariga nova veio buscar-nos e levar-nos literalmente até ao compartimento de quatro camas dentro do comboio.
Será que iriamos ter o mesmo tratamento agora? Já tínhamos os bilhetes de regresso connosco. Uma funcionária fora do edifício informou-me (algo trombuda) que ainda não era hora, era cedo. Um comboio para outro destino partiu. E, depois disso, a funcionária dirigiu-se até às duas portas de vidro que davam acesso às plataformas e, pelo lado de fora, fechou-as com uma corrente e um cadeado. Instintivamente olhámos para as outras duas portas que davam para a entrada do edifício da estação. Com uma piada tensa, brincámos com o alívio daquelas ainda estarem abertas.
Algum tempo depois, quando finalmente a hora de embarcar chegou, a mesma funcionária retirou a corrente e o cadeado. Hordas de pessoas de mochila às costas e chinelos dirigiram-se ao comboio.
É certo que à ida tínhamos que levantar os nossos bilhetes. Balcão 9, segundo estava escrito no voucher, um balcão destinado a turistas. Entregámos os vouchers, seguimos o conselho da senhora do outro lado e sentámo-nos à espera. Meia hora? Se não foi, terá sido perto. Depois de impacientemente lhe termos perguntado o que estava a demorar tanto – pensámos que se tratava de recebermos uns bilhetes, nada mais – e de ela se ter desculpado, uma rapariga nova veio buscar-nos e levar-nos literalmente até ao compartimento de quatro camas dentro do comboio.
Será que iriamos ter o mesmo tratamento agora? Já tínhamos os bilhetes de regresso connosco. Uma funcionária fora do edifício informou-me (algo trombuda) que ainda não era hora, era cedo. Um comboio para outro destino partiu. E, depois disso, a funcionária dirigiu-se até às duas portas de vidro que davam acesso às plataformas e, pelo lado de fora, fechou-as com uma corrente e um cadeado. Instintivamente olhámos para as outras duas portas que davam para a entrada do edifício da estação. Com uma piada tensa, brincámos com o alívio daquelas ainda estarem abertas.
Algum tempo depois, quando finalmente a hora de embarcar chegou, a mesma funcionária retirou a corrente e o cadeado. Hordas de pessoas de mochila às costas e chinelos dirigiram-se ao comboio.
sexta-feira, 30 de outubro de 2015
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
É possível que tenhamos escolhido um cruzeiro mais high-end do que a nossa idade faria supor.
A bordo do barco de juncos que nos levaria à Baía de Ha Long por dois dias estava um grupo de idosos franceses da idade dos nossos pais – com o seu próprio guia francófono – e nós – com o nosso próprio guia anglofalante.
As saídas do barco são, infelizmente, poucas e a noite é passada a bordo, ancorados ao lado de inúmeros outros barcos similares. A primeira vez que saímos é com o objetivo de visitar a caverna das surpresas, assim designada pelos primeiros franceses que a viram. O nosso guia aconselha-nos – e, constatamos um pouco depois, com razão – a ir bem calçados, uma vez que o chão é escorregadio.
O acesso à entrada da caverna é feito através de uma escadaria, cerca de uma centena de degraus. Subimos à velocidade a que subiríamos em qualquer outro sítio mas aqui o calor não é o calor de qualquer outro sítio. E se no interior das paredes de pedra o sol não nos toca e a humidade nos faz sentir mais frescos, essa mesma humidade também se nos cola à pele.
Saímos como entrámos, a destilar. Sempre com a garrafa de água na mão. Voltamos ao barco onde fazemos uma curta paragem para vestir os calções de banho. Pergunto ao guia se, desta vez, podemos deixar os ténis para trás e calçar uns chinelos. Diz-me que sim, há um miradouro no topo da próxima ilhota onde vamos parar mas não há perigo de escorregar.
São quatrocentos e vinte degraus até ao miradouro do topo da ilhota. Há um descanso mais ou menos a meio do caminho. A vista do topo é deslumbrante. Os turistas acotovelam-se para tirar selfies com a paisagem no fundo. Muitas vezes de tronco nu, numa tentativa inútil de batalhar contra o calor.
A praia lá em baixo é um bom incentivo para tirar as últimas fotografias e iniciar a descida. E é logo nos primeiros degraus que me apercebo que vai ser mais complicado do que aquilo que parecia inicialmente. Os pés molhados escorregam nos chinelos rijos de enfiar o dedo, um problema não antecipado. É difícil manter o equilíbrio e a descida acabar por ser mais lenta do que a subida.
As saídas do barco são, infelizmente, poucas e a noite é passada a bordo, ancorados ao lado de inúmeros outros barcos similares. A primeira vez que saímos é com o objetivo de visitar a caverna das surpresas, assim designada pelos primeiros franceses que a viram. O nosso guia aconselha-nos – e, constatamos um pouco depois, com razão – a ir bem calçados, uma vez que o chão é escorregadio.
O acesso à entrada da caverna é feito através de uma escadaria, cerca de uma centena de degraus. Subimos à velocidade a que subiríamos em qualquer outro sítio mas aqui o calor não é o calor de qualquer outro sítio. E se no interior das paredes de pedra o sol não nos toca e a humidade nos faz sentir mais frescos, essa mesma humidade também se nos cola à pele.
Saímos como entrámos, a destilar. Sempre com a garrafa de água na mão. Voltamos ao barco onde fazemos uma curta paragem para vestir os calções de banho. Pergunto ao guia se, desta vez, podemos deixar os ténis para trás e calçar uns chinelos. Diz-me que sim, há um miradouro no topo da próxima ilhota onde vamos parar mas não há perigo de escorregar.
São quatrocentos e vinte degraus até ao miradouro do topo da ilhota. Há um descanso mais ou menos a meio do caminho. A vista do topo é deslumbrante. Os turistas acotovelam-se para tirar selfies com a paisagem no fundo. Muitas vezes de tronco nu, numa tentativa inútil de batalhar contra o calor.
A praia lá em baixo é um bom incentivo para tirar as últimas fotografias e iniciar a descida. E é logo nos primeiros degraus que me apercebo que vai ser mais complicado do que aquilo que parecia inicialmente. Os pés molhados escorregam nos chinelos rijos de enfiar o dedo, um problema não antecipado. É difícil manter o equilíbrio e a descida acabar por ser mais lenta do que a subida.
terça-feira, 27 de outubro de 2015
Thought control
Costuma dizer-se que a educação (formal) é um dos principais entraves ao desenvolvimento do país. Ainda assim, a segunda acepção desta palavra não lhe fica muito atrás.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
É para sempre
Na parede da Faculdade de Ciências Sociais, na Avenida de Berna. Letras secas, impessoais. Pretas, sobre o muro branco. Tirei uma fotografia de telemóvel na mão, após ter tirado umas quantas ao mural do Salgueiro Maia, um pouco mais à frente. Há um ano e tal, dois anos atrás. Ainda pensei regressar de máquina de fotografar a sério. Procrastinei demasiado: a inscrição foi apagada. Não foi para sempre.
domingo, 25 de outubro de 2015
A transparência da preguiça
De tão preguiçoso que era não se dava ao trabalho de fingir e tentar convencer os outros do contrário.
sábado, 24 de outubro de 2015
O inverso da ilusão monetária
A ilusão monetária retrata a sensação, tipicamente associada a contextos de inflação elevada, de o valor nominal da moeda ofuscar o valor real do que efectivamente com ela se pode comprar: ter (aparentemente) muito dinheiro na mão que, na prática, não se traduz na capacidade daquilo que se pode com ele fazer.
No Vietname, sente-se o inverso da ilusão monetária: mesmo tendo a taxa de câmbio de 25 000 dongs por euro bem presente, levantar dois milhões no ATM ou pagar meio milhão por um jantar parecem sempre extorsão. E, no entanto, estão abaixo dos padrões europeus.
No Vietname, sente-se o inverso da ilusão monetária: mesmo tendo a taxa de câmbio de 25 000 dongs por euro bem presente, levantar dois milhões no ATM ou pagar meio milhão por um jantar parecem sempre extorsão. E, no entanto, estão abaixo dos padrões europeus.
quarta-feira, 21 de outubro de 2015
terça-feira, 20 de outubro de 2015
Saímos de casa para o aeroporto com uma curta paragem para fazer primeiro.
Um amigo pede que lhe levemos algo para uma conhecida que vive em Hanói. Passam agora algumas dezenas de horas desde que saímos de Paris, e após uma curta paragem no hotel, seguimos a sua recomendação de ver o pôr-do-sol na ponte Long Biên. The best view in Ha Noi. É aí que combinamos encontrarmo-nos.
Saímos para o calor opressivo da rua e começamos a tentar andar pelo aparente caos das ruas estreitas. Atravessar a rua é um quase acto religioso, um salto de fé. Ninguém sequer considera a possibilidade de nos deixar atravessar – a única forma é atravessar. E, assim que se começa, não se pode voltar atrás. Sem hesitar. Segue-se cuidadosamente, deixando as motos serpentearem, passarem à nossa frente ou atrás. Paramos a olhar para algumas manobras, rimos incrédulos do que vemos.
Enganamo-nos no lado da ponte, descemos, damos a volta para subir do lado certo. Andamos por um passeio estreito e, por vezes, interrompido, que ladeia uma faixa para motorizadas. A meio, uma plataforma mais larga permite que estejamos fora do passeio, com espaço, a olhar para o perfil da cidade, iluminado pelos tons do sol que se esconde. Por debaixo, o rio vermelho, a vegetação, e o lixo.
Ela finalmente chega. Atrasada, de moto, a forma mais prática de alguém se movimentar em Ha Noi. Quando finalmente nos livramos do emaranhado do trânsito da ponte e conseguimos falar, propõe-nos um sítio onde jantar. E dá-nos à escolha: ou nos metemos num táxi e nos encontramos com ela no restaurante ou um de nós vem com ela e ela arranja quem leve de moto os restantes dois. Escolhemos a segunda opção quase instintivamente.
Pouco tempo depois das primeiras lutas para navegar por entre as motorizadas das ruas de Hanói, estávamos em cima de uma.
Saímos para o calor opressivo da rua e começamos a tentar andar pelo aparente caos das ruas estreitas. Atravessar a rua é um quase acto religioso, um salto de fé. Ninguém sequer considera a possibilidade de nos deixar atravessar – a única forma é atravessar. E, assim que se começa, não se pode voltar atrás. Sem hesitar. Segue-se cuidadosamente, deixando as motos serpentearem, passarem à nossa frente ou atrás. Paramos a olhar para algumas manobras, rimos incrédulos do que vemos.
