segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
sábado, 27 de dezembro de 2014
A TSF é curiosa
É uma rádio essencialmente de publicidade e anúncios polvilhada, aqui e ali, por programas noticiosos. E, às vezes, passa música, que normalmente é da melhor que se ouve em qualquer frequência.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
Up to a point
O teu lugar. A tua cadeira. O teu lugar que já não é teu. Ainda não vi
(não quero ver)
mas sei que já não estás
Naquele lugar, naquela cadeira.
Já não é teu. Como é natural
(perfeitamente normal, lógico até)
que o deixe de ser. Nada disto é teu, deixou de ser, como tinha que ser, assim como o meu lugar há muito tempo que deixou de ser meu. Outra pessoa no meu lugar, na minha cadeira. Estranho como nada disso me incomoda: alguém no meu lugar e isso parece-me perfeitamente natural, normal. Lógico. Mas o teu
Lugar, cadeira.
E pior do que vazio, pior do que não estares lá tu é estar outra pessoa. Outra pessoa onde costumavas estar, onde devias estar, onde me lembro de te ver
(ainda não vi)
onde me lembro de me ter habituado a ver-te. E eu sei que é normal, natural, lógico que já não estejas - como eu, que há muito tempo deixei tudo
(outra pessoa no meu lugar, e isso não me incomoda).
Mas outra pessoa no
Teu lugar, tua cadeira
Não me é natural, lógico, normal. E incomoda-me.
(não quero ver)
mas sei que já não estás
Naquele lugar, naquela cadeira.
Já não é teu. Como é natural
(perfeitamente normal, lógico até)
que o deixe de ser. Nada disto é teu, deixou de ser, como tinha que ser, assim como o meu lugar há muito tempo que deixou de ser meu. Outra pessoa no meu lugar, na minha cadeira. Estranho como nada disso me incomoda: alguém no meu lugar e isso parece-me perfeitamente natural, normal. Lógico. Mas o teu
Lugar, cadeira.
E pior do que vazio, pior do que não estares lá tu é estar outra pessoa. Outra pessoa onde costumavas estar, onde devias estar, onde me lembro de te ver
(ainda não vi)
onde me lembro de me ter habituado a ver-te. E eu sei que é normal, natural, lógico que já não estejas - como eu, que há muito tempo deixei tudo
(outra pessoa no meu lugar, e isso não me incomoda).
Mas outra pessoa no
Teu lugar, tua cadeira
Não me é natural, lógico, normal. E incomoda-me.
O diabo está nos detalhes. Ou no maxilar inferior.
As pessoas falam do céu da boca mas nunca do inferno. Será a parte de baixo?
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
Atestado da velhice de uma viatura
Não obstante a recente quebra da cotação do Brent e subsequente ajustamento dos preços dos combustíveis, o valor residual do meu carro aumenta substancialmente sempre que atesto o depósito.
domingo, 21 de dezembro de 2014
You name it
Gozamos (criticamos?) com os americanos pela falta de originalidade nos nomes das cidades. Que os EUA repetiram a fórmula de Paris já o sabemos, culpa de Wim Wenders. Embora tenha avisado apenas em relação ao Texas, deixou de fora as restantes Paris do Kentucky, o Tennessee e o Illinois. E tantas outras fórmulas repetidas, como London e até a nossa Lisboa versão Lisbon.
Mas tentemos colocar-nos no lugar dos responsáveis por este estado das coisas. Há uns quantos séculos atrás, depois de uma viagem transatlântica num barco – que deveria conseguir a proeza de ser bastante mais desconfortável que voar em turística durante umas oito horas – os descobridores e/ou colonos chegavam a um sítio totalmente desconhecido e tinham que desencantar um nome para o local.
É claro que nem todos conseguiram grandes feitos: tirar coelhos da cartola não é suficiente para descrever este processo. Há algumas técnicas para lidar com o assunto. A primeira, e eventualmente preferível, seria conseguir inventar qualquer coisa completamente nova. Mas é tramado conseguir tal façanha e não podemos mandar a primeira pedra ao colono que falhe a tentar.
Outro refúgio é emprestar uma designação dos nativos americanos. Esta prática foi posta em prática com algum sucesso aqui e ali: Massachusetts, que tanta inspiração acabou por dar aos Bee Gees, mas também Manhattan ou o Hawai, ou ainda Malibu e o rio Potomac. Outro ainda é associar o local a uma determinada data: a Ilha da Páscoa e o Rio de Janeiro.
Quando nada disto funciona, lá está, temos que recorrer à pátria mãe e, de repente, entramos nos casos que referia há pouco. Claro que podemos fazer ligeiras adaptações, como Nova Iorque, Nova Jérsia e Nova Orleães, é só acrescentar o adjectivo no início.
Importante é que tudo isto não é específico dos EUA: veja-se a quantidade de Córdobas que existem por essa América Latina fora ou a Austrália de New South Wales e Newcastle. E quando nem a pátria mãe nos salva (ou então apenas porque temos um ego), nada como designar o local com o nosso próprio nome. Do rio Hudson ao estreito de Magalhães, quiçá o exemplo máximo de todos – e útil para fechar o círculo – seja a própria América.
Mas tentemos colocar-nos no lugar dos responsáveis por este estado das coisas. Há uns quantos séculos atrás, depois de uma viagem transatlântica num barco – que deveria conseguir a proeza de ser bastante mais desconfortável que voar em turística durante umas oito horas – os descobridores e/ou colonos chegavam a um sítio totalmente desconhecido e tinham que desencantar um nome para o local.
É claro que nem todos conseguiram grandes feitos: tirar coelhos da cartola não é suficiente para descrever este processo. Há algumas técnicas para lidar com o assunto. A primeira, e eventualmente preferível, seria conseguir inventar qualquer coisa completamente nova. Mas é tramado conseguir tal façanha e não podemos mandar a primeira pedra ao colono que falhe a tentar.
Outro refúgio é emprestar uma designação dos nativos americanos. Esta prática foi posta em prática com algum sucesso aqui e ali: Massachusetts, que tanta inspiração acabou por dar aos Bee Gees, mas também Manhattan ou o Hawai, ou ainda Malibu e o rio Potomac. Outro ainda é associar o local a uma determinada data: a Ilha da Páscoa e o Rio de Janeiro.
Quando nada disto funciona, lá está, temos que recorrer à pátria mãe e, de repente, entramos nos casos que referia há pouco. Claro que podemos fazer ligeiras adaptações, como Nova Iorque, Nova Jérsia e Nova Orleães, é só acrescentar o adjectivo no início.
Importante é que tudo isto não é específico dos EUA: veja-se a quantidade de Córdobas que existem por essa América Latina fora ou a Austrália de New South Wales e Newcastle. E quando nem a pátria mãe nos salva (ou então apenas porque temos um ego), nada como designar o local com o nosso próprio nome. Do rio Hudson ao estreito de Magalhães, quiçá o exemplo máximo de todos – e útil para fechar o círculo – seja a própria América.
sábado, 20 de dezembro de 2014
Um almoço forçado.
Para encher um vazio de calendário ou de programa. Que discutir com meia dúzia de turcos aos quais apenas fui apresentado há uma hora atrás?
Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.
E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.
E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.
Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.
Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.
E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.
E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.
Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
I got your back, baby
É difícil de identificar quem faz de wing(wo)man em pares de Testemunhas de Jeová.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Sem rei mas com roque
Há muitos anos, um convidado de um programa de televisão, abertamente monárquico, foi questionado sobre a razão da sua preferência política. Respondeu à pergunta com outra pergunta que alguém, uma referência sua, lhe teria colocado: já reparaste que os países europeus mais desenvolvidos são monarquias? Estava a referir-se aos países escandinavos, ao Reino Unido, à Holanda, à Bélgica que, efectivamente, têm níveis de desenvolvimento dos mais elevados do mundo.
Esta história é particularmente interessante para explicar a típica confusão que por vezes existe entre correlação e causalidade. Mas antes disso, em primeiro lugar, há um importante ponto em relação à delimitação do perímetro elegível para analisar monarquias. A escolha da Europa (ocidental) não é inocente uma vez que é uma das zonas do mundo onde existe simultaneamente um grande número de monarquias e países com elevado desenvolvimento. No entanto, mesmo assim há os casos da Alemanha e da França que não têm monarquias mas têm elevado nível de desenvolvimento e, por outro lado, a Espanha que tem uma monarquia e que, no quadro da Europa Ocidental, não sendo terceiro-mundista, também não é propriamente escandinava.
Para ter uma abordagem mais exaustiva, resolvi consultar a Wikipedia, essa fonte de elevado gabarito. De acordo com a enciclopédia virtual, há uma série de outras monarquias no mundo para além das dos países europeus, e mesmo sem contar com os países da Commonwealth. Comecemos no que está mais longe de nós, a Oceânia, onde só temos um exemplar: Tonga. Daí passemos à Ásia onde temos o Brunei, a Malásia, o Cambodja e a Tailândia e, mais ao norte, o Butão. Continuando para oeste, Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Oman e Qatar no Médio Oriente. Em África, o Lesotho e a Swazilândia e, no norte, no Magrebe, temos Marrocos.
De repente, a coincidência entre elevado desenvolvimento humano e a existência de um regime monárquico deixar de ser tão óbvia. Claro que poderia ser argumentado que as monarquias coincidem com os países mais desenvolvidos dentro de um grupo com características comuns, ou seja, uma análise por clusters. Ainda assim, por exemplo, o Cambodja é um dos países com um Índice de Desenvolvimento Humano mais baixos do mundo em qualquer grupo que possa ser considerado.
De uma forma mais geral, a confusão entre correlação e causalidade é algo abundante. Lidamos mal com aquilo que não sabemos ou entendemos e estamos programados para tentar construir relações de causa/consequência. Por vezes, isso faz-nos interpretar erradamente aquilo que vemos: uma relação de correlação sem causalidade. Ou que não vemos: uma terceira variável que não observamos e que, essa sim, tem uma relação de causalidade sobre outras duas (correlacionadas entre si) que observamos.
Um exemplo mais palpável. Tenho cada vez mais rugas e cabelos brancos mas dificilmente poderia argumentar convincentemente que os cabelos brancos são a causa das rugas ou vice-versa. Em princípio, a minha idade, genética ou hábitos de vida terão uma responsabilidade maior na evolução desses dois “indicadores”.
O facto de que (alguns) países com elevado nível de desenvolvimento terem monarquias não significa que uma das variáveis cause a outra. Há seguramente um conjunto de variáveis históricas, sociais, económicas e culturais que conduziram tanto a esse sistema político (ou à ausência de mudança para outro) e a esse nível de desenvolvimento. Ter uma monarquia não é uma condição necessária – e muito menos suficiente – para um país subir no ranking do desenvolvimento. A questão verdadeiramente relevante é se instaurar uma monarquia conduz a um melhor funcionamento do país tudo o resto igual. E este “tudo o resto igual” faz toda a diferença: a nossa vida seria muito mais fácil se tornar o nosso país numa nação mais próspera fosse tão elementar como construir um trono e designar alguém para nele se sentar.
Esta história é particularmente interessante para explicar a típica confusão que por vezes existe entre correlação e causalidade. Mas antes disso, em primeiro lugar, há um importante ponto em relação à delimitação do perímetro elegível para analisar monarquias. A escolha da Europa (ocidental) não é inocente uma vez que é uma das zonas do mundo onde existe simultaneamente um grande número de monarquias e países com elevado desenvolvimento. No entanto, mesmo assim há os casos da Alemanha e da França que não têm monarquias mas têm elevado nível de desenvolvimento e, por outro lado, a Espanha que tem uma monarquia e que, no quadro da Europa Ocidental, não sendo terceiro-mundista, também não é propriamente escandinava.
Para ter uma abordagem mais exaustiva, resolvi consultar a Wikipedia, essa fonte de elevado gabarito. De acordo com a enciclopédia virtual, há uma série de outras monarquias no mundo para além das dos países europeus, e mesmo sem contar com os países da Commonwealth. Comecemos no que está mais longe de nós, a Oceânia, onde só temos um exemplar: Tonga. Daí passemos à Ásia onde temos o Brunei, a Malásia, o Cambodja e a Tailândia e, mais ao norte, o Butão. Continuando para oeste, Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Oman e Qatar no Médio Oriente. Em África, o Lesotho e a Swazilândia e, no norte, no Magrebe, temos Marrocos.
De repente, a coincidência entre elevado desenvolvimento humano e a existência de um regime monárquico deixar de ser tão óbvia. Claro que poderia ser argumentado que as monarquias coincidem com os países mais desenvolvidos dentro de um grupo com características comuns, ou seja, uma análise por clusters. Ainda assim, por exemplo, o Cambodja é um dos países com um Índice de Desenvolvimento Humano mais baixos do mundo em qualquer grupo que possa ser considerado.
De uma forma mais geral, a confusão entre correlação e causalidade é algo abundante. Lidamos mal com aquilo que não sabemos ou entendemos e estamos programados para tentar construir relações de causa/consequência. Por vezes, isso faz-nos interpretar erradamente aquilo que vemos: uma relação de correlação sem causalidade. Ou que não vemos: uma terceira variável que não observamos e que, essa sim, tem uma relação de causalidade sobre outras duas (correlacionadas entre si) que observamos.
Um exemplo mais palpável. Tenho cada vez mais rugas e cabelos brancos mas dificilmente poderia argumentar convincentemente que os cabelos brancos são a causa das rugas ou vice-versa. Em princípio, a minha idade, genética ou hábitos de vida terão uma responsabilidade maior na evolução desses dois “indicadores”.
O facto de que (alguns) países com elevado nível de desenvolvimento terem monarquias não significa que uma das variáveis cause a outra. Há seguramente um conjunto de variáveis históricas, sociais, económicas e culturais que conduziram tanto a esse sistema político (ou à ausência de mudança para outro) e a esse nível de desenvolvimento. Ter uma monarquia não é uma condição necessária – e muito menos suficiente – para um país subir no ranking do desenvolvimento. A questão verdadeiramente relevante é se instaurar uma monarquia conduz a um melhor funcionamento do país tudo o resto igual. E este “tudo o resto igual” faz toda a diferença: a nossa vida seria muito mais fácil se tornar o nosso país numa nação mais próspera fosse tão elementar como construir um trono e designar alguém para nele se sentar.
domingo, 14 de dezembro de 2014
Loucura
«Duas formas de loucura, portanto: alguém que perdeu o real e alguém que perdeu o irreal, o imaginário.
