«Um livro é um acto de vontade. Faço-o porque resolvi fazê-lo. Porque o que leio dos outros muito raramente me satisfaz, cada vez menos me satisfaz. Sendo totalmente sincero não me satisfaz. De maneiro que redijo o que gostaria de ler. O problema é que não leio, isto é não estou de fora e portanto não leio. Limito-me a fabricar e isso não é ler. A tentar aproximar-me do que imagino as ocasiões que forem necessárias até que as páginas se tornem o que pretendo. Não é, não sei como dizer, não é um trabalho de inspiração
(qual trabalho de inspiração)
é um trabalho de oficina. Fico todo dentro da coisa, a mexer nela. Acordo com ela, deito-me com ela, passo o dia inteiro com ela, ela e eu
(é difícil exprimir isto)
somos o mesmo organismo, não parte de outro, o mesmo organismo.»
Quarto livro de crónicas, António Lobo Antunes
segunda-feira, 24 de novembro de 2014
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