sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Pegas na pequena colher.
Aquela que usaste para mexer o líquido depois de teres adicionado açúcar. E, com uma delicadeza absurda, mergulhas o metal no interior da chávena. Um pouco de café naquela colher. Pequena colher. E dás-me à boca. Só essa colher. Porque ainda não tenho idade para mais.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
sábado, 25 de dezembro de 2010
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Auf gepacktem Koffer sitzen
Don´t wait up for me
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
domingo, 19 de dezembro de 2010
Home sweet home
Filas intermináveis. Drop-off manual da bagagem. Atraso do voo. Filas na porta de embarque para waiting lists. Embarque demorado. Pista bloqueado por veículo que deveria remover neve. Limpeza da fuselagem do avião para remover o gelo. Nova limpeza da pista. Finalmente descolagem.
sábado, 18 de dezembro de 2010
Dizem que o Elvis ainda está vivo mas ia jurar que ontem dei de caras com a Billie Holiday.
E tudo a propósito de uma balalaika. Não digam que são as cervejas a falar, ainda antes de tocar na primeira já estava com essa impressão. Tocámos um pouco, cantámos um pouco, trocámos umas impressões. How do you know these songs? Ainda me pediu fado assim que lhe disse a minha nacionalidade mas esse é um terreno demasiado resvaladiço para mim. I like your chords. Prometi-lhe que voltava, para a próxima com a minha menina e com auxiliares de memória. À saída: are you sure you know your way back here? Disse-lhe que sim, of course. E então ela, pelo sim pelo não, o seguro morreu de velho, enfiou-me um cartão na mão.
I’ll be waiting.
I’ll be waiting.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
In a friday night mood
Estou a ouvir o Sweet Child o´Mine em repeat. Where do we go now? E que ninguém me pare.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
You look tired.
E estava. Noite mal dormida. Desviei o assunto e a certa altura falei-lhe de café, que ainda me faltava a minha segunda dose matinal e que, após esse ritual, imediatamente pareceria mais desperto. Devias largar esse vício. Eu larguei o tabaco. Cinco anos de fumadora, respondeu-me pouco depois. Nicotine pads? Respondeu negativamente com a cabeça. E eu: just like that? Cold turquey. Entretanto as portas, a saída, as escadas rolantes e, depois de pensar um pouco, soltei um sorriso. Já sei o que quero para o Natal, vou dizer à minha mãe que este ano é cold turquey.
That´s funny, disse praticamente sem sorrir.
That´s funny, disse praticamente sem sorrir.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Quando for grande quero escrever como este gajo
«As mulheres – mas também os homens – perdem boa parte dos seus anos 30 com pena de não terem 20. Nos 40, já aceitariam ter os 30 mas sofrem por não terem. Nos anos 50, continuam a perder tempo a chorar que já não têm 30 – ou 20 – há 20 ou 30 anos. Nos anos 60, pena de não terem 40. Só nos anos 70 começam a dar valor a ter apenas 50. E, nos anos 80, até 60, mas não 65 – parece uma idade desejável, pela qual vale a pena queixarem-se. Só nos anos 90 é que descansam e folgam que ninguém lhes dá a idade que têm, embora gostassem mais de ter 40 anos. Ou 30. Ou 28.
A comédia – porque é mais um desperdício do que uma tragédia – é que perdem os 30 por causa dos 20, os 40 e 50 por causa dos 30 (já de si perdidos por causa dos 20); os 60 por causa dos 40 e os 70 por causa dos 50: duas décadas perdidas, a lamentar duas décadas passadas mas nem por isso menos bem-vindas ou mais desamadas. Não há maneira de ganharem juízo. Só na década dos 20 – dos 15 anos 25 anos, para sermos mais precisos, já que são desilusões que obedecem mais aos lustros do que às décadas – é que existe uma aparência de harmonia. É um equilíbrio ranhoso – mas assoa-se e dá-se o passo seguinte.
Mal nascemos, começamos a envelhecer. Só há duas idades: a idade em que, estupidamente, queremos ser mais velhos e a idade em que, não menos estupidamente, queremos ser mais novos. Apenas nascemos, mudamos e sobrevivemos, até morrermos. Nascer e morrer não contam. Só mudar e sobreviver.»
MEC no Público
A comédia – porque é mais um desperdício do que uma tragédia – é que perdem os 30 por causa dos 20, os 40 e 50 por causa dos 30 (já de si perdidos por causa dos 20); os 60 por causa dos 40 e os 70 por causa dos 50: duas décadas perdidas, a lamentar duas décadas passadas mas nem por isso menos bem-vindas ou mais desamadas. Não há maneira de ganharem juízo. Só na década dos 20 – dos 15 anos 25 anos, para sermos mais precisos, já que são desilusões que obedecem mais aos lustros do que às décadas – é que existe uma aparência de harmonia. É um equilíbrio ranhoso – mas assoa-se e dá-se o passo seguinte.
Mal nascemos, começamos a envelhecer. Só há duas idades: a idade em que, estupidamente, queremos ser mais velhos e a idade em que, não menos estupidamente, queremos ser mais novos. Apenas nascemos, mudamos e sobrevivemos, até morrermos. Nascer e morrer não contam. Só mudar e sobreviver.»
MEC no Público
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
I’m the best girlfriend there is; I travel a lot
Acabei de saber que o Fernando Nobre esteve em Beirute em 82. Vou já a correr votar no gajo.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
Sobre vir a Lisboa
Sopa. Feijoada. Com muita couve e molho. Vinho tinto com quase 30 anos. Queijo. Pasteis de nata. E café. Muito café.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
Os 90 anos do Dave Brubeck
Que, por acaso, acho que foram na 2a, mas isso agora não interessa. E esta cerimónia é de Dezembro do ano passado, isso também pouco importa. Importa sim que até o Obama lá estava e isso não aconteceu por acaso.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Estou aqui.
Para quando precisares. Estou aqui, bate-me à porta e juro que te abro com a maior das boas vontades. Estou aqui para o que precisares, a sério que estou. Estou aqui. Acredita.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
De repente saiu-te a frase.
Assim, sem mais nem menos. Estamos sentados à mesa com todos os outros e tu, ao meu lado, olhaste para o telemóvel e achaste por bem contares-me algo tão íntimo. É claro que fiquei atrapalhado, que raio de reacção querias que tivesse? Logo eu que sou uma espécie de elefante numa loja de porcelana. A custo consegui segurar a situação – usei a velha técnica do irmão mais velho – e dizer minimamente inteligente e com sentido e aos poucos senti a poeira assentar. E o assunto ficou por ali, pelo menos pensei que tinha ficado até, horas depois, sem eu estar outra vez à espera – raios, juro que me estavas a testar – voltaste a puxá-lo. O papel de irmão mais velho, outra vez, safou-me e consegui uma vez mais ver o pó fino progressivamente a aterrar no chão. O sofá, deitada no sofá, apanhaste-os a todos de costas para me pores outra vez à prova. Testar-me. Aproveitaste a língua mais solta do que o habitual e tentaste espremer-me. Juro que não me apetecessem jogos, ficas a saber que estou cansado e farto dessas merdas. A próxima vez que me quiseres pôr à prova prepara-te para ir até às últimas consequências. E aí vamos ver que quem cede primeiro.
domingo, 5 de dezembro de 2010
Down memory lane
Estes pacotes de sumo levam-me até à minha infância. Há anos que não os via e, de repente, ali estavam numa prateleira do supermercado. Não resisti a comprar uns quantos. Mudaram o modo de abertura, que era chato como a potassa, e puseram uma daquelas coisas com rosca. Mas, ainda assim, devo dizer que o conteúdo deixou a desejar.
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Com o berro que o gato deu
Soltas o cabelo, escorre-te pela cabeça que sacodes ligeiramente. As tuas mãos ainda no ar e eu
Desculpa
As tuas mãos finalmente a pousarem, o cabelo liso escorrido pela cabeça a baixo. Tens um boné, verde seco. Daqueles que parecem da tropa. Contrasta com o loiro agressivo do teu cabelo.