Mas é evidente que há dois tipos de punição: alguém que perdeu a ligação com o real é punido socialmente, pelo conjunto dos homens e das suas relações, e é ainda punido materialmente, isto é: punido pela matéria: porque perceber minimamente o real é saber lidar com ele perceber coisas simples, como a provável queda de uma pedra que se encontra num ponto alto e está desequilibrada. (Apanhar na cabeça com uma pedra é um exemplo de uma punição do real.) Perder a função do real é assim perder os homens e o mundo, ou mais propriamente, é perder o mundo e a cidade, perder a natureza, as suas regras, previsibilidades e repetições e ainda a ligação com os homens, com os seus modos de viver.
Perder a função do irreal, perder o imaginário é, de facto, menos grave, temos de o reconhecer. Quem perdeu o imaginário privado pode ainda viver tranquilamente no mundo, defendendo-se dos homens por via dos bons negócios e defendendo-se da natureza por via dos sensato comportamento do corpo. No entanto, esse homem perde algo de substancial pois o imaginário individual é isto mesmo: a marca de um indivíduo, a marca privada que separa um homem do outro, que os distingue, que os faz merecer uma morte individual.»
Atlas do corpo e da imaginação, Gonçalo M. Tavares
Mas é evidente que há dois tipos de punição: alguém que perdeu a ligação com o real é punido socialmente, pelo conjunto dos homens e das suas relações, e é ainda punido materialmente, isto é: punido pela matéria: porque perceber minimamente o real é saber lidar com ele perceber coisas simples, como a provável queda de uma pedra que se encontra num ponto alto e está desequilibrada. (Apanhar na cabeça com uma pedra é um exemplo de uma punição do real.) Perder a função do real é assim perder os homens e o mundo, ou mais propriamente, é perder o mundo e a cidade, perder a natureza, as suas regras, previsibilidades e repetições e ainda a ligação com os homens, com os seus modos de viver.
Perder a função do irreal, perder o imaginário é, de facto, menos grave, temos de o reconhecer. Quem perdeu o imaginário privado pode ainda viver tranquilamente no mundo, defendendo-se dos homens por via dos bons negócios e defendendo-se da natureza por via dos sensato comportamento do corpo. No entanto, esse homem perde algo de substancial pois o imaginário individual é isto mesmo: a marca de um indivíduo, a marca privada que separa um homem do outro, que os distingue, que os faz merecer uma morte individual.»
Atlas do corpo e da imaginação, Gonçalo M. Tavares
sábado, 13 de dezembro de 2014
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Homem que ladra
As pessoas dizem de cães especialmente interactivos que só lhes falta falar. Já eu tenho dias em que só me falta mesmo ladrar. Ou ganir.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Auto-imunidade
O orgulho é exigente, não se contenta com pouco, precisa de cuidados meticulosos. É absorvente, obriga a uma atenção constante. E, aos poucos, vai cegando, tirando os olhos do que é verdadeiramente importante. Porque o orgulho é exactamente aquilo que é: orgulhoso. Como alternativa, um sucedâneo, uma espécie de parente pobre: o contentamento. Mais plácido, mais contido. Introvertido e fechado. E, por isso, permite o essencial: manter a perspectiva adequada.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
Roubini e tanto dá até que fura
É a enésima vez que o Dr. Doom faz previsões do género. A certa altura vai mesmo acertar. Quando acertar, curiosamente, vai parecer uma coisa do outro mundo - a memória é uma senhora muito selectiva.
domingo, 7 de dezembro de 2014
Perder a auto-censura.
Deixar-se ir, vencer o filtro que, no limite, está lá por uma questão sobrevivência. É uma luta interna, uma luta contra o instinto de auto-preservação. Fechar os olhos, respirar fundo. Aceitar. E, com isso, crescer e amadurecer.
sábado, 6 de dezembro de 2014
Numa única olhadela, de rajada
1 - A polícia de Nova Iorque matou mais um cidadão negro
2 - A equipa contra a qual ninguém quer jogar
3 - Jornal japonês Sankei Shimbun pede desculpas por publicidade anti-semita
4 - E se o seu vizinho tivesse uma piscina com uma suástica no fundo?
2 - A equipa contra a qual ninguém quer jogar
3 - Jornal japonês Sankei Shimbun pede desculpas por publicidade anti-semita
4 - E se o seu vizinho tivesse uma piscina com uma suástica no fundo?
quinta-feira, 4 de dezembro de 2014
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
terça-feira, 2 de dezembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
Nunca daria para político
Nem que quisesse. Por uma questão física. Não tenho projecção de voz suficiente para falar "congresso style".
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Mola
Tudo em suspenso. Parece que pára tudo. À espera. Como uma máquina que não é bem uma máquina no tempo. Uma máquina que congela o tempo, que congela os movimentos, a acção. Fecha a porta, prende à cadeira. E, pior que isso, traz uma certa inércia que é difícil de contrariar, de enxotar. Até aí se nota a inacção, na incapacidade de sacudir a causa.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
Métier
«O facto é que me interessa muito mais um padeiro que um economista. Ou um gestor. Criaturas que, não sei porquê, me dão pena: economistas, gestores, administradores, directores, banqueiros. Deve ser triste ganhar dinheiro assim. O que sonhará um economista, a que brincava um gestor em criança? Ou nasceram já crescidos? Imagino-os debaixo do chuveiro, de gravata, a falar ao telemóvel. E sabe-se que são velhos não pelo aspecto mas porque quando contam que arranjaram uma secretaria boa se referem a um móvel. O que sonhará um economista posso imaginar mais ou menos, agora o que sonha a mulher de um economista é que me preocupa. Se eu fosse mulher de um economista sonhava com canalizadores ou mecânicos de automóvel, homens que usam as mãos e não lêem revistas de golfe nos domingos de chuva. Estou a brincar. Não conheço nenhum economista, aliás. Se conhecesse abria-lhe logo a tampa a fim de espiar o que traz na barriga: cartões de crédito, canetas caras, camisas por medida?»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
terça-feira, 25 de novembro de 2014
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
Força
«Um livro é um acto de vontade. Faço-o porque resolvi fazê-lo. Porque o que leio dos outros muito raramente me satisfaz, cada vez menos me satisfaz. Sendo totalmente sincero não me satisfaz. De maneiro que redijo o que gostaria de ler. O problema é que não leio, isto é não estou de fora e portanto não leio. Limito-me a fabricar e isso não é ler. A tentar aproximar-me do que imagino as ocasiões que forem necessárias até que as páginas se tornem o que pretendo. Não é, não sei como dizer, não é um trabalho de inspiração
(qual trabalho de inspiração)
é um trabalho de oficina. Fico todo dentro da coisa, a mexer nela. Acordo com ela, deito-me com ela, passo o dia inteiro com ela, ela e eu
(é difícil exprimir isto)
somos o mesmo organismo, não parte de outro, o mesmo organismo.»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
(qual trabalho de inspiração)
é um trabalho de oficina. Fico todo dentro da coisa, a mexer nela. Acordo com ela, deito-me com ela, passo o dia inteiro com ela, ela e eu
(é difícil exprimir isto)
somos o mesmo organismo, não parte de outro, o mesmo organismo.»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
domingo, 23 de novembro de 2014
sábado, 22 de novembro de 2014
quinta-feira, 20 de novembro de 2014
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
Aceno
A senhora vai a descer a rua e, de repente, pára à sua frente. Ele está sentado na entrada de um prédio, na pedra. Diz-lhe qualquer coisa que não consigo perceber mas depois
Quer comer
E o homem diz-lhe veementemente que sim, acena com a cabeça. E ela faz-lhe sinal para que a acompanhe. Ele levanta-se, ajeita-se - mete a camisa para dentro das calças, passa a mão pelo cabelo - e atravessam os dois a rua em direcção ao café.
Quer comer
E o homem diz-lhe veementemente que sim, acena com a cabeça. E ela faz-lhe sinal para que a acompanhe. Ele levanta-se, ajeita-se - mete a camisa para dentro das calças, passa a mão pelo cabelo - e atravessam os dois a rua em direcção ao café.
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Comovement
Há quem seja anti-social. E há quem seja anti-rede-social. É possível que a correlação entre as duas características não seja positiva. Pelo contrário, até é possível que seja bem negativa.
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
quinta-feira, 13 de novembro de 2014
O título vice-primeiro-ministro é intrigante.
(com estes hífens todos)
Por que não, pura e simplesmente, segundo ministro?
Por que não, pura e simplesmente, segundo ministro?
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
terça-feira, 11 de novembro de 2014
Até o amanhã é ontem às vezes
«O professor
- Estás a olhar para ontem, idiota?
E é verdade, estou a olhar para ontem, sempre olhei para ontem. Até o amanhã é ontem às vezes. Charlie Parker interrompeu uma vez uma gravação atirando com o saxofone, aos gritos
- Já toquei isto amanhã
e ninguém foi capaz de convencê-lo a continuar. Como eu o compreendo, como às vezes sinto
- Já escrevi isto amanhã
e rasgo tudo.»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
- Estás a olhar para ontem, idiota?
E é verdade, estou a olhar para ontem, sempre olhei para ontem. Até o amanhã é ontem às vezes. Charlie Parker interrompeu uma vez uma gravação atirando com o saxofone, aos gritos
- Já toquei isto amanhã
e ninguém foi capaz de convencê-lo a continuar. Como eu o compreendo, como às vezes sinto
- Já escrevi isto amanhã
e rasgo tudo.»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
Nossa
Entra na carruagem do metro, um acordeão nas mãos. Um amplificador num suporte com umas rodinhas, parecido aos carrinhos que as senhoras de idade usam para ir às compras. Roupa velha e suja. E começa a tocar, a caixa de ritmos a acompanhar com um swing metálico. Uma escolha óbvia. Um clássico, o standard dos franceses (uma vez tive uma discussão com a minha professora de francês por causa deste tema), o autumun leaves (feuilles mortes, neste caso) - prolonga excessivamente a primeira nota, adultera um pouco o sentido da música. Poucos minutos depois, sem acabar, passa a outro tema. Percorre algumas coisas óbvias - My way, Sinatra nunca desaponta. Somewhere over the rainbow. Acaba com outro tema óbvio. Não toca, põe a caixa de ritmos a cuspir o Champs Elisées do Joe Dassin, enquanto percorre a carruagem, interpelando as pessoas com o copo para as moedas na mão. Tem pouco sucesso, sai da carruagem. Poucas estações depois entra outro. Faz um gig em tudo semelhante - um ou outro standard, Frank Sinatra, música ligeira francesa. A mesma reacção fria do público do metro da linha seis e, no final, pouco tilintar de moedas. Interessante foi o terceiro artista de metropolitano. As primeiras componentes do espectáculo foram essencialmente iguais. A terceira foi surpreendente. A música da volta triunfal foi o Ai se eu te pego. Começado a tocar antes do início da volta a recolher moedas: as pessoas a trautear a música, a bater o pé, meneios. E neste caso, sim, a recolha de moedas teve sucesso e finalmente houve moedas a entrar para o copo.
domingo, 9 de novembro de 2014
The longer you listen, the sweeter the pitch
Em português ficamo-nos por confiar e confiança. Ao invés, há alguma diferença na forma como as palavras inglesas trust e confidence são usadas, assim como os respectivos verbos. Confidence é algo mais intrínseco e contido. É intra-pessoal. Trust, por seu lado, é interpessoal, atravessa a esfera de um indivíduo para outro. Posso ser self-confident ou não, mas trust someone.
sexta-feira, 7 de novembro de 2014
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Espelho meu
De pé, parado, a olhar para o telefone. Mas não na posição típica e mais confortável: braço perto dos noventa graus, cabeça a olhar para baixo para o visor. Não, no caso dele tem o braço esticado à altura da cabeça e olha fixamente. Aliás, vira ligeiramente a cabeça lateralmente sempre com os olhos fixos no visor. Só quando leva a outra mão à cabeça, ajeitando o cabelo, é que percebo o que está a fazer: a aproveitar a funcionalidade do aparelho para tirar fotografias - neste caso selfies, com a câmara apontada para si próprio - para se pentear. De facto, não me tinha ocorrido. Que se cuidem os pequenos espelhos de maquilhagem das senhoras, e mesmo os espelhos da pala dos carros do lado do pendura.
terça-feira, 4 de novembro de 2014
segunda-feira, 3 de novembro de 2014
É muito difícil não ter perguntas.
Não há muitas coisas que não as suscitem, quase todos os assuntos desencadeiam pontos de interrogação a certa altura. Mas é um certo limite ao que é adequado - a ausência de respostas satisfatórias (ou a proliferação de respostas insuficientes) gera desconforto. Felizmente, é muito menos difícil não fazer perguntas do que efectivamente as ter.
domingo, 2 de novembro de 2014
Joaquin Phoenix fala com a Scarlett Johansson em versão sistema operativo
“Sometimes I think I’ve felt everything I’m ever gonna feel. And from here on now I’m not gonna feel anything new, just lesser versions of what I’ve already felt.”
sábado, 1 de novembro de 2014
A divisão quase às escuras, apenas uma luz muito ténue.
Mais ténue do que as mudanças de luz do televisor. Abruptas, brilhantes. Coloridas. Só sabia que estavaspelas diferentes luminosidades. Espelhadas pela parede nua, como uma tela branca borrifada de cores aleatórias. O volume no mínimo. Nada te interessava naquilo que ouvias. Nem sequer no que vias – o que interessam aquelas pessoas ruidosas e vazias que passam a vida dentro dos televisores? Deixavas-te ficar, enfeitiçada pelo encanto daquelas cores, luzes, que se sucediam em cascata.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Lisboa by morning
Um homem, meia-idade, casaco de cabedal de quem anda de mota, de pé à porta de um prédio, a cortar as unhas virado para o passeio.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Ain't it fun when you know that you're gonna die young
Rock-and-pop superstardom is one requirement for entry into the so-called 27 Club. The other, much less enviable qualification is premature death. The theory, popularized in music journals, is that 27 is the age at which rock musicians are most at risk of an untimely death.
segunda-feira, 27 de outubro de 2014
domingo, 26 de outubro de 2014
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Não parece aquilo que é.