Enganamo-nos no lado da ponte, descemos, damos a volta para subir do lado certo. Andamos por um passeio estreito e, por vezes, interrompido, que ladeia uma faixa para motorizadas. A meio, uma plataforma mais larga permite que estejamos fora do passeio, com espaço, a olhar para o perfil da cidade, iluminado pelos tons do sol que se esconde. Por debaixo, o rio vermelho, a vegetação, e o lixo.
Ela finalmente chega. Atrasada, de moto, a forma mais prática de alguém se movimentar em Ha Noi. Quando finalmente nos livramos do emaranhado do trânsito da ponte e conseguimos falar, propõe-nos um sítio onde jantar. E dá-nos à escolha: ou nos metemos num táxi e nos encontramos com ela no restaurante ou um de nós vem com ela e ela arranja quem leve de moto os restantes dois. Escolhemos a segunda opção quase instintivamente.
Pouco tempo depois das primeiras lutas para navegar por entre as motorizadas das ruas de Hanói, estávamos em cima de uma.
domingo, 18 de outubro de 2015
Dietas
Preocupamo-nos em abrir o apetite - por exemplo, a passear ao pé do mar - mas nunca em fechá-lo. Apenas em contrariá-lo.
sábado, 17 de outubro de 2015
Donas-de-casa, pints e o orçamento de Estado
O discurso da dona-de-casa é frequentemente usado para os países tidos como mais gastadores. Gerir um orçamento de Estado é um exercício equivalente ao de uma dona-de-casa que tem de gerir o seu orçamento familiar: basta não gastar mais do que aquilo que se tem.
É a este tipo de discurso a que um membro do público que assiste a um debate em Cambridge alude, quando pede para intervir e questionar o painel, constituído essencialmente por membros britânicos, mas também com a presença de Yannis Varoufakis (aqui, sensivelmente ao minuto 33).
Diz: malta, isto da economia é fácil: eu tenho dez libras no bolso e se for beber três pints em Cambridge, estarei provavelmente a usar dinheiro emprestado. Se continuar a fazer isso, vou ficar sem dinheiro e vou à falência, não é complicado. Vocês [políticos] só precisam de se sentar e decidir colectivamente o que país precisa.
Varoufakis desmistifica de imediato e explica-lhe que essa analogia não é correcta e que a lógica individual não pode ser transposta para o nível agregado de um país. Explica-lhe que na vida dele há uma independência entre as suas despesas e o seu rendimento: o facto de ele deixar de beber pints, respeitar a sua restrição orçamental e não gastar mais do que tem no bolso não afecta o seu rendimento, no final do mês vai continuar a receber exactamente o mesmo. Ora isto não é verdade para um país, onde, em agregado, as despesas são iguais ao rendimento. Se toda a gente poupar mais, o rendimento diminui. E é por isso que (com o devido respeito), não estaríamos forçosamente melhor se fossemos chefiados por donas-de-casa.
É a este tipo de discurso a que um membro do público que assiste a um debate em Cambridge alude, quando pede para intervir e questionar o painel, constituído essencialmente por membros britânicos, mas também com a presença de Yannis Varoufakis (aqui, sensivelmente ao minuto 33).
Diz: malta, isto da economia é fácil: eu tenho dez libras no bolso e se for beber três pints em Cambridge, estarei provavelmente a usar dinheiro emprestado. Se continuar a fazer isso, vou ficar sem dinheiro e vou à falência, não é complicado. Vocês [políticos] só precisam de se sentar e decidir colectivamente o que país precisa.
Varoufakis desmistifica de imediato e explica-lhe que essa analogia não é correcta e que a lógica individual não pode ser transposta para o nível agregado de um país. Explica-lhe que na vida dele há uma independência entre as suas despesas e o seu rendimento: o facto de ele deixar de beber pints, respeitar a sua restrição orçamental e não gastar mais do que tem no bolso não afecta o seu rendimento, no final do mês vai continuar a receber exactamente o mesmo. Ora isto não é verdade para um país, onde, em agregado, as despesas são iguais ao rendimento. Se toda a gente poupar mais, o rendimento diminui. E é por isso que (com o devido respeito), não estaríamos forçosamente melhor se fossemos chefiados por donas-de-casa.
quinta-feira, 15 de outubro de 2015
terça-feira, 13 de outubro de 2015
A resiliência financeira é amiúde expressa em estados:
Existe solidez apesar da falta de liquidez. Neste caso, é uma espécie de inverso do degelo polar.
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
Para fora cá dentro
A existência de um inner self pressupõe a de um outer self. Aparentemente só ansiamos conhecer e perceber a fundo o primeiro.
quinta-feira, 24 de setembro de 2015
Demasiada informação
Os ginásios com de janelões que dão para as ruas já são suficientemente estranhos - pessoas a correr na passadeira como peixes num aquário. A moda disseminou-se e chegou ao Wall Street Institute. É agora possível assistir a imagens de aulas - em grupo e particulares - enquanto estão a ser ministradas.
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
terça-feira, 22 de setembro de 2015
Movimento suspenso
Um acorde dominante que não consegue encontrar uma resolução, uma cadência que desesperadamente procura terminar numa tónica que teimosamente escapa.
domingo, 20 de setembro de 2015
O milagre da subtração
Digo-lhe que grande parte das nossas vidas não tem grande interesse e é como se lhe desse um estalo na cara. Gosto de pensar que tenho uma vida interessante. Respondo-lhe que, se subtrairmos o dia-a-dia - comer, dormir, trabalhar - e tantas outras rotinas, obrigações, coisas para tratar, não sobra assim tanto. Eliminando todos esses elementos repetitivos que não representam nada de novo, sobra pouco que verdadeiramente se destaque.
quinta-feira, 17 de setembro de 2015
Verde e vermelho
É sintomático que os debates políticos mereçam artigos onde jornalistas verificam a veracidade - total e parcial - das afirmações feitas.
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Boîte de Pandora
Se alguma vez abrisse um estabelecimento de diversão nocturna escolheria este nome.
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
domingo, 13 de setembro de 2015
But
«Que é que define um homem? Qual é a primeira pergunta que fazemos a um homem quando queremos informar-nos acerca do seu estado? Em certas sociedades começam por lhe perguntar se é casado, se tem filhos; nas nossas sociedades perguntamos-lhe em primeiro lugar pela sua profissão. É o seu lugar no processo de produção, e não o seu estatuto de reprodutor que antes de mais define o homem ocidental.»
O mapa e o território, Michel Houellebecq
O mapa e o território, Michel Houellebecq
sábado, 12 de setembro de 2015
Crepúsculo
A existir, a doença mental de Thelonious Monk nunca terá sido diagnosticada. Mas a verdade é que o pianista intercalava dias de grande excitação com outros tantos em que não falava. O seu filho relembra episódios em que o pai não se lembrava quem ele era. Incapaz de se valer a si próprio, o pilar de Monk foi Nellie. E em toda a linha: desde suporte financeiro, gestão da banda e até, nas coisas mais simples, como ajudando-o a vestir-se. Estiveram juntos durante 35 anos, até à morte de Monk.
Em 1957, Nellie foi internada para ser submetida a uma cirurgia relacionada com um distúrbio da tiróide. Monk - que ficou particularmente tenso - dedicou-lhe este tema.
Em 1957, Nellie foi internada para ser submetida a uma cirurgia relacionada com um distúrbio da tiróide. Monk - que ficou particularmente tenso - dedicou-lhe este tema.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
He's never played an away match
quarta-feira, 9 de setembro de 2015
sábado, 5 de setembro de 2015
Ordem inversa
É mais interessante - quase romântico, no limite - ser-se classificado como um preso político. Mas é preciso não confundir com um simples político preso.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Causalidade e moral hazard
«During one meeting in Manila early in the Asian crisis, when some of Europe’s financial bureaucrats were invoking Mexico and moral hazard to argue against a generous financial response, Stan Fischer, the excellent American economist who was the IMF’s deputy director (…) passed me a note pointing out that condoms don’t cause sex. Stan’s point was that the IMF loan program didn’t cause financial crises. It’s hard to believe that the existence of firehouses causes fires.»
Stress test, Timothy Geithner
Stress test, Timothy Geithner
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
95
«Eu não vou morrer nunca - disse uma vez a baronesa a Archimboldi. - Ou vou morrer aos noventa e cinco anos, que é a mesma coisa que nunca morrer.»
2666, Roberto Bolaño
2666, Roberto Bolaño
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
terça-feira, 1 de setembro de 2015
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
Lento
As pessoas podem estar sonolentas mas nunca sonorápidas. São corpulentas e não corpurápidas. Não são quezirápidas. Não são macirápidas. Também não são nem flaturápidas nem (consequentemente?) pestirápidas. E, sobretudo, não são nunca turburápidas.
domingo, 30 de agosto de 2015
sexta-feira, 28 de agosto de 2015
Right off the bat
É interessante ter programas de culinária apresentados por ingleses. É como ter especialistas em ski alpino oriundos das Bahamas.
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
terça-feira, 25 de agosto de 2015
Os pontos nos is
«Hoensch disse que a morte em si só era uma miragem em constante construção, mas que a realidade não existia. O oficial das SS disse que a morte era uma necessidade: ninguém no seu perfeito juízo, disse, admitiria um mundo cheio de tartarugas ou cheio de girafas. A morte, concluiu, era reguladora. O jovem erudito Popescu disse que a morte, segundo a sabedoria oriental, era só uma passagem. O que não era claro, disse ele, ou pelo menos ele não achava claro, era para que lugar, para que realidade conduzia essa passagem.
- A pergunta – disse ele – é aonde. A resposta – respondeu a si mesmo – é para onde os meus méritos me levarem.
O general Entrescu achou que aquilo era o menos, que o importante era movimentarmo-nos, a dinâmica do movimento, o que equiparava os homens e todos os seres vivos, incluindo as baratas, às grandes estrelas. A baronesa Von Zumpe disse, e talvez fosse a única a ter falado com franqueza, que a morte era uma chatice.»
2666, Roberto Bolaño
- A pergunta – disse ele – é aonde. A resposta – respondeu a si mesmo – é para onde os meus méritos me levarem.