Blondie
Dá-te um ar rebelde. Se não fosse pelos dois ou três pins e crachás muito coloridos que puseste no lado esquerdo, quase te poderia confundir com um guerrilheiro revolucionário.
Desculpa
As tuas mãos finalmente a pousarem, o cabelo liso escorrido pela cabeça a baixo. Tens um boné, verde seco. Daqueles que parecem da tropa. Contrasta com o loiro agressivo do teu cabelo.
Blondie
Dá-te um ar rebelde. Se não fosse pelos dois ou três pins e crachás muito coloridos que puseste no lado esquerdo, quase te poderia confundir com um guerrilheiro revolucionário.
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Era um rei muito poderoso.
Tinha ao seu cargo milhares de súbditos, possuía terrenos a perder de vista, tinha castelos, palácios, palacetes, repletos de empregados. Um dia entrou em guerra e perdeu uma parte significativa das suas posses para um rival. Perdeu alguns dos seus súbditos em guerras e outros tantos abandonaram-no.
E então tanto a Fitch como a Moody´s reviram o “reiting” do seu reinado em baixa.
E então tanto a Fitch como a Moody´s reviram o “reiting” do seu reinado em baixa.
terça-feira, 30 de novembro de 2010
What are the odds
Há cerca de ano e meio atrás, fartei-me do Millennium BCP e fechei a minha conta. Tinha sido aberta pelos meus pais quando era miúdo, na altura no BPA, se não estou em erro. Um ano e meio de pois e ainda continuam, religiosamente, a enviar-me por e-mail a newsletter deles. Este ano, foram ao cúmulo de me enviar um SMS de parabéns no meu dia de anos, algo que nunca fizeram em todo o tempo que efectivamente fui cliente deles.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A esquerda que cria o break point no primeiro set devia estar na parede de todas as salas de aula, por cima do quadro, mesmo ao lado do crucifixo
Isso e o ponto que começa aos 0m47s
sábado, 27 de novembro de 2010
Festarolas
«Uma parte essencial da saloiice indígena é a mania do prestígio. Ontem o DN falava da cimeira da NATO, notando com grande satisfação que ela nos trazia grande prestígio. E porquê? Porque Portugal recebia os "chefes" (e que "chefes") dos 28 Estados membros, mais duas dezenas de "representantes" de outros desgraçados países, desde o afegão Karzai ao russo Medvedev. Esta festarola já tornou Lisboa num inferno e provocou o governo a dar o presente do costume ao grosso do funcionalismo: a sempre abençoada e nunca verdadeiramente merecida "tolerância de ponto". Mas parece - dizem os peritos - que o mundo pasma com a nossa "capacidade" de organização, ainda por cima de um "evento" que "mudará o futuro próximo da humanidade". Para dona-de-casa não estamos mal.
A Expo-98 e o Europeu de Futebol de 2004, embora sem "mudar o futuro próximo da humanidade", o que foi uma pena, tinham a seu tempo mostrado essa nossa extraordinária vocação. E mesmo hoje Portugal continua ardorosamente à procura de um espectáculo qualquer que reforce e alargue a sua enorme fama de "receber bem", necessária como pão para a boca a um país que se preze. Consta, por exemplo, que vem aí o Mundial de Futebol e até, suponho que em homenagem à Comporta, a Ryder Cup (uma espécie de campeonato de golfe). Só falta agora o pingue-pongue e o ténis, que se escondeu, talvez por modéstia, no Estoril. A única coisa que espanta neste fulgurante currículo é que Portugal não use a sua "capacidade de organização" para se organizar a si próprio, uma coisa por que ninguém certamente o criticaria.
De resto, há por aí gente, como a sra. Merkel, que é muitíssimo capaz de preferir Portugal com uma dívida externa mais pequena, um défice razoável e uma economia em crescimento. Sabemos que essa gente é mesquinha e má. E que nada paga a íntima alegria de ver Obama e os seus duzentos guarda-costas nas ruas de Lisboa. O brilho de uma boa "cimeira" não substitui a mediocridade de uma vida honesta e de uma sociedade um pouco menos miserável e caótica. Os pobres - é uma velha verdade - gostam de se roçar (figurativamente) pelos ricos. Como a insignificância gosta de se roçar pela grandeza e discutir a sério o "futuro próximo da humanidade", em especial do Afeganistão em que o interesse de Portugal é óbvio. Mas, de quando em quando, convinha que o governo descesse à realidade de que teoricamente se devia ocupar.»
Vasco Pulido Valente
A Expo-98 e o Europeu de Futebol de 2004, embora sem "mudar o futuro próximo da humanidade", o que foi uma pena, tinham a seu tempo mostrado essa nossa extraordinária vocação. E mesmo hoje Portugal continua ardorosamente à procura de um espectáculo qualquer que reforce e alargue a sua enorme fama de "receber bem", necessária como pão para a boca a um país que se preze. Consta, por exemplo, que vem aí o Mundial de Futebol e até, suponho que em homenagem à Comporta, a Ryder Cup (uma espécie de campeonato de golfe). Só falta agora o pingue-pongue e o ténis, que se escondeu, talvez por modéstia, no Estoril. A única coisa que espanta neste fulgurante currículo é que Portugal não use a sua "capacidade de organização" para se organizar a si próprio, uma coisa por que ninguém certamente o criticaria.
De resto, há por aí gente, como a sra. Merkel, que é muitíssimo capaz de preferir Portugal com uma dívida externa mais pequena, um défice razoável e uma economia em crescimento. Sabemos que essa gente é mesquinha e má. E que nada paga a íntima alegria de ver Obama e os seus duzentos guarda-costas nas ruas de Lisboa. O brilho de uma boa "cimeira" não substitui a mediocridade de uma vida honesta e de uma sociedade um pouco menos miserável e caótica. Os pobres - é uma velha verdade - gostam de se roçar (figurativamente) pelos ricos. Como a insignificância gosta de se roçar pela grandeza e discutir a sério o "futuro próximo da humanidade", em especial do Afeganistão em que o interesse de Portugal é óbvio. Mas, de quando em quando, convinha que o governo descesse à realidade de que teoricamente se devia ocupar.»
Vasco Pulido Valente
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
P. diz que já não me ama.
Ou melhor, que afinal já não me ama. Assim, meio de rompante, embora se note que andou a remoer a frase durante algum tempo. O que é estranho: com tanto tempo para ensaiar, devia ter-lhe saído melhor. Depois fica chateada com a ausência de uma reacção minha. Ou melhor, uma reacção efusiva. Ou seja, queria que eu tivesse ficado lixado. Não fiquei. E expliquei-lhe: não me estava a dizer nada de novo. Aí é que ela ia trepando pelas paredes. Como era possível que eu soubesse? Estava armado em parvo. Eu e o meu cinismo.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Sei que a P. não está interessada em sexo mas acede à minha incursão.