Quem é o vê a passar na rua não sabe que vive na rua. Mas vive. Na ombreira de uma porta, sempre a mesma. Uma coisa que nem metro e meio deve ter. Um amontoado de roupas, cobertor. Deita-se em posição bastante fetal, para conseguir caber naquele espaço exíguo para um homem de estatura média. Às vezes, para conseguir estar de barriga para cima, põe as pernas ao alto, levantadas contra a parede.
Se nunca o tivesse visto ali deitado, não saberia que passa ali as noites. Tem um aspecto normal. À conversa com as pessoas enquanto fuma um cigarro, sentado na mesa do café. No limite, é como se já morasse ali, como se aquela ombreira onde passa as noites – encolhida numa posição do mais fetal possível – fosse a sua morada.
Se nunca o tivesse visto ali deitado, não saberia que passa ali as noites. Tem um aspecto normal. À conversa com as pessoas enquanto fuma um cigarro, sentado na mesa do café. No limite, é como se já morasse ali, como se aquela ombreira onde passa as noites – encolhida numa posição do mais fetal possível – fosse a sua morada.
Alinhamento
A notícia de abertura do Expresso é a operação plástica (falhada?) da Renée.
terça-feira, 21 de outubro de 2014
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Um jardim e no entanto não o sinto como um pequeno espaço verde.
É exactamente o oposto. O Torel faz-me lembrar, leva-me até São Paulo: a toda a volta, tirando uma tira de Tejo, só so vê construção, prédios. Por um momento, parece que Lisboa não tem limites para lá do betão e que se espraia continuamente pelo horizonte fora.
domingo, 19 de outubro de 2014
If it's alright by you
Dizia que não tinha quaisquer arrependimentos. Em relação a seja o que for. Que, se lhe fosse dada a hipótese de voltar atrás, faria tudo exactamente da mesma forma, tomaria exactamente as mesmas decisões. O cliché. E tudo sem pensar duas vezes. Mas tinha um medo: o de se vir a arrepender de não se ter arrependido antes.
sábado, 18 de outubro de 2014
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Easy come easy go
Há formas de dizer as coisas. A forma certa. A única forma certa. Mas tudo é passível de ser dito. Sem reservas. Sem subterfúgios. Sem que nada fique por dizer, guardado, abafado. Tudo o que é preciso é encontrar a forma certa.
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Essência
But above all I am a man. A hopelessly inquisitive man.
The Master
The Master
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Embriaguez
«- Amok?... Creio recordar-me… é uma espécie de embriaguez... entre os malaios.
- É mais do que uma embriaguez... é a loucura, uma espécie de raiva humana, literariamente falando... uma crise de monomania assassina e insensata, à qual a intoxicação alcoólica não se pode comparar. (...) A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar...»
Amok, Stefan Zweig
- É mais do que uma embriaguez... é a loucura, uma espécie de raiva humana, literariamente falando... uma crise de monomania assassina e insensata, à qual a intoxicação alcoólica não se pode comparar. (...) A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar...»
Amok, Stefan Zweig
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
domingo, 12 de outubro de 2014
sábado, 11 de outubro de 2014
Sinusoidal
A dificuldade, o peso. Olhos a arder. Tudo isso volta, contrariando o desta vez é diferente. Regressa, quase como se tivesse uma data marcada de antemão. Um encontro estipulado algures no passado, daqueles a que se diz que sim e que só quando confrontados com a iminente realização nos apercebemos. Tudo isso volta. Toda essa dificuldade. Todo esse peso. Pesado, por sinal, que obriga a caminhar mais devagar. Desta vez não é diferente. Assim como nenhum das outras vezes foi.
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Ausência de simetria
De uma pessoa gorda diz-se que é forte mas uma pessoa magra não se diz que é fraca.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
terça-feira, 7 de outubro de 2014
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
domingo, 5 de outubro de 2014
Ponto focal
Com alguém que lhe era semelhante passava o tempo a ver as poucas diferenças entre ambos. Com alguém diferente só pensava naquilo que tinham em comum.
sábado, 4 de outubro de 2014
sexta-feira, 3 de outubro de 2014
Sinestesia
Diz-se que uma pessoa está visivelmente irritada mesmo quando, na prática, está sobretudo auditivamente irritada.
quinta-feira, 2 de outubro de 2014
O discurso contra a violência na televisão é algo que já vimos e ouvimos inúmeras vezes.
Pessoalmente, ouvi-o muitas vezes vindo da minha avó. Que a violência nos meios de comunicação é prejudicial e estimula a violência na vida real, especialmente no caso das crianças. Estamos a dar sugestões sobre como se mata e rouba.
Por estas e por outras temos a célebre “bolinha” vermelha, que nos avisa (e aos pais das crianças) quando a emissão que aí vem é particularmente violenta e não indicada aos mais sensíveis – tecnicamente, o símbolo também alerta para cenas de sexo, mas isso não suscitava grande preocupação por parte da minha avó. Ao alerta circular vermelho soma-se o horário fora de horas deste tipo de filmes ou programas, que normalmente só são emitidos já a noite deixou de ser uma criança.
Mas, ainda assim, há tanta oferta de conteúdos que retrata situações de violência nos horários mais normais, a roçar a adolescência da noite. E, nesses casos, sem “bolinha”. Basta ver a grelha de programação. Do “CSI” que procura criminosos olhando para borrifos de sangue e células epiteliais, ao “Criminal Minds”, uma equipa de elite especializada em casos de assassinos em série. Também há outras mais leves como o “Castle”, um escritor que segue polícias de Nova Iorque nas suas investigações criminais para obter ideias literárias e que acaba por dar sempre uma mão a resolver os mistérios.
Algumas destas séries têm requintes de malvadez. Por exemplo, Dexter, que dá o nome a uma série, trabalha como investigador forense de locais de crime e é, simultaneamente, um assassino em série. Captura as vítimas, imobiliza-as num local próprio para a execução, preparado de forma meticulosa para iludir as técnicas de investigação forense – há que admitir que a combinação de actividades deste personagem é invulgarmente conveniente. E depois espera pacientemente (e com notória excitação) que a substância que administra às vítimas para as atordoar no momento da captura deixe de fazer efeito. Só então desfere o golpe mortal, quando tem certeza que estão acordadas. E bem acordadas, depois de se aperceberem do sarilho em que estão metidas. Não as mata no conforto da anestesia; para além do castigo da morte, Dexter quer impor-lhes o castigo da percepção da sua morte (brutal) eminente. Há contudo uma atenuante que nos ajuda a criar uma certa empatia por este personagem: acontece que os seus alvos são outros assassinos – algo que nos ajuda a catalogá-lo como uma espécie de herói e aceitar o facto de que mata pessoas cruelmente a torto e a direito.
Como não gostar de uma série deste género? Macabra, é certo, mas particularmente original. Ao fascínio típico pelo crime que a maior parte de nós tem, sobretudo quando mete pessoas mortas – basta pensar nos género policial e na Agatha Christie – soma-se ainda uma certa dose de grotesco. É então que o cocktail se torna explosivo. Ainda outro exemplo: o Seven. Um filme perturbador e, a espaços, bastante grotesco. Mas, também, um filme fascinante, de culto.
Limite? A maior parte de nós assiste a este tipo de programação e não é violenta. Não andamos aos tiros e às facadas em pessoas só porque vemos imagens de violência na televisão, mesmo que seja em canais de alta definição. E depois, como estabelecer critérios para o que deve e não deve ser transmitido? Mesmo os mais acérrimos defensores de uma qualquer imposição de limites normalmente não consegue atacar filmes que pertencem à categoria de “sérios”, sobretudo se retratarem episódios sangrentos da História da Humanidade (aprender com os erros é importante, memória colectiva, etc.). Esta linha de argumentação suporta um filme como o Schindler’s List; já a violência gratuita do Kill Bill de Tarantino cai por terra. Mas não é à prova de bala. O problema é que também é possível argumentar o reverso da medalha, que a violência de Tarantino não é credível, que ninguém leva aquilo a sério de tão hollywoodesco que é – logo, não faz sequer sentido censurar o que, no fundo, não passa de uma gozação. De repente ocorre-me o Christ’s Passion que, confesso, é um filme que não agrada ao meu estômago (ocorre-me também que, no limite, poderíamos afirmar que um crucifixo é uma alusão a um acto de violência extrema).
Contradições? Há dias vi um episódio do “The Bridge” em que o chefe de cartel mexicano Fausto Galván, ao visitar o túmulo do filho, mostra a cabeça do assassino, aos pés da estrutura que suporta a urna, num frasco de vidro. Explica ao detective Marco Ruiz – que também procura vingança para o seu filho assassinado – como forçou a vítima a assistir à sua própria decapitação. Vi este episódio perto da altura em que circularam as notícias das mortes dos homens decapitados por membros do Estado Islâmico. A decapitação ou as imagens das cabeças decapitadas não foram, penso eu, veiculadas pelos meios de comunicação. Houve até alguma discussão deontológica entre os jornalistas sobre essa questão, em relação aos limites da sua profissão e se, no fundo, não estariam a propagandear ainda mais a causa terrorista mostrando essas imagens. E isto é ainda mais interessante tendo em conta que não me parece ter havido grande pudor em mostrar a cena da cabeça decapitada dentro de um frasco com um liquido. Ou, aliás, o episódio desta mesma série onde um miúdo é manietado dentro de um recipiente fechado de plástico que lentamente se vai enchendo de água até o planeado afogamento ser inevitável. Ou ainda, aliás, onde o autor da morte do miúdo é atacado na prisão e lhe tiram um olho com uma colher. A mesma série que, aliás, tenho seguido regularmente desde o ano passado. E a mesma série que, aliás, julgo, não tem “bolinha” vermelha e, tenho a certeza, não é transmitida fora de horas.
Por estas e por outras temos a célebre “bolinha” vermelha, que nos avisa (e aos pais das crianças) quando a emissão que aí vem é particularmente violenta e não indicada aos mais sensíveis – tecnicamente, o símbolo também alerta para cenas de sexo, mas isso não suscitava grande preocupação por parte da minha avó. Ao alerta circular vermelho soma-se o horário fora de horas deste tipo de filmes ou programas, que normalmente só são emitidos já a noite deixou de ser uma criança.
Mas, ainda assim, há tanta oferta de conteúdos que retrata situações de violência nos horários mais normais, a roçar a adolescência da noite. E, nesses casos, sem “bolinha”. Basta ver a grelha de programação. Do “CSI” que procura criminosos olhando para borrifos de sangue e células epiteliais, ao “Criminal Minds”, uma equipa de elite especializada em casos de assassinos em série. Também há outras mais leves como o “Castle”, um escritor que segue polícias de Nova Iorque nas suas investigações criminais para obter ideias literárias e que acaba por dar sempre uma mão a resolver os mistérios.
Algumas destas séries têm requintes de malvadez. Por exemplo, Dexter, que dá o nome a uma série, trabalha como investigador forense de locais de crime e é, simultaneamente, um assassino em série. Captura as vítimas, imobiliza-as num local próprio para a execução, preparado de forma meticulosa para iludir as técnicas de investigação forense – há que admitir que a combinação de actividades deste personagem é invulgarmente conveniente. E depois espera pacientemente (e com notória excitação) que a substância que administra às vítimas para as atordoar no momento da captura deixe de fazer efeito. Só então desfere o golpe mortal, quando tem certeza que estão acordadas. E bem acordadas, depois de se aperceberem do sarilho em que estão metidas. Não as mata no conforto da anestesia; para além do castigo da morte, Dexter quer impor-lhes o castigo da percepção da sua morte (brutal) eminente. Há contudo uma atenuante que nos ajuda a criar uma certa empatia por este personagem: acontece que os seus alvos são outros assassinos – algo que nos ajuda a catalogá-lo como uma espécie de herói e aceitar o facto de que mata pessoas cruelmente a torto e a direito.
Como não gostar de uma série deste género? Macabra, é certo, mas particularmente original. Ao fascínio típico pelo crime que a maior parte de nós tem, sobretudo quando mete pessoas mortas – basta pensar nos género policial e na Agatha Christie – soma-se ainda uma certa dose de grotesco. É então que o cocktail se torna explosivo. Ainda outro exemplo: o Seven. Um filme perturbador e, a espaços, bastante grotesco. Mas, também, um filme fascinante, de culto.
Limite? A maior parte de nós assiste a este tipo de programação e não é violenta. Não andamos aos tiros e às facadas em pessoas só porque vemos imagens de violência na televisão, mesmo que seja em canais de alta definição. E depois, como estabelecer critérios para o que deve e não deve ser transmitido? Mesmo os mais acérrimos defensores de uma qualquer imposição de limites normalmente não consegue atacar filmes que pertencem à categoria de “sérios”, sobretudo se retratarem episódios sangrentos da História da Humanidade (aprender com os erros é importante, memória colectiva, etc.). Esta linha de argumentação suporta um filme como o Schindler’s List; já a violência gratuita do Kill Bill de Tarantino cai por terra. Mas não é à prova de bala. O problema é que também é possível argumentar o reverso da medalha, que a violência de Tarantino não é credível, que ninguém leva aquilo a sério de tão hollywoodesco que é – logo, não faz sequer sentido censurar o que, no fundo, não passa de uma gozação. De repente ocorre-me o Christ’s Passion que, confesso, é um filme que não agrada ao meu estômago (ocorre-me também que, no limite, poderíamos afirmar que um crucifixo é uma alusão a um acto de violência extrema).
