«Charles Fernyhough escreve no Guardian sobre a importância que damos à memória. Começa por dizer que somos aquilo que nos lembramos. Mas depressa a proposta inicial dá lugar a outra mais elaborada […]: as nossas memórias são histórias que contamos uns aos outros e a nós próprios. Não nos lembramos do nosso primeiro dia de aulas tanto quanto contamos uma história sobre aquele momento. Não somos as nossas memórias, mas as nossas histórias. Perder a memória é, neste sentido, perder a capacidade de as contar. No artigo, o autor aproveita a ideia para tirar a pior conclusão possível: se somos ‘contadores de histórias’, podemos contar hoje uma história e amanhã outra que não há problema nenhum. Podemos assim ser tudo ao mesmo tempo e em qualquer altura. O aproveitamento bruto de uma formulação sofisticada é de lamentar. A tese não desresponsabiliza ninguém. Somos contadores de histórias porque existimos além de tudo o que contamos e que contam a nosso respeito. Mesmo que nunca ninguém diga nada.»
Carla Hilário Quevedo na Tabú
domingo, 19 de setembro de 2010
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