Também não me apetece muito mas apetece-me ainda menos o fuzilamento de que seria alvo caso não manifestasse nenhuma vontade.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
P. está numa daquelas fases insuportáveis em que me pergunta vezes sem conta o que eu acho disto ou daquilo.
É incapaz de tomar uma decisão. Pergunta-me tudo desde se há-de deixar o trabalho actual até que sapatos deverá calçar, o que é que eu acho disto e daquilo. Pior, larga-me constantemente aquele “não é?” no final de cada frase, parece que não tem segurança naquilo que diz e precisa que constantemente vá anuindo. Até que perco a paciência. Discuto com ela e digo-lhe que está a exagerar, que a insegurança dela é disparate, não faz sentido nenhum. Quando os ânimos começam a acalmar e consigo que me vá dando alguma razão, não consigo evitar e estrago tudo quando sou eu próprio que digo “não é?”.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
P. diz-me que quer ter um filho comigo.
E pergunta-me se quero ter um filho com ela. Eu faço um sorriso. Verdadeiro. Gostava mesmo de ter um filho. Abraço-a. Beijo-a. E digo-lhe que sim. Claro que sim. Acrescento mais qualquer coisa, mais ou menos como este é um bom momento. E, após a parte séria, aproveito para brincar: até podemos começar já a tratar disso enquanto a dispo. A P. fica com uma cara linda. Contente. Preenchida. Satisfeita. Adoro vê-la assim. Mas sei perfeitamente que não deixou de tomar a pílula.
domingo, 21 de novembro de 2010
P. seria a melhor pessoa para fazer uma campanha a favor do sexo virtual.
Até estou a ver o slogan: orgasmo sim, mas não me toques. Assim do género da “cena de sexo” do filme do Woody Allen, o Herói do Ano 2000 em que os tipos usam uns capacetes que estimulam ondas cerebrais.
sábado, 20 de novembro de 2010
P. não gosta assim tanto de sexo.
Quer dizer, P. gosta de sexo, do que ela não gosta é de se expor a outra pessoa. Nem a mim nem a ninguém. E não é meramente por causa do corpo, acho que não a incomoda que eu conheça a nudez dela. O que a incomoda é que eu lhe conheça a cara quando se vem.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
P. diz uma coisa uns dias, outros dias diz outra.
Sei perfeitamente que depende sempre do lado para o qual o vento sopra. Já não é nada de novo. Talvez de início me irritasse. Com o tempo, acabei por me habituar. E, para ser sincero, nem sequer me incomoda. Aprendi a apreciar e achar graça, quase como se fosse uma virtude. Porque, no fundo, a incoerência não é um defeito.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
P. diz que é capaz de me amar.
Não tem a mínima dúvida disso. Deve ter-se apercebido recentemente. Eu digo-lhe que não tenho a mínima dúvida que a amo já. Ela gosta da minha resposta. Aninha-se no meu braço, com um suspiro e um sorriso.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
terça-feira, 16 de novembro de 2010
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
O ponto a partir do qual tudo muda.
A partir do qual tudo é diferente. Costumas dizer “no turning back” e tens razão. Dou-te razão porque percebo (finalmente) a força desses pontos, dessas rupturas que rasgam com tudo. Buracos negros que distorcem tudo à volta. A partir desses acontecimentos, todos os caminhos são novos e diferentes.
domingo, 14 de novembro de 2010
All things considered
Já não sei muito bem como chegámos ali, falávamos de publicidade e de psicologia e, a certa altura, estávamos na Apple e no Jobs. Foi algures por aí que me disse que em breve teria que comprar um computador novo e esperava que esse processo não fosse fácil. Isto porque estava muito contente com o actual. Quatro anos e meio constantemente ligado – ok, de vez em quando fazia um reboot – e nunca tinha dado um único problema de hardware! Fiz uma cara de espantado. É claro que provoquei um pouco: mas porque carga de água queres ter o PC constantemente ligado? E já ouviste falar na pegada ecológica? Enfim, de qualquer das formas, havia que dar o braço a torcer, isso é que é uma máquina da guerra, resistente e duradoura. Eu próprio estou ligado também há quatro anos e meio (um pouco mais, para ser mais preciso) e já dei vários problemas de hardware. Riu-se. I won´t buy your brand then. Ora toma e embrulha.
sábado, 13 de novembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
C'um caneco
«Levar com uma caneca de cerveja na cabeça não é brincadeira nenhuma. A medicina legal alemã analisa agora o perigo que representam as canecas utilizadas da Oktoberfest, a festa da cerveja, que, cada vez mais, servem de arma em cenas de pugilato entre bebedores. Uma destas canecas de cerveja matou um homem de 29 anos, atingido na cabeça, vítima de comoção cerebral.
As canecas utilizadas na festa da cerveja pesam, vazias, 1.3kg. Levam um litro. A asa torna-as muito maneáveis e, de facto, podem ser uma arma terrível. Basta uma força de 4 mil newtons para fraturar um crânio e um golpe violento representa uma força superior a 8500 newtons (…).»
Revista Courier
As canecas utilizadas na festa da cerveja pesam, vazias, 1.3kg. Levam um litro. A asa torna-as muito maneáveis e, de facto, podem ser uma arma terrível. Basta uma força de 4 mil newtons para fraturar um crânio e um golpe violento representa uma força superior a 8500 newtons (…).»
Revista Courier
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Yipe-ki-yay
«Bebop was a high-frequency music that shot forward, then suddenly went mute in the middle of a melody chorus; it was highly aware of its own weight and shape. It didn’t have the conversational quality of swing playing, of Lester Young and the daddy of them all, Coleman Hawkins, unless you mean a conversation under the influence of amphetamines. Amphetamines properly accompanied bebop, as gin accompanied stride piano.»
Coltrane - the story of a sound, Ben Ratliff
Coltrane - the story of a sound, Ben Ratliff
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Polka dot
O céu começa a escurecer e os pontinhos de luz surgem, um a um, formas geométricas perfeitas das janelas dos edifícios altos. Parecem pequenos favos de colmeias, somos abelhas que habitamos a luz destes gabinetes que irradiam para o exterior. E que preenchemos a escuridão da noite.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
O saudoso Solnado tinha uma rábula em que fazia uma chamada para Váchingueton.
domingo, 7 de novembro de 2010
Constant state of crisis
A ideia de se separar dela era insuportável. Nem que fosse só por umas horas. Por exemplo, as horas em que saia de casa para trabalhar. Sofria o dia todo. Até não aguentar mais e se despedir.
sábado, 6 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Ar na canalização
Se há coisa que me irrita nos computadores é demorarem séculos a abrir. No local de trabalho então a espera é particularmente penosa. De tal forma que me esforço por optimizar o tempo perdido. A primeira coisa que faço assim que entro no gabinete é carregar no botão para ligar o aparelho; só depois tiro o casaco e o penduro. Mais: tenho todo o tempo do mundo para me deslocar à máquina do café, tirar a minha dose matinal, regressar à cadeira e, mesmo assim, ainda não é o suficiente para que apareça a janela que solicita o ctrl+alt+del, seguido do username e da password. Insiro as minhas credenciais e, enquanto as definições de segurança são carregadas, assim como as minhas definições pessoais, dou uma saltada ao gabinete do colega do lado só para fazer aquela conversa da chacha. Passado uns minutos regresso, mesmo a tempo de ver a janela do Explorer com a página da intranet a abrir. É finalmente o final do processo que, na totalidade, não demora menos de 6 a 7 minutos, num bom dia.
Agora, o que me deixa mais lixado é que, para fechar, quando um tipo se vai embora e não está minimamente preocupado com o tempo, bastam apenas alguns segundos. É uma provocação, só pode.
Agora, o que me deixa mais lixado é que, para fechar, quando um tipo se vai embora e não está minimamente preocupado com o tempo, bastam apenas alguns segundos. É uma provocação, só pode.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Pay up
Acabei de ver uma tipa num supermercado pagar sessenta e picos euros de compras com uma nota de quinhentos.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Causalidade
Deve haver muitos doentes nesta cidade: passo a vida a ouvir ambulâncias. Quer dizer, também pode ser porque fazem imenso barulho, nunca vi nada assim. Tudo bem que precisam assinalar a marcha de emergência mas tanta chinfrineira era dispensável. Só para verem, ao ponto das pessoas na rua levarem as mãos aos ouvidos em sofrimento quando uma passa. É insuportável. Talvez por isso tenham tantos doentes. Na especialidade de otorrinolaringologia. Ou, claro, cardiologia que, se uma começa o tinonim de um momento para o outro, um gajo assusta-se e não é pouco.
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
Baleável
Uma parte significativa dos germânicos – tal como os nortenhos – tem um pequeno problema com a letra “v”, embora não quando estão a falar na sua própria língua. A confusão gera-se porque o som que atribuímos a essa letra é, para eles o som da letra “w”, enquanto “v” é lido como o nosso “f”. Em inglês, a baralhação fica por vezes muito engraçada. Um dos casos mais giros que já presenciei é o da palavra “available” que, na boca dalguns alemães se transforma em “awailable”. Ora, dito desta forma, faz-me pensar em baleias e numa escrita alternativa: “awaleable”. Ou seja, quando me disseram que tal pessoa estava disponível, pareceu-me que estavam a insinuar qualquer coisa em relação à sua massa corporal.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Quoi d’autre?