Contradições? Há dias vi um episódio do “The Bridge” em que o chefe de cartel mexicano Fausto Galván, ao visitar o túmulo do filho, mostra a cabeça do assassino, aos pés da estrutura que suporta a urna, num frasco de vidro. Explica ao detective Marco Ruiz – que também procura vingança para o seu filho assassinado – como forçou a vítima a assistir à sua própria decapitação. Vi este episódio perto da altura em que circularam as notícias das mortes dos homens decapitados por membros do Estado Islâmico. A decapitação ou as imagens das cabeças decapitadas não foram, penso eu, veiculadas pelos meios de comunicação. Houve até alguma discussão deontológica entre os jornalistas sobre essa questão, em relação aos limites da sua profissão e se, no fundo, não estariam a propagandear ainda mais a causa terrorista mostrando essas imagens. E isto é ainda mais interessante tendo em conta que não me parece ter havido grande pudor em mostrar a cena da cabeça decapitada dentro de um frasco com um liquido. Ou, aliás, o episódio desta mesma série onde um miúdo é manietado dentro de um recipiente fechado de plástico que lentamente se vai enchendo de água até o planeado afogamento ser inevitável. Ou ainda, aliás, onde o autor da morte do miúdo é atacado na prisão e lhe tiram um olho com uma colher. A mesma série que, aliás, tenho seguido regularmente desde o ano passado. E a mesma série que, aliás, julgo, não tem “bolinha” vermelha e, tenho a certeza, não é transmitida fora de horas.
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
Encaixotar
O mundo está dividido em dois tipos de pessoas: os que dividem o mundo em dois tipos de pessoas e os outros.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Vaisselle
O micro-ondas - tal como gira-discos - tem uma vida simples porque só tem um prato a girar.
domingo, 28 de setembro de 2014
Diamantes polidos
«Schools were said to construct character by chipping off the edges. His edges had been chipped, but the result had not, he thought, been character - only shapelessness, like an exhibit in the Museum of Modern Art.»
Our man in Havana, Grant Green
Our man in Havana, Grant Green
sábado, 27 de setembro de 2014
Daniel 1, formigas 1
Um carreiro delas na minha cozinha. Entraram sorrateiramente pela janela e surpreenderam-me um destes dias de manhã. Foram organizadamente pelo chão, treparam a parede, seguiram bancada fora, até entrar no armário onde está o caixote do lixo. Lá dentro não havia nada de particularmente interessante - cascas de fruta? - mas ainda assim foi o suficiente. Ripostei. Apanhei uma série delas para que não voltassem ao ninho e informar as amigas acerca da localização interessante. E borrifei as que sobraram com um produto indicado para o efeito.
Ganhei esta batalha. Esperemos que tenha ganho a guerra.
Ganhei esta batalha. Esperemos que tenha ganho a guerra.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Paris bobo
Paris sem (quase) ver a Torre. Paris sem (quase) pôr o pé nos Campos Elíseos. Paris sem (literalmente) ver o Arco. Paris sem sequer pensar nos museus. Paris das esplanadas e dos parques. Paris dos miradouros. Paris de metro e autocarro. Paris a pé e de bicicleta. Paris das tartares e do Bordeaux. Paris dos croissants e do pain au chocolat. Na minha definição: Paris bonbon. Que é como quem diz bom bom.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Mais sobre o debate
Tenho dúvidas acerca da forma como o tempo está a ser cronometrado. Aliás, tenho muito respeito (quase pena) de quem tem que fazer a contagem. É que nestes últimos minutos os Antónios estiveram praticamente quase sempre a falar ao mesmo tempo.
"É por causa que não há (...)"
António José Seguro
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Blink of an eye
Não cumpri a minha promessa. Disse-te
Venho ver-te amanhã.
Mas no dia seguinte já não havia amanhã.
Venho ver-te amanhã.
Mas no dia seguinte já não havia amanhã.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Circunstância
Quando lhe perguntaram se gostava de uma determinada pessoa, respondeu simplesmente
Na maior parte das vezes, sim.
Como se amizade fosse um sentimento circunstancial.
Na maior parte das vezes, sim.
Como se amizade fosse um sentimento circunstancial.
terça-feira, 16 de setembro de 2014
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Círculo
As prendas em géneros que o Fernando Mendes recebe no Preço Certo são um claro exemplo de selecção adversa.
domingo, 14 de setembro de 2014
Para lá do stress
«Os profissionais de gestão de risco analisam o passado com o objectivo de obter informações sobre o suposto pior cenário imaginável e utilizam-nas para avaliar riscos futuros – este método é designado «teste de esforço». Abordam a pior recessão da história, a pior guerra, a maior oscilação das taxas de juro ou a pior taxa de desemprego como referências para uma estimativa precisa dos piores resultados futuros. Mas nunca reparam nesta inconsistência: este suposto pior cenário, quando aconteceu, ultrapassou o pior cenário da altura.»
Antifrágil, Nassim Nicholas Taleb
Antifrágil, Nassim Nicholas Taleb
sábado, 13 de setembro de 2014
Don't hang pictures on the wall
Ricky Gervais diz ao David Letterman que não se deveria reformar. Dá-lhe um conjunto de razões pelas quais é uma dá decisão. Por exemplo, não vai arranjar nada para fazer, não vai acabar por passar mais tempo com as pessoas que gosta, etc. E depois dá-lhe a melhor de todas: não vai poder usar o trabalho para se desculpar perante convites que não lhe interessam. O Letterman concorda, é difícil argumentar que I won't make it because I won't be working.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Nojo
Há alguns cargos para os quais, após o fim ou interrupção do mandato, mais do que um período de nojo até ocupar outro cargo relevant, deveria existir um período de nojeira. Ou mesmo de badalhoquice.
terça-feira, 9 de setembro de 2014
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
A mãe de todos os vícios
Arranjar espaço para a preguiça. Deixá-la crescer, progredir, desenvolver-se lentamente. Como uma flor nas mãos de um jardineiro. Um cozinhado elaborado nas mãos de um chef conceituado. Um filho que se educa. A preguiça como arte. Um conceito que se elabora e constrói, que se põe em prática numa obra para deleite próprio e alheio. E, sobretudo, que custa horas (muitas) e dedicação (muita). Nisso a preguiça pode enganar à primeira vista (e à segunda, e à terceira) - precisa de trabalho (sim, trabalho). Precisa de esforço aturado (um contra-senso). E até nisso é como a sua bête noire, o trabalho: sabe bem, tanto melhor na medida do que nela se investe.
domingo, 7 de setembro de 2014
Chamar os bois pelos nomes
Para além das secções típicas como "país", "internacional", "economia" ou "política", a maioria dos jornais deveriam ter também uma outra designada, por exemplo, "imbecilidades" ou "parvoíces pegadas". A classificação não seria muito complicada; o risco é que a última esgote o material das primeiras.
sábado, 6 de setembro de 2014
Entretanto em Queens
Os deuses do ténis relembram-nos que tudo pode - e na volta até deve - acontecer.
Pretensão e água benta
Estipular um caminho partindo do princípio que é exactamente o que os outros querem trilhar. Assumir o pré-conhecimento de vontades e motivações alheias. Barreiras pelo caminho, como as provas de equitação. Tudo com o intuito de induzir um determinado comportamento, arrancar uma resposta. Prémios, recompensas à medida que as barreiras são transpostas. Ou torrões de açúcar, como os que se dão aos cavalos pelas exibições deles pretendidas. E, como é do conhecimento geral, todos os cavalos gostam de açúcar.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Biggest Loser, how did I let myself go like this ou o mal que as férias me fazem
As reduções de peso em absoluto das três equipas no concurso são medidas, concorrente a concorrente. A equipa cuja redução for menor perde um dos seus membros como penalização. O sacrificado é aquele que tiver perdido menos peso, desta vez em proporção do respectivo peso inicial. É um momento tenso (ou de tensão artificialmente gerada): cada equipa tem o seu treinador ou preparador físico e são eles que introduzem o elemento de competitividade ao programa. Uma versão física da meritocracia americana: exercito e tenho cuidado com o que como, logo tenho direito a ser saudável e ter este aspecto.
A equipa branca perdeu. No monitor começam a aparecer, por ordem decrescente, os elementos e a percentagem de peso que perderam em relação ao peso inicial. Um tipo latino gordo (pleonasmo neste contexto) é o sacrificado. Fica pior que estragado. Chora. Os outros choram também, tanto da equipa dele como das adversárias. Logo agora que tinha conseguido tantos resultados positivos, que estava a progredir, voltar para casa é o pior que lhe podia acontecer. O discurso típico de um loser do Biggest Loser.
A equipa branca perdeu. No monitor começam a aparecer, por ordem decrescente, os elementos e a percentagem de peso que perderam em relação ao peso inicial. Um tipo latino gordo (pleonasmo neste contexto) é o sacrificado. Fica pior que estragado. Chora. Os outros choram também, tanto da equipa dele como das adversárias. Logo agora que tinha conseguido tantos resultados positivos, que estava a progredir, voltar para casa é o pior que lhe podia acontecer. O discurso típico de um loser do Biggest Loser.
terça-feira, 2 de setembro de 2014
There are many like it but this one is mine
Um dos problemas de máquinas fotográficas mais elaboradas é o tempo que é necessário para preparar o apetrecho, desde escolher a lente e acoplá-la, até à definição dos parâmetros certos da velocidade e abertura do obturador, etc.. Claro que, por vezes (muitas vezes), este tempo de preparação sai caro em matéria de fotografias perdidas. De tal forma que os cursos de fotografia deveriam contemplar esta questão. Acho até que deveriam ser parecidos com as técnicas que os militares aprendem para montar rapidamente as armas. Vem-me à cabeça o gordo Pyle no Full Metal Jacket, o recruta que não consegue transpor os obstáculos e é vítima de bullying dos demais companheiros de caserna, e que ganha o respeito do Sargento Hartman com a perícia a montar a espingarda. Tanta fotografia que seria salva.
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
Live score
O velhote na cadeira de rodas, de lado para o banco. Um chapéu na cabeça. Quase sempre ao final da tarde. Sempre o mesmo banco. Ela sentada, de perna cruzada, a mão estendida e agarrada a um dos braços da cadeira de rodas. Uma bata que já deve ter sido branca em tempos, agora está apenas suja. A cara cravejada de borbulhas. Às vezes ela fala ao telefone
Estou a passeaarrr
(um sotaque brasileiro nordestino carregado)
Ele continua sempre com a mesma cara distante - carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra.
Mas na maior da parte das vezes, ela limita-se a olhar para baixo, ou para as mãos ou para o chão. Em silêncio. Ele sempre com cara de carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra. Cumprem um horário, calendário. Cumprem um ritual: o ritual de levar o velhote a passear à rua. Na cadeira de rodas, chapéu na cabeça. Ao final da tarde.
Estou a passeaarrr
(um sotaque brasileiro nordestino carregado)
Ele continua sempre com a mesma cara distante - carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra.
Mas na maior da parte das vezes, ela limita-se a olhar para baixo, ou para as mãos ou para o chão. Em silêncio. Ele sempre com cara de carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra. Cumprem um horário, calendário. Cumprem um ritual: o ritual de levar o velhote a passear à rua. Na cadeira de rodas, chapéu na cabeça. Ao final da tarde.
quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Frontloading
Louis CK fala acerca das suas filhas e do seu papel enquanto pai. Contrariamente ao seu estilo self-deprecating (I'm an idiot, I'm broke, my wife hates me, I have no sex, etc.), surpreendentemente afirma que acha ter feito um bom trabalho com as filhas. Depois ilustra melhor aquela que, para ele, é a mais importante tarefa da paternidade: explicar-lhes que a maior parte das vezes não vão conseguir aquilo que querem e que meio caminho para serem felizes é aprenderem a lidar com a desilusão.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
domingo, 24 de agosto de 2014
sábado, 23 de agosto de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Seek and you shall find
As pessoas perdem o autocarro ou o comboio mas nunca os ganham. Também os apanham mas nunca os encontram. Nem mesmo quando os perdem.
quarta-feira, 20 de agosto de 2014
Chimerica
Niall Ferguson compara a relação económica entre os EUA e a China - que ele designa de Chimerica - a um casal: primeiro aproximaram-se e os destinos cruzaram-se cada vez mais; agora estão lentamente a afastar-se. A economia global dependente de aconselhamento sentimental.
terça-feira, 19 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
So help me God
«A Constituição federal dos EUA, elaborada na Convenção de Filadélfia, é integralmente laica, primando até pela ausência de referencias retóricas a Deus. Contudo, a inércia sociológica e cultural leva, anda hoje, a que o Presidente dos EUA, na sua tomada de posse, jure com a mão sobre a Bíblia, apesar do profundo pluralismo religioso da sociedade norte-americana.»
Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques
Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques
domingo, 17 de agosto de 2014
sábado, 16 de agosto de 2014
Guerra das estrelas
«Para que a Europa sobreviva, os Europeus têm de ser fiéis ao melhor da sua história e à promessa de um futuro comum, alimentada e renovada depois da tragédia dos seus fracassos sucessivos. Talvez valha a pena os Europeus começarem a olhar com mais atenção para as estrelas que cintilam nas longas noites do inverno da nossa crise de destino. Mas o seu significado ainda não brilha, nem na alma dos cidadãos, nem no espírito dos seus líderes.»
Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques
Portugal na queda da Europa, Viriato Soromenho-Marques
sexta-feira, 15 de agosto de 2014
quinta-feira, 14 de agosto de 2014
Perna de ganso
Os filósofos e os jogadores de rubgy têm essencialmente o mesmo objectivo de vida: fazer ensaios.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
Sobre este (quasi-pseudo) "Verão"
O anti-ciclone dos Açores merecia ser processado por incompetência.
terça-feira, 12 de agosto de 2014
Política de casino
No final de 2010, a meio do seu primeiro mandato, Barack Obama teve uma derrota histórica nas eleições intercalares. Perdeu o controlo da Casa dos Representantes para o Partido Republicano por uma margem significativa. A derrota foi estrondosa, punha em causa as suas hipóteses de reeleição em 2012 e levou-o a dizer, no discurso pós-eleitoral, “I need to do a better job”.
Pouco depois de ter tido essa derrota, a CIA comunicou ao Presidente que tinha obtido um conjunto de indicações acerca do eventual paradeiro de Osama bin Laden, numa casa no Paquistão. A informação não era, no entanto, precisa, havia apenas alguns indícios que apontavam nesse sentido.