O general Entrescu achou que aquilo era o menos, que o importante era movimentarmo-nos, a dinâmica do movimento, o que equiparava os homens e todos os seres vivos, incluindo as baratas, às grandes estrelas. A baronesa Von Zumpe disse, e talvez fosse a única a ter falado com franqueza, que a morte era uma chatice.»
2666, Roberto Bolaño
domingo, 23 de agosto de 2015
sábado, 22 de agosto de 2015
Fadices do lar
O dia mais importante do ano não é o aniversário. Nem o Natal nem nada que se pareça. É o dia em que a empregada vem de férias.
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
terça-feira, 18 de agosto de 2015
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
Macaquinho de imitação
Ajeita os óculos com dois dedos - polegar a parte inferior da haste em torno da lente e o indicador na parte superior. Às vezes, três dedos, com o dedo médio a ajudar o indicador. Dou por mim a fazer o mesmo automaticamente e ocorre-me que normalmente faço-o só com um dedo - o indicador - empurrando o pedaço que une os blocos redondos que envolvem as lentes contra o nariz sobre o qual se apoia. Monkey see monkey does. Incorporar um hábito alheio apenas pela observação inadvertida.
domingo, 16 de agosto de 2015
A outra face
Disse-lhe que aquela era uma conversa para ser tida face to face. E então ligaram o chat do facebook.
sábado, 15 de agosto de 2015
Younger self
Num episódio de Nip Tuck, uma senhora idosa faz uma operação plástica para parecer mais nova. Mas não pelas razões as quais este tipos de cirurgias são tipicamente associados. O marido ficou senil e não a reconhece. Sentada ao lado dele, diz-lhe que não sabe quem é. Acrescenta a tristeza que sente pelo facto de a sua mulher nunca o visitar no lar onde vive, ao mesmo tempo que exibe uma fotografia velha e amachucada dela quando mais nova. É com o aspecto que tinha nessa fotografia que ela quer voltar a ficar.
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Topologia
Disse que se desmanchou a rir e, às questões subsequentes acerca do que levaria alguém a rir numa situação daquelas, respondeu
O que queriam que fizesse? Chorasse?
Explico-lhe que não chorar não é forçosamente rir.
O que queriam que fizesse? Chorasse?
Explico-lhe que não chorar não é forçosamente rir.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
Luhmann
"The type of communication theory I am trying to advise therefore starts from the premise that communication is improbable, despite the fact that we experience and practice it every day of our lives and would not exist without it."
terça-feira, 11 de agosto de 2015
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
É tudo uma questão de aceitar (ou não) o custo afundado.
Como quando nos forçamos a ler um livro até ao fim apenas porque já o começámos, e mesmo que a leitura esteja a ser penosa. Saber lidar com a desistência e aceitar o tempo entretanto perdido é, por vezes, mais do que arte e um saber viver: é um exercício de liberdade.
sexta-feira, 31 de julho de 2015
quarta-feira, 29 de julho de 2015
Belated
Quando aum amigo a roçar os quarenta anos lhe disse, preocupado, que sentia estar a passar por uma crise de meia-idade, respondeu: Só agora? Eu comecei na puberdade. Quando nem sequer tinha carta para poder comprar um descapotável.
terça-feira, 28 de julho de 2015
segunda-feira, 27 de julho de 2015
Bumper stickers quoting #2
No braço um relógio desajeitado, desengonçado. Plástico e feio. De um verde muito verde. A fazer lembrar os relógios que ofereciam com o shampoo - Vidal Sassoon, acho eu - quando era miúdo. O relógio vinha na parte superior do frasco - se calhar por isso a cor, para não se distinguir do frasco - e era igualmente horrível. Tive um professor de educação visual (ou trabalhos manuais?) que usava uma coisa dessas. E, naquele momento, em que desço a rua e vejo o homem que todos os dias fuma em frente à loja de colchões, que todos os dias vejo a fumar em frente àquela montra de coisas ortopédicas e almofadas em promoção, só naquele dia reparo no relógio que me faz pensar em aulas de educação visual (trabalhos manuais?) e num professor (Fernando?) por quem nunca tive qualquer tipo de empatia, que me era totalmente indiferente. Mas que nunca consegui esquecer que usava relógios que vinham em frascos de shampoo. Vidal Sassoon.
domingo, 26 de julho de 2015
sábado, 25 de julho de 2015
Queijo tinto e vinho da serra
É provável que não sejam muitos os que gostam de ser o centro das atenções mas os que efectivamente gostam, gostam mesmo.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
Bumper stickers quoting
Sempre à mesma hora. À porta da loja de colchões, a fumar. Anda para trás e para a frente, o cigarro na ponta dos dedos sapudos. Magro, os óculos escuros de aspecto moderno contrastam com as rugas da cara, com o cabelo grisalho. A camisa aberta à frente, caminha para trás e para a frente, mas sempre sem ultrapassar a montra da loja de colchões. Sempre à mesma hora - quase poderia acertar o relógio por ele -, sempre a fumar.
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Ser-se romano
«(...) mas é um tipo que faz a única coisa inteligente que se pode fazer para justificar o facto de viver na América: joga na bolsa. Passar as manhãs na sede local da Merryl Linch, Fenner, Pierce and Smith, a seguir na fita as contratações do Stock Exchange de New York, as variações no placards electrónicos, a estudar o momento certo para vender e para comprar, com o telex na sala a estender as últimas notícias sobre as quais se pode orientar as nossas operações, a acompanhar a vida de todas as grandes empresas americanas, a ler o Wall Street journal assim que chega, este é o único modo de não viver passivamente a vida de um grande país capitalista, é no fundo a verdadeira instância democrática da América, porque embora não dê nenhuma possibilidade de ter influência, senão no andamento do mercado especulativo, contudo mantém-nos imersos no mecanismo na sua parte mais avançada e activa, e exige uma atenção constante - neste país de interesses assustadoramente locais e provincianos - ao conjunto do sistema.»
Um eremita em Paris, Italo Calvino
Um eremita em Paris, Italo Calvino
segunda-feira, 20 de julho de 2015
domingo, 19 de julho de 2015
Fight or flight
Tea Leoni: You don't like crowds?
Ricky Gervais: It's not so much the crowds, it's the individuals in the crowds.
Ricky Gervais: It's not so much the crowds, it's the individuals in the crowds.
sábado, 18 de julho de 2015
A pé, atravessamos a rua com o semáforo vermelho quando não vem lá ninguém. De carro não o fazemos: podemos queimar um amarelo - rápido, rápido -, não parar totalmente num stop como manda a lei, mas não arrancar depois de parados num vermelho. E mesmo que não venha lá ninguém. Na primeira situação é mais improvável causar dano a alguém mas é mais provável sair aleijado; na segunda é o contrário. Causar dano alheio parece ser mais doloroso que ao próprio. Ou, alternativamente, que nos valorizamos menos. Uma espécie de altruísmo na versão código da estrada.
sexta-feira, 17 de julho de 2015
quinta-feira, 16 de julho de 2015
terça-feira, 14 de julho de 2015
Sinfonia
Em grego, "acordo" é designado por "sinfonia", a mesma palavra que usamos para designar a composição musical. Ironicamente, pressupõe "concórdia de sons" e "harmonia".
domingo, 12 de julho de 2015
25a hora
Da austeridade à humilhação, estende-se um convite (pontapé no rabo?) de saída.
sábado, 11 de julho de 2015
terça-feira, 7 de julho de 2015
How much difference does it make
À acusação de fleumático - blasé, foi o termo usado - respondeu que não conseguia deixar de se estar a cagar para o facto de se estar a cagar.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
domingo, 5 de julho de 2015
sábado, 4 de julho de 2015
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Letter to my younger self - Pete Sampras
quinta-feira, 2 de julho de 2015
A cruz que se descarrega
Meses de campanha, a correr o país de comício em comício. Entrevistas atrás de entrevistas, debates com os rivais, preparados ao milímetro, na defesa e no ataque. Acompanhamento quase maníaco das sondagens, reuniões com o director de campanha e a entourage, gestores de imagem. Tudo isto lhe veio à cabeça enquanto escrevinhava no boletim de voto uma cruz convicta no seu principal adversário. Quem pensa que é o melhor candidato, tinham-lhe perguntado na recta final da campanha; deu a resposta óbvia que todos os que se vêem naquela posição dão: eu. E agora pensava na brutal ironia de tudo aquilo. Dobrou o papel em quatro e regressou à urna para a fotografia da praxe e para prestar declarações aos jornalistas, reiterando a sua confiança na vitória.
terça-feira, 30 de junho de 2015
Terra à vista
Ou, neste caso, uncharted territory. Um tratado sobre brinkmanship.
domingo, 28 de junho de 2015
Eólio.
Há quem sinta que a sua vida faz parte de algo maior, muitas vezes associado a algo religioso. Apetece-me dizer-lhes que, quando muito, fazem parte de uma coisa menor.
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Shark Tank
No Shark Tank português, os "concorrentes" têm que convencer os investidores. No Shark Tank americano, a concorrência entre as propostas dos investidores é ponto alto. No português, por vezes os investidores não avançam a partir do momento em que outro já avançou para garantir que alguém entra; no americano, quando o negócio é bom, degladiam-se para serem escolhidos, criticam ofertas alheias.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
Dissimetria
Pode-se chorar a rir mas não rir a chorar.
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Tapar a peneira com um sol
Cabeça baixa, respirou fundo, como se estivesse a encarar um exercício duro, a máquina mais difícil do ginásio. Depois de expirar ruidosamente, colocou-se em cima da balança num ímpeto. Pouco depois voltou a colocar os pés no chão, desta feita com movimentos menos bruscos. Ou satisfeito e, por isso, relaxado ou deprimido com o resultado.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
domingo, 21 de junho de 2015
Sample
Não são bem noites em branco: o tom é mais cinzento. Um cinzento claro, macilento. Quando devia ser bem escuro, preto até.
sábado, 13 de junho de 2015
quinta-feira, 11 de junho de 2015
quarta-feira, 10 de junho de 2015
terça-feira, 9 de junho de 2015
segunda-feira, 8 de junho de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
sábado, 6 de junho de 2015
Carrego muito mais frustrações do que arrependimentos.