O Simon e o Garfunkel estavam num bar quando, de repente, se começa a ouvir o Bridge Over Troubled Water. O Simon olha para o Garfunkel com olhos ternurentos e diz: “they’re playing our song”.
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
domingo, 24 de outubro de 2010
A dor é mais urgente que o prazer
A sensação de perda que sentimos quando perdemos algo que foi nosso é maior que a sensação de ganho quando a recebemos. Um tipo chamado Thaler resolveu chamar a este fenómeno o efeito de dotação (tradução manhosa minha). Até o raio do título deste post é uma frase da autoria dele (e do co-autor Kahneman). Aparentemente, o valor das coisas muda quando as enfiamos no saco daquilo que é nosso.
sábado, 23 de outubro de 2010
Ziel
Saio de casa sem saber porquê. Visto o casaco e bato a porta atrás de mim e é só quando chego à rua que me apercebo que não sei para onde vou. Não sei para onde é suposto ir. Só pensei que ia sair, não pensei para onde ia. E agora aqui estou, na rua, parado ao frio à porta, uma rua à minha frente e nada. Penso em voltar a entrar, tirar o casaco e depositá-lo em cima da cadeira que só serve para ser depósito de casacos. Penso mesmo em dar meia volta e esquecer tudo, que se dane, voltar a entrar em casa e ficar no sofá de comando de televisão em riste. Quem me mandou sair sem pensar? Quem me mandou atravessar o raio da porta de casaco vestido, como quem efectivamente se dirige a algum mas não faz ideia qual. Só quando ponho o pé na rua percebo, vejo, sinto que não sei para onde vou. Que não tenho para onde ir.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Uma questão de sotaque
Quando era miúdo gostava de ler os livros de banda desenhada do Tio Patinhas. A minha mãe torcia o nariz: dizia que aquilo não era português e achava que podia comprometer a minha aprendizagem da língua. Pese embora a validade desse argumento, secretamente, acho que era também a vontade de que lesse qualquer coisa mais pedagógica do que aquelas aventuras de patos falantes. Para mim, claro, a questão da linguagem não representava nenhum problema. Bastava usar um sotaque abrasileirado de cada vez que passava os olhos pelos balões das falas dos personagens. Aliás, se não o fizesse então aí sim, não me parecia que aquilo que estava escrito fizesse grande sentido.
Até que surgiram as versões traduzidas. Português de Portugal, lembro-me de ouvir nos anúncios que davam na televisão, certamente dirigidos a mães como a minha. Os livros passavam a ter uma risca com as nacionais cores do verde e do vermelho no canto superior direito para distinguir das antigas versões. E aí o argumento transatlântico caiu por terra e a leitura mental deixou de ser feita com sotaque brasuca. E devorei ainda mais livros do que os já devorava. Lembro-me de comprar um livro sempre que passava num quiosque perto das Palmeiras a caminho das aulas de ténis em Oeiras.
Esta história ocorre-me agora sempre que leio jornais que já adoptaram o novo acordo ortográfico, como o Expresso, por exemplo. Não consigo ler o Expresso com o meu sotaque nasalado de português lisboeta, tenho que o ler usando uma imitação de sotaque brasileiro porque faltam lá uma série de letras como o “c” numa série de palavras. Não é tão gritante como eram os livros originais do Patinhas em que toda a gente se tratava por “você” e os pronomes reflexivos dos verbos vinham sempre no sítio errado, claro. Mas também não traduz em letras a forma como oiço as pessoas falar ali para os lados do Marquês ou de Benfica. Assim como, para o mesmo, qualquer sítio entre Bragança e Faro.
Porque, por muito que o vendam de outra forma, parece-me sempre uma abrasileiração do português.
Até que surgiram as versões traduzidas. Português de Portugal, lembro-me de ouvir nos anúncios que davam na televisão, certamente dirigidos a mães como a minha. Os livros passavam a ter uma risca com as nacionais cores do verde e do vermelho no canto superior direito para distinguir das antigas versões. E aí o argumento transatlântico caiu por terra e a leitura mental deixou de ser feita com sotaque brasuca. E devorei ainda mais livros do que os já devorava. Lembro-me de comprar um livro sempre que passava num quiosque perto das Palmeiras a caminho das aulas de ténis em Oeiras.
Esta história ocorre-me agora sempre que leio jornais que já adoptaram o novo acordo ortográfico, como o Expresso, por exemplo. Não consigo ler o Expresso com o meu sotaque nasalado de português lisboeta, tenho que o ler usando uma imitação de sotaque brasileiro porque faltam lá uma série de letras como o “c” numa série de palavras. Não é tão gritante como eram os livros originais do Patinhas em que toda a gente se tratava por “você” e os pronomes reflexivos dos verbos vinham sempre no sítio errado, claro. Mas também não traduz em letras a forma como oiço as pessoas falar ali para os lados do Marquês ou de Benfica. Assim como, para o mesmo, qualquer sítio entre Bragança e Faro.
Porque, por muito que o vendam de outra forma, parece-me sempre uma abrasileiração do português.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Maintenance
Mesmo que quisesse não consigo deixar de pensar nisso. Por muito que queira. Esforço-me, tento pensar noutras coisas, abstrair-me. Mas, quando dou por mim, já estou com a cabeça aí outra vez. Como se fosse um íman e a minha cabeça um pedaço de metal frio. Acéfalo. A atracção é inevitável, tem uma força descomunal, incontornável. Talvez por isso tenha verdadeiramente deixado de lutar, deixado de tentar redireccionar os meus pensamentos – como se isso fosse minimamente possível, como se tivesse a destreza suficiente para os condicionar. Acabei por desistir, claro. Agora faço o mais fácil e, convenhamos, o mais lógico: espero que passe. E não me tenho saído mal.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Tudo tem um preço
«(…) os países que integram, temporariamente, o Conselho de Segurança recebem 59% mais ajuda dos EUA e têm 20% mais de possibilidades de receber apoio do FMI.»
Revista Visão
Revista Visão
domingo, 17 de outubro de 2010
sábado, 16 de outubro de 2010
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Escrevo-te nestas linhas.
Escrevo-te e ficas melhor escrita nestas linhas do que verdadeiramente és. Escrevo-te da forma a que fiques melhor do que verdadeiramente és. Escrevo-te nestas linhas como gostava que fosses. E então já és verdadeiramente tu nestas linhas.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
De início ainda é possível dar algumas respostas.
Uma ou outra seja, mais ou menos esfarrapada. Mas à medida que as questões se avolumam, começam a escassear. Até ao ponto em que uma pergunta tem outra como resposta. E aí acabam-se as questões.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
A tua mão é certeira.
Pousa em cheio naquela zona dorida. Com uma convicção à prova de bala. É assertiva: mesmo quando me agito um pouco pela ponta de dor que sinto, não paras. E insistes naquele ponto doloroso, insistes até que a minha tolerância aumenta até não me ser sequer desconfortável. Dás-me instruções. Sobre como colocar a cabeça ou as costas. E eu obedeço cegamente, de olhos fechados, tentando concentrar-me o melhor que posso. Tentando concentrar-me para relaxar, para não me retesar ou defender. A fazer um esforço para te deixar o meu corpo inerte quando as tuas mãos assertivas me percorrem uma vez mais. Algo que, por esta altura, já deves ter percebido que não me deixa confortável, já deves ter percebido que não me sinto à vontade com o toque. Mas também já deves ter percebido que não é com o teu toque em especial, é com qualquer toque. Talvez por isso me fales com uma voz suave, estupidamente suave. Como se eu fosse um miúdo no dentista a precisar de um bocadinho de atenção para deixar que me façam uma maldade num dente. É isso, a tua voz é-me maternal. Infantiliza-me. E resulta: o ruído das pessoas desaparece porque eu estou a focar-me apenas na tua voz. Suave. E chegamos à parte das mãos. Deslizas as tuas mãos pelas minhas, uma de cada vez. E essa é talvez a parte que mais me relaxa. Curioso. Não são incursões pelas costas tensas, não são os movimentos no cabelo que normalmente me derretem. São as tuas mãos a passar pelas minhas mãos inertes.
domingo, 10 de outubro de 2010
sábado, 9 de outubro de 2010
A partir do momento em que a discussão começou a aquecer, ela começou a perder o controlo.