Durante meses os detalhes do local foram estudados minuciosamente assim como as possibilidades de ataque. Pese embora toda a preparação, a decisão de avançar com uma operação era bastante arriscada e delicada por essencialmente duas razões. Por um lado, não havia nenhuma certeza de que se tratava do esconderijo de bin Laden. Por outro lado, se fosse efectivamente o esconderijo, tal seguramente significaria que existia conivência do governo do Paquistão, até então tido como um aliado pelos EUA. Por esta razão, Obama resolveu não partilhar nenhuma da informação que tinha com o governo paquistanês. Desta forma, havia o risco de os militares americanos serem interceptados por militares paquistaneses no percurso de 190kms entre a fronteira do Afeganistão e o local do suposto esconderijo, e a subsequente crise diplomática que tal geraria.
Como se sabe, a operação foi bem-sucedida. Tratava-se de facto do líder da Al Qaeda e, a 1 de Maio de 2011, o Presidente dirigiu-se ao país, explicando que o terrorista tinha sido morto no decurso da invasão da habitação onde se encontrava. Para além da importância da vitória para a luta americana contra o terrorismo, ela teve um impacto fulcral para o Presidente Obama e catapultou-o para a vitória nas eleições para o segundo mandato. Aliás, pouco tempo depois do anúncio da morte do homem mais procurado do mundo, Barack Obama começou a sua campanha política para a Casa Branca, surfando a onda de boa opinião pública que estava a ter.
A questão que me parece mais interessante nesta história pode ser resumida no seguinte contra-factual: teria a decisão de Obama sido diferente acaso o resultado das eleições intercalares não tivesse sido tão mau e a sua reeleição não estivesse em risco? Por outras palavras, se tivesse, ao invés, bons índices de popularidade, teria ele dado luz verde a uma operação arriscada que poderia pôr em causa a sua imagem junto da opinião pública?
A decisão do líder dos Estados Unidos parece um típico caso de “double or nothing” ou do nosso “perdido por cem, perdido por mil”: quando, partindo de uma situação desfavorável e confrontados com uma decisão arriscada que possa anular ou reverter o resultado final sem, no entanto, alterar materialmente o resultado actual, temos tendência a assumir mais risco do que numa situação normal. Se a operação tivesse corrido mal – porque, p.e., não se tratava do esconderijo de bin Laden – a popularidade do Presidente americano provavelmente cairia ainda mais mas, na prática, muito provavelmente não alteraria em nada o resultado final das eleições. Ao invés, ao ter corrido bem, é um dos maiores cartões-de-visita do seu primeiro mandato aos olhos do eleitorado – mais até do que ter conseguido alargar drasticamente a cobertura médica dos americanos – e, por conseguinte, o acontecimento tido como mais relevante para o levar a conseguir a sua reeleição.
Comportamentos de tomada de risco elevado são relativamente comuns. Mais: como esta história mostra, podem ser perfeitamente racionais do ponto de vista individual. Tudo depende das circunstâncias em que as decisões são tomadas, como a própria sabedoria popular nos explica, basta voltar ao “perdido por cem, perdido por mil”. Infelizmente, nem sempre a melhor estratégia ao nível do interesse individual coincide com a do interesse colectivo.
Pouco depois de ter tido essa derrota, a CIA comunicou ao Presidente que tinha obtido um conjunto de indicações acerca do eventual paradeiro de Osama bin Laden, numa casa no Paquistão. A informação não era, no entanto, precisa, havia apenas alguns indícios que apontavam nesse sentido.
Durante meses os detalhes do local foram estudados minuciosamente assim como as possibilidades de ataque. Pese embora toda a preparação, a decisão de avançar com uma operação era bastante arriscada e delicada por essencialmente duas razões. Por um lado, não havia nenhuma certeza de que se tratava do esconderijo de bin Laden. Por outro lado, se fosse efectivamente o esconderijo, tal seguramente significaria que existia conivência do governo do Paquistão, até então tido como um aliado pelos EUA. Por esta razão, Obama resolveu não partilhar nenhuma da informação que tinha com o governo paquistanês. Desta forma, havia o risco de os militares americanos serem interceptados por militares paquistaneses no percurso de 190kms entre a fronteira do Afeganistão e o local do suposto esconderijo, e a subsequente crise diplomática que tal geraria.
Como se sabe, a operação foi bem-sucedida. Tratava-se de facto do líder da Al Qaeda e, a 1 de Maio de 2011, o Presidente dirigiu-se ao país, explicando que o terrorista tinha sido morto no decurso da invasão da habitação onde se encontrava. Para além da importância da vitória para a luta americana contra o terrorismo, ela teve um impacto fulcral para o Presidente Obama e catapultou-o para a vitória nas eleições para o segundo mandato. Aliás, pouco tempo depois do anúncio da morte do homem mais procurado do mundo, Barack Obama começou a sua campanha política para a Casa Branca, surfando a onda de boa opinião pública que estava a ter.
A questão que me parece mais interessante nesta história pode ser resumida no seguinte contra-factual: teria a decisão de Obama sido diferente acaso o resultado das eleições intercalares não tivesse sido tão mau e a sua reeleição não estivesse em risco? Por outras palavras, se tivesse, ao invés, bons índices de popularidade, teria ele dado luz verde a uma operação arriscada que poderia pôr em causa a sua imagem junto da opinião pública?
A decisão do líder dos Estados Unidos parece um típico caso de “double or nothing” ou do nosso “perdido por cem, perdido por mil”: quando, partindo de uma situação desfavorável e confrontados com uma decisão arriscada que possa anular ou reverter o resultado final sem, no entanto, alterar materialmente o resultado actual, temos tendência a assumir mais risco do que numa situação normal. Se a operação tivesse corrido mal – porque, p.e., não se tratava do esconderijo de bin Laden – a popularidade do Presidente americano provavelmente cairia ainda mais mas, na prática, muito provavelmente não alteraria em nada o resultado final das eleições. Ao invés, ao ter corrido bem, é um dos maiores cartões-de-visita do seu primeiro mandato aos olhos do eleitorado – mais até do que ter conseguido alargar drasticamente a cobertura médica dos americanos – e, por conseguinte, o acontecimento tido como mais relevante para o levar a conseguir a sua reeleição.
Comportamentos de tomada de risco elevado são relativamente comuns. Mais: como esta história mostra, podem ser perfeitamente racionais do ponto de vista individual. Tudo depende das circunstâncias em que as decisões são tomadas, como a própria sabedoria popular nos explica, basta voltar ao “perdido por cem, perdido por mil”. Infelizmente, nem sempre a melhor estratégia ao nível do interesse individual coincide com a do interesse colectivo.
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
domingo, 10 de agosto de 2014
Flipping burgers
O Stata tem um comando chamado twoway com uma série de opções diferentes - curiosamente não tem um threeway.
quinta-feira, 7 de agosto de 2014
Burro velho aprende sistemas operativos
Faz por esta altura um ano que mudei para Mac. Uma decisão protelada uma série de anos, no mínimo quatro, altura em que comprei o meu último PC. As incompatibilidades, o software que não corre, a necessidade de adaptação – todos estes papões, essas medeias de sete cabeças, esses abomináveis homens das neves. Temos tido os nossos tête-à-tête, por vezes é preciso bater um pouco com a cabeça na parede. Mas é mesmo pouco. Ao ponto de achar que a decisão de não mudar para Mac precisa de outra razão que a suporte.
quarta-feira, 6 de agosto de 2014
terça-feira, 5 de agosto de 2014
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
domingo, 3 de agosto de 2014
sábado, 2 de agosto de 2014
Typo (negative)
O corrector automático é manhoso, actua à revelia. É insistente, é teimoso. Sabe mais a dormir que nós todos acordados. E se essa sobranceria me irrita, tenho que admitir que por vezes tem imensa graça. Com alguma adrenalina à mistura, diga-se que algumas correcções erradas (adoro dizer isto) podem dar azo a situações bem perigosas. Mas, sem esse perigo à espreita, outras são de ir às gargalhadas.
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
A linha que não separa
Fazer uma linha por debaixo de palavras que se quer destacar, mas nunca por cima. Embora, conceptualmente, sobrelinhar não pareça ser assim tão diferente de sublinhar.
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Objectar (conscientemente)
Não concordava com a percentagem de despesa pública empregue em defesa nacional. E então retirava a mesma percentagem da sua declaração de impostos.
terça-feira, 29 de julho de 2014
A definição de inimigo interno
Tentar abrir o site da instituição onde trabalho justamente no local de trabalho e ser bloqueado pelo browser, com uma janela a indicar uma "security threat".
segunda-feira, 28 de julho de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
sábado, 26 de julho de 2014
As above so below
«de qualquer maneira, não existe isso de "passar o tempo". O tempo não passa.»
Não passa? Que queria ele dizer?
»Como é que eu sei? Talvez seja o contrário: passamos nós no tempo. Como é que hei de saber? Ou talvez o tempo passe pelas pessoas. (...)»
Caixa Negra, Amoz Oz
Não passa? Que queria ele dizer?
»Como é que eu sei? Talvez seja o contrário: passamos nós no tempo. Como é que hei de saber? Ou talvez o tempo passe pelas pessoas. (...)»
Caixa Negra, Amoz Oz
sexta-feira, 25 de julho de 2014
The frayed ends of sanity #2
Estou na zona de quartos do IKEA quase a acabar de escolher aquilo que preciso e a pensar em sair. De repente, um anúncio daqueles típico
Pede-se ao proprietário do veículo com a matrícula
Por acaso (e só por acaso) apercebo-me que se trata do meu carro - quem é que liga a estes anúncios por microfone, normalmente com vozes nasaladas e monocordicamente aborrecidas? - porque no final do anúncio dizem a marca, o modelo e a cor.
Pego rapidamente nas últimas coisas que preciso e largo no sentido das caixas e da saída. Faço um slalom difícil por entre as pessoas que vão de passeio e caminham a um passo lento, olhando em todas as direcções como se fosse a primeira vez que visitassem a loja sueca. Enquanto tento ultrapassar os obstáculos roçando os limites do código de estrada dos hipermercados e os do carrinho onde tenho as minhas compras (acelerações alucinantes, travagens bruscas), vou imaginando na minha cabeça o que poderá ter acontecido para que me chamem pelo altifalante. Terão batido no meu carro? Terei eu batido em alguém?
Quando finalmente chego perto do carro, vejo um funcionário com uma fila de carrinhos de compras no sítio onde estacionei. Dá-me uma descasca
Acha que isto é sítio para se estacionar?
É então que reparo que estacionei na passadeira que ele precisa de usar para passar. Peço-lhe desculpa (que mais?). E ele continua
Não tinha mais onde estacionar?
O segurança de colete amarelo fluorescente aproxima-se, pergunta-me se ouvi o anúncio, diz-me que não me preocupe que não tem problema
Tem problema tem, estacionei numa passadeira e não dei por isso
Pede-se ao proprietário do veículo com a matrícula
Por acaso (e só por acaso) apercebo-me que se trata do meu carro - quem é que liga a estes anúncios por microfone, normalmente com vozes nasaladas e monocordicamente aborrecidas? - porque no final do anúncio dizem a marca, o modelo e a cor.
Pego rapidamente nas últimas coisas que preciso e largo no sentido das caixas e da saída. Faço um slalom difícil por entre as pessoas que vão de passeio e caminham a um passo lento, olhando em todas as direcções como se fosse a primeira vez que visitassem a loja sueca. Enquanto tento ultrapassar os obstáculos roçando os limites do código de estrada dos hipermercados e os do carrinho onde tenho as minhas compras (acelerações alucinantes, travagens bruscas), vou imaginando na minha cabeça o que poderá ter acontecido para que me chamem pelo altifalante. Terão batido no meu carro? Terei eu batido em alguém?
Quando finalmente chego perto do carro, vejo um funcionário com uma fila de carrinhos de compras no sítio onde estacionei. Dá-me uma descasca
Acha que isto é sítio para se estacionar?
É então que reparo que estacionei na passadeira que ele precisa de usar para passar. Peço-lhe desculpa (que mais?). E ele continua
Não tinha mais onde estacionar?
O segurança de colete amarelo fluorescente aproxima-se, pergunta-me se ouvi o anúncio, diz-me que não me preocupe que não tem problema
Tem problema tem, estacionei numa passadeira e não dei por isso
quarta-feira, 23 de julho de 2014
The frayed ends of sanity
Paro o carrinho do supermercado encostado num sítio que me parece não importunar o tráfego dos consumidores. Dirijo-me à prateleira em busca de qualquer coisa. Regresso ao carrinho, ponho as coisas no interior e sigo em direção a mais prateleiras e coisas para comprar. Pouco minutos depois, já noutra zona do supermercado, um homem alto vem ter comigo
Desculpe mas esse carrinho é meu
E no momento em que diz isso, olho para o interior e dou-me conta que, de facto, não costumo levar aquele tipo de iogurtes, assim como há tempo que não compro cereais. Peço-lhe desculpa e ele simpaticamente ajuda-me a isolar quais as coisas que entretanto tinha adicionado às dele e, mais do que isso, a localizar o meu carrinho, perdido e abandonado noutro canto do supermercado.
Desculpe mas esse carrinho é meu
E no momento em que diz isso, olho para o interior e dou-me conta que, de facto, não costumo levar aquele tipo de iogurtes, assim como há tempo que não compro cereais. Peço-lhe desculpa e ele simpaticamente ajuda-me a isolar quais as coisas que entretanto tinha adicionado às dele e, mais do que isso, a localizar o meu carrinho, perdido e abandonado noutro canto do supermercado.
terça-feira, 22 de julho de 2014
Goodness knows what the end will be
Saber parar de procurar é uma arte.
Know when to fold.
Do poker até à vida sentimental.
Let's call the whole thing off.
Como quase sempre, a resposta a tudo está na música.
Know when to fold.
Do poker até à vida sentimental.
Let's call the whole thing off.
Como quase sempre, a resposta a tudo está na música.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
domingo, 20 de julho de 2014
Matar moscas com uma carabina
«Section 232 stipulates that each regulatory agency must establish ‘an Office of Minority and Women Inclusion’ to ensure, among other things ‘increased participation of minority-owned and women-owned businesses in the programs and contracts of the agency’. Unless you believe, with the head of the International Monetary Fund, Christine Lagarde, that there would have been no crisis if the best-known bank to fail had been called ‘Lehman Sisters’ rather than Lehman Brothers, you may well wonder what exactly this particular section of Dodd-Frank will do to ‘promote the financial stability of the United States’.»
