Para encher um vazio de calendário ou de programa. Que discutir com meia dúzia de turcos aos quais apenas fui apresentado há uma hora atrás?
Há uma espécie de check-list para estas coisas que, no mínimo, pode ajudar a quebrar a gelo e, no máximo, pode consumir grande parte da conversa da chacha. Quando chegaram, onde estiveram. E depois o que acharam da cidade. E aqui normalmente a impressão está, como não podia deixar de ser, sempre muito agarrada à origem de cada um. Gostaram da vista do castelo. Da baixa. E da vastidão do rio.
E aqui entro eu, esta é a minha deixa para deitar mais achas para a fogueira e dizer-lhe como nesse aspecto particular Lisboa é tão diferente da maioria das outras cidades europeias com os seus rios fininhos e cravejados de pontes. E que, por vezes, quando recebo pessoas doutros sítios, tenho que lhes explicar que aquilo que vêem ainda não é o mar, é o rio. O mar é só mais lá à frente.
E digo-lhes mais, digo-lhes que entendo, que quando estive em Istambul e me vi virado para o Bósforo senti isso, aquela água toda à minha frente. Uma espécie de liberdade, a juntar ao vento e ao sol na cara, no convés de um barco que levava turistas papalvos como eu para cima e para baixo durante uma hora. Os pescadores na ponte, o peixe grelhado num restaurante.
Levo-os depois a São Francisco, onde a mesma sensação de vastidão também é inescapável – curioso como no meio dessa água fosse possível existir uma fortaleza donde, ao que dizem, ninguém saía. Neste caso, em relação a Lisboa, potenciado pelas pontes iguais, aquela coisa vermelha que – e aproveito para a piada – resolvemos copiar-lhes. A piada corre bem, riem-se. E sinto que a empatia se instalou quando progressivamente os sinto pegar nas rédeas do resto da conversa.
sábado, 20 de dezembro de 2014
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