Em alguns casos até aquilo que poderia ser um arrependimento é, no fundo, uma frustração: a da saber que, caso fosse possível voltar atrás, faria tudo (inexplicavelmente?) da mesma forma.
quinta-feira, 4 de junho de 2015
29 anos, 2 derrotas
Perto do final do primeiro set, depois dos vários set points que Djokovic não conseguiu aproveitar , confesso que ainda pensei que o Nadal conseguisse tirar um coelho gigantesco da cartola e perpetuar a lenda. Mas a brecha abriu ali mesmo antes do tie break - se Djokovic não tivesse levado aquele set teria seguramente ficado de cabeça perdida (a imagem do sérvio a levar as mãos à cabeça). Mesmo assim não era líquido como o segundo set ia acabar. E, quando o break surge ao oitavo jogo e deixa tudo em aberto para ser fechado no jogo de serviço de Djokovic, aí sim, a areia começou a escorrer por entre os dedos. Seguramente a primeira vez que se viu dois sets abaixo na terra francesa. E aí foi Nadal quem deixou de acreditar: o terceiro set é capaz de ter sido o pior que alguma vez vi o espanhol jogar. A dupla falta com que entregou o último ponto é uma capitulação confrangedora.
É um lugar-comum dizer que o jogo de ontem foi uma final antecipada. Mas é verdade. E Nadal merecia ter ido à final. Mesmo que o desfecho fosse igual. Mas seria num palco condizente com a categoria de jogador - sem par em terra batida, sem par sobretudo no Philippe Chatrier.
É um lugar-comum dizer que o jogo de ontem foi uma final antecipada. Mas é verdade. E Nadal merecia ter ido à final. Mesmo que o desfecho fosse igual. Mas seria num palco condizente com a categoria de jogador - sem par em terra batida, sem par sobretudo no Philippe Chatrier.
terça-feira, 2 de junho de 2015
Quase uma semana sem beber café.
Nem nenhuma outra coisa que pudesse substituir e compensar a falta da cafeína. Chá, chocolate, doces. Até Coca-Cola. Cold turkey. O primeiro dia terminou com uma senhora dor de cabeça. O segundo foi menos mau e assim progressivamente. Em traços gerais, alguma dificuldade de concentração e, aqui e ali, embora decrescentemente, alguma sonolência. Tinha alguma curiosidade para saber como iriam terminar estes (quase, por escassas 4-5 horas) sete dias. Desde que comecei a beber café regularmente, algures na adolescência, nunca tinha estado sob tamanha lei seca. Será que o primeiro depois deste hiato iria saber de forma diferente, um efeito potenciado? Frustrantemente não. Soube como qualquer outro café. Aliás, até eventualmente pior do que um mediano.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Ver as horas por 775 mil dólares
domingo, 31 de maio de 2015
Back and forth
E de todas as vezes que te perguntaste porquê - com alguma incredulidade, não havia nenhuma razão (aparente) - e pensaste que não conseguias juntar a coragem suficiente para me perguntar (ou não quiseste). Digo-te que não teria feito nenhuma diferença - também eu pergunto porquê. E também não tenho a coragem suficiente para me perguntar (ou não quis).
sábado, 30 de maio de 2015
Abono
O conceito de testemunha abonatória é algo que me parece curioso. Alguém que fornece a sua opinião pessoal sobre o carácter e a conduta de uma dada pessoa. Nas minhas palavras, atesta a porreirice alheia. Se quiser uma opinião sobre um problema de saúde falo com um médico e não com um advogado, um pedreiro ou um mecânico. Mas se o meu carro estiver avariado procuro um mecânico. No caso da testemunha abonatória, não há nenhuma característica técnica que seja necessária para exercer essa função - em princípio, ninguém se formou em reconhecimento da porreirice alheia. Donde, qualquer médico, advogado, pedreiro, mecânico ou mesmo, desempregado, reune as competências técnicas e está igualmente habilitado a exercer tal função. E, no entanto, em alguns casos, este atestado de porreirice parece depender da profissão ou estatuto daquele que atesta - como se os galões da testemunha fizessem automaticamente aumentar a qualidade do testemunho e, por sua vez, do testemunhado. E isso, sim, é interessante. E isso, sim, diz muito sobre nós e o nosso carácter. Embora, eventualmente, de uma forma não muito abonatória.
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Ainda se se tratasse de pedofilia
segunda-feira, 25 de maio de 2015
domingo, 24 de maio de 2015
Is working against me
(interessante pormenor do teleponto com a letra)
sábado, 23 de maio de 2015
quinta-feira, 21 de maio de 2015
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Odd
As pessoas nunca se comparam face aos ímpares. Assim como a pressão de ímpares não incomoda ninguém.
terça-feira, 19 de maio de 2015
Dupont e Dupond
segunda-feira, 18 de maio de 2015
Um post sobre ténis
Na recta final daquela que é talvez a época de terra batida que vai acabar com um resultado diferente das dos últimos dez anos (ou praticamente todas). E, ainda assim, não se pode dizer que seja aberta. Pelo menos da forma como costumava ser, de como me lembro - longe vão os tempos em que a terra de Roland Garros gerava surpresas e coroava os campeões mais improváveis.
Nadal foi batido (sumariamente, diga-se) em todos os torneios de terra batida (e todos os outros antes destes) que antecedem o Grand Slam, algo que julgo acontecer pela primeira vez na sua carreira. A falta de surpresa: o caminho está trilhado para Djokovic, que não está a conseguir perder praticamente todos os torneios em que participa. Há alturas em que gostava que me provassem errado.
Nadal foi batido (sumariamente, diga-se) em todos os torneios de terra batida (e todos os outros antes destes) que antecedem o Grand Slam, algo que julgo acontecer pela primeira vez na sua carreira. A falta de surpresa: o caminho está trilhado para Djokovic, que não está a conseguir perder praticamente todos os torneios em que participa. Há alturas em que gostava que me provassem errado.
domingo, 17 de maio de 2015
sábado, 16 de maio de 2015
sexta-feira, 15 de maio de 2015
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Sentido
Testou-se para a possibilidade de uma raiz unitária com receio de ter uma existência espúria.
domingo, 10 de maio de 2015
Certeza na dúvida
I could be wrong
Have you ever said that and actually meant it?
(pausa, olhos tecto)
No
Blue Bloods
Have you ever said that and actually meant it?
(pausa, olhos tecto)
No
Blue Bloods
sábado, 9 de maio de 2015
Purpose
Going through life without knowing whether you're actually taking credits or just auditing.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Em nome do nome
Estive para me chamar Rui. Segundo consta. Acabou por não ser e honestamente não me imagino com outro nome. Sinto que não me pertenceria, que não me assentaria. E, no entanto, quão diferente poderia eu ter sido daquilo que sou hoje acaso me chamasse Rui? Quanto é que outro nome me poderia mudar? Quanto de mim, quanto daquilo que sou é o meu nome?
Uma parte de mim gosta de dizer rigorosamente nada: seria como mudar apenas a designação de algo, mais nada. O nome em si nem deveria fazer parte de mim, é só uma designação prática. Nomes são etiquetas que se põem às pessoas e nada mais do que isso. Mudar a etiqueta não tem impacto nenhum sobre a coisa: se a caneta se chamasse lápis continuaríamos a depreender o mesmo objecto mas chamar-lhe-íamos outra coisa.
Outra parte de mim compreende a energia investida pelos pais na escolha de nomes para crianças. E as discussões em que alguém tenta desencorajar os pais de uma criança a não lhe darem um dado nome. Quando era miúdo lembro-me de pensar que o pior nome que se podia ter era Diogo por causa do “baixa as cuecas que lá vai fogo”.
Várias partes de mim sabem que não somos nem objectos nem coisas. Ao contrário das canetas e dos lápis, o nosso nome é parte integrante da nossa identidade. Assim como o minha cara, a minha expressão, a cor do meu cabelo, a minha altura. Bem ou mal, crescemos com ele. Soa-me estranho quando o digo (não quando o oiço de outra pessoa), da mesma forma que a minha voz gravada não parece minha.
E, no entanto, já não poderia ter qualquer outro nome.
Uma parte de mim gosta de dizer rigorosamente nada: seria como mudar apenas a designação de algo, mais nada. O nome em si nem deveria fazer parte de mim, é só uma designação prática. Nomes são etiquetas que se põem às pessoas e nada mais do que isso. Mudar a etiqueta não tem impacto nenhum sobre a coisa: se a caneta se chamasse lápis continuaríamos a depreender o mesmo objecto mas chamar-lhe-íamos outra coisa.
Outra parte de mim compreende a energia investida pelos pais na escolha de nomes para crianças. E as discussões em que alguém tenta desencorajar os pais de uma criança a não lhe darem um dado nome. Quando era miúdo lembro-me de pensar que o pior nome que se podia ter era Diogo por causa do “baixa as cuecas que lá vai fogo”.
Várias partes de mim sabem que não somos nem objectos nem coisas. Ao contrário das canetas e dos lápis, o nosso nome é parte integrante da nossa identidade. Assim como o minha cara, a minha expressão, a cor do meu cabelo, a minha altura. Bem ou mal, crescemos com ele. Soa-me estranho quando o digo (não quando o oiço de outra pessoa), da mesma forma que a minha voz gravada não parece minha.
E, no entanto, já não poderia ter qualquer outro nome.
terça-feira, 5 de maio de 2015
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Montage of a heck
Entrevistas com familiares, gravações que dão uma ideia da juventude e adolescência de Kurt Cobain. Mas são os filmes caseiros que tornam o espectador num intruso, num voyeur da progressiva decadência. Não há nada de surpreendente na associação de Kurt Cobain com drogas. Mais difícil dizer o mesmo em relação à sua imagem esquálida e titubeante, magro e de aspecto débil, com Courtney Love às cavalitas.
O percurso dos Nirvana – como se juntaram? – e o salto vertiginoso do (quase-) anonimato para o estrelato é aparentemente um dado adquirido. E, no entanto, quando penso nisso, sei menos sobre o assunto do que aquilo que esperaria após sair da sala de cinema. Apenas que Kurt era surpreendentemente (?) ambicioso para quem se preocupava pouco (?) com a opinião alheia.
Num discurso no festival South by Southwest de 2013, Dave Grohl – a maior ausência do documentário, segundo consta estaria a promover o mais recente álbum – partilha com a audiência o seu espanto quando, numa reunião com uma grande produtora, Cobain responde à pergunta “So, what do you guys want?” com “we want to be the biggest band in the world”. Grohl riu-se, pensou que Cobain estava a brincar. Não estava.
