quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Bis morgen
Um trolley e uma mochila. Tudo arrumado. Nos trinques. Um check online feito - e antes da Lufthansa me ter enviado um mail a dizer que o podia fazer.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Fully fledged
Sair de casa de manhã e dizer uma data de coisas feias porque está a nevar, o primeiro dia do ano. Passar quase toda a manhã em apresentações e reuniões. Trabalhar um bocado até, pouco depois, sair para almoçar meio a correr. Voltar. Trabalhar mais qualquer coisa até à hora de reunião com a equipa. Voltar para a secretária. Olhar pela janela e continuar a ver os flocos de neve a cair. Ficar agarrado ao computador horas até o estômago e a bexiga me afastarem por uns minutos. Regressar à secretária. Só aperceber que é tarde quando metade do corredor já está vazio. Sair para o metro. A neve derreteu, alívio. Comprar o bilhete na máquina e dar de caras com a chefe. Seguir no metro com a chefe à conversa. Sair do metro com a chefe que sai na mesma estação. Ir à conversa nas escadas rolantes. Dizer até amanhã à chefe e caminhar até à porta de casa. Fazer a mala, comer, mails, notícias. E dormir. De preferência bastante.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Contar o tempo em função das segundas-feiras.
Umas atrás das outras. Ponto, pontos de referência das semanas que transcorrem e rapidamente ficam para trás. Pelo caminho, aquela sensação de rapidez: tudo parece que já foi há tanto tempo e, na volta, das poucas vezes que de faço as contas, foi só há quinze dias.
domingo, 18 de dezembro de 2011
Caem os primeiros flocos de neve
Floquinhos, pequeninos, daqueles cuja distinção face à chuva é pouco pronunciada. Caem e logo desaparecem, é impossível que ganhem forma no chão dado o reduzido tamanho. Ou seja, ainda não há neve – felizmente que ainda não há neve daquela a sério, que transborda branco por todo o lado. Tenho qualquer coisa contra a neve, só pode. Para mim, está para as possibilidades climatéricas como o cor-de-rosa para as cores. Não sei explicar.
sábado, 17 de dezembro de 2011
So tell me
Um gajo percebe que está a ficar velho quando acha que modernices como a escrita inteligente das SMS - que de moderno já não têm nada - só atrapalham.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Óbulo
«Pois o homem é, de todos os animais, o mais cruel.
Nada no mundo lhe terá dado tanto prazer como as tragédias, as corridas de toiros e as crucificações; e, a partir do dia em que inventou o inferno, teve o seu paraíso na terra.»
Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche
Nada no mundo lhe terá dado tanto prazer como as tragédias, as corridas de toiros e as crucificações; e, a partir do dia em que inventou o inferno, teve o seu paraíso na terra.»
Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Gerade aus
Dizem que as pessoas que vivem agarradas ao passado são avessas à mudança. Não podia discordar mais. Sou terrivelmente saudosista e preciso constantemente da mudança. Porque sempre que volto atrás descubro que as coisas já não estão como as deixei, traem a minha memória porque pertencem a outro tempo e a outro lugar que já não existem. E por isso não quero, não consigo voltar. E por isso preciso de continuar.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Verde código verde
Os alemães são extremamente ciosos do secretismo dos códigos dos cartões. No momento de pagar no terminal, é muito pronunciada a forma como afastam o olhar - mais do que isso, a cara, o corpo - do teclado e dos dedos.
domingo, 11 de dezembro de 2011
Um frio insuportável.
Que rasga, atravessa a carne e doi nos ossos. Um frio que está para lá daquilo que casacos e cobertores podem mitigar. Só o calor dos teus braços. Do teu abraço.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Viu-me de guitarra às costas à espera do elevador
Daí até combinarmos um dia para tocar foi um instante. Tratou de tudo: informou-se e reservou uma sala de reuniões do rés-do-chão para fazermos um bocado de barulho. Conversa puxa conversa e apercebi-me que a minha (velhota) guitarra de caixa está a chegar aos vinte anos de idade. E está aqui para as curvas.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Von Luft und Liebe allein kann man nicht leben
250 verbos mais as respectivas preposições vão a teste amanhã. Algo me diz que vai dar esturro.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Nem que fosse num avião
«E todas essas peregrinações, e todo esse ascender às montanhas, que eram senão um recurso e um modo de enganar a minha impotência: o que eu queria era voar, voar em ti»
Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche
Assim falava Zaratustra, Friedrich Nietzsche
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Coxia
Escolho sempre coxia. O lugar à janela não me diz nada. Já não me diz nada, talvez dantes, no início, achasse graça, a olhar para as coisas minúsculas dez quilómetros lá em baixo. Agora só quero que as horas passem e que o espaço de tempo entre a descolagem e a aterragem passe a voar - passo o trocadilho. Voar não tem graça por si só, só poderá ter graça tendo em conta o objectivo e, nesse sentido, apenas porque é um meio, nunca um fim.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Piquenices
Nestas discussões sobre quem carrega o fardo de pagar a crise oiço sempre falar no "grande capital". Nunca ninguém fala sobre o "pequeno capital". Nem sobre o "pequeno trabalho". Muito menos sobre o "grande trabalho".