Que é como quem diz, o pudor de dizer aquilo que verdadeiramente achava. Pressionada um pouco, lá teve que admitir umas quantas coisas que não queria mas que estavam mesmo na cara. Encostada contra a parede, eis senão quando, sai daquela boca a grande pièce de resistance: “I don’t love you”. Sob a forma de um quasi-grito mas que, ao mesmo tempo, parecia um suspiro por finalmente conseguir pôr aquilo cá fora. Ora, isto deveria ser mais do que suficiente para ficar todo chateado. Porra, um gajo entrega o coração numa bandeja a uma miúda e ainda ouve isto? Mas não. Curiosamente, a única coisa que me passou pela cabeça – e quase tive que refrear um risinho parvo – foi responder-lhe “gostas pouco, gostas…”. O problema é que ela não iria perceber.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
É quem sequer olho para trás.
Nem sequer penso duas vezes. Sigo e nada mais. Não me passam pela cabeça as implicações, não me passam pela cabeça as consequências. Tudo isso está fora da equação. Desconsiderado. Tudo isso me parece irrelevante naquele momento. Aliás, tudo isso me é irrelevante naquele momento, não interessa rigorosamente nada. E isso é estranho. Estranho como, de repente, nada tem o valor que deveria ter.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Se lhe perguntassem não saberia responder.
Percebeu-o de repente. Não saberia dar uma resposta minimamente coerente. Ainda se fosse uma pergunta elaborada e rebuscada. Mas não. Muito pelo contrário. Porra, era a pergunta mais óbvia e natural. E isso deixou-a assustada. Petrificada E então pôs-se rapidamente a tentar inventar qualquer coisa, burilar qualquer coisa em cima do joelho, que soasse relativamente bem. E assim ficava preparada, sentia-se mais segura porque sabia que era só uma questão de cuspir aquelas palavras quando o momento certo surgisse – momento esse que seguramente iria surgir, toda a gente sabe que os momentos certos surgem sempre. Mas nem isso a deixava totalmente confortável. Tinha receio que não funcionasse, que não conseguisse imprimir a convicção necessária.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Olhar em volta.
Nada mais do que isso. Só passar os olhos lentamente, repousá-los em tudo isto que está em volta. Aqui. Só isso. E ver. Porque essa é que é a grande questão: ver. Olhar é fácil. Mas olhar com olhos de ver, nem por isso.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Queres tanto aproximar-me que acabas por me afastar.
Quanto mais correres atrás de mim mais corro eu para longe de ti. Juro. É inevitável. E nem sequer é propositado. É uma reacção natural a essa ânsia toda, esse desespero. Sufocantes. Asfixiantes. Torna tudo artificial porque parece forçado, tirado a ferros. A melhor acção é, por vezes, a inacção. Assim como o silêncio é uma virtude.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
O corredor separa os gabinetes da zona interior do edifício.
É uma espécie de quadrado alcatifado para o qual dão inúmeras portas pesadas de madeira clara. Passo pelo corredor lentamente para me abastecer de café; daquele café deslavado. E olho para dentro dos gabinetes enquanto faço aqueles metros de alcatifa verde. Olhos esbulhados, vidrados, encadeados pelo monitor colorido. Sempre um silêncio sepulcral, aqui e ali entrecortado por um telefonema. A mão esquerda invariavelmente segura a cabeça pesada de trabalho, a direita faz cliques sucessivos nos botões do rato. Corpos tortos, vergados pelo tempo e pelo desgaste, como que em sinal de deferência, de subserviência perante a máquina que lhes segura os olhos encadeados. Esmagados pelo mesmo peso que obriga a segurar a cabeça com a mão esquerda. E o silêncio. Sempre em silêncio.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Há qualquer coisa naquele sotaque italiano.
Joga com o cabelo encaracolado. Faz-me lembrar pasta. A sério. Que coisa tão parva, dizer que o cabelo de uma mulher faz lembrar pasta. Mas é verdade, juro. E al dente. Bem rijinha, como quando os caracóis ficam bem desenhados, com volume. Imagino salpicar um pouco de gorgonzola que lentamente derrete na temperatura da sêmola. Imagino o garfo nos meio dos caracóis a fazer movimentos circulares como se enrolasse o esparguete sobre si mesmo, sobre os seus três dentes. Se não fosse italiana, se não falasse italiano quando está com outro conterrâneo, se não tivesse aquele sotaque – a culpa é sobretudo do sotaque – , então já não diria o mesmo. Quando muito, se fosse francesa, então talvez pudesse ser soufflé. Quando muito.
domingo, 26 de setembro de 2010
Roda
Estava sentado nos bancos de madeira que ladeavam uma mesa, à porta da cabana onde tínhamos jantado. Agasalhado, botas, a manhã estava fria, tinha nevado. Comia, tomava o pequeno-almoço. Não fui capaz de não reparar no que comia. Cubos de chocolate acompanhados por leite com chocolate. Bem escuro. E quente, um fio de vapor subia em direcção ao tecto. E foi daí que surgiu a conversa. Dizia que, para ele, existiam três grandes grupos de alimentos: queijo, chocolate e tudo o resto. Se fores a minha casa em Lisboa e abrires o frigorífico percebes logo esta classificação. A minha dúvida: mas não enjoas? Também gosto muito tanto de queijo como de chocolate mas, se comer muito – e com essa frequência –, enjoo. Sorriu.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Pássaros do Sul
O argumento de que fazer cair o Governo neste momento pode ser nefasto ou ainda pior do que a permanência cada vez me parece mais gasto. E irrelevante. Pedro Silva Pereira foi ontem ao programa da Judite Sousa fazer ameaças que não são mais do que o assumir da vontade que (finalmente) chegou o fim: começo a chegar à conclusão que o que o Governo quer é que o PSD inviabilize o OE. Era um favor que lhes fazia. Era um favor que nos fazia. Desta vez, o Alberto João tem razão.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
KISS
Um dos chavões que mais adoro nos políticos é aquele de que os portugueses não são parvos. Aquela espécie de engraxar e puxar do lustro que se deixa cair a meio de uma entrevista, de forma mais suave se for só com o entrevistador, de uma forma mais agressiva se for um frente-a-frente com outro candidato. Fica especialmente bem no caso de elementos da oposição: o senhor não pode continuar com essas medidas porque os portugueses não são parvos e vão castigá-lo nas eleições. Também aquelas variações possíveis sobre o mesmo tema como, por exemplo, os portugueses têm uma grande maturidade democrática.
É um dos chavões que mais gosto porque resulta. Como é que eu sei? Porque os políticos o usam a torto e a direito.
É um dos chavões que mais gosto porque resulta. Como é que eu sei? Porque os políticos o usam a torto e a direito.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
domingo, 19 de setembro de 2010
Memória
«Charles Fernyhough escreve no Guardian sobre a importância que damos à memória. Começa por dizer que somos aquilo que nos lembramos. Mas depressa a proposta inicial dá lugar a outra mais elaborada […]: as nossas memórias são histórias que contamos uns aos outros e a nós próprios. Não nos lembramos do nosso primeiro dia de aulas tanto quanto contamos uma história sobre aquele momento. Não somos as nossas memórias, mas as nossas histórias. Perder a memória é, neste sentido, perder a capacidade de as contar. No artigo, o autor aproveita a ideia para tirar a pior conclusão possível: se somos ‘contadores de histórias’, podemos contar hoje uma história e amanhã outra que não há problema nenhum. Podemos assim ser tudo ao mesmo tempo e em qualquer altura. O aproveitamento bruto de uma formulação sofisticada é de lamentar. A tese não desresponsabiliza ninguém. Somos contadores de histórias porque existimos além de tudo o que contamos e que contam a nosso respeito. Mesmo que nunca ninguém diga nada.»