É preciso relembrar onde estava o mundo da música naquela altura, diz Grohl, e percorre o Billboard top ten de 1990: Bon Jovi, Madonna, Phil Collins, Mariah Carey, Roxette, etc.. Foi neste contexto – “mainstream world of polished pop music” – que os Nirvana chegaram ao top.
O percurso dos Nirvana – como se juntaram? – e o salto vertiginoso do (quase-) anonimato para o estrelato é aparentemente um dado adquirido. E, no entanto, quando penso nisso, sei menos sobre o assunto do que aquilo que esperaria após sair da sala de cinema. Apenas que Kurt era surpreendentemente (?) ambicioso para quem se preocupava pouco (?) com a opinião alheia.
Num discurso no festival South by Southwest de 2013, Dave Grohl – a maior ausência do documentário, segundo consta estaria a promover o mais recente álbum – partilha com a audiência o seu espanto quando, numa reunião com uma grande produtora, Cobain responde à pergunta “So, what do you guys want?” com “we want to be the biggest band in the world”. Grohl riu-se, pensou que Cobain estava a brincar. Não estava.
É preciso relembrar onde estava o mundo da música naquela altura, diz Grohl, e percorre o Billboard top ten de 1990: Bon Jovi, Madonna, Phil Collins, Mariah Carey, Roxette, etc.. Foi neste contexto – “mainstream world of polished pop music” – que os Nirvana chegaram ao top.
domingo, 3 de maio de 2015
n e n-1
Em entrevista a Bill Maher, Sam Harris diz que crentes e ateístas não estão assim tão longe uns dos outros. Os primeiros acreditam num deus mas não acreditam em todos n-1 restantes; os segundos só estão a um deus de distância, não acreditam em n deuses.
sábado, 2 de maio de 2015
Focus
Não saber as respostas não é importante; o que interessa é saber quais as perguntas.
quarta-feira, 29 de abril de 2015
Arriscado dormir com homens
terça-feira, 28 de abril de 2015
segunda-feira, 27 de abril de 2015
(andar aos) Papéis
« (…) while in the end the female in societies in which every woman marries is practically certain o resolving all the doubts about her own sex membership that were implanted in her in the natural course of her long infancy and childhood, the male needs to reassert, to reattempt, to redefine his maleness.
In every known human society, the male’s need for achievement can be recognized. Men may cook, or weave or dress dolls or hunt humming-birds, but if such activities are appropriate occupations of men, then the whole society, men and women alike, votes them important. When the same occupations are performed by women, they are regarded as less important. In a great number of human societies men’s sureness of their sex role is tied up with their right, or ability, to practice some activity that women are not allowed to practise. Their maleness, in fact, has to be underwritten by preventing women from entering some field of performing some feat. Here may be found the relationship between maleness and pride; that is, a need for prestige that will outstrip the prestige which is accorded to any woman. There seems no evidence that it is necessary for men to surpass women in any specific way, but rather that men do need to find reassurance in achievement, and because of this connection, cultures frequently phrase achievement as something that women do not or cannot do, rather than directly as something which men do well.
The recurrent problem of civilization is to define the male role satisfactorily enough – whether it will be to build gardens or raise cattle, kill game or kill enemies, build bridges or handle bankshares – so that the male may in the course of his life reach a solid sense of irreversible achievement, of which his childhood knowledge of the satisfactions of child-bearing have given him a glimpse. In the case of women, it is only necessary that they be permitted by the given social arrangements to fulfill their biological role, to attain this sense of irreversible achievement.
(…)
Each culture – in its own way – has developed forms that will make men satisfied in their constructive activities without distorting their sure sense of their masculinity. Fewer cultures have yet found ways in which to give women a divine discontent that will demand other satisfactions that those of child-bearing.»
Male and female, Margaret Mead
In every known human society, the male’s need for achievement can be recognized. Men may cook, or weave or dress dolls or hunt humming-birds, but if such activities are appropriate occupations of men, then the whole society, men and women alike, votes them important. When the same occupations are performed by women, they are regarded as less important. In a great number of human societies men’s sureness of their sex role is tied up with their right, or ability, to practice some activity that women are not allowed to practise. Their maleness, in fact, has to be underwritten by preventing women from entering some field of performing some feat. Here may be found the relationship between maleness and pride; that is, a need for prestige that will outstrip the prestige which is accorded to any woman. There seems no evidence that it is necessary for men to surpass women in any specific way, but rather that men do need to find reassurance in achievement, and because of this connection, cultures frequently phrase achievement as something that women do not or cannot do, rather than directly as something which men do well.
The recurrent problem of civilization is to define the male role satisfactorily enough – whether it will be to build gardens or raise cattle, kill game or kill enemies, build bridges or handle bankshares – so that the male may in the course of his life reach a solid sense of irreversible achievement, of which his childhood knowledge of the satisfactions of child-bearing have given him a glimpse. In the case of women, it is only necessary that they be permitted by the given social arrangements to fulfill their biological role, to attain this sense of irreversible achievement.
(…)
Each culture – in its own way – has developed forms that will make men satisfied in their constructive activities without distorting their sure sense of their masculinity. Fewer cultures have yet found ways in which to give women a divine discontent that will demand other satisfactions that those of child-bearing.»
Male and female, Margaret Mead
domingo, 26 de abril de 2015
Sweet and sour #2
A existência de batatas doces pressupõe (implica?) a existência de batatas salgadas (ensonas?). E qual a lógica de pôr sal em batatas doces?
sábado, 25 de abril de 2015
Sweet and sour
Há quem defenda as batatas doces face às convencionais por questões nutricionais. Para mim, a maior vantagem é não ganharem grelo.
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Cortar homens
Digo que quero cortar o cabelo - o que normalmente me parece uma constatação óbvia num cabeleireiro - e explica-me que, infelizmente, não pode prestar o serviço: "a minha colega que corta homens não está". A Whoopi Goldberg fez o filme "do cabaré para o convento"; esta colega aparentemente quer fazer um remake com o título "do cabeleireiro para a sala de operações (masculina)". Ou para o talho. Morgue.
quarta-feira, 22 de abril de 2015
A cara é de quem espera algo
A cara de quem joga o jogo do devias saber sem nunca dar uma pista, sem nunca mostrar uma carta que seja. De quem aposta tudo na capacidade de leitura alheia - em retrospectiva, a capacidade de antecipação teria sido melhor. Não se pode ter tudo e, então, a alternativa é esperar. Esperar dando a entender que se espera, não é um esperar totalmente estático. Embora a intenção seja dar a entender que é embora, lá no fundo, possa não ser. E, quando não surge efeito, à medida que o tempo passa, é notório o desconforto. Crescente, vai-se agudizando com uma pergunta que não é colocada, um comentário que teima em não surgir. Aos poucos, a cara de falsa dissimulação vai transformando-se em desapontamento. Mais do que isso: é uma indignação, porque se trata da frustração de uma expectativa percepcionada como perfeitamente legítima. E isso só pode ser intolerável e caminhar no sentido da irritação. E é aí que o jogo do devias saber entra noutra fase. Quando essa cara já não é de dissimulação mas de uma agressividade latente. Que esbarra na naturalidade alheia de quem está perdido.
terça-feira, 21 de abril de 2015
Sechs Kartoffeln
Faltou uma para a Felipãozada.
segunda-feira, 20 de abril de 2015
Nothing more than feelings
Às pessoas que dizem estar sentidas com algo apetece-me perguntar-lhes como se sentem. Só para ver se me respondem "sinto-me sentido(a)".
domingo, 19 de abril de 2015
Ser desempregado na Bielorússia
sábado, 18 de abril de 2015
O site das finanças tem um separador com a designação "serviços tributários".
Pagar impostos é um mal necessário - ao menos chamemos os bois pelos nomes.
sexta-feira, 17 de abril de 2015
Conhecimentos de MS Office na óptica do forjador
Reset
A info-inclusão como forma de exclusão.
quinta-feira, 16 de abril de 2015
Implicações de dizer uma nata em vez de pastel de nata
(para além de aparente preguiça)
Ir aos pasteis de Belém ir pedir uma meia-dúzia de Beléns. Comprar uma caixa de feijões. Comer um Tentúgal ou um Chaves.
Ir aos pasteis de Belém ir pedir uma meia-dúzia de Beléns. Comprar uma caixa de feijões. Comer um Tentúgal ou um Chaves.
quarta-feira, 15 de abril de 2015
Muito se torce a falar português
Torcer o nariz
Torcer a orelha
Torcer o caminho
Torcer o pepino
Torcer o gasganete
Torcer a orelha
Torcer o caminho
Torcer o pepino
Torcer o gasganete
terça-feira, 14 de abril de 2015
segunda-feira, 13 de abril de 2015
domingo, 12 de abril de 2015
Anunciar uma candidatura tweetando
Uma eventual vitória da Hillary Clinton teria a interessante característica de, não só sentar uma mulher pela primeira vez na Casa Branca, mas também sucedendo ao primeiro negro a tê-lo feito.
Há uma componente religiosa no running
1) as corridas são maioritariamente ao domingo de manhã e, ocasionalmente, ao sábado à tarde
2) a prática exige indumentária específica, tal como o fato da missa
2) a prática exige indumentária específica, tal como o fato da missa
sábado, 11 de abril de 2015
Resumir tudo em tão poucas palavras, numa página. Ridículo: tanta coisa, anos. Avanços recuos. Positivo negativo. Sobe desce. Confiança desmotivação. E, ao chegar ao fim, na maior dos casos, o momento em que tudo se encerra é tão pequeno. É totalmente desproporcionado face a tudo o que representa. De repente, já tudo está para trás das costas uma vez mais.
quarta-feira, 8 de abril de 2015
terça-feira, 7 de abril de 2015
Lavar a roupa envolve segregação com base na cor
Clara para um lado, escura para o outro. E o receio é que a escura possa tingir es estragar a clara; mas não o contrário.
segunda-feira, 6 de abril de 2015
Não dói tudo 2
Há dias tentaram - por delicadeza, calculo - dizer-me não sem efectivamente o dizer. O resultado foi uma formulação dúbia, qualquer coisa como
(...) preferível não se concretizar, nesta fase (...)
Quem escreveu não queria dizer nesta fase, queria dizer em todas as fases, aquilo que também se costuma designar por nunca. Porque não era totalmente claro, tive que perguntar para esclarecer. E aqui fui eu que tive que optar por uma formulação alternativa para não obrigar a pessoa a dizer o não que não queria dizer porque pensava que era o mesmo não que eu não queria ouvir (era-me indiferente). E então dei-lhe uma possibilidade de responder afirmativamente a uma pergunta, de tal forma que fosse totalmente incompatível com qualquer interpretação da resposta inicial que não fosse um não redondo e, assim, dar-me a entender que a resposta à pergunta inicial era negativa.
