Mas que, tendo em conta o que nos é servido, acaba por fazer sentido. As mesas de madeira têm bancos corridos, sentamo-nos os três de um lado, elas do outro. Primeiro vêm pequenos pratos com lima, malagueta muito vermelha em rodelas e um recipiente com algo que se assemelha a farturas. E, pouco tempo depois, colocam-nos à frente taças consideráveis com uma sopa. Noodles, ervas aromáticas, rebentos de soja e, de acordo com a nossa escolha, carne de vaca. Trata-se da típica phó, inscrição que vi em vários toldos e ementas nos dias anteriores.
Explicam-nos como se come: as farturas dentro da água quente a amolecer, cuidado com a malagueta, reservada aos mais audazes. A lima no fim, só um pouco, para acabar o caldo picante. Fazemos perguntas sobre o prato – por exemplo, se se come normalmente àquela hora da manhã – e pronunciamos o nome como a nossa mente lusa o vê escrito: com um “ó” seco e rígido no fim, como o acento nos indica. A pronúncia fá-las sorrir e ficar um pouco desconfortáveis. Explicam-nos que a vogal tem que ser mais longa
Phóóóó.
Caso contrário pode ser interpretado como outra palavra. E, pela explicação seguinte, mais do que uma singela e inocente palavra, percebemos que o segundo significado é um palavrão. A bad word. O vietnamita também é traiçoeiro.
No imediato, dado o aparente desconforto com que nos ensinam as vicissitudes da pronunciação curta e longa de vogais, não ousamos perguntar qual o famigerado segundo significado da palavra phó com um “ó” curto. Mas, passado algum tempo, um de nós não consegue suster a curiosidade e rasga o desconforto com a pergunta. Segue-se um novo pequeno riso, um trocar de opiniões a dois (a duas, neste caso) na língua autóctone, baixinho como se por milagre da natureza algum de nós conseguisse minimamente entender. E depois, com algum embaraço, vem a revelação
It means bitch.
E este bitch, dado o secretismo inicial, sabe-nos a pouco, parece demasiado inócuo para ser a bad word. Não é assim tão bad para o nosso referencial ocidental.
Passados uns dias, a propósito de algo de que já não me lembro, oiço, em bom português, a frase
Ou então comemos uma phó.
Não resisto a perguntar se se trata de uma phóóóóó ou de uma phó.
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