Carla Hilário Quevedo na Tabú
Carla Hilário Quevedo na Tabú
sábado, 18 de setembro de 2010
Há pouco vi nas notícias a saída triunfal do Bento XVI da Catedral de Westminster.
À saída, uma multidão calorosa, efusiva à sua espera. Lá no meio, uma tipa barulhenta empunhava um cartaz que dizia qualquer coisa como “we love our german shepherd”. Tem graça, eu sempre o vi mais como um rottweiller.
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Não consigo carregar fotos.
Esta coisa não me deixa. Quer dizer, deve ser uma de duas coisas: ou a internet que tem andado menos ágil do que é hábito ou o blogger que está zangado comigo. Ou as duas claro. E eram só duas fotos, nem sequer era muito, de resto não tenho mais para colocar. Seguem-se alguns fins-de-semana caseiros, pelo que não espero voltar muitas imagens para mostrar.
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Colapso
«Like Easter Island chiefs erecting ever larger statues, eventually crowned by pukao, and like Anasazi elite treating themselves to necklaces of 2000 turquoise beads, Maya kings sough to outdo each other with more and more impressive temples, covered with thicker plaster – reminiscent in turn of the extravagant conspicuous consumption by modern American CEOs. The passivity of Easter chiefs and Maya kings in the face of real big threats to their societies completes our list of disquieting parallels.»
Collapse, Jared Diamond
Collapse, Jared Diamond
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Smash
Pessoalmente, a melhor parte deste US Open foi o facto de não ter assistido às emissões da Eurosport portuguesa. Ver jogos em directo do Arthur Ashe sem ouvir o Bernardo Mota ou o Miguel Seabra é um luxo. Um luxo que existia outrora, quando um tipo tinha acesso a este tipo de canais por parabólica e não havia um número suficiente que justificasse enfiar os patrícios na cabine com os microfones à frente. Bons velhos tempos. Aos quais regressei: final comentada pelo Simon Reed e pelo Frew MacMillan. Ainda me lembrava dos nomes deles. E, pensando bem no assunto, nunca lhes vi a cara. Só por causa disso, vou googlá-los.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Sobre o processo Casa Pia
É pena que eu fique contente apenas porque houve uma condenação em primeira instância. Mesmo que esteja obviamente à espera de uma enchente de recursos. E que os condenados não cumpram pena efectiva. Mas a verdade é que fico. E isso é verdadeiramente triste.
sábado, 11 de setembro de 2010
Mesmo antes de desistir de ver a segunda meia final e ir para a cama
Deux Allemands visitent Paris. Mais comme ils sont très snobs, ils veulent passer pour des tourists anglais. Ils entrent dans une brasserie des Champs-Élisées et le premier demande:
«Two Martinis, please!
- Dry?» fait le barman
Alors l’autre Allemand:
«Nein!Zwei!»
La France qui rit
«Two Martinis, please!
- Dry?» fait le barman
Alors l’autre Allemand:
«Nein!Zwei!»
La France qui rit
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Coisas chatas
Ter o trabalho de enfiar o impermeável na mochila e não chover. Reparar que o sapato esquerdo está desapertado, parar para apertar o atacador e sentir o pé esquerdo muito mais apertado que o direito.
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Short messaging
Quando se sentia sozinho e ninguém lhe ligava, atravessava a fronteira para receber os SMSs das redes estrangeiras.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
domingo, 5 de setembro de 2010
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Sobre house-cleaning às segunda-feiras.
Uma profusão de louça suja no lava-louças ao domingo à noite.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Druck
A parte mais importante da oferta não é de quem recebe, é de quem dá. A aceitação tem esse poder. O de ser o oposto da rejeição.
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
A galinha e o ovo
0. Acabo de ver nas notícias que temos um país onde se fecham escolas que tenham menos de vinte e um alunos. Como seria de esperar, trata-se sobretudo de estabelecimentos do interior do país e, na prática, estima-se que cerca de dez mil alunos sejam afectados.
1. Não vou sequer tocar na questão do impacto de uma medida destas para a educação. Independentemente disso, os fechos de escolas têm seguramente um impacto negativo no desenvolvimento económico das regiões do interior e, consequentemente, nas já de si manifestas assimetrias entre o litoral e o interior. O que me parece curioso é que este mesmo desenvolvimento económico das regiões do interior é um dos argumentos apresentados para não cobrar portagens em algumas auto-estradas (ou pelo menos até agora, que se pretende introduzir portagens nas SCUT). Ou seja, isto equivale a dizer que estradas são motores de desenvolvimento mas escolas não. Ou, de outra forma, são menos motor que as estradas.
2. O que me faz confusão nestas coisas é o fenómeno de círculo vicioso: quanto menos infra-estruturas há, menos pessoas se fixam nestas regiões; quanto menos pessoas se fixam, menor a necessidade de ter infra-estruturas. É claro que podíamos inverter a causalidade e então o argumento seria: quanto menos pessoas existem, menos infra-estruturas são precisas, etc. É aquela conversa do ovo e da galinha. Mas se, por uma questão política, existir o interesse em povoar as regiões do interior, então a necessidade de as tornar atractivas deveria forçosamente passar pelo esforço de manter algumas infra-estruturas básicas activas, pese embora o facto de que a população alvo seja muito menor do que nas regiões mais povoadas.
Como, por exemplo, escolas com menos de vinte e um alunos.
1. Não vou sequer tocar na questão do impacto de uma medida destas para a educação. Independentemente disso, os fechos de escolas têm seguramente um impacto negativo no desenvolvimento económico das regiões do interior e, consequentemente, nas já de si manifestas assimetrias entre o litoral e o interior. O que me parece curioso é que este mesmo desenvolvimento económico das regiões do interior é um dos argumentos apresentados para não cobrar portagens em algumas auto-estradas (ou pelo menos até agora, que se pretende introduzir portagens nas SCUT). Ou seja, isto equivale a dizer que estradas são motores de desenvolvimento mas escolas não. Ou, de outra forma, são menos motor que as estradas.
2. O que me faz confusão nestas coisas é o fenómeno de círculo vicioso: quanto menos infra-estruturas há, menos pessoas se fixam nestas regiões; quanto menos pessoas se fixam, menor a necessidade de ter infra-estruturas. É claro que podíamos inverter a causalidade e então o argumento seria: quanto menos pessoas existem, menos infra-estruturas são precisas, etc. É aquela conversa do ovo e da galinha. Mas se, por uma questão política, existir o interesse em povoar as regiões do interior, então a necessidade de as tornar atractivas deveria forçosamente passar pelo esforço de manter algumas infra-estruturas básicas activas, pese embora o facto de que a população alvo seja muito menor do que nas regiões mais povoadas.
Como, por exemplo, escolas com menos de vinte e um alunos.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Vejo a fotografia.
