segunda-feira, 11 de outubro de 2010
A tua mão é certeira.
Pousa em cheio naquela zona dorida. Com uma convicção à prova de bala. É assertiva: mesmo quando me agito um pouco pela ponta de dor que sinto, não paras. E insistes naquele ponto doloroso, insistes até que a minha tolerância aumenta até não me ser sequer desconfortável. Dás-me instruções. Sobre como colocar a cabeça ou as costas. E eu obedeço cegamente, de olhos fechados, tentando concentrar-me o melhor que posso. Tentando concentrar-me para relaxar, para não me retesar ou defender. A fazer um esforço para te deixar o meu corpo inerte quando as tuas mãos assertivas me percorrem uma vez mais. Algo que, por esta altura, já deves ter percebido que não me deixa confortável, já deves ter percebido que não me sinto à vontade com o toque. Mas também já deves ter percebido que não é com o teu toque em especial, é com qualquer toque. Talvez por isso me fales com uma voz suave, estupidamente suave. Como se eu fosse um miúdo no dentista a precisar de um bocadinho de atenção para deixar que me façam uma maldade num dente. É isso, a tua voz é-me maternal. Infantiliza-me. E resulta: o ruído das pessoas desaparece porque eu estou a focar-me apenas na tua voz. Suave. E chegamos à parte das mãos. Deslizas as tuas mãos pelas minhas, uma de cada vez. E essa é talvez a parte que mais me relaxa. Curioso. Não são incursões pelas costas tensas, não são os movimentos no cabelo que normalmente me derretem. São as tuas mãos a passar pelas minhas mãos inertes.
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