quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Não parece aquilo que é.

Quem é o vê a passar na rua não sabe que vive na rua. Mas vive. Na ombreira de uma porta, sempre a mesma. Uma coisa que nem metro e meio deve ter. Um amontoado de roupas, cobertor. Deita-se em posição bastante fetal, para conseguir caber naquele espaço exíguo para um homem de estatura média. Às vezes, para conseguir estar de barriga para cima, põe as pernas ao alto, levantadas contra a parede.

Se nunca o tivesse visto ali deitado, não saberia que passa ali as noites. Tem um aspecto normal. À conversa com as pessoas enquanto fuma um cigarro, sentado na mesa do café. No limite, é como se já morasse ali, como se aquela ombreira onde passa as noites – encolhida numa posição do mais fetal possível – fosse a sua morada.

Sem comentários:

Enviar um comentário