Por acaso. Tropeço nela enquanto vasculho à procura de outra coisa. E de imediato sinto. Sinto aquela imagem de uma forma estranhamente intensa. Sinto o raio da imagem com o corpo todo. Uma espécie de choque que atravessa da cabeça aos pés. Uma imagem, uma porcaria de uma fotografia.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Entusiasmo
«Studying market patterns in Muslim countries between 1989 and 2007, he found that returns during Ramadan were almost nine times higher than in the rest of the year. The reason, he says, is that the seasonal cheer encourages optimism and thus risk-taking»
The economist
The economist
domingo, 29 de agosto de 2010
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Schmertz
Nem sequer é a dor que me preocupa. Rapidamente te adaptas e aprendes a viver com ela. Ao ponto de verdadeiramente não te incomodar. O problema é a insensibilidade.
quinta-feira, 26 de agosto de 2010
Mão
Passa por detrás da cadeira onde ela está sentada de livro na mão, virada para o mar. Quando está exactamente por detrás dela, a mão esquerda suavemente no cabelo loiro apanhado. Ela vira-se para trás, sentido o toque, responde à pergunta que ele lhe faz – qualquer coisa sobre o pedido que fez no bar. Mas a mão. A mão sempre na cabeça, no cabelo de um loiro pouco uniforme, como que a suportar, a amparar. Uma mão grande e robusta mas de uma suavidade própria. Chama-lhe filha e, pouco depois o nome, numa voz grave e funda. A pergunta e a resposta terminam, ela volta a virar-se para a página do livro aberto e para o sol do mar lá ao fundo. E ele retira lentamente a mão grande do cabelo loiro, apanhado no alto da cabeça.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
terça-feira, 24 de agosto de 2010
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Zeichen der Zeit
Adorava ser como aquelas pessoas que não se apegam às coisas. Que não guardam nada. Que não precisam de ter. Gostava de saber como fazem para não precisar de ter, para fazer com que as coisas não tenham valor, sejam desprovidas de interesse. Desapegadas. Têm apenas aquilo que faz parte do momento em que estão. E nada mais. Passam por cima de tudo e olham para o caminho à frente. Olhar para trás, sem olhar para trás, sem sequer pensar que existe alguma coisa atrás, há sempre qualquer coisa que ficou algures lá para trás. Mas eles não. Não se preocupam. Não precisam de se preocupar. Nunca guardam. Vivem sem a necessidade de ter a preocupação de quem se agarra às coisas, aos tempos, às pessoas. Nada. Um desapego absurdo. Largam tudo na berma da estrada, do percurso que trilham sem nunca olhar por cima do ombro, como se não estivesse lá nada, rigorosamente nada, que por um momento que seja lhes possa roubar a atenção. E nada mais. Seguem. Por cima de tudo. Por cima do nada que atribuem a tudo. Um desinteresse. Como se constantemente recomeçassem, como se só tivessem recomeços ao longo da vida. Estacas zero, umas a seguir às outras, uma linha delas, uma estrada delas.
E nada mais.
E nada mais.
domingo, 22 de agosto de 2010
Um sorrisinho
Ainda me lembro quando precisava de fotografias para documentos ou qualquer coisa oficial. Tinha que ir à estação, ao fotógrafo. Ficava mesmo ao lado do barbeiro – onde cheguei a ir algumas vezes com o meu avô cortar o cabelo –, do outro lado da rua da Casa Viola e da churrascaria. Havia uns três, quatro degraus à entrada, passava a porta e, ao balcão, fazia o meu pedido. O homem que costumava atender, um senhor dos seus cinquenta e picos anos, careca, gordito, perguntava se era para levar naquele momento ou para passar a buscar depois. Porque se fosse para levar logo ele podia tirar Polaroids mas não ficariam tão boas como as outras. E depois, sempre a conversa de quantas fotos vão ser: oito sai mais barato mas doze faziam a oferta de uma fotografia grande. Normalmente optava pela última hipótese e fazia o brilharete de dar a fotografia de oferta à minha avó.
E então, através de uma porta velha de madeira escura, passávamos para a sala de trás. Um fundo de nuvens de um azul artificial preenchia um dos lados. No chão, um tronco de uma árvore onde me sentava. Na parede mesmo ao lado da porta e totalmente fora do ângulo da fotografia, um espelho e um pente para dar os últimos retoques no cabelo e evitar sair despenteado. Depois a parte de sentar: tronco mais para esquerda, mais para direita, queixo para cima, isso, não mexe. Agora sorrisinho, sorrisinho. E lá soltava a coisa mais amarela que conseguia, normalmente mais esgar de dor do que sorriso. Uma foto e uma segunda por segurança. E já está. Dois, três, quarto dias depois estavam prontas.
Há dias fiz um cartão de acesso ao meu local de trabalho. Entre duas larachas, a pessoa que trata do assunto tirou-me uma fotografia com uma máquina digital com um flash doloroso e, no momento, imprimiu o cartão e passou-mo para a mão.
E então, através de uma porta velha de madeira escura, passávamos para a sala de trás. Um fundo de nuvens de um azul artificial preenchia um dos lados. No chão, um tronco de uma árvore onde me sentava. Na parede mesmo ao lado da porta e totalmente fora do ângulo da fotografia, um espelho e um pente para dar os últimos retoques no cabelo e evitar sair despenteado. Depois a parte de sentar: tronco mais para esquerda, mais para direita, queixo para cima, isso, não mexe. Agora sorrisinho, sorrisinho. E lá soltava a coisa mais amarela que conseguia, normalmente mais esgar de dor do que sorriso. Uma foto e uma segunda por segurança. E já está. Dois, três, quarto dias depois estavam prontas.
Há dias fiz um cartão de acesso ao meu local de trabalho. Entre duas larachas, a pessoa que trata do assunto tirou-me uma fotografia com uma máquina digital com um flash doloroso e, no momento, imprimiu o cartão e passou-mo para a mão.
sábado, 21 de agosto de 2010
sexta-feira, 20 de agosto de 2010
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
(B)(R)elief
De repente fez-me sentido,
sabes?
De um momento para o outro, não sei bem explicar como. Logo eu que, ainda por cima, procuro sempre uma explicação para tudo, uma lógica, um raciocínio. Desta vez não. Apareceu, pura e simplesmente, como se caísse do céu aos trambolhões e, de repente, tudo fazia sentido
Percebes?
Não sou nada o tipo de pessoa de acreditar neste tipo de coisas, acredito em coisas concretas, objectivas, que consiga explicar. E, no entanto, como se se tratasse de um puzzle cujas peças miraculosamente se encaixassem umas nas outras por iniciativa própria. Sentido. Tudo.
sabes?
De um momento para o outro, não sei bem explicar como. Logo eu que, ainda por cima, procuro sempre uma explicação para tudo, uma lógica, um raciocínio. Desta vez não. Apareceu, pura e simplesmente, como se caísse do céu aos trambolhões e, de repente, tudo fazia sentido
Percebes?
Não sou nada o tipo de pessoa de acreditar neste tipo de coisas, acredito em coisas concretas, objectivas, que consiga explicar. E, no entanto, como se se tratasse de um puzzle cujas peças miraculosamente se encaixassem umas nas outras por iniciativa própria. Sentido. Tudo.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Por onde é que se começa?
Há tantos inícios possíveis, válidos. Mas só um é verdadeiramente o início. Porque só esse conduz ao verdadeiro fim.
domingo, 15 de agosto de 2010
Fortnight
Há aí um programa que se chama “Salve-se quem puder” cuja longevidade me custa a perceber. Daquilo que consegui depreender, o objectivo é que os concorrentes consigam passar pelo intervalo desenhado numa parede que se move no sentido de uma piscina: a ideia é que consigam evitar ser empurrados para dentro da água. Se bem entendo, este é o grande objectivo de tudo o que acontece neste concurso e a única coisa que introduzindo alguma dinâmica ao concurso são diferentes recortes na tal parede que obrigam os concorrentes a posicionarem-se de forma diferente para não irem à água. O que verdadeiramente me interessa – e, de certa forma, me espanta – é como raio um programa tão vazio quanto este dure mais do que quinze dias.
sábado, 14 de agosto de 2010
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
Depois de teres passado muito perto uma vez.
