sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Seis e meio

Numa banca de jornais – e não só, recordações, comida, etc. – do aeroporto de Dublin. Quero levar qualquer coisa comigo para ler, não me apetece o livro que levei trouxe para a viagem. Opto por uma solução típica, agora uma Economist – na capa a chamada para um artigo sobre a Google Glass e possíveis ataques à cada vez mais exígua privacidade. O funcionário pega na revista, aponta o leitor de código de barras, espero que me diga o preço de carteira na mão. E depois fico a pensar nos seis euros e meio, enquanto me dirijo para as cadeiras onde hei de esperar pelo embarque. De repente, as letrinhas pequenas na parte inferior da capa da revista. Só há dois preços nos países do euro: Áustria, Bélgica, Finlândia, Alemanha, Luxemburgo e Holanda pagam o mesmo que a Irlanda e todos os outros gozam de um desconto de vinte cêntimos. A política de preços da Economist parece uma fábula do centro e da periferia, tão em voga nos temas que enchem grande parte das páginas da revista. Quer dizer, quase, é imperfeita porque coloca a Irlanda no centro e a França na periferia. A própria Itália é capaz de ficar um bocado chateada por ir para casa com mais vinte cêntimos no bolso.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Pero que las hay

A Apple comprou uma empresa de tecnologia que é conhecida por ter criado o sistema de detecção de movimentos utilizado em consolas de jogos da Microsoft. Grosso modo, esta empresa desenvolveu um sistema inovador que permite que a consola se aperceba dos movimentos corporais sem ser necessário que os jogadores se equipem com sensores nos seus corpos. Especula-se agora o que a Apple terá em mente com a incorporação deste tipo de tecnologias nos seus equipamentos.

Depois desta introdução (que praticamente só tem interesse como contexto) há dois aspectos muito curiosos nesta notícia: i) a empresa foi fundada maioritariamente por pessoas com um passado ligado a defesa e ii) é israelita.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Foi mais ou menos assim

Fábio!
(silêncio)
Ó Fáá biioo!
(silêncio)
Eh pá, Fábio é um nome muito musical. Fábio. Solbio. Sibio.
Dóbio
Rébio.
(silêncio)
(olhares)
Eh pá, Rébio é um bocado mau.

domingo, 24 de novembro de 2013

Heads up

Se há profissão que eu diria que acarreta riscos é a dos tipos que fazem entregas de botijas de gás. E, no entanto, parece que as únicas pessoas que não se aperceberam desse risco são aqueles que efectivamente fazem as entregas. Lidam com as botijas como se fossem sacos de lixo, deixam-nas cair no chão, etc.. Há dias vi uma carrinha ser conduzida lunaticamente, as botijas atrás a chocalhar umas contra as outras.

Às vezes tenho vontade de me dirigir a um desses profissionais e alertá-lo para o facto de que aquele recipiente pesado e feio e sujo contém uma coisa chamada gás, coisa essa que é conhecida por ser combustível e que é capaz de explodir se a aborrecermos demasiado. A esperança reside no gás canalizado, que é provável vir a salvar-nos a vida a todos.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Wide awake

Há um certo travo agri-doce em relação a ir ao cabeleireiro. É simpático quando mexem no cabelo mas é terrível o esforço para manter acordado.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Semínima pontuada

O N. dá-me a melhor definição de tocar polirritmos: é como aqueles jogos de bebés em que é suposto pôr um objecto com uma dada figura no orifício correspondente - só que em vez de pôr o triângulo no orifício em forma de triângulo, tentas encaixá-lo no que tem forma de quadrado. Eu acrescento: quadratura do círculo.

domingo, 17 de novembro de 2013

Anti-pró

«Às vezes prefere-se o moderno anti, sufixo nacionalmente adorado com o qual os portugueses se definem: é-se anti-comunista e anti-nuclear e anti-aborto e anti-gamente ainda era pior. Pelo contrário, o sufixo oposto, pró é praticamente tabu. Não se ouve dizer que se é pró-comunista e, de um modo geral, só se é «pró» em relação ao menino e à menina, ex: «É pró menino e prá menina».

Pior ainda: pró é sobretudo usado para mandar pessoas de que não se gosta para um sítio malcriado, e as palavras que começam por ela são geralmente pejorativas: nenhum português quer ser proxeneta, prostituta ou professional. As palavras começadas por anti, em contrapartida, são autênticas coqueluches: tudo é antítese de tudo, e a anti-poesia e o anti-cinema suscitam o interesse geral.»