The Great Degeneration, Niall Ferguson
The Great Degeneration, Niall Ferguson
sábado, 19 de julho de 2014
À medida que o tempo passa, tudo é uma questão de zoom e velocidade do obturador.
Zoom para evitar o lugar-comum da perspectiva mas também pela imagem: quanto maior o trilho, maior o zoom out; quanto maior o zoom out, mais existe para avaliar, até quantificar. E é nessa passagem da fotografia macro – a única possível na juventude – para a grande grande-angular – só possível depois de soprar mais umas quantas velas – que está verdadeiramente o segredo. Em relação à velocidade do obturador, uma fotografia com uma velocidade muito elevada capta minuciosamente um momento de tempo muito preciso. A velocidade mais lenta – no limite o bulb – regista as deslocações, os movimentos arrastados entre os vários momentos.
sexta-feira, 18 de julho de 2014
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Something else não é forçosamente something more
O Facebook gosta de facilitar a vida a pessoas como eu que não têm muita pachorra para fornecer informações pessoais. Sugere e palpita hipóteses com base em perfis alheios: aparece à esquerda uma lista e a ligação que deu origem a essa sugestão. O mais giro é, no entanto, o pluralismo: as respostas em branco são admissíveis. Por exemplo, o último item da lista do local de origem é “I don’t have a hometown”. É com a não-resposta que o Facebook lida mal.
segunda-feira, 14 de julho de 2014
domingo, 13 de julho de 2014
terça-feira, 8 de julho de 2014
Isto só podia ser pior para o Brasil...
... se a Argentina fosse à final e ganhasse assim tipo por 3 ou 4 a zero à Alemanha.
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Rotunda do Saldanha.
Paro na passadeira: uma velhota curvada, de bengala, com nítida dificuldade em se deslocar aproxima-se. Aliás, paro ligeiramente em antecipação da aproximação dela à passadeira. Ela pára também, olha para a estrada e vê que estou à espera dela – devagar, todos os gestos são feitos devagar. Começa a descer do passeio para o asfalto, faz-me sinal com a mão a agradecer. O tipo atrás de mim, visivelmente irritado, arranca rapidamente, ultrapassa-me e passa pela faixa da esquerda antes da velha ter tempo para chegar à segunda metade da passadeira.
domingo, 6 de julho de 2014
Targeted long-term
Há uma altura em que todos os caminhos parecem convergir para exactamente o mesmo ponto focal. E caminhos que seguem direcções aparentemente distintas. Totalmente distintas. E o pior é que, sem a percepção do verdadeiro destino, nem sequer passa pela cabeça ajustar o trajecto, rever as coordenadas, traçar outro rumo.
sábado, 5 de julho de 2014
Entregar a alma ao criador
Adulterar recordações. Dourar a pílula. Nunca nada é exactamente como nos lembramos (ou pensamos) que foi. Nunca nada é tão bom como a sensação que nos dá ao revermos na nossa cabeça aquilo (que pensamos) que nos aconteceu. Daí a saudade, daí o
dantes é que era
ou
nos bons velhos tempos.
Um passado que teima constantemente em competir com um futuro que teima em ficar sempre aquém das expectativas (enviesadas).
Um erro auto-inflingido. Um erro doce.
dantes é que era
ou
nos bons velhos tempos.
Um passado que teima constantemente em competir com um futuro que teima em ficar sempre aquém das expectativas (enviesadas).
Um erro auto-inflingido. Um erro doce.
quinta-feira, 3 de julho de 2014
terça-feira, 1 de julho de 2014
Parede esburacada
O comentador da RTP, aludindo à dificuldade de ultrapassar o guarda-redes dos EUA, Tim Howard, que finalmente sofre um golo da Bélgica depois de inúmeras defesas, refere a alcunha pela qual é conhecido: "the wall". O problema é que a pronuncia como "the hole".
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Dislexia
Ainda não me tinha apercebido - pelo menos não tanto como nos últimos dias - o quanto baralho o nome (português) da Argélia: sai-me Algéria de vez em quando. O que faz algum sentido, é um estrangeirismo do inglês Algeria ou do francês Algérie ou do etc. Aliás, segundo a Wikipedia, é assim também na versão autóctone. Agora por que carga de água teríamos nós (os espanhóis também?) de trocar a ordem das consoantes e passar o "l" lá para trás e "r" cá para frente é difícil de entender. É mais ou menos como a história do nosso bacalhau versus o cabalhau dos outros. Já neste último caso não me engano.
domingo, 29 de junho de 2014
Infância
«When I first heard jazz, it wasn’t “jazz”. It was music. I grew up in a household where you could hear Ornette Coleman right next to Otis Reading, where A Love Supreme and Sergeant Peppers were both in heavy rotation, where Old and New Dreams and a Balinese Gamelan Orchestra often shared the same bill. When I was young, I didn’t recognize “jazz” as being categorically separate or substantively different from “blues,” “rock,” “funk,” ”soul,” “classical,” “indian,” “African,” “Indonesian,” or any other of the countless musical genres I heard pipping over the public airwaves or crackling out of my mom’s old reel-to-reel tape recorder. I wasn’t yet conscious of musical styles as well-defined, easily-labeled, intellectually-specific entities. For the most part, I didn’t even know their names.»
Freedom in the groove, Joshua Redman
Freedom in the groove, Joshua Redman
sábado, 28 de junho de 2014
quinta-feira, 26 de junho de 2014
quarta-feira, 25 de junho de 2014
terça-feira, 24 de junho de 2014
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Há de haver um dia em que vais parar de procurar.
De buscar, como uma criança perdida. De olhar para os lados, a varrer todo o campo visual. O dia. Há de chegar. Mais tarde ou mais cedo, é uma questão de tempo, vais deixar de procurar, vais deixar de sentir a vontade de continuar à busca, a necessidade de continuar à busca. Vais olhar só para o que tens à tua frente – e não para todos os lados, a varrer todo o campo visual. Como uma criança que se perdeu. E só então vais finalmente ver o que está à tua frente.
domingo, 22 de junho de 2014
Semear o futuro
«It is important to understand that these very large net positions in foreign assets allowed Britain and France to run structural trade deficits in the late nineteenth and early twentieth century. (…) This posed no problem, because their income from foreign assets totaled more than 5 percent of national income. Their balance of payments was thus strongly positive, which enabled them to increase their holdings of foreign assets year after year. In other words, the rest of the world worked to increase consumption by the colonial powers and that the same time became more and more indebted to those same powers. This may seem shocking. But it is essential to realize that the goal of accumulating assets abroad by way of commercial surpluses and colonial appropriations was precisely to be in a position later to run trade deficits. There would be no interest in running trade surpluses forever. The advantage of owning things is that one can continue to consume and accumulate without having to work, or at any rate continue to consume and accumulate more than one could produce on one’s own. The same was true on an external scale in the age of colonialism.»
Capital in the twenty-first century, Thomas Piketty
Capital in the twenty-first century, Thomas Piketty
sábado, 21 de junho de 2014
sexta-feira, 20 de junho de 2014
O jargão do politicamente correcto em matéria de recursos humanos é sui generis.
Dantes as pessoas eram funcionários, trabalhadores. Agora são colaboradores, uma espécie de promoção designativa que é suposto atentar à sensibilidade dos funcionários e trabalhadores – perdão, colaboradores. É, no fundo, uma questão de tacto. Já não trabalhamos, nem sequer funcionamos: colaboramos. Do ponto de vista linguístico, nem sequer são equivalentes: podemos ser funcionários de uma instituição e não trabalhar puto nem colaborar um boi. Provavelmente a mesma corrente que decidiu rever as tabuletas que se põem ao pescoço dos funcionários – perdão, colaboradores – também reviu a forma como nos devemos referir a elas na terceira pessoa. Do ponto de vista da gestão, calculo eu. Nesse campo, os trabalhadores – perdão, colaboradores – transformam-se em recursos. Às vezes chegam a ser activos. Assets, em estrangeiro, soa mais sofisticado e dá menos azo a piadas de cariz duvidoso.
Aos poucos tenho vindo a aperceber-me que sou isto tudo sem, no entanto, e francamente, sentir que sou rigorosamente alguma destas coisas. Até trabalho, logo devo ser trabalhador. Também tenho um número mecanográfico, logo devo ser funcionário. Costumo colaborar, vai daí sou colaborador. Mas a todos os que me chamam isto tudo ou parte do cardápio (também eles certamente funcionários, trabalhadores e colaboradores, assim como recursos ou activos, em diferentes doses) apetece-me dizer-lhes: sou o Daniel, caso não tenhamos ainda sido apresentados.
Antigamente chamava-se genericamente serviço de pessoal aos actuais recursos humanos. Soa-me estranho e, lá está, antiquado. Mas, ainda assim, sou capaz de me sentir mais representado. Porque os segundos, passe o trocadilho, são impessoais.
Aos poucos tenho vindo a aperceber-me que sou isto tudo sem, no entanto, e francamente, sentir que sou rigorosamente alguma destas coisas. Até trabalho, logo devo ser trabalhador. Também tenho um número mecanográfico, logo devo ser funcionário. Costumo colaborar, vai daí sou colaborador. Mas a todos os que me chamam isto tudo ou parte do cardápio (também eles certamente funcionários, trabalhadores e colaboradores, assim como recursos ou activos, em diferentes doses) apetece-me dizer-lhes: sou o Daniel, caso não tenhamos ainda sido apresentados.
Antigamente chamava-se genericamente serviço de pessoal aos actuais recursos humanos. Soa-me estranho e, lá está, antiquado. Mas, ainda assim, sou capaz de me sentir mais representado. Porque os segundos, passe o trocadilho, são impessoais.
quarta-feira, 18 de junho de 2014
terça-feira, 17 de junho de 2014
Os hinos parecem-me sempre coisas muito desengraçadas.
Pindéricas até. Pensando bem nas coisas, o espanhol é dos meus preferidos porque tem uma grande virtude, seguramente, acidental: não tem letra. Ao menos só sofremos com a música e não levamos com "o meu país é melhor que o teu toma toma".
segunda-feira, 16 de junho de 2014
domingo, 15 de junho de 2014
sábado, 14 de junho de 2014
sexta-feira, 13 de junho de 2014
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Paralaxe
A distância entre aquilo que se percepciona como uma bênção e como uma maldição pode ser muito curta.
quarta-feira, 11 de junho de 2014
Cut the mustard
Já foi há uns quantos anos que Jimmy Connors deixou temporariamente a reforma para assistir aos treinos do Andy Roddick. Foi com a ajuda de Connors que o Roddick voltou a estar em alguns finais de Slams.
Entretanto, Magnus Norman fez uma parceria sueca com Robin Soderling e levou-o à final de Roland Garros duas vezes mas não conseguiu fazê-lo levantar o troféu, tal como ele que perdeu com o Guga no mesmo palco. Parece que agora Norman é treinador do Stan Wawrinka.
Mais recentemente, duas contratações bombásticas: Boris Becker para a box do Djokovic, Stefan Edberg para o do Federer. Outras interessantes: Goran Ivanisevic e Marin Cilic, Ivan Ljubicic do Milos Raonic e Sergi Bruguera e Richard Gasquet.
Uma joint venture que deu que falar foi a de Ivan Lendl e o Andy Murray: o checo/americano parecia ser o ideal para o escocês porque também sofreu até conseguir ganhar o seu primeiro Slam (4,5 finais perdidas?). Agora, poucas semanas depois de ter sido anunciado o fim da relação profissional, chega a notícia mais interessante de todas: a Amèlie Mauresmo como treinadora do Andy Murray, a substituir o Lendl.
Entretanto, Magnus Norman fez uma parceria sueca com Robin Soderling e levou-o à final de Roland Garros duas vezes mas não conseguiu fazê-lo levantar o troféu, tal como ele que perdeu com o Guga no mesmo palco. Parece que agora Norman é treinador do Stan Wawrinka.
Mais recentemente, duas contratações bombásticas: Boris Becker para a box do Djokovic, Stefan Edberg para o do Federer. Outras interessantes: Goran Ivanisevic e Marin Cilic, Ivan Ljubicic do Milos Raonic e Sergi Bruguera e Richard Gasquet.
Uma joint venture que deu que falar foi a de Ivan Lendl e o Andy Murray: o checo/americano parecia ser o ideal para o escocês porque também sofreu até conseguir ganhar o seu primeiro Slam (4,5 finais perdidas?). Agora, poucas semanas depois de ter sido anunciado o fim da relação profissional, chega a notícia mais interessante de todas: a Amèlie Mauresmo como treinadora do Andy Murray, a substituir o Lendl.
terça-feira, 10 de junho de 2014
É curioso que se escolha usar cadeados como símbolos de amor.
Se, por um lado, podem significar uma união forte e inquebrantável – sobretudo depois de fechados e de a chave ser atirada ao fundo do rio –, por outro lado parecem ser vistos como uma prisão: um cadeado fecha, por exemplo, portas; e essas portas, por sua vez, podem fechar pessoas. De qualquer das formas, não é só como símbolos que têm um peso assinalável.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
Canalha
«(…) other Westerns and I are struck by the emotional security, self-confidence, curiosity, and autonomy of members of small-scale societies, not only as adults but already as children. We see that people in small-scale societies spend far more time talking to each other than we do, and they spend no time at all on passive entertainment supplied by outsiders, such as television, video games and books. We are struck by the precocious development of social skills in their children. These are qualities that most of us admire, and would like to see in our own children, but we discourage development of those qualities by ranking and grading our children and constantly telling them what to do. The adolescent identity crises that plague American teen-agers aren’t an issue for hunter-gatherer children. The Westerns who have lived with hunter-gatherers and other small-scale societies speculate that these admirable qualities develop because of the way in which their children are brought up: namely, with constant security and stimulation, as a result of the long nursing period, sleeping near parents for several years, far more social models available to children through allo-parenting, far more social stimulation through constant physical contact and proximity of caretakers, instant caretaker responses to a child’s crying, and the minimal amount of physical punishment.»