Mas sendo assim posso (...)?
E com este sim percebi, sem margem para dúvidas, que o outro era um não.
(...) preferível não se concretizar, nesta fase (...)
Quem escreveu não queria dizer nesta fase, queria dizer em todas as fases, aquilo que também se costuma designar por nunca. Porque não era totalmente claro, tive que perguntar para esclarecer. E aqui fui eu que tive que optar por uma formulação alternativa para não obrigar a pessoa a dizer o não que não queria dizer porque pensava que era o mesmo não que eu não queria ouvir (era-me indiferente). E então dei-lhe uma possibilidade de responder afirmativamente a uma pergunta, de tal forma que fosse totalmente incompatível com qualquer interpretação da resposta inicial que não fosse um não redondo e, assim, dar-me a entender que a resposta à pergunta inicial era negativa.
Mas sendo assim posso (...)?
E com este sim percebi, sem margem para dúvidas, que o outro era um não.
domingo, 5 de abril de 2015
Não dói tudo
Na série The Good Wife, Eli ensina Alicia que não se pode dar ao luxo de dizer não às pessoas. E ensina-lhe formas de tornear a questão, de dizer não sem dizer não.
Thank you for your advice. All opinions are open at this stage. I will decide in the next 48 hours.
Ainda que, no momento em que diga estas palavras, saiba perfeitamente que a decisão é o mesmo não que não se pode proferir. Alicia não fica convencida: e depois quando tiver efectivamente que lhes dizer que a minha decisão não é a que querem ouvir?
Eli desdramatiza: as pessoas só querem sentir a opinião delas valorizada, não se interessam pelo resultado final.
Thank you for your advice. All opinions are open at this stage. I will decide in the next 48 hours.
Ainda que, no momento em que diga estas palavras, saiba perfeitamente que a decisão é o mesmo não que não se pode proferir. Alicia não fica convencida: e depois quando tiver efectivamente que lhes dizer que a minha decisão não é a que querem ouvir?
Eli desdramatiza: as pessoas só querem sentir a opinião delas valorizada, não se interessam pelo resultado final.
sábado, 4 de abril de 2015
sexta-feira, 3 de abril de 2015
quinta-feira, 2 de abril de 2015
quarta-feira, 1 de abril de 2015
terça-feira, 31 de março de 2015
sábado, 28 de março de 2015
Marques Mendes partilhou um segredo connosco.
Mais outro. Desta vez parece que os líderes parlamentares se puseram de acordo e o Eusébio vai para o panteão. Do alto do seu púlpito de sábado à noite, é curioso como Marques Mendes comunica estas coisas como se tivesse sido nomeado porta-voz para todos os assuntos importantes e não tão importantes dos portugueses - às vezes não são mais do que fait divers ou cusquices. Mais interessante ainda é a forma como nos conta estes até então segredos: exactamente como se fossem segredos. Começa a frase com "isto ainda não é público". E, ao tornar pública uma coisa que até há dois segundos não era, consegue fazê-lo com uma cara de quem está a falar com um amigo, quase fazendo simultaneamente uma advertência "eh pá, vê lá, agora não vás pra aí a contar isto a toda a gente, 'tá bem?". Marques Mendes é uma espécie de rádio-corredor.
quinta-feira, 26 de março de 2015
But then again
Um dos parâmetros de avaliação no exame de condução devia ser a qualidade técnica da manobra de exibição do passarinho.
quarta-feira, 25 de março de 2015
Much as I think he's a knob, I quite like working with Jeremy
segunda-feira, 23 de março de 2015
sexta-feira, 20 de março de 2015
E isto nos anos 60
«We have gone a long way in keeping alive infants who should once have died, in giving glasses to those with poor eyesight, hearing devices to the hard of hearing, prostheses to the crippled. We have gone a long way in insisting on a common style of marriage regardless of temperament or idiosyncratic preference. We have rebelled against and economic order in which men could afford to marry or to have children. We have been committed to an egalitarianism which attempts to iron out the most gross discrepancies among human beings and between sexes, and which, in the process, disallows individuality. In trying to give each young couple a full biological life from puberty on, we necessarily neglect individual differences in courtship and in mating. The more young people we succeed in marrying off and keeping married – to someone – the more alike all marriages become. It may well be that a necessary next step may be the exploration of difference and provision for many different styles of self-realization and sex behavior.»
Male and female, Margaret Mead
Male and female, Margaret Mead
quinta-feira, 19 de março de 2015
Condicional
E então disse-lhe que era uma condição necessária mas não suficiente: preciso de ti mas não me chegas.
quarta-feira, 18 de março de 2015
Janet e jogos de palavras
"Just because we removed the word 'patient' doesn't mean we're going to be impatient."
segunda-feira, 16 de março de 2015
Desarme
«Mafalda: Estás a brincar?
Pai: Estou a falar a sério!
Mafalda: Não faz sentido falar a sério com alguém que está a brincar; por outro lado, se estivesses a brincar, eu não te levava a sério. É uma situação complicada... não queria estar na tua pele.»
Pai: Estou a falar a sério!
Mafalda: Não faz sentido falar a sério com alguém que está a brincar; por outro lado, se estivesses a brincar, eu não te levava a sério. É uma situação complicada... não queria estar na tua pele.»
domingo, 15 de março de 2015
Agulha num palheiro
Acupunctura é uma espécie de voodoo mais directo, sem o boneco a servir de intermediário.
sexta-feira, 13 de março de 2015
quinta-feira, 12 de março de 2015
It's all about the money
O Top Gear - não me canso de o dizer - não é apenas um programa de carros, caso contrário não teria o sucesso que tem. É muito mais arrojado do que isso e é exactamente isso que se espera dele. Donde Conforme notou alguém, não faz sentido pagar a alguém como ele para praticar associação mental livre e a seguir castigá-lo exatamente por isso.. É o mesmo que convidar o Ricky Gervais para apresentar os Golden Globes e ficar escandalizado com as piadas brutais e ad hominem - como o próprio diz, não pode não confrontar o elefante dentro da sala. É certo que agressão física é um campeonato completamente diferente, e aí a defesa da irreverência não pode fazer nada pelo Clarkson. Resta esperar que a relevância financeira que o Top Gear tem para a BBC nos salve.
quarta-feira, 11 de março de 2015
terça-feira, 10 de março de 2015
segunda-feira, 9 de março de 2015
domingo, 8 de março de 2015
sexta-feira, 6 de março de 2015
A eira e o nabal
Muitas vezes não é um questão de perseguir o sol na eira simultaneamente com a chuva no nabal - conseguir uma das combinações individuais já seria ouro sobre azul. O problema surge verdadeiramente, na sua maior expressão, quando somos deparados com uma surpreendente conjugação de chuva na eira e sol no nabal.
quinta-feira, 5 de março de 2015
«Don't assume. It makes an "ass" out of "u" and "me".»
O PC ideal é aquele que, quando se abre uma aplicação do Office, sai uma série com o Gervais
quarta-feira, 4 de março de 2015
Não simetria
«Porém, urge acrescentar que a mulher de Schiller, apesar da sua graciosidade, era extremamente estúpida. No entanto, a estupidez constitui-se num especial atributo nas mulheres atraentes. Pelo menos, tenho conhecido muitos maridos que se regozijam com a estupidez das respectivas mulheres e conseguem ver nisso todos os predicados da inocência pueril. A beleza consegue verdadeiros prodígios. Numa beldade, todas as imperfeições interiores, ao invés de causarem repugnância, tornam-se de algum modo desmesuradamente sedutoras. Numa mulher bela, o próprio vício assume contornos fascinantes, mas se não fosse pela beleza, a mulher teria de ser vinte vezes mais inteligente do que o homem para infundir, se não o amor, pelo menos o respeito. »
Contos de S. Petersburgo, Nikolai Gogol
Contos de S. Petersburgo, Nikolai Gogol
domingo, 1 de março de 2015
Above and beyond
Era vítima de assombrações que considerava de fraca qualidade. E então dizia que vinham do aquém em vez de vir do além.
sábado, 28 de fevereiro de 2015
Quando os últimos são os primeiros
Lembro-me de ter tido uma conversa com a minha avó quando estava perto de me licenciar. Rebuscou na memória dela e contou-me como sentiu um vazio no momento em que percebeu que tinha terminado o seu curso. É provável que também tenha tido a mesma sensação quando me apercebi que tinha os créditos todos que precisava ou quando me dei conta de que não precisava de ir fazer mais exames. Eventualmente porque ainda não era claro para mim o que ia fazer a seguir e, aí sim, o vazio atingiu-me – como se, de repente, não houvesse mais nada para fazer. Ou então apenas por causa da sugestão dela.
Nos últimos anos tenho coleccionado um número relativamente simpático de últimos dias. Mas estes últimos dias são diferentes dos das últimas aulas das últimas cadeiras da licenciatura. Porque estão associados não àquilo que termina mas àquilo que vai começar. E, nesse sentido, não sinto vazio nenhum – sinto, quando muito, o oposto. Como se não fossem últimos dias mas efectivamente primeiros dias. E, desta forma, estão muito mais próximos do longínquo primeiro dia de escola na primária do que último dia de faculdade.
Nos últimos anos tenho coleccionado um número relativamente simpático de últimos dias. Mas estes últimos dias são diferentes dos das últimas aulas das últimas cadeiras da licenciatura. Porque estão associados não àquilo que termina mas àquilo que vai começar. E, nesse sentido, não sinto vazio nenhum – sinto, quando muito, o oposto. Como se não fossem últimos dias mas efectivamente primeiros dias. E, desta forma, estão muito mais próximos do longínquo primeiro dia de escola na primária do que último dia de faculdade.
