O velhote na cadeira de rodas, de lado para o banco. Um chapéu na cabeça. Quase sempre ao final da tarde. Sempre o mesmo banco. Ela sentada, de perna cruzada, a mão estendida e agarrada a um dos braços da cadeira de rodas. Uma bata que já deve ter sido branca em tempos, agora está apenas suja. A cara cravejada de borbulhas. Às vezes ela fala ao telefone
Estou a passeaarrr
(um sotaque brasileiro nordestino carregado)
Ele continua sempre com a mesma cara distante - carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra.
Mas na maior da parte das vezes, ela limita-se a olhar para baixo, ou para as mãos ou para o chão. Em silêncio. Ele sempre com cara de carneiro mal morto, a pensar na morte da bezerra. Cumprem um horário, calendário. Cumprem um ritual: o ritual de levar o velhote a passear à rua. Na cadeira de rodas, chapéu na cabeça. Ao final da tarde.
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
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