Já não há volta. Fica para sempre. Por muito que queiras esquecer tudo, apagar tudo. Deixar tudo convenientemente para trás. Limpar. Uma purga. Não dá. Impossível. Burro de carga. Somos como uma mala sem limites, uma bagageira onde cabe sempre mais qualquer coisinha.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Sobre não estar habituado a trabalhar no 15º andar
Os meus ouvidos estalam de cada vez que apanho o elevador.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
No laughter in the dark
O meu objectivo estava perfeitamente traçado e não tinha nada a ver com quaisquer outras bancas de venda. E, no entanto, dei por mim a percorrer o flohmarkt de ponta a ponta, lés a lés. Fascinado com aquele mundo. Das roupas aos sapatos, das panelas aos talheres, móveis e candeeiros, cortinados e toalhas, aparelhos de cozinha e televisores. Até instrumentos médicos, no meio de todo o tipo de tralhas e bugigangas. Parei quando vi CDs e vinis. Não resisti. Passei as mãos por aquelas caixas velhas e gastas, riscadas, sujas. Coisas à venda por menos de cinco euros de todos os géneros musicais. De repente, no meio de inúmeros nomes que pouco me diziam, uma capa azul conhecida. Foi talvez uma fracção de segundo até conseguir localizar exactamente donde. E aí surgiu-me. Ficou claro. Na bancada, lá atrás, onde costumava estar a aparelhagem, com as costas das cadeiras de cinema velho. Era ali que o costumava ver. Não comprei não sei bem porquê porque a verdade é que não consegui deixar passar sem procurar os temas todos na net. Três ou quatro deles estavam frescos na minha memória quase como se estes mais de dez anos (doze, o álbum tinha acabado de sair em 98) não tivessem feito mossa nenhuma. Mas havia outro. Mas acompanhava a partir de certa altura, quando surgiam distintos os arpejos. Cujo título não foi imediato. Claro que eu não sabia que faixa era, não era eu que o punha a tocar. Era este o tema.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Brauchen Sie kurzstrecke?
Tocou-me no braço para me chamar a atenção. Com alguma intensidade. Alto, com uma voz funda. Respondi-lhe que sim e pôs-me um bilhete na mão. Com alguma surpresa, exibi-lhe a moeda de dois euros que ia pôr na confusa máquina de bilhetes da estação. Fez-me um sinal negativo. Não era preciso. Agradeci e dirigi-me às escadas rolantes.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
domingo, 8 de agosto de 2010
Não faz sentido ir a um clube de strip no Algarve.
Basta ir à praia e com a vantagem de ser totalmente grátis.
sábado, 7 de agosto de 2010
Hercules
Depois de teres passado muito perto uma vez. Já na há volta. Fica para sempre. Por muito que queiras esquecer tudo, apagar tudo. Deixar tudo convenientemente para trás. Limpar. Uma purga. Não dá. Impossível. Burro de carga. Somos como uma mala sem limites, uma bagageira onde cabe sempre mais qualquer coisinha.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Ich bin sofort bei Ihnen
O frigorífico. Outra vez. Primeiro o arranque. Uma espécie de solavanco, como se tivesse em paragem cardíaca e o coração recomeçasse, subitamente, a bater. O som metálico.
Vvvrrrrr
Trepida, faz comichão nos ouvidos. E, de repente, Sons indistintos. Portas, torneiras, canos. Vozes, às vezes, ao longe. E a chuva. A chuva praticamente não cai sem ser anunciada por trovões e relâmpagos que rasgam o ar e o céu.
Vvvrrrrr
Trepida, faz comichão nos ouvidos. E, de repente, Sons indistintos. Portas, torneiras, canos. Vozes, às vezes, ao longe. E a chuva. A chuva praticamente não cai sem ser anunciada por trovões e relâmpagos que rasgam o ar e o céu.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Faz um sorriso quando vê que a vejo.
Ainda ao longe. É um sorriso curto, simples. Parece até contido mas tenho a certeza absoluta que significa mais do que muitos sorrisos rasgados, escancarados, que abrem a cara de orelha a orelha. Dirige-se a mim. Vem buscar-me. Outra vez. Segura-me a mão levemente, sem dizer nada. Dá-me um beijo – também ele curto, simples – na testa. E só depois fala comigo.
domingo, 1 de agosto de 2010
Zauberberg
«Confie em mim, é sempre assim que as coisas se passam. Conheço a morte, sou um velho funcionário ao seu serviço, temos tendência sobrevalorizá-la, acredite no que lhe digo! Posso assegurar-lhe que ela não vale nada. Tudo aquilo que a precede e que, em certas situações, pode assumir contornos ultrajantes não pode ser imputado à morte: são circunstâncias que fazem parte da vida mais activa e que podem conduzir à cura e à sobrevivência. Ninguém que regressasse do reino dos mortos lhe poderia relatar qualquer coisa de concreto sobre a morte, porque ninguém a experiencia. Nascemos das trevas e é nelas que nos afundamos. Entre um pólo e o outro vivem-se experiências é certo, mas é verdade é que não experienciamos nem o princípio nem o fim, nem o nascimento nem a morte, o que significa que eles não têm carácter subjectivo. Enquanto fenómenos, pertencem exclusivamente à esfera do objectivo, é o que é.»
A montanha mágica, Thomas Mann
A montanha mágica, Thomas Mann
sábado, 31 de julho de 2010
Spam
E, sem saber porquê, de um momento para o outro, estava a escrever outra vez.
sexta-feira, 30 de julho de 2010
Calada.
Um coro à volta. Ruídos, barulhos, zumbidos. Perguntas, afirmações, querem fazê-la falar, abrir a boca semiaberta. Ela está calada. Muda, queda. E o ruído. Tudo à volta, perguntas, agitação, provocam-na para quebre o silêncio, que fale, que grite, que chie, que rosne, que cante, que berre, que guinche mas tudo o que acontece é o silêncio. Calada. Não reage. No meio da chinfrineira, dos chilreio constante, dos zumbidos irritantes que sobem pelos ouvidos acima e doem, de certeza que doem. E nada. Silêncio. Ela está calada. Demasiado calada. À agitação à volta, um coro de perguntas inquisitórias, insinuantes, insolentes e quando, de repente, finalmente, no meio dos ruídos, barulhos, zumbidos.
Quem é que matou o meu morto?
E então tudo ficou calado à sua volta.
Quem é que matou o meu morto?
E então tudo ficou calado à sua volta.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
quarta-feira, 28 de julho de 2010
A melancolia é matreira.
Surge de repente, inesperada. Apanha-nos desprevenidos, causa alguma surpresa. Assim como aqueles convidados que chovem à hora da refeição, sem que contássemos com eles. Tentamos livrar-nos deles sem sucesso – vamo-nos deitar que estes senhores se querem ir embora – têm sempre imensa vontade de pôr a conversa em dia. E depois vem uma certa habituação. Às vezes tão inesperada quanto o surgimento inicial. E é nessa altura que, atrevo-me a dizer, a melancolia chega a tornar-se em algo relativamente agradável.
terça-feira, 27 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
A cor da água.
Um azul absurdo de claro. Como se os rios, os riachos, corressem sobre os azulejos das paredes de uma piscina se depositassem em lagos do mesmo material. São os mesmos rios que, durante anos, séculos, baralharam toda a gente. Nascem e, após percorrem uma parte da sua distância, mergulham e correm dentro das entranhas da terra para novamente voltarem a brotar. Por essa razão, alguns têm vários nomes diferentes, na medida do número de vezes voltam à superfície. E são estas águas azuis que continuam a escavar e a formar as cavernas impressionantes. Quilómetros de túneis e a galerias, que chegam a ter centenas de metros de altura, com estalactites e estalagmites que vão desde as mais pequenas dimensões (o esparguete que cai do tecto) até estruturas de vários metros. Quase fica a sensação que, neste país, há tanta vida e tanto para ver à superfície como debaixo dela.
domingo, 25 de julho de 2010
sábado, 24 de julho de 2010
Oughta know
Que a Guiné Equatorial, uma ditadura que tem o espanhol e o inglês como línguas oficiais, queira entrar para a CPLP, já é suficientemente caricato. Que essa pretensão seja levada a sério ou, inclusivamente, aplaudida, é triste – Portugal é o único país dos pertencentes à comunidade que levanta (algumas) dúvidas à adesão. Que o Ramos-Horta, cujo país não há muito tempo se encontrava manietado por um regime do género, ache que é perfeitamente normal, isso então está para lá de incompreensível: devia saber melhor que nós.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
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