The world until yesterday, Jared Diamond
The world until yesterday, Jared Diamond
domingo, 8 de junho de 2014
sábado, 7 de junho de 2014
quinta-feira, 5 de junho de 2014
Heute wär ich mir lieber nicht begegnet
A tua cara ilumina-se quando me vês. Sorriso rasgado. O brilho dos olhos. Mesmo sem me (re)conheceres
Quem é este menino?
E não sabes. Eu sei que não sabes. Mesmo quando por vezes tentas dar a volta à pergunta, fugir à resposta, és uma mestre a disfarçar. Mas não faz mal. Não me importo. Porque mesmo assim a tua cara, o teu sorriso. Rasgado. Os olhos. O brilho. E aí, nesse momento, sei que sabes quem sou. Mesmo sem me conheceres (reconheceres?).
Então não sabe?
Deixaste o menos importante para trás. Ficaste com o mais importante. Guardaste o que interessa: a tua cara, o teu sorriso. Os olhos. E nisso, para lá de tudo o resto que, bem vistas as coisas, pouco me importa – troco isso tudo pela cara, o sorriso, os olhos. E mesmo quando não conheces, reconheces, sabes
Diga lá quem é este menino
sei que sabes quem efectivamente sou.
Quem é este menino?
E não sabes. Eu sei que não sabes. Mesmo quando por vezes tentas dar a volta à pergunta, fugir à resposta, és uma mestre a disfarçar. Mas não faz mal. Não me importo. Porque mesmo assim a tua cara, o teu sorriso. Rasgado. Os olhos. O brilho. E aí, nesse momento, sei que sabes quem sou. Mesmo sem me conheceres (reconheceres?).
Então não sabe?
Deixaste o menos importante para trás. Ficaste com o mais importante. Guardaste o que interessa: a tua cara, o teu sorriso. Os olhos. E nisso, para lá de tudo o resto que, bem vistas as coisas, pouco me importa – troco isso tudo pela cara, o sorriso, os olhos. E mesmo quando não conheces, reconheces, sabes
Diga lá quem é este menino
sei que sabes quem efectivamente sou.
quarta-feira, 4 de junho de 2014
Sorge
«(…) food is a major and almost constant subject of conversation. I was initially surprised that my Fore friends spent so much time talking about sweet potatoes, even after they had just eaten to satiation. For the Siriono Indians of Bolivia, the overwhelming preoccupation is with food, such that two of the commonest Siriono expressions are “My stomach is empty” and “Give me some food.” The significance of sex and food is reversed between the Siriono and us Westerners: the Sirionos’ strongest anxieties are about food, they have sex virtually whenever they want, and sex compensates for food hunger, while our strongest anxieties are about sex, we have food virtually whenever we want, and eating compensates for sexual frustration.»
The world until yesterday, Jared Diamond
The world until yesterday, Jared Diamond
terça-feira, 3 de junho de 2014
Gaspiller
Gostava de ter de volta toda a energia que gasto em coisas que não interessam para nada mas que, ainda assim, tenho que as fazer. E tenho que as fazer para poder (finalmente) fazer as que verdadeiramente interessam. Do total de esforço envolvido com uma determinada tarefa, uma grande parte não é efectivamente empregue nessa tarefa mas sim em actividades acessórias de necessidade duvidosa mas de utilidade comprovada: levar a cabo as de necessidade e utilidade comprovadas. Não é tanto ou só pela quantidade em si – e ainda assim gasta-se muito. É pela dificuldade de aceitar: cansa sempre mais aquilo que não entendemos e dificilmente aceitamos.
segunda-feira, 2 de junho de 2014
Stickiness
«Anecdotally, there is certainly evidence of a high degree of stickiness in the demand for retail financial services. Statistically, an adult is more likely to leave their spouse than their bank.»
What is the contribution of the financial sector: Miracle or mirage?, Andrew Haldane, Simon Brennan e Vasileios Madouros
What is the contribution of the financial sector: Miracle or mirage?, Andrew Haldane, Simon Brennan e Vasileios Madouros
domingo, 1 de junho de 2014
A propósito dos resultados das europeias
e da proliferação de eurocépticos em Bruxelas, ocorre-me ter um monarca como Presidente da República: D. Duarte em Belém, a Isabelinha primeira-dama. Ou um ateu como Papa, a discursar da varanda do Vaticano, vestido de branco. Um benfiquista como Presidente do Sporting e um sportinguista como presidente do Benfica. Carecas a gerir cabeleireiros, sei lá.
sábado, 31 de maio de 2014
"Eu não digo convictamente, eu tenho a certeza"
ouvi eu Jorge Jesus dizer (convictamente) em entrevista à Benfica TV.
sexta-feira, 30 de maio de 2014
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Memo
Em vez de colocar a folha vertical, deitou-a. Lentamente, escreveu o assunto mesmo no centro. Letras grandes, bem vincadas, carregadas. Desenhou uma bola à volta. Oval. Depois assistiu. E desenhou setas. Setas a sair do bola - oval - e até aos extremos da olha de papel: primeiro até ao canto superior esquerdo, depois verticalmente, depois até ao canto superior direito. E em cada uma dessas zonas tirou notas. Pontos, alíneas, travessões. E assim sucessivamente até encher a folha, até ficar com uma espécie de roda de bicicleta com um centro e os raios, uma espécie de constelação.
terça-feira, 27 de maio de 2014
A arte posta numa esquina
«Por mais brutal que seja dizer isto, com a arte do nosso meio e época aconteceu o mesmo que acontece com uma mulher que vende os seus atractivos femininos, destinados à maternidade, para o prazer dos que se sentem tentados por tais atributos.
A arte do nosso tempo e do nosso meio tornou-se uma prostituta. E esta comparação é certeira até aos mais ínfimos pormenores.
(...)
A arte verdadeira não necessita de enfeites, como a mulher amada pelo marido. A arte falsa, como a prostituta, deve ser sempre enfeitada.
A causa do aparecimento da arte genuína é a necessidade interior de expressar o sentimento acumulado, como para uma mãe a causa da concepção sexual é o amor. A causa da arte falsificada é o negocio, assim como da prostituição.»
O que é a arte?, Lev Tolstói
A arte do nosso tempo e do nosso meio tornou-se uma prostituta. E esta comparação é certeira até aos mais ínfimos pormenores.
(...)
A arte verdadeira não necessita de enfeites, como a mulher amada pelo marido. A arte falsa, como a prostituta, deve ser sempre enfeitada.
A causa do aparecimento da arte genuína é a necessidade interior de expressar o sentimento acumulado, como para uma mãe a causa da concepção sexual é o amor. A causa da arte falsificada é o negocio, assim como da prostituição.»
O que é a arte?, Lev Tolstói
segunda-feira, 26 de maio de 2014
Música celestial
À porta do Minipreço, parada, procura qualquer coisa com a mão dentro da mala Luois Vuitton.
domingo, 25 de maio de 2014
sábado, 24 de maio de 2014
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Due dilligence
Chris O’Donnell: Are you currently in good health?
Liam Neeson: I suppose so.
Chris O’Donnell: What makes you doubtful?
Liam Neeson: Every doctor I’ve ever seen.
Kinsey
Liam Neeson: I suppose so.
Chris O’Donnell: What makes you doubtful?
Liam Neeson: Every doctor I’ve ever seen.
Kinsey
quinta-feira, 22 de maio de 2014
Sich rar machen
O Truman nunca dava a cara quando as coisas corriam mal, sacudia sempre a água do Capote.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Mir
«Thus, it could not be claimed that some societies are inherently or genetically peaceful, while others are inherently warlike. Instead, it appears that societies do or don’t resort to war, depending on whether it might be profitable to them to initiate war and/or necessary for them to defend themselves against wars initiated by others. (…) It is equally fruitless to debate whether humans are intrinsically violent or else intrinsically cooperative. All human societies practice both violence and cooperation; which trait appears to predominate depends on the circumstances.»
The world until yesterday, Jared Diamond
The world until yesterday, Jared Diamond
Eu tenho três motores
terça-feira, 20 de maio de 2014
Não vi nada desta temporada de terra batida até agora mas, mesmo assim, comento.
Nem que seja para dizer que, em matéria de resultados, esta é a pior temporada dos últimos 7, 8 anos do Nadal. Conseguiu apenas ganhar em Madrid, torneio ao qual faltaram uns quantos nomes, e contra um Nishikori aleijado na final. Pelo que me contaram – lá está, não vi – em condições normais nem essa taça teria levantado.
A somar à má temporada (para os seus próprios padrões) do Nadal, o Djokovic está às escuras este ano, não ganhou na Austrália onde parecia ter um lugar cativo no pódio. A vontade de ganhar em Paris – que já existia porque é o Slam que lhe falta, pese embora o discurso da não obcecação – fica ainda mais espicaçada. E com o maior rival abaixo de par, Nole já deve ter feito todas as contas de cabeça possíveis e imaginárias e deve ter percebido que esta parece ser uma excelente oportunidade – a melhor dos últimos 7, 8 anos – para finalmente levar para casa a Taça dos Mosqueteiros.
Esta pode ser uma mudança de ciclo, um virar de página. Pode também ser uma das edições do Roland Garros mais interessantes dos últimos anos porque parece mais aberta, sem vencedores quasi-pré-determinados.
A somar à má temporada (para os seus próprios padrões) do Nadal, o Djokovic está às escuras este ano, não ganhou na Austrália onde parecia ter um lugar cativo no pódio. A vontade de ganhar em Paris – que já existia porque é o Slam que lhe falta, pese embora o discurso da não obcecação – fica ainda mais espicaçada. E com o maior rival abaixo de par, Nole já deve ter feito todas as contas de cabeça possíveis e imaginárias e deve ter percebido que esta parece ser uma excelente oportunidade – a melhor dos últimos 7, 8 anos – para finalmente levar para casa a Taça dos Mosqueteiros.
Esta pode ser uma mudança de ciclo, um virar de página. Pode também ser uma das edições do Roland Garros mais interessantes dos últimos anos porque parece mais aberta, sem vencedores quasi-pré-determinados.
segunda-feira, 19 de maio de 2014
Molas ou espuma?
Mostro à funcionária qual é a cama em que estou interessado. Discutimos dimensões, preços, condições de entrega e desconto de pronto pagamento. Escreve-me num papel as informações todas, inclui também as relativas à pequena mesa-de-cabeceira ao lado. E depois pergunta-me
E colchões?
ao que eu respondo que sim, também quero saber sobre colchões e quero levar comigo os elementos para depois tomar uma decisão. E é aqui que diz pela primeira vez
Vamos então ver colchões para esta situação.
Há-de repetir esta frase
(ou parecida, por exemplo)
(Temos também este colchão para esta situação.)
umas duas, três vezes mais no decurso da nossa conversa e, em todas elas, consegui - não sem algum esforço - reprimir a minha vontade de explorar o assunto em detalhe. Por exemplo
Olhe que eu ia jurar que não se trata de uma situação, mas sim de uma cama
Ou
Esta situação é complicada/bicuda
A ciência foi a grande prejudicada.
E colchões?
ao que eu respondo que sim, também quero saber sobre colchões e quero levar comigo os elementos para depois tomar uma decisão. E é aqui que diz pela primeira vez
Vamos então ver colchões para esta situação.
Há-de repetir esta frase
(ou parecida, por exemplo)
(Temos também este colchão para esta situação.)
umas duas, três vezes mais no decurso da nossa conversa e, em todas elas, consegui - não sem algum esforço - reprimir a minha vontade de explorar o assunto em detalhe. Por exemplo
Olhe que eu ia jurar que não se trata de uma situação, mas sim de uma cama
Ou
Esta situação é complicada/bicuda
A ciência foi a grande prejudicada.
domingo, 18 de maio de 2014
sábado, 17 de maio de 2014
Ainda estou à espera que chegue à minha caixa de correio
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Frame
A quantidade de vezes que dei por mim a olhar para algo que me apetecia imenso fotografar e não tinha como é ridícula. E, ainda assim, nunca me consegui convencer a andar constantemente acompanhado de uma máquina fotográfica, como as pessoas que tiram fotos a sério. As máquina reflex são pesadas, desconfortáveis, chatas de transportar.
O mais estranho é nunca me ter ocorrido que um smartphone pudesse, em larga medida, solucionar esta lacuna. Talvez por ter um dumbphone, não tinha noção de como um telefone decente ajuda imenso nessas circunstâncias. Os recursos e as possibilidades não serão tantos como os de uma máquina a sério, a qualidade não é a mesma. Mas o sentido de oportunidade é irreprimível: o telefone está sempre connosco, quase nunca nos larga. E, por isso, deu-me (incutiu-me?) a disciplina que não tinha.
O mais estranho é nunca me ter ocorrido que um smartphone pudesse, em larga medida, solucionar esta lacuna. Talvez por ter um dumbphone, não tinha noção de como um telefone decente ajuda imenso nessas circunstâncias. Os recursos e as possibilidades não serão tantos como os de uma máquina a sério, a qualidade não é a mesma. Mas o sentido de oportunidade é irreprimível: o telefone está sempre connosco, quase nunca nos larga. E, por isso, deu-me (incutiu-me?) a disciplina que não tinha.
quarta-feira, 14 de maio de 2014
terça-feira, 13 de maio de 2014
Don't talk shop
«One of the major difficulties Trillian experienced in her relationship with Zaphod was learning to distinguish between him pretending to be stupid just to get people off their guar, pretending to be stupid because he couldn’t be bothered to think and wanted someone else to do it for him, pretending to be outrageously stupid to hide the fact that he actually didn’t understand what was going on, and really being genuinely stupid. He was renowned for being amazingly clever and quite clearly so – but not all the time, which obviously worried him, hence the act. He preferred people to be puzzled rather than contemptuous. This above all appeared to Trillian to be genuinely stupid, but she could no longer be bothered to argue about it.»
The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams
The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams
segunda-feira, 12 de maio de 2014
Tenho uma dificuldade enorme em interpretar números de telefone quando estão arrumados em grupos de três.
