quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Embracing the shallow

Num dos episódios de Dr. House, o seu (único?) amigo Wilson descobre que tem cancro. Um oncologista com cancro, a ironia. A partir daí e durante alguns episódios, assistimos à reacção do feiticeiro revirado pelo feitiço.

Wilson não quer ser tratado no hospital, Wilson não quer fazer os tratamentos convencionais que tantas vezes prescreveu aos seus doentes com base em taxas elevadas de sucesso da terapia. Que dizer àqueles a quem estas terapias ainda assim, desafiando as probabilidades, não funcionaram? Prefere uma solução experimental, arriscada, que caso não resulte pode significar a sua morte. Não morre mas também não consegue a cura.

Como muitos dos que passam por situações graves de saúde que (im)põem um prazo de validade - assim como aqueles de quem se diz terem enganado a morte por pouco - qual lugar-comum, sentiu que tinha que mudar a sua vida. Aproveitar os cinco meses que lhe faltam. Sugar o tutano de cada dia, carpe diem.

Resolve cortar totalmente com a sua vida de até àquele momento. Tinha arriscado pouco, feito poucas loucuras. Ao contrário do (não único?) amigo House, é o tipo de pessoa que se preocupa com os outros, que tem consideração pelo sofrimento dos seus doentes.

E então, ao contrário da maioria dos que executam o lugar-comum, não tentou uma mudança para uma vida com mais sentido mas sim para vida superficial, imatura. Embracing the shallow. Cria inclusivamente um alter ego, Kyle Calloway, personagem cujo papel vai tentar desempenhar para satisfazer essa vontade de vazio.

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