Democracia à moda russa
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015
Back to the future
21 de Outubro de 2015 é a data para a qual Marty (Hello, hello, anybody home? Think McFly!) e o Doc viajam no segundo filme da trilogia. Passaram 30 anos sobre o filme e estamos a sensivelmente seis meses da data - 1985 é o ano de origem, é o presente da história. Não há carros voadores nem skates magnéticos sem rodas. Não há roupas que se ajustam automaticamente às dimensões de cada um. Claro que, pelo meio, o mundo também não acabou uma série de vezes, num dos inúmeros acontecimentos em que era suposto tê-lo feito. Por exemplo aquando da profecia maia. Ainda assim, sinto que as minhas expectativas de miúdo saíram defraudadas. Enfim, pode ser que nos seis meses que restam seja surpreendido.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Sugiro que não me sugiram
O youtube, para além do conjunto de sugestões que já oferecia na sua barra lateral, agora resolve saltar mesmo para um qualquer vídeo logo após o final daquele que acabámos de ver. Quer dizer, não é logo logo, aparece uma não muito longa contagem decrescente com o título, normalmente não muito preciso, por debaixo. Ou seja, é como se os links com mix de vídeos subordinados a um dado tema fossem generalizados a todos os conteúdos. Com a agravante de a associação não ser, de todo óbvia: o algoritmo que escolhe o vídeo seguinte seguramente é baseado no histórico de visualizações, donde qualquer coisa pode suceder a qualquer coisa. E é isto que é particularmente irritante. É esta suposta aleatoriedade orientada para o meu perfil de utilizador. Por exemplo, ver um excerto do programa do Jon Stewart e em seguida ser presenteado com o Winton Marsalis ao vivo. Já não bastava o paternalismo de oferecer sugestões, agora é uma quase sobranceria de - a não ser mediante um click num curto espaço de tempo - ter que gramar algo que não pedi e, frequentemente, mal direccionado para aquilo que me apetece ver naquele momento, pese embora o meu interesse pelo tópico.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Notas para a Grécia
Will Butler dos Arcade Fire dedica esta música à Grécia. Segundo o próprio, estava a ler o blog do Guardian quando a inspiração surgiu.
Agressividade passiva
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Oh la vache ou (um)a diferença entre mim e o David Duchovny
I had an idle idea while driving one day that if I were a cow I’d probably do my best to get to India. I thought that was funny.
Em tempos idos, o mesmo também me ocorreu e, vai daí, até escrevi um post sobre isso. Great minds think alike. Há tanto tempo que imediatamente afastei a ideia de o procurar no arquivo. Diga-se que não continuei a explorar o mesmo raciocínio aplicado a outros animais - tenho alguma dificuldade em classificar esta última parte como algo negativo (preguiça, a imaginação a ir-se) ou positivo (não estou tão queimado quanto o Duchovny).
Em tempos idos, o mesmo também me ocorreu e, vai daí, até escrevi um post sobre isso. Great minds think alike. Há tanto tempo que imediatamente afastei a ideia de o procurar no arquivo. Diga-se que não continuei a explorar o mesmo raciocínio aplicado a outros animais - tenho alguma dificuldade em classificar esta última parte como algo negativo (preguiça, a imaginação a ir-se) ou positivo (não estou tão queimado quanto o Duchovny).
domingo, 22 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
É isto
Estragon: Well, shall we go?
Vladimir: Yes, let's go.
[They do not move.]
Waiting for Godot, Samuel Beckett
Vladimir: Yes, let's go.
[They do not move.]
Waiting for Godot, Samuel Beckett
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Nichts
Estragon: Nothing happens, nobody comes, nobody goes, it's awful!
Waiting for Godot, Samuel Beckett
Waiting for Godot, Samuel Beckett
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Marcação à zona de desconforto
Não tenho preconceitos em relação à mudança. Mais até, em procurar a mudança. Arriscar. Mas tenho algo contra paternalismo de vão de escada que se instalou em torno da suposto falta de proactividade alheia: causa algum desconforto a questão de instigar os outros (ou recriminar os que não o fazem) a sair da respectiva zona de conforto. Como se tudo na vida se resumisse (confortavelmente) a um certo nível (ou ausência) de atitude. Sem querer cair num (desconfortável) argumento circular, a essas vozes (desconfortáveis) apetece-me dizer para sairem da própria zona de conforto. Que, aparentemente, é (confortavelmente) instruir os outros para sairem da deles.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Where to draw the line
A diferença entre bom dia e boa tarde é vincada. Sou normalmente corrigido (e corrijo!) se alguém me disser bom dia às três da tarde. No entanto, hoje desejaram-me um resto de bom dia às três da tarde. Fiquei a pensar se deveria corrigir para um mais apropriado resto de boa tarde.
domingo, 8 de fevereiro de 2015
É uma experiência relativamente comum
Sentado na bicicleta, pedalar e lutar para atingir equilíbrio à medida que se adquire velocidade, incentivado pela voz progenitora que corre segurando a traseira da bicicleta. A sensação de excitação misturada com algum medo surge quando se olha para trás e apercebe que o apoio já lá não está - ficou para trás, curvado, mãos agarradas aos joelhos, a arfar.
Hoje vi um pai a ensinar um filho a andar de skate.
(empurra com a perna esquerda!)
Hoje vi um pai a ensinar um filho a andar de skate.
(empurra com a perna esquerda!)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
Embracing the shallow
Num dos episódios de Dr. House, o seu (único?) amigo Wilson descobre que tem cancro. Um oncologista com cancro, a ironia. A partir daí e durante alguns episódios, assistimos à reacção do feiticeiro revirado pelo feitiço.
Wilson não quer ser tratado no hospital, Wilson não quer fazer os tratamentos convencionais que tantas vezes prescreveu aos seus doentes com base em taxas elevadas de sucesso da terapia. Que dizer àqueles a quem estas terapias ainda assim, desafiando as probabilidades, não funcionaram? Prefere uma solução experimental, arriscada, que caso não resulte pode significar a sua morte. Não morre mas também não consegue a cura.
Como muitos dos que passam por situações graves de saúde que (im)põem um prazo de validade - assim como aqueles de quem se diz terem enganado a morte por pouco - qual lugar-comum, sentiu que tinha que mudar a sua vida. Aproveitar os cinco meses que lhe faltam. Sugar o tutano de cada dia, carpe diem.
Resolve cortar totalmente com a sua vida de até àquele momento. Tinha arriscado pouco, feito poucas loucuras. Ao contrário do (não único?) amigo House, é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros, que tem consideração pelo sofrimento dos seus doentes.
E então, ao contrário da maioria dos que executam o lugar-comum, não tentou uma mudança para uma vida com mais sentido mas sim para vida superficial, imatura. Embracing the shallow. Cria inclusivamente um alter ego, Kyle Calloway, personagem cujo papel vai tentar desempenhar para satisfazer essa vontade de vazio.
Wilson não quer ser tratado no hospital, Wilson não quer fazer os tratamentos convencionais que tantas vezes prescreveu aos seus doentes com base em taxas elevadas de sucesso da terapia. Que dizer àqueles a quem estas terapias ainda assim, desafiando as probabilidades, não funcionaram? Prefere uma solução experimental, arriscada, que caso não resulte pode significar a sua morte. Não morre mas também não consegue a cura.
Como muitos dos que passam por situações graves de saúde que (im)põem um prazo de validade - assim como aqueles de quem se diz terem enganado a morte por pouco - qual lugar-comum, sentiu que tinha que mudar a sua vida. Aproveitar os cinco meses que lhe faltam. Sugar o tutano de cada dia, carpe diem.
Resolve cortar totalmente com a sua vida de até àquele momento. Tinha arriscado pouco, feito poucas loucuras. Ao contrário do (não único?) amigo House, é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros, que tem consideração pelo sofrimento dos seus doentes.
E então, ao contrário da maioria dos que executam o lugar-comum, não tentou uma mudança para uma vida com mais sentido mas sim para vida superficial, imatura. Embracing the shallow. Cria inclusivamente um alter ego, Kyle Calloway, personagem cujo papel vai tentar desempenhar para satisfazer essa vontade de vazio.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Souffrance
Fala-se muito dos problemas das pessoas que sofrem em silêncio. Ninguém se preocupa com as que sofrem em ruído.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Bateria
Dois filmes ligados por baterias.
O primeiro pela razão mais óbvia: a história de um aluno de uma escola de jazz de topo e de um professor tirânico. Whiplash, o título e tema central do filme, mas também Caravan, Buddy Rich, Donna Lee, rudimentos e double time feel a 300bpms. O segundo pela razão menos óbvia: a banda sonora de Birdman é, na sua maioria, uma bateria que vai acompanhando a dinâmica do filme. Uma ou outra vez, o baterista é filmado - Brian Blade aparece curvado sobre os pratos e os timbales.
O primeiro a não perder para quem gosta de música e, em especial, teve aulas de música e só faltou chegar a vias de facto com professores execráveis. O segundo, por imensas (todas?) razões, a não perder para quem gosta de cinema.
O primeiro pela razão mais óbvia: a história de um aluno de uma escola de jazz de topo e de um professor tirânico. Whiplash, o título e tema central do filme, mas também Caravan, Buddy Rich, Donna Lee, rudimentos e double time feel a 300bpms. O segundo pela razão menos óbvia: a banda sonora de Birdman é, na sua maioria, uma bateria que vai acompanhando a dinâmica do filme. Uma ou outra vez, o baterista é filmado - Brian Blade aparece curvado sobre os pratos e os timbales.
O primeiro a não perder para quem gosta de música e, em especial, teve aulas de música e só faltou chegar a vias de facto com professores execráveis. O segundo, por imensas (todas?) razões, a não perder para quem gosta de cinema.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Deflated
Comprar um pão de Mafra fatiado quentinho, acabadinho de fazer. Chegar a casa, arrumar as compras a correr e, depois de tudo no devido sítio, tirar uma faca da gaveta e a manteiga do frigorífico. Abrir a embalagem da manteiga e reparar que está cheia de bolor.
sábado, 31 de janeiro de 2015
The hand that feeds
«This is the Catch-22 of the fossil fuel economy: precisely because these activities are so dirty and disruptive, they tend to weaken or even destroy other economic drivers: fish stocks are hurt by pollution, the scarred landscape becomes less attractive to tourists, and farmland becomes unhealthy. But rather than spark a popular backlash, this slow poisoning can end up strengthening the power of the fossil fuel companies because they end up being virtually the only game in town.»
This changes everything, Naomi Klein
This changes everything, Naomi Klein
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
Inconclusivo
Nunca diria que a caligrafia é uma aptidão fundamental mas não seria capaz de dizer que a tua não me impressiona. E, no limite, que também gostaria de conseguir escrever assim. Letras, palavras tão bem escritas. Tão bem desenhadas. Um traço fino, a proporcionalidade. Elegância.
