Ainda me lembro quando precisava de fotografias para documentos ou qualquer coisa oficial. Tinha que ir à estação, ao fotógrafo. Ficava mesmo ao lado do barbeiro – onde cheguei a ir algumas vezes com o meu avô cortar o cabelo –, do outro lado da rua da Casa Viola e da churrascaria. Havia uns três, quatro degraus à entrada, passava a porta e, ao balcão, fazia o meu pedido. O homem que costumava atender, um senhor dos seus cinquenta e picos anos, careca, gordito, perguntava se era para levar naquele momento ou para passar a buscar depois. Porque se fosse para levar logo ele podia tirar Polaroids mas não ficariam tão boas como as outras. E depois, sempre a conversa de quantas fotos vão ser: oito sai mais barato mas doze faziam a oferta de uma fotografia grande. Normalmente optava pela última hipótese e fazia o brilharete de dar a fotografia de oferta à minha avó.
E então, através de uma porta velha de madeira escura, passávamos para a sala de trás. Um fundo de nuvens de um azul artificial preenchia um dos lados. No chão, um tronco de uma árvore onde me sentava. Na parede mesmo ao lado da porta e totalmente fora do ângulo da fotografia, um espelho e um pente para dar os últimos retoques no cabelo e evitar sair despenteado. Depois a parte de sentar: tronco mais para esquerda, mais para direita, queixo para cima, isso, não mexe. Agora sorrisinho, sorrisinho. E lá soltava a coisa mais amarela que conseguia, normalmente mais esgar de dor do que sorriso. Uma foto e uma segunda por segurança. E já está. Dois, três, quarto dias depois estavam prontas.
Há dias fiz um cartão de acesso ao meu local de trabalho. Entre duas larachas, a pessoa que trata do assunto tirou-me uma fotografia com uma máquina digital com um flash doloroso e, no momento, imprimiu o cartão e passou-mo para a mão.
domingo, 22 de agosto de 2010
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Lembro-me TÃO bem!
ResponderEliminarPerdeu a mística esta coisa das fotos tipo passe! ;)
É verdade, tinha uma certa mística. Há tanto tempo que deixei de ir lá, é impressionante. A loja na volta já nem existe...
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