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Goodbye
O elo mais fraco é o Granger a apresentar o Elo Mais Fraco.
domingo, 27 de novembro de 2011
sábado, 26 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Passo a vida a sonhar contigo
Ouvir o Rajoy falar é giro. Cicia incrivelmente. Diz que os grandes inimigos "son la crisis" - e "crisis" dito por ele é genial - e "el paro". E em relação a ambos, "a por ellos". Bottom line: a Grécia e a Itália têm um governo tecnocrata e a Espanha deu uma viragem à direita impressionante. No meio disto tudo, o Tony Carreira voltou a encher o Atlântico como se fosse a linha verde do metro na hora de ponta. Uma senhora entrevistada quis dizer "porque é um ser humano espectatular" mas acabor por lhe sair um "espectaculare" que eu achei espectacular.
Entretanto começou o intervalo do telejornal e eu, claro, fartei-me.
Entretanto começou o intervalo do telejornal e eu, claro, fartei-me.
sábado, 19 de novembro de 2011
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Já fiz tudo. Tudo. Garanto. Não há mais nada que possa fazer, não ficou nada por fazer. Daí que não me podem, não me posso exigirmais nada. Rigorosamente nada. Não deixei nada por fazer, não deixo nada por fazer
não deixes para amanhã o que podes fazer hoje
nada nada por fazer. Tudo arrumado, tudo no devido lugar. Equilíbrio, tudo na devida proporção. Com conta, peso e medida.
E, no entanto, imperfeito. Uma espécie de equilíbrio tácito em que
o que não tem remédio remediado está
E isso é prático porque significa que está tudo arrumado, uma espécie de gavetas onde se põe estas coisas. Por uma certa ordem é claro, nada disto é feito à bruta, às cegas, obedece àquelas regras não escritas. Deixo de me preocupar. Deixo de me querer preocupar: da próxima vez não preciso de procurar porque sei onde está o que procuro e que não preciso de procurar.
não deixes para amanhã o que podes fazer hoje
nada nada por fazer. Tudo arrumado, tudo no devido lugar. Equilíbrio, tudo na devida proporção. Com conta, peso e medida.
E, no entanto, imperfeito. Uma espécie de equilíbrio tácito em que
o que não tem remédio remediado está
E isso é prático porque significa que está tudo arrumado, uma espécie de gavetas onde se põe estas coisas. Por uma certa ordem é claro, nada disto é feito à bruta, às cegas, obedece àquelas regras não escritas. Deixo de me preocupar. Deixo de me querer preocupar: da próxima vez não preciso de procurar porque sei onde está o que procuro e que não preciso de procurar.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Mercúrio
Uma pessoa começa aperceber-se que está a ficar frescote quando entra num edifício vindo da rua e os óculos embaciam brutalmente. Ou quando pôr os phones do ipod se torna desconfortável porque estão frios.
domingo, 13 de novembro de 2011
Levei a Hércules a passear neste lindo dia de domingo.
Pedalei para o outro lado do rio um pouco às apalpadelas, com uma ideia pouco precisa do caminho que devia seguir. E apercebi-me: aqui sou um menino da margem sul. E, ainda assim, não me perdi. Esperei cinco minutos e depois estive horas várias à conversa. Comi uns ricos waffles caseiros com framboesas e gelado de baunilha. Gosto imenso de estar à conversa. Sobretudo com pessoas que ainda não conheço muito bem, pessoas que ainda estou a descobrir. Se calhar é mais isso, gosto de descobrir pessoas e conversas longas com a ajuda de waffles servem o propósito.
sábado, 12 de novembro de 2011
Não sei porque carga de água...
