«As mulheres – mas também os homens – perdem boa parte dos seus anos 30 com pena de não terem 20. Nos 40, já aceitariam ter os 30 mas sofrem por não terem. Nos anos 50, continuam a perder tempo a chorar que já não têm 30 – ou 20 – há 20 ou 30 anos. Nos anos 60, pena de não terem 40. Só nos anos 70 começam a dar valor a ter apenas 50. E, nos anos 80, até 60, mas não 65 – parece uma idade desejável, pela qual vale a pena queixarem-se. Só nos anos 90 é que descansam e folgam que ninguém lhes dá a idade que têm, embora gostassem mais de ter 40 anos. Ou 30. Ou 28.
A comédia – porque é mais um desperdício do que uma tragédia – é que perdem os 30 por causa dos 20, os 40 e 50 por causa dos 30 (já de si perdidos por causa dos 20); os 60 por causa dos 40 e os 70 por causa dos 50: duas décadas perdidas, a lamentar duas décadas passadas mas nem por isso menos bem-vindas ou mais desamadas. Não há maneira de ganharem juízo. Só na década dos 20 – dos 15 anos 25 anos, para sermos mais precisos, já que são desilusões que obedecem mais aos lustros do que às décadas – é que existe uma aparência de harmonia. É um equilíbrio ranhoso – mas assoa-se e dá-se o passo seguinte.
Mal nascemos, começamos a envelhecer. Só há duas idades: a idade em que, estupidamente, queremos ser mais velhos e a idade em que, não menos estupidamente, queremos ser mais novos. Apenas nascemos, mudamos e sobrevivemos, até morrermos. Nascer e morrer não contam. Só mudar e sobreviver.»
MEC no Público
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Quando for grande quero escrever como este gajo
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