E logo eu que sempre detestei escrever. Quer dizer, fisicamente escrever, pegar numa caneta ou num lápis e desenhar as letras e as palavras.
E daí que faça um esforço por escrever o menos possível. É desconfortável e desgastante. É um castigo. E, quando tenho mesmo que o fazer, tento abreviar as palavras e as frases ao máximo. De tal forma que o resultado, por vezes, é uma algaraviada de palavras cortadas ao meio por pontos e traços, uma espécie de código morse que resume uma ideia a uns quantos sinais quase ininteligíveis.
E logo eu que sempre detestei escrever. Quer dizer, fisicamente escrever, pegar numa caneta ou num lápis e desenhar as letras e as palavras.
E daí que faça um esforço por escrever o menos possível. É desconfortável e desgastante. É um castigo. E, quando tenho mesmo que o fazer, tento abreviar as palavras e as frases ao máximo. De tal forma que o resultado, por vezes, é uma algaraviada de palavras cortadas ao meio por pontos e traços, uma espécie de código morse que resume uma ideia a uns quantos sinais quase ininteligíveis.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Abaixo do par
Observação do comentador da Eurosport: em qualquer desporto, estar abaixo do par significa estar a fazer uma exibição aquém do potencial e, por isso, inferior e negativa; a excepção é o golfe, onde estar abaixo do par é positivo.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
domingo, 25 de janeiro de 2015
sexta-feira, 23 de janeiro de 2015
Os extremos atraem-se
«Authoritarian socialism and capitalism share strong tendencies toward centralizing (one in the hands of the state, the other in the hands of corporations). They also both keep their respective systems going through ruthless expansion – whether through production for production’s sake, in the case of Soviet-era socialism, or consumption for consumption’s sake, in the case of consumer capitalism.»
This changes everything, Naomi Klein
This changes everything, Naomi Klein
quarta-feira, 21 de janeiro de 2015
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
segunda-feira, 19 de janeiro de 2015
Secessão
Costuma dizer-se que no norte é que se trabalha mas a expressão é trabalhar que nem um mouro.
domingo, 18 de janeiro de 2015
Dois sistemas que diferem nos resultados ex ante e ex post.
O comunismo, para qualquer ponto de partida ex-ante, pretende gerar uma igualdade ex-post. O capitalismo pretende gerar uma igualdade ex-ante, para qualquer ponto de chegada ex-post.
sábado, 17 de janeiro de 2015
1000
This past weekend, the Swiss reached an extraordinary milestone of 1,000 wins on the ATP World Tour. But more than another celebration of a career that, to many observers, makes him the greatest player to ever pick up a racket, his victory over Milos Raonic to take the title in Brisbane reinforced the feeling that he will be a serious factor to land the big prize in Melbourne. Federer has maintained his confidence about his chances in the event that starts next Monday.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Conteúdo explícito
Acho que foi num álbum dos Guns N' Roses (Use your illusion?) que vi pela primeira vez o aviso, em letras brancas e pretas a alternar com o fundo, dirigido aos pais, naquele caso americanos, preocupados com a linguagem menos própria para os ouvidos de crianças: parental advisory, explicit content (ou lyrics em vez de content).
Sempre achei curiosa esta indicação. Porque não se refere verdadeiramente àquilo que pretende censurar, i.e., o uso explícito de palavrões. E desta forma parece adulterar o intuito, já que alegar (apenas) conteúdo explícito quando palavrões são usados significa que o mesmo conteúdo é menos explícito quando os mesmo palavrões não são usados. Ou seja, os palavrões tornam a linguagem e a mensagem mais clara. E com alguma (muita) razão. Por exemplo "isto é muito claro" e "isto é claro como o caralho" - o segundo é claramente mais explícito que o primeiro.
Sempre achei curiosa esta indicação. Porque não se refere verdadeiramente àquilo que pretende censurar, i.e., o uso explícito de palavrões. E desta forma parece adulterar o intuito, já que alegar (apenas) conteúdo explícito quando palavrões são usados significa que o mesmo conteúdo é menos explícito quando os mesmo palavrões não são usados. Ou seja, os palavrões tornam a linguagem e a mensagem mais clara. E com alguma (muita) razão. Por exemplo "isto é muito claro" e "isto é claro como o caralho" - o segundo é claramente mais explícito que o primeiro.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Fácil
Os anglófonos dizem "piece of cake" quando se querem referir a algo que é fácil. Os francófonos também podem dizer "c'est du gâteau" embora aparentemente não o façam correntemente. Os germanófonos, para além de "Kinderspiel", dizem "nur ein Klacks": apenas uma porção, dose de uma substância mole e meio líquida, como as colheradas de puré na cantina da escola. E nós os lusófonos? Canja.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
segunda-feira, 12 de janeiro de 2015
Nem sequer se trata de roubar as palavras dos outros.
Não tem nada a ver com roubar. É aproveitar. Um aproveitar que tem a vantagem de servir não só quem rediz mas também quem diz. Mutuamente benéfico. Uma espécie de relação simbiótica.
Quem diz vê a mensagem reforçada e a lealdade (canina?) reafirmada, uma forma de separar o trigo do joio. Quem rediz esconde-se no conforto da afirmação alheia, e insere-se cada vez mais na engrenagem da qual comodamente faz parte.
Quem rediz fá-lo com convicção. Com força, como se as palavras fossem mesmo suas, da sua laia. E, de início, parecem mesmo sair da sua cabeça, tudo parece genuíno, autêntico, credível; só mais tarde as palavras começam a soar gastas, usadas, em segunda mão, requentadas.
Quem rediz serve-se numa bandeja que é prontamente abocanhada. Na solidão, dirá ao seu próprio ouvido que não tinha outra opção, que o faz apenas por auto-preservação, instinto de sobrevivência. E sente-se melhor.
Mas sobrevive, nisso tem toda a razão, ele que sabe que chegou onde chegou justamente por esse comportamento. Bom comportamento. Bom comportamento que é premiado. E é assim que vai avançado. E se vai aguentando e aguentando. Sobrevive porque é exactamente essa subserviência que é recompensada ao fim do dia, uma recompensa entregue conjuntamente com a exigência de mais e mais entrega.
E vai continuando a entregar. Ao mesmo tempo que suspira pelo dia em que não exista mais quem diz e que não tenha que redizer mais. O dia em que passe a ditar aquilo que os outros vão repetir. O dia em que deixe de redizer para passar a dizer.
Quem diz vê a mensagem reforçada e a lealdade (canina?) reafirmada, uma forma de separar o trigo do joio. Quem rediz esconde-se no conforto da afirmação alheia, e insere-se cada vez mais na engrenagem da qual comodamente faz parte.
Quem rediz fá-lo com convicção. Com força, como se as palavras fossem mesmo suas, da sua laia. E, de início, parecem mesmo sair da sua cabeça, tudo parece genuíno, autêntico, credível; só mais tarde as palavras começam a soar gastas, usadas, em segunda mão, requentadas.
Quem rediz serve-se numa bandeja que é prontamente abocanhada. Na solidão, dirá ao seu próprio ouvido que não tinha outra opção, que o faz apenas por auto-preservação, instinto de sobrevivência. E sente-se melhor.
Mas sobrevive, nisso tem toda a razão, ele que sabe que chegou onde chegou justamente por esse comportamento. Bom comportamento. Bom comportamento que é premiado. E é assim que vai avançado. E se vai aguentando e aguentando. Sobrevive porque é exactamente essa subserviência que é recompensada ao fim do dia, uma recompensa entregue conjuntamente com a exigência de mais e mais entrega.
E vai continuando a entregar. Ao mesmo tempo que suspira pelo dia em que não exista mais quem diz e que não tenha que redizer mais. O dia em que passe a ditar aquilo que os outros vão repetir. O dia em que deixe de redizer para passar a dizer.
domingo, 11 de janeiro de 2015
sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
Sucked in
Wilson: So you don't want to just avoid the issue; you want to avoid avoiding the issue.
House: Nothing is either as bad or as good as you think it is in the time.
Dr House
House: Nothing is either as bad or as good as you think it is in the time.
Dr House
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
«Segundo as estatísticas, e pelo que [...] lera numa revista ou num jornal qualquer, aproximadamente metade da população mundial não está satisfeita com o nome que tem. Ele pertencia ao grupo dos eleitos. Pelo menos, não tinha razão de queixa. Ou talvez fosse mais correto dizer que não se estava a ver com um nome diferente, nem imaginava que vida poderia ter levado com outra designação.»
A peregrinação do rapaz sem cor, Haruki Murakami
A peregrinação do rapaz sem cor, Haruki Murakami
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
terça-feira, 6 de janeiro de 2015
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
Cuba autêntica
domingo, 4 de janeiro de 2015
Bitola
Dois dedos são uma espécie de medida universalmente aceite daquilo que é q.b. – nem a mais, nem a menos. Por exemplo, uma pessoa sensata é uma pessoa com dois dedos de testa. Se tivesse apenas um dedo não teria, aparentemente, toda a sensatez e maturidade necessárias. Mas e com três dedos de testa? Seria tanta sensatez junta ao ponto de ser demasiada? Tornar-se-ia aborrecida pelo dedo adicional ou teria apenas uma testa muito grande qual monstro do Frankenstein?
Curioso é também a questão dos dois dedos de conversa. O que acontecerá se apenas tivermos um dedo de conversa? Ficará a meio e a saber a pouco porque muita coisa ficou por contar e discutir? E será que com três dedos de conversa estaremos a raiar o fala-baratismo? Muito interessante é que, nestes casos, este terceiro dedo (ou quarto, ou quinto, etc.) parece sofrer uma mutação para outra referência anatómica: falar pelos cotovelos.
A questão é se também se pode escrever pelos cotovelos. Dois (?) dedos de testa sugerem-me que talvez seja este o momento para um ponto final.
Curioso é também a questão dos dois dedos de conversa. O que acontecerá se apenas tivermos um dedo de conversa? Ficará a meio e a saber a pouco porque muita coisa ficou por contar e discutir? E será que com três dedos de conversa estaremos a raiar o fala-baratismo? Muito interessante é que, nestes casos, este terceiro dedo (ou quarto, ou quinto, etc.) parece sofrer uma mutação para outra referência anatómica: falar pelos cotovelos.
A questão é se também se pode escrever pelos cotovelos. Dois (?) dedos de testa sugerem-me que talvez seja este o momento para um ponto final.
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