A causa das coisas, Miguel Esteves Cardoso

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Mas não cai

Talvez por ser um Continente de menor dimensão, o da Defensores de Chaves costumava ter um sistema em que os clientes pesavam eles próprios a fruta e os legumes – no Colombo há um funcionário dedicado exclusivamente a essa tarefa. Recentemente, resolveram abandonar este sistema e a pesagem passou a poder ser feita nas caixas, como nalguns estabelecimentos da concorrência. Retiraram a quase totalidade das balanças. A quase totalidade, digo e repito, porque deixaram ficar uma. Uma. Da primeira vez que presenciei a alteração, reparei na bicha interminável de pessoas que refilavam enquanto esperavam para pesar o conteúdo dos sacos de plástico fininhos e transparentes: a mesma fila que dantes se dividia em três, quatro balanças diferentes, serpenteava na direcção do agora único exemplar. Disse mal à minha vida mas suspirei logo que ouvi o funcionário a avisar que o processo podia ser protelado até à caixa.

Passadas umas semanas (um mês?) deste episódio ainda há quem (e não são assim tão poucos) continue a fazer fila e a refilar enquanto espera interminavelmente pela única balança disponível (estarão lá há um mês?). É que não é só uma coisa que não entendo, são duas: (i) que ainda não tenham interiorizado que não precisam de levar a cabo o ritual da pesagem (enfim, somos criaturas de hábitos) e (ii) que a gestão daquele Continente não tenha retirado a última balança que Mohicanicamente subsiste, muito concorrida. Não que me prejudique – pelo contrário, quanto mais as pessoas à minha frente já levarem as coisas delas pesadas, menos tempo tenho que esperar para pagar porque dispensa o trabalho do caixa. E eles – que deveriam ser os principais afectados pela mudança – ainda não se habituaram, consultar desenfreadamente tabelas com códigos enfiadas em capas de plástico.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Prospect of a deal

De repente, o gato salta-te para o colo, como me costumava fazer a mim. Aliás, a qualquer pessoa. Com um aviso casual, um miar fortuito emitido instantes antes de dar o impulso no chão e aterrar nas tuas pernas. Quer festas, roça-se em ti, ouve-se o ronrom. Encolhes-te toda, soltas um som ridículo. Tens pouca experiência com animais, as tuas mãos ficam perdidas sem saber o que fazer, sinto-te ficar tensa, quase hirta. Levanto-me e agarro o gato, tiro-o de cima de ti, ponho-o no meu colo.

Explico-te como funcionam os gatos. Como se tivessem um manual de instruções e eu te estivesse a pôr a par dos botões, onde e quando carregar. O que fazer. A certa altura estamos a falar da personalidade dos gatos – da independência, da fleuma. Dizes que os gatos são como as mulheres quando passam as mensagens por gestos e silêncios, intenções. O que eu te tentei explicar – sem sucesso, reconheço-o agora – é que não é só com as mulheres que eles são parecidos.

domingo, 10 de novembro de 2013

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Estica

Nunca saio do gabinete sem esperar uns quantos minutos após pôr um documento a imprimir: a impressora demora sempre um bom bocado a aquecer. Fico a pensar se não deverá fazer alongamentos no final.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Tilda

Ponho um til ao preencher um formulário online e de imediato surge uma caixa a dizer que “special characters” não são “allowed”. Como explicar a ingleses que acentos não têm nada de especial? Muito pelo contrário, são bastante comuns e banais.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Cristiano Ronaldo não é o super-homem.

O futebolista lançou uma linha de roupa interior. Diz que está muito contente porque gosta muito de roupa interior e – atenção a esta parte – porque é a primeira coisa que veste de manhã.

domingo, 3 de novembro de 2013

12 fucking notes

Uma entrevista interessante em que o Brandford Marsalis fala sobre o nível de complexidade a que chegou o jazz e onde o descreve como um obstáculo à comunicação com o comum dos mortais que “don’t know shit about music”. O jazz está a tornar-se uma música fechada, tocada por músicos para músicos, os únicos com suposto arcaboiço para entender e apreciar o que está a acontecer – um argumento parecido àquele das senhoras que se aperaltam não para os senhores mas para as outras senhoras (não as criticarem). Dito de outra forma, aquele que deveria ser o público alvo está a ficar à margem, preterido por aquilo que supostamente ainda não foi feito com as “12 fucking notes”. E tudo isto em detrimento da componente emocional que, vistas as coisas, deveria ser o verdadeiro motivo. O mais curioso é isto tudo vir da boca de um virtuoso como o Marsalis.