O discurso da dona-de-casa é frequentemente usado para os países tidos como mais gastadores. Gerir um orçamento de Estado é um exercício equivalente ao de uma dona-de-casa que tem de gerir o seu orçamento familiar: basta não gastar mais do que aquilo que se tem.
É a este tipo de discurso a que um membro do público que assiste a um debate em Cambridge alude, quando pede para intervir e questionar o painel, constituído essencialmente por membros britânicos, mas também com a presença de Yannis Varoufakis (aqui, sensivelmente ao minuto 33).
Diz: malta, isto da economia é fácil: eu tenho dez libras no bolso e se for beber três pints em Cambridge, estarei provavelmente a usar dinheiro emprestado. Se continuar a fazer isso, vou ficar sem dinheiro e vou à falência, não é complicado. Vocês [políticos] só precisam de se sentar e decidir colectivamente o que país precisa.
Varoufakis desmistifica de imediato e explica-lhe que essa analogia não é correcta e que a lógica individual não pode ser transposta para o nível agregado de um país. Explica-lhe que na vida dele há uma independência entre as suas despesas e o seu rendimento: o facto de ele deixar de beber pints, respeitar a sua restrição orçamental e não gastar mais do que tem no bolso não afecta o seu rendimento, no final do mês vai continuar a receber exactamente o mesmo. Ora isto não é verdade para um país, onde, em agregado, as despesas são iguais ao rendimento. Se toda a gente poupar mais, o rendimento diminui. E é por isso que (com o devido respeito), não estaríamos forçosamente melhor se fossemos chefiados por donas-de-casa.
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