Não que não faça sentido: é lógico agrupar em três, fica perfeitinho porque são nove no total. O problema, como na maior dos traumas, vem de infância. Ainda antes de os números necessitarem do 21 inicial (e similares de rede fixa), ou o 91, 96 ou 93, os três primeiros algarismos tinham um significado para mim. Na zona do Estoril – Estoril Estoril, São João e São Pedro – havia os 466, 467 ou 468. Os meus pais ainda hoje têm um 468. Uma namorada do liceu – ou melhor, os pais dela – tinha um 466. E havia uma daquelas brincadeirinhas de recreio prontas a ser ditas quando alguém dizia que o seu número começava por 467: 467 tira tira mete mete. Já os 486, por exemplo, eram números de Cascais. Os 476 eram da Parede. A minha avó, que morava em Lisboa, tinha um número que começava por 849. Era como se os três primeiros algarismos parcialmente apresentassem ou dissessem qualquer coisa sobre a pessoa com quem íamos falar.
De maneiras que me habituei a estar forma. A minha cabeça ficou formatada assim. Quando hoje em dia me dizem 218 XXX XXX, confesso que ainda fico um pouco baralhado: fico instintivamente à espera dos dois primeiros algarismos do segundo bloco para os juntar ao último do primeiro bloco e tentar tirar algum significado da sua junção. Normalmente em vão.
De maneiras que me habituei a estar forma. A minha cabeça ficou formatada assim. Quando hoje em dia me dizem 218 XXX XXX, confesso que ainda fico um pouco baralhado: fico instintivamente à espera dos dois primeiros algarismos do segundo bloco para os juntar ao último do primeiro bloco e tentar tirar algum significado da sua junção. Normalmente em vão.
domingo, 11 de maio de 2014
sábado, 10 de maio de 2014
sexta-feira, 9 de maio de 2014
Blooper
Disse-lhe que esquecesse tudo. Pediu-lhe que esquecesse tudo. Que não pensasse mais no assunto, ignorasse tudo, apagasse tudo, como se nada fosse, como se nunca tivesse existido.
Não podia: só se pode esquecer o que se conhece.
Não podia: só se pode esquecer o que se conhece.
quarta-feira, 7 de maio de 2014
terça-feira, 6 de maio de 2014
segunda-feira, 5 de maio de 2014
domingo, 4 de maio de 2014
Lachate mi ballare
As expressões baby steps, giant steps, step by step e stepwise approach atingem o seu expoente no contexto da dança.
sábado, 3 de maio de 2014
Dumbster
«One of the major difficulties Trillian experienced in her relationship with Zaphod was learning to distinguish between him pretending to be stupid just to get people off their guar, pretending to be stupid because he couldn’t be bothered to think and wanted someone else to do it for him, pretending to be outrageously stupid to hide the fact that he actually didn’t understand what was going on, and really being genuinely stupid. He was renowned for being amazingly clever and quite clearly so – but not all the time, which obviously worried him, hence the act. He preferred people to be puzzled rather than contemptuous. This above all appeared to Trillian to be genuinely stupid, but she could no longer be bothered to argue about it.»
The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams
The hitchhikers’ guide to the galaxy, Douglas Adams
sexta-feira, 2 de maio de 2014
I have days
Põe-me o computador à frente da cara, a homepage do facebook aberta e antes que me desse tempo para terminar o que estava a fazer, começa a falar, a dizer qualquer coisa sobre uma frase e sobre “gostos”. Demoro uns instantes a processar até que
Ah, precisas que te façam likes, é isso?
Responde-me um sim, tímido, com um sorriso a aparecer. Acedo e dá-me duas hipóteses: ou faço login no computador dele ou ele envia-me uma mensagem com o link. Escolho a segunda opção e enquanto me procura pela lista enorme de pessoas com o nome igual ou parecido ao meu, pergunto-lhe qual o objectivo.
É para ser apanha-bolas na final da Liga dos Campeões.
Fico com ainda mais vontade de ajudar o miúdo que entretanto já me encontrou e já está a preparar a mensagem. Mas quantos likes é que precisas? Cerca de quatrocentos responde-me ele.
Então mas os teus amigos não chegam para isso?
Aparentemente não, ainda não tem os que precisa e daí esta abordagem. Necessidade a quanto obrigas. Agradece-me enquanto se afasta. Daí a alguns minutos, quando pego no telefone para responder ao pedido, verifico que não tenho nenhuma mensagem.
Ah, precisas que te façam likes, é isso?
Responde-me um sim, tímido, com um sorriso a aparecer. Acedo e dá-me duas hipóteses: ou faço login no computador dele ou ele envia-me uma mensagem com o link. Escolho a segunda opção e enquanto me procura pela lista enorme de pessoas com o nome igual ou parecido ao meu, pergunto-lhe qual o objectivo.
É para ser apanha-bolas na final da Liga dos Campeões.
Fico com ainda mais vontade de ajudar o miúdo que entretanto já me encontrou e já está a preparar a mensagem. Mas quantos likes é que precisas? Cerca de quatrocentos responde-me ele.
Então mas os teus amigos não chegam para isso?
Aparentemente não, ainda não tem os que precisa e daí esta abordagem. Necessidade a quanto obrigas. Agradece-me enquanto se afasta. Daí a alguns minutos, quando pego no telefone para responder ao pedido, verifico que não tenho nenhuma mensagem.
quinta-feira, 1 de maio de 2014
É fazer as contas
Não somos os únicos a ter problemas com a matemática. Os italianos também não aparentam ser uns barras. Senão veja-se a política de preços da Panini para a colecção do mundial do Brasil. Uma caderneta nova é vendida juntamente com dez saquetas de cinco cromos por 4 euros e 90 cêntimos. As mesmas dez saquetas sem a caderneta saem a 60 cêntimos cada.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
terça-feira, 29 de abril de 2014
Da série dicas úteis para Pedro Proença arbitrar a meia-final da Liga dos Campeões
Espanhol: (mi) cariño. Alemão: mein Schatz
segunda-feira, 28 de abril de 2014
Canarinho
Um francês de meia-idade apaixonou-se e casou-se com uma jovem chinesa. E então dizia aos amigos que a mulher dele era uma jaune fille.
domingo, 27 de abril de 2014
sábado, 26 de abril de 2014
By all means
O que é que eu te digo?
Não sei, a sério que não sei. Não tenho palavras. Ter até tenho mas não são as que procuro, não são as que quero, não são as que vão funcionar fazer a diferença. Não sou capaz de dizer aquilo que não é. Por muito perto que possa estar daquilo que é, a uma distância curta, mesmo lá ao lado, marginal. Mas se não é, não te o posso dizer e
A sério, o que é que eu te digo?
Nada de isto me ajuda. Nada de isto me esclarece. Nada de isto vai dar qualquer resultado que seja, que se veja, que se sinta. Que se queira. No final, depois de tudo esgotado, depois da falta de alternativas, da poeira assentada, o vazio. E, no meio desse nada todo
Afinal, o que é que eu te digo?
Não sei, a sério que não sei. Não tenho palavras. Ter até tenho mas não são as que procuro, não são as que quero, não são as que vão funcionar fazer a diferença. Não sou capaz de dizer aquilo que não é. Por muito perto que possa estar daquilo que é, a uma distância curta, mesmo lá ao lado, marginal. Mas se não é, não te o posso dizer e
A sério, o que é que eu te digo?
Nada de isto me ajuda. Nada de isto me esclarece. Nada de isto vai dar qualquer resultado que seja, que se veja, que se sinta. Que se queira. No final, depois de tudo esgotado, depois da falta de alternativas, da poeira assentada, o vazio. E, no meio desse nada todo
Afinal, o que é que eu te digo?
sexta-feira, 25 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Em frente à Alfredo da Costa, bastante apropriado.
Enquanto espero em frente ao semáforo, o movimento à minha direita faz-me despertar o olhar. Uma mãe passeia com o filho. Com uma particularidade: segura na mão a ponta de uma trela. A fita amarelada vai da mão dela até às costas do miúdo, presa a uma estrutura que lhe cobre o torso, passando por debaixo dos braços. Como as trelas dos cães, daqueles de maior porte ou mais irrequietos, para os quais não chega apenas uma coleira à volta do pescoço, não vá o animal estrafegar-se.
Melhor: a mãe não passeia com o filho, a mãe passeia o filho.
Melhor: a mãe não passeia com o filho, a mãe passeia o filho.
quarta-feira, 23 de abril de 2014
Posição
Ao contrário de outras áreas, dizer que se é um zero à esquerda em política é uma afirmação de posicionamento.
terça-feira, 22 de abril de 2014
Lais de guia
Os parceiros ideais para praticantes de bondage são marinheiros, seguidos de muito perto por escoteiros.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
domingo, 20 de abril de 2014
Construção fantasma
Sou fã do Top Gear, o programa de automóveis da BBC. Gosto particularmente do sentido de humor e da irreverência: o programa é bastante divertido e os veículos são apenas um elemento ao serviço da paródia. Entre outras rubricas, os episódios têm normalmente uma reportagem num qualquer lugar do mundo. Do Vietname ao deserto do Kalahari, do Japão ao Pólo Norte, meio mundo já foi palco das inúmeras aventuras e desventuras.
Uma destas reportagens mais curiosas tem lugar relativamente perto de nós, já aqui ao lado em Espanha: munidos de brutos carrões, os três apresentadores partem de Gibraltar com o objectivo de chegar a Madrid. Muito do que se passa neste percurso é um retrato interessante dos anos de construção desenfreada e da febre do imobiliário em Espanha.
O primeiro contacto com essa realidade acontece quando resolvem entrar numa povoação à procura de um café para fazer uma pausa. O que vislumbram deixa-os de boca aberta: a povoação está completamente deserta. Blocos de apartamentos novos sucedem-se, casas umas atrás das outras e não se vê vivalma. As infraestruturas públicas necessárias – ruas, iluminação, passadeiras – estão todas preparadas e, no entanto, não há rigorosamente ninguém nas ruas. Um dos apresentadores siderado diz: «quando ouvimos falar destas cidades fantasma pensamos que não existem realmente».
A viagem prossegue numa auto-estrada praticamente deserta. Mais perto de Madrid, surge uma indicação de um aeroporto e seguem-na. Novamente são confrontados com uma imagem desoladora. Os parques de estacionamento, os terminais, tudo vazio. Entram no edifício, brincam com os monitores dos balcões de check-in, com as casinhotas dos seguranças, fazem corridas com cadeiras de rodas. E depois fazem-se à pista, em pulgas, como miúdos de volta das prendas na véspera de Natal. O objectivo é atingir a velocidade máxima dos seus carros na longa faixa de alcatrão em linha recta que têm à sua total disposição.
Com vontade de saber mais qualquer coisa por detrás deste verdadeiro elefante branco fiz uma busca na internet. O aeroporto em causa fica em Ciudad Real, localizada a cerca de 160 quilómetros de Madrid e com uma população a rondar os 70 mil habitantes. Foi nesta localidade que foi decidido construir um aeroporto projectado para dez milhões de passageiros por ano. Tem uma pista de quatro quilómetros, comprimento suficiente para aterrar o enorme Airbus A380. Abriu em 2009 e fechou em 2011. Está neste momento a ser leiloado por cerca de 100 milhões de euro. A construção rondou os 1000 milhões. Pior: este não é o único aeroporto espanhol em condições semelhantes.
Ao acabar o dia, com os três apresentadores de volta aos respectivos carros, surge a maior caricatura de todas: um deles sugere que, ao invés de procurar um hotel onde passar a noite, porque não pura e simplesmente usar uma das casas vazias? A sugestão é aceite. Percorrem novamente as ruas completamente desertas em busca daquela que gostam mais. A reportagem termina com uma paella ao lume num fogão improvisado e uma discussão acesa sobre qual dos carros é o melhor.
Uma destas reportagens mais curiosas tem lugar relativamente perto de nós, já aqui ao lado em Espanha: munidos de brutos carrões, os três apresentadores partem de Gibraltar com o objectivo de chegar a Madrid. Muito do que se passa neste percurso é um retrato interessante dos anos de construção desenfreada e da febre do imobiliário em Espanha.
O primeiro contacto com essa realidade acontece quando resolvem entrar numa povoação à procura de um café para fazer uma pausa. O que vislumbram deixa-os de boca aberta: a povoação está completamente deserta. Blocos de apartamentos novos sucedem-se, casas umas atrás das outras e não se vê vivalma. As infraestruturas públicas necessárias – ruas, iluminação, passadeiras – estão todas preparadas e, no entanto, não há rigorosamente ninguém nas ruas. Um dos apresentadores siderado diz: «quando ouvimos falar destas cidades fantasma pensamos que não existem realmente».
A viagem prossegue numa auto-estrada praticamente deserta. Mais perto de Madrid, surge uma indicação de um aeroporto e seguem-na. Novamente são confrontados com uma imagem desoladora. Os parques de estacionamento, os terminais, tudo vazio. Entram no edifício, brincam com os monitores dos balcões de check-in, com as casinhotas dos seguranças, fazem corridas com cadeiras de rodas. E depois fazem-se à pista, em pulgas, como miúdos de volta das prendas na véspera de Natal. O objectivo é atingir a velocidade máxima dos seus carros na longa faixa de alcatrão em linha recta que têm à sua total disposição.
Com vontade de saber mais qualquer coisa por detrás deste verdadeiro elefante branco fiz uma busca na internet. O aeroporto em causa fica em Ciudad Real, localizada a cerca de 160 quilómetros de Madrid e com uma população a rondar os 70 mil habitantes. Foi nesta localidade que foi decidido construir um aeroporto projectado para dez milhões de passageiros por ano. Tem uma pista de quatro quilómetros, comprimento suficiente para aterrar o enorme Airbus A380. Abriu em 2009 e fechou em 2011. Está neste momento a ser leiloado por cerca de 100 milhões de euro. A construção rondou os 1000 milhões. Pior: este não é o único aeroporto espanhol em condições semelhantes.
Ao acabar o dia, com os três apresentadores de volta aos respectivos carros, surge a maior caricatura de todas: um deles sugere que, ao invés de procurar um hotel onde passar a noite, porque não pura e simplesmente usar uma das casas vazias? A sugestão é aceite. Percorrem novamente as ruas completamente desertas em busca daquela que gostam mais. A reportagem termina com uma paella ao lume num fogão improvisado e uma discussão acesa sobre qual dos carros é o melhor.
sábado, 19 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
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