... a SIC notícias insiste em fazer programas de (des)informação com o Alfredo Barroso
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Esta semana toquei quase todos os dias
Arpejos sobre os acordes de temas. Coisas que já me disseram para fazer há anos e que ainda não resolveram o problema geral da falta de direcção dos meus solos. Talvez seja desta. O Markus está entusiasmado, diz que eu tenho um super Gehör que precisa só de ser dirigido e trabalhado. Por falar nisso, tenho trabalhado bastante. E tenho escrito pouco - tirando a parte do trabalho - embora, verdade seja dita, ontem postei, o que significa que lá vão dois de enfiada. Milagre.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
Freizeit
Alguém me explique porque razão a Igreja tem que dar autorização ao Governo para acabar com feriados.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Totó
«Stefanie squints out the window, then at me. She says: I think I’m late.
What for?
Late.
Oh. You mean – oh!
We stop at several drugstores, buy every kind of pregnancy test on the shelves, then hole up at the Hotel Bel-Air. Stefanie goes into the bathroom, and when she comes out her expression is unreadable. She hands me the stick.
Blue.
What does blue mean?
I think it means – you know.
A boy?»
Open, Andre Agassi
What for?
Late.
Oh. You mean – oh!
We stop at several drugstores, buy every kind of pregnancy test on the shelves, then hole up at the Hotel Bel-Air. Stefanie goes into the bathroom, and when she comes out her expression is unreadable. She hands me the stick.
Blue.
What does blue mean?
I think it means – you know.
A boy?»
Open, Andre Agassi
domingo, 23 de outubro de 2011
Cenas
Dormi perto de vinte horas este fim-de-semana. Já não me lembrava da última vez que fiz algo semelhante. O cansaço acumulou e parte dele escapou por entre os lençóis da cama, pese embora o facto de ter passado a maior parte do tempo – daquele em que não estive a dormir, claro – a trabalhar. No intervalo, ou seja, ao final da tarde de domingo, estive a tentar pôr nos dedos o As time goes by. Fui eu que escolhi, o pedido foi meu e agora soa-me tão estranho, tão foleiro. Estou a conseguir assassinar um clássico enorme. Pelo menos não será uma morte prematura. E agora se calhar vou dormir mais um bocado. Boa noite.
sábado, 15 de outubro de 2011
Unterhosen
«Monday we start. I’m in the locker room, getting my feet taped, and I realize I forgot to pack underwear in my tennis bag. The match is in five minutes. Can I play without underwear? I don’t even know if it’s physically possible.
Brad jokes that I can borrow his.
I will never want to him that badly.
(…)
In the fourth set I roll him, and all at once I’m walking off the court with one of the most improbable wins of my career.
(…)
In the second round, I stick with no underwear (I will never don underwear again. Something works, you don’t change). »
Brad jokes that I can borrow his.
I will never want to him that badly.
(…)
In the fourth set I roll him, and all at once I’m walking off the court with one of the most improbable wins of my career.
(…)
In the second round, I stick with no underwear (I will never don underwear again. Something works, you don’t change). »
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Peruca III
«Match, Muster.
At the net he rubs my head, musses my hair. Apart from being condescending, his gesture nearly dislodges my hairpiece.
Good try, he says.
I stare at him with pure hatred. Big mistake, Muster. Don´t touch the hair. Don’t ever touch the hair. Just for that, I tell him at the net. I’ll make you a promise. I’ll never lose to you again.»
Open, Andre Agassi
At the net he rubs my head, musses my hair. Apart from being condescending, his gesture nearly dislodges my hairpiece.
Good try, he says.
I stare at him with pure hatred. Big mistake, Muster. Don´t touch the hair. Don’t ever touch the hair. Just for that, I tell him at the net. I’ll make you a promise. I’ll never lose to you again.»
Open, Andre Agassi
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Peruca II
«My third date with Brooke is the night before her foot surgery. We’re in Manhattan, in the ground-floor sitting room of her brownstone. We’re kissing, on the verge, but first I need to tell her the truth about my hair.
She can sense that I have something in my mind. What’s wrong? She asks.
Nothing.
You can tell me.
It’s just that I haven’t been completely honest with you.
We’re lying on the couch. I sit up, punch a pillow, take a breath. Still searching for the right words, I look at the walls. They’re decorated with African masks, eyeless faces with no hair. They’re eerie. Also, vaguely familiar.
Andre, what is it?
This isn’t easy to admit, Brooke. But look, I’ve losing my hair for quite some time and I wear a hairpiece to cover it up.
I reach out, take her hand, put it on my hairpiece.
She smiles, I had a feeling, she says.
You did?
It’s no big deal.
You’re just not saying that?
It’s you eyes I find attractive. And your heart. Not your hair.»
Open, Andre Agassi
She can sense that I have something in my mind. What’s wrong? She asks.
Nothing.
You can tell me.
It’s just that I haven’t been completely honest with you.
We’re lying on the couch. I sit up, punch a pillow, take a breath. Still searching for the right words, I look at the walls. They’re decorated with African masks, eyeless faces with no hair. They’re eerie. Also, vaguely familiar.
Andre, what is it?
This isn’t easy to admit, Brooke. But look, I’ve losing my hair for quite some time and I wear a hairpiece to cover it up.
I reach out, take her hand, put it on my hairpiece.
She smiles, I had a feeling, she says.
You did?
It’s no big deal.
You’re just not saying that?
It’s you eyes I find attractive. And your heart. Not your hair.»
Open, Andre Agassi
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Peruca I
«Then, catastrophe strikes. The night before the final [Roland Garros 1990], I’m taking a shower and I feel the hairpiece Philly bought me suddenly disintegrate in my hands. I must have used the wrong kind of conditioner. The weave is coming undone – the damned thing is falling apart.
In a state of abject panic I summon Philly to my hotel room.
Fucking disaster, I tell him. My hairpiece – look!
He examines it.
We’ll let it dry, then clip it in place, he says.
With what?
Bobby pins.
He runs all over Paris looking for bobby pins. He can’t find any. He phones me and says, What the hell kind of city is this? No bobby pins?
In the hotel lobby he bumps into Chris Evert and asks her for bobby pins. She doesn’t have any. She asks why he needs them. He doesn’t answer. At last he finds a friend of our sister Rita, who has a bag full of bobby pins. He helps me reconfigure the hairpiece and set it in place, and keeps it there with no fewer than twenty bobby pins.
Will it hold? I ask
Yeah, yeah. Just don’t move around a lot.
We both laugh darkly.
(…)
Warming up before the match, I pray. Not for a win, but for my hairpiece to stay on. Under normal circumstances, playing in my first final of a slam, I’d be tense. But my tenuous hairpiece has me catatonic. »
Open, Andre Agassi
In a state of abject panic I summon Philly to my hotel room.
Fucking disaster, I tell him. My hairpiece – look!
He examines it.
We’ll let it dry, then clip it in place, he says.
With what?
Bobby pins.
He runs all over Paris looking for bobby pins. He can’t find any. He phones me and says, What the hell kind of city is this? No bobby pins?
In the hotel lobby he bumps into Chris Evert and asks her for bobby pins. She doesn’t have any. She asks why he needs them. He doesn’t answer. At last he finds a friend of our sister Rita, who has a bag full of bobby pins. He helps me reconfigure the hairpiece and set it in place, and keeps it there with no fewer than twenty bobby pins.
Will it hold? I ask
Yeah, yeah. Just don’t move around a lot.
We both laugh darkly.
(…)
Warming up before the match, I pray. Not for a win, but for my hairpiece to stay on. Under normal circumstances, playing in my first final of a slam, I’d be tense. But my tenuous hairpiece has me catatonic. »
Open, Andre Agassi
domingo, 9 de outubro de 2011
Funny how falling fells like flying for a little while
«I’m up a set, rolling along, when suddenly I feel as if I’ve stepped in a mousetrap. I look down. The bottom of my shoe has fallen off. Peeled away.
I didn’t bring an extra pair of tennis shoes.
I halt the match, tell officials that I need new shoes. An announcement is made over the loudspeaker, in urgent staccato German. Can someone lend a shoe to Mr. Agassi? Size ten and a half?
It has to be a Nike, I add – because of my contract.
A man in the upper bleachers rises and waves his shoe. He would be happy, he says, to loan me his Schuh. Brad goes up and retrieves it. Though the man is size nine, I force his shoe on my foot, like some half-wit Cinderela, and resume play.»
Open, Andre Agassi
I didn’t bring an extra pair of tennis shoes.
I halt the match, tell officials that I need new shoes. An announcement is made over the loudspeaker, in urgent staccato German. Can someone lend a shoe to Mr. Agassi? Size ten and a half?
It has to be a Nike, I add – because of my contract.
A man in the upper bleachers rises and waves his shoe. He would be happy, he says, to loan me his Schuh. Brad goes up and retrieves it. Though the man is size nine, I force his shoe on my foot, like some half-wit Cinderela, and resume play.»
Open, Andre Agassi
sábado, 8 de outubro de 2011
Nada como o incentivo correcto
Sobre ver um excerto do Prós e Contras
O Miguel Relvas queria dizer virtude mas saiu-lhe virtualidade. É parecido.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Morreu o Jobs e está tudo um bocado em alvoroço. Confesso que não tinha percebido que a sua morte fosse gerar tanto frisson. Tropecei numa fotografia antiga dele e vi uma cara rendonda, bochechuda. Saudável, quero dizer, de forma que fazia um contraste enorme com as últimas fotos dele, magro numa calças de ganga velhas e naquela camisola de gola alta preta feiosa. Feiosa como o câncro dele, ainda por cima do pâncreas, tipicamente de grande agressividade. Parece que a maior parte das pessoas se lembra dele como o tipo dos gadgets, daquelas mariquices do iPhone e iPod mas a mim lembra-me mais o gajo da doença, o gajo que lutou contra o cancro e, tal como tantos outros, perdeu.
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
terça-feira, 4 de outubro de 2011
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
O ferry vai quase vazio, às moscas.
São pouco mais de oito da manhã, o céu limpo, o sol escandinavo incide sobre as águas plácidas do Báltico, um espelho enorme. Procuro como subir ao convés, ir lá em cima exposto ao ar livre e ao frio não me parece particularmente confortável a não ser pela possibilidade de tirar fotografias. Rapidamente percebo que não vou ter essa sorte: o ferry não tem zona aberta no convés superior. Conformado, procuro um lugar entre os inúmeros disponíveis. Dou-me ao luxo de escolher com critério, só me contento com um que tenha um banco corrido com um estofo convidativo, do género daqueles onde algumas pessoas se deitaram ao comprido para dormi. Leio. De vez em quando inspecciono a janela, olho para a luz reflectida que vem lá de fora.
O maior contraste ao entrar na Estónia é a misturada. Trinta por cento da população é russa. Ouve-se a língua por todo o lado. O mesmo não acontece na Finlândia, os russos são turistas. Estou sentado numa banquinha do mercado de Helsínquia a almoçar uma sopa de camarão e uma senhora de meia-idade dirige-se em russo à rapariga que está a servir. Leva uma resposta fria em inglês; a russa de meia-idade na cidade velha de Tallinn leva uma explicação na língua dela sobre os vários tipos de amêndoas que estão à venda numa banquinha de rua.
Como é que vocês resolveram isto? A vossa história, a vossa opressão é tão recente, isto tudo ainda está tão fresco e a repulsa que vejo por exemplo nos búlgaros e nos romenos em relação aos russos ainda devia ser a vossa repulsa. Regra de marketing – há três tipos de pessoas, as que estão a favor, contra e as que estão indiferentes. Podes tentar convencer os dois primeiros tipos de pessoas do contrário daquilo que defendem mas, em relação ao último grupo, esquece, nem sequer tentes. Somos demasiado indiferentes, aceitamos e toleramos os russos sem nenhum problema. Quando saímos do restaurante onde comemos uma sopa de peixe, o céu tinha escurecido, finalmente proporcionando a verdadeira experiência de uma viagem nesta latitude.
Filas de pessoas a fazer fila para o check-in no barco. Na maioria homens e de aspecto duvidoso. Levam sacos desportivos ao ombro, mochilas às costas, trolleys na mão, carregados de garrafas de bebidas alcoólicas que tilintam à medida que andam. O álcool é consideravelmente mais barato na Estónia e o diferencial fomenta este tipo de turismo alcoólico. Desta vez o barco vai cheio. Tão cheio que não encontro um lugar onde me sentar. Sigo o exemplo de outros passageiros e sento-me no chão, na alcatifa, sempre é mais confortável. À minha volta, latas e garrafas de cerveja são abertas, alguns chegam mesmo a deitar-se no chão, possivelmente efeito secundário. Outros, ainda não contentes com o carregamento, ainda compram mais bebidas na loja tax free do barco. É domingo, são nove da noite, vamos chegar por volta das onze, já vão bem abastecidos para a semana toda.
Chego a Helsínquia e chove uma chuva fininha.
O maior contraste ao entrar na Estónia é a misturada. Trinta por cento da população é russa. Ouve-se a língua por todo o lado. O mesmo não acontece na Finlândia, os russos são turistas. Estou sentado numa banquinha do mercado de Helsínquia a almoçar uma sopa de camarão e uma senhora de meia-idade dirige-se em russo à rapariga que está a servir. Leva uma resposta fria em inglês; a russa de meia-idade na cidade velha de Tallinn leva uma explicação na língua dela sobre os vários tipos de amêndoas que estão à venda numa banquinha de rua.
Como é que vocês resolveram isto? A vossa história, a vossa opressão é tão recente, isto tudo ainda está tão fresco e a repulsa que vejo por exemplo nos búlgaros e nos romenos em relação aos russos ainda devia ser a vossa repulsa. Regra de marketing – há três tipos de pessoas, as que estão a favor, contra e as que estão indiferentes. Podes tentar convencer os dois primeiros tipos de pessoas do contrário daquilo que defendem mas, em relação ao último grupo, esquece, nem sequer tentes. Somos demasiado indiferentes, aceitamos e toleramos os russos sem nenhum problema. Quando saímos do restaurante onde comemos uma sopa de peixe, o céu tinha escurecido, finalmente proporcionando a verdadeira experiência de uma viagem nesta latitude.
Filas de pessoas a fazer fila para o check-in no barco. Na maioria homens e de aspecto duvidoso. Levam sacos desportivos ao ombro, mochilas às costas, trolleys na mão, carregados de garrafas de bebidas alcoólicas que tilintam à medida que andam. O álcool é consideravelmente mais barato na Estónia e o diferencial fomenta este tipo de turismo alcoólico. Desta vez o barco vai cheio. Tão cheio que não encontro um lugar onde me sentar. Sigo o exemplo de outros passageiros e sento-me no chão, na alcatifa, sempre é mais confortável. À minha volta, latas e garrafas de cerveja são abertas, alguns chegam mesmo a deitar-se no chão, possivelmente efeito secundário. Outros, ainda não contentes com o carregamento, ainda compram mais bebidas na loja tax free do barco. É domingo, são nove da noite, vamos chegar por volta das onze, já vão bem abastecidos para a semana toda.
Chego a Helsínquia e chove uma chuva fininha.
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
Suomi
O meu trolley cinzento vai passear outra vez amanhã. A capital lá de cima que me falta. A última escapadinha do ano, depois rendo-me ao outono. Até para a semana.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
Matar moscas com uma carabina
Era tão fanático por caça que desatava aos tiros no centro comercial sempre que abria a época dos saldos.
domingo, 25 de setembro de 2011
Conforme
«One of the most striking regularities of human society is localized conformity. Americans act American, Germans act German, and Indians act Indian. At one school teenagers take drugs, but at another they “just say no”. English and American youths enthusiastically enlisted to fight in World War I, but pacifist sentiments prevailed prior to World War II and in the 1960s.»
A theory of fads, fashion, custom and cultural changes as informational cascades, Bikhchandani, Hirschleifer e Welch
A theory of fads, fashion, custom and cultural changes as informational cascades, Bikhchandani, Hirschleifer e Welch
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Há dias que trazem notícias particularmente interessantes
A primeira
Não havia ali um limite de preço para o que o detido estava autorizado a pedir, apenas teria de ser alguma coisa confeccionada na própria prisão. Já na Flórida, a última refeição não poderia custar mais de 40 dólares e os alimentos teriam de ser comprados localmente. Outros estados não dão aos detidos o privilégio de escolher o que irão comer pela última vez na vida.
A segunda
a dívida da Madeira, que é uma coisinha de nada no meio das dívidas todas, é que é utilizada não é só pelos partidos da oposição, que não nos gramam, mas pelas tais sociedades secretas, da maçonaria, e se calhar há lá boa gente do PSD", apontou.
Não havia ali um limite de preço para o que o detido estava autorizado a pedir, apenas teria de ser alguma coisa confeccionada na própria prisão. Já na Flórida, a última refeição não poderia custar mais de 40 dólares e os alimentos teriam de ser comprados localmente. Outros estados não dão aos detidos o privilégio de escolher o que irão comer pela última vez na vida.
A segunda
a dívida da Madeira, que é uma coisinha de nada no meio das dívidas todas, é que é utilizada não é só pelos partidos da oposição, que não nos gramam, mas pelas tais sociedades secretas, da maçonaria, e se calhar há lá boa gente do PSD", apontou.
quarta-feira, 21 de setembro de 2011
terça-feira, 20 de setembro de 2011
O facebook agora tem o descaramento de me enviar mails a avisar-me para a frenética actividade dos meus amigos que tenho perdido por não me ter ligado ultimamente. Entretanto, ao escrever a frase anterior, fiquei a conhecer os limites do título de um post nesta geringonça - encalhou mesmo quando estava para espetar o ultimamente. Agora, só para chatear não ponho nada. Por falar em chatear, hoje estou chateado. Quer dizer, não é bem chateado, sou capaz é de ter ficado um bocado afectado pelo acidente que assisti no cruzamento logo a seguir à ponte. Assistir, assistir, não assisti: ia distraído a pensar na morte da bezerra quando ouvi um estrondo. Olho na direcção do ruído e vejo coisas a voar na minha direcção. Só tive tempo de saltar. Felizmente o bocado de pára-choques cor-de-laranja ficou encalhado numa daquelas protecções metálicas que se põem à volta das árvores, caso contrário seguramente me atingiria. Isso e a mochila, o saco, a garrafa, as tralhas todas que estavam na bagageira frontal do carro - era um desportivo com o motor atrás. Precisei de cinco minutos para respirar fundo. E agora se calhar, se não se importam, vou dormir.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Carne para canhão
« (…) an economic indicator called “guns-to-caviar index.” The index tracks the sales of fighter jets (guns) and executive jets (caviar). For seventeen years, it consistently found that when fighter jets were selling briskly, sales of luxury executive jets went down and vice versa: when executive jet sales were on the rise, fighter jet sales dipped. Of course, a handful of war profiteers always managed to get rich from selling guns, but they were economically insignificant. It was a truism of the contemporary market that you couldn’t have booming economic growth in the midst of violence and instability.
But that truism is no longer true. »
The shock doctrine, Naomi Klein
But that truism is no longer true. »
The shock doctrine, Naomi Klein
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Mau Maria
Enfiar umas coisas num trolley e só depois pensar em ver a previsão do tempo para Dublin. Está – vais estar – mais frio do que aqui, mais frio do que eu estava à espera que estivesse lá. Ontem sentei-me a ver o Benfica com um tipo que acha que o Manchester é a melhor equipa e ponto final. Ficou chateado quando se apercebeu do line up inicial mas mais chateado ficou quando sofreram o primeiro golo. Depois, curiosamente, alegrou passado uns vinte minutos mas sem, no entanto, ter sofrido um bocadito até o árbitro mandar toda a gente para casa. Entretanto o Ronaldo acha que é assobiado porque as pessoas têm inveja dele. É bem parecido, dá uns toques na bola, tem dinheiro, é fluente em castelhano, tudo factores que despoletam dor de cotovelo e represálias. Quando dou por mim, os dois Sportingues estão a ganhar o que parece fazer algum sentido. Isto, claro, segundo diz a TSF. Não esperem por mim acordados.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Quando toda a gente já percebeu que as Novas Oportunidades são facilitismo
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
O único problema é que eu tenho que trabalhar amanhã
Porque esta final do US Open merece ser vista de uma ponta à outra. Há já algum tempo que não via um encontro com uma intensidade tão grande. É que não é só a qualidade, é a intensidade. Cada jogo de serviço, cada bola é disputada até ao limite. O problema é que 6-2 demora quase uma hora. E eu tenho que mesmo que trabalhar amanhã. Vamos ver até onde aguento.
domingo, 11 de setembro de 2011
Espiral
Não consigo perceber porque ainda fico especado a olhar para as imagens dos aviões a esmagarem-se contra as torres. Devo tê-las visto centenas de vezes, como toda a gente. Ainda assim, hoje, uma vez mais – a enésima – voltei a ficar que nem um parvinho a olhar para o ecrã.
sábado, 10 de setembro de 2011
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Está tudo bem, obrigado
Voltou tudo a normal. Menos de vinte graus, imenso vento e chuva. A quem chame a isto Outono, outros acham normal que isto aconteça sem ser tecnicamente Outono. Ao mesmo tempo deixou de chover em Nova Iorque, mais especificamente em Flushing Meadows, que fica mais para os lados de Queens. Isso é bom porque agora até me posso dar ao luxo de ver um jogo ao outro, pese embora o facto de que a existência de uma pessoa como a Petkovic – que eu até gosto de ver dançar – me lixe a vida dado que desloca o Djoko para o segundo plano., pelo menos no que diz respeito à televisão alemã. Entretanto fui fazer uma massagem tailandesa. Tive uma dificuldade doida em perceber o que me diziam. Não só porque o sotaque tailandês em cima de alemão não é o meu forte mas também porque é difícil de ouvir por entre os meus gritos a plenos pulmões. Conclusão: a dor que tinha contraído ontem na perna esquerda, depois de correr imenso, não ficou nada melhor. Agora parece que estaleja um bocadito, como se estivesse crocante. A melhor parte é que amanhã é sexta. Tenho uma centena de reuniões para adormecer, peço desculpa, assistir, e depois uma despedida. Na verdade, para ser mesmo honesto, o que me apetece agora é ir dormir e sonhar que amanhã acordo sem dor no pé. Mesmo sabendo que isso não vai acontecer. Só porque não vou já para a cama.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Adoro deixar as coisas no ar.
Suspensas. A imprecisão da incerteza tem uma beleza plástica. Pensar na resposta e na contra-resposta. Tentar antever, prever. E saber esperar – sem desesperar, claro, essa é que a grande virtude. É um exercício de paciência e de calculismo. Complexo. Um jogo como o xadrez.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
Pequenas subtilezas de cariz geológico
Se um tipo é burro então é um granda calhau mas se é gajo divertido então é uma granda pedra.
domingo, 4 de setembro de 2011
sábado, 3 de setembro de 2011
Pífaro
Está normalmente na esquina da farmácia, de frente para as pessoas que saem do buraco do metro com ajuda das escadas rolantes. Cabelo grisalho a escorrer pelas costas, uma saia velha e desajeitada. Tem uma flauta velha de madeira escura, um saco que deposita à frente dos pés enfiados em sandálias de enfiar o dedo. E toca. Toca de frente para a boca do metro, para a praça, para as pessoas que dobram a esquina à sua frente e seguem rua abaixo até ao centro da cidade.
Toca tão bem como eu faço crochet: desafina a cada três notas numa melodia insuportável. Faz-me lembrar quando tinha aulas de flauta na primária e não conseguia controlar as notas agudas. O dó central e as notas adjacentes eram relativamente fáceis mas subir na escala tornava-se penoso quando era forçoso ter uma série de dedos na flauta e os mindinhos não tinham a destreza suficiente para controlar os orifícios finais. Tem uma tristeza espelhada na cara que eu não sei explicar e que joga na perfeição com aquela música deprimente. As pessoas passam e não ligam puto e ela continua a olhar para o infinito enquanto se concentra na música.
Vasculho a minha cabeça e não me lembro de ver seja quem for dar-lhe esmola. Vasculho ainda mais e apercebo-me de que não há recipiente, não me lembro de ver um recipiente para as moedas dos transeuntes incomodados com a pobreza alheia. Não sei onde as pessoas que precisam de se sentir bem com elas próprias podem depositar a moedinha, o troco de uma porcaria qualquer que compraram. E então considero a hipótese de que toca apenas para partilhar a sua melancolia, a sua tristeza com os que passam por aquela esquina.
Toca tão bem como eu faço crochet: desafina a cada três notas numa melodia insuportável. Faz-me lembrar quando tinha aulas de flauta na primária e não conseguia controlar as notas agudas. O dó central e as notas adjacentes eram relativamente fáceis mas subir na escala tornava-se penoso quando era forçoso ter uma série de dedos na flauta e os mindinhos não tinham a destreza suficiente para controlar os orifícios finais. Tem uma tristeza espelhada na cara que eu não sei explicar e que joga na perfeição com aquela música deprimente. As pessoas passam e não ligam puto e ela continua a olhar para o infinito enquanto se concentra na música.
Vasculho a minha cabeça e não me lembro de ver seja quem for dar-lhe esmola. Vasculho ainda mais e apercebo-me de que não há recipiente, não me lembro de ver um recipiente para as moedas dos transeuntes incomodados com a pobreza alheia. Não sei onde as pessoas que precisam de se sentir bem com elas próprias podem depositar a moedinha, o troco de uma porcaria qualquer que compraram. E então considero a hipótese de que toca apenas para partilhar a sua melancolia, a sua tristeza com os que passam por aquela esquina.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Clap
A moda de bater as palmas após a aterragem (segura) de um avião parece estar a voltar em grande força. Uma espécie de exumação. Mais do que uma vez e para destinos diferentes assisti, um pouco aparvalhado, à alegria daquelas pessoas que provavelmente pensaram que iam morrer. É bom quando descobrimos que ainda não é desta. Isto faz-me lembrar outra coisa: as palmas quando acaba uma aula daquelas estilo fitness, aeróbica, pilates. Também aqui os frequentadores cumprem o ritual à risca embora dificilmente pelo mesmo motivo da possível morte adiada. Estarão a celebrar o final da aula? Se é assim tão chato que mereça comemoração no final mais valia nem sequer terem lá metido os pés. Estarão apenas contentes porque fizeram desporto? No limite, é-me mais complicado perceber as palmas que surgem no final da aula no ginásio do que as que surgem no seguimento da aterragem.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Jeunesse
Um tipo começa a aperceber-se que já não vai para novo quando – entre outras coisas – o jet lag de uma viagem com alguns fusos horários demora alguns dias a ser contrariado. Mas um tipo apercebe-se verdadeiramente que está velho quando o jet lag de uma rambóia de fim-de-semana demora até quarta-feira.
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Sou distraído, e depois…?
Comprei papel higiénico e, quando cheguei a casