Estive para me chamar Rui. Segundo consta. Acabou por não ser e honestamente não me imagino com outro nome. Sinto que não me pertenceria, que não me assentaria. E, no entanto, quão diferente poderia eu ter sido daquilo que sou hoje acaso me chamasse Rui? Quanto é que outro nome me poderia mudar? Quanto de mim, quanto daquilo que sou é o meu nome?
Uma parte de mim gosta de dizer rigorosamente nada: seria como mudar apenas a designação de algo, mais nada. O nome em si nem deveria fazer parte de mim, é só uma designação prática. Nomes são etiquetas que se põem às pessoas e nada mais do que isso. Mudar a etiqueta não tem impacto nenhum sobre a coisa: se a caneta se chamasse lápis continuaríamos a depreender o mesmo objecto mas chamar-lhe-íamos outra coisa.
Outra parte de mim compreende a energia investida pelos pais na escolha de nomes para crianças. E as discussões em que alguém tenta desencorajar os pais de uma criança a não lhe darem um dado nome. Quando era miúdo lembro-me de pensar que o pior nome que se podia ter era Diogo por causa do “baixa as cuecas que lá vai fogo”.
Várias partes de mim sabem que não somos nem objectos nem coisas. Ao contrário das canetas e dos lápis, o nosso nome é parte integrante da nossa identidade. Assim como o minha cara, a minha expressão, a cor do meu cabelo, a minha altura. Bem ou mal, crescemos com ele. Soa-me estranho quando o digo (não quando o oiço de outra pessoa), da mesma forma que a minha voz gravada não parece minha.
E, no entanto, já não poderia ter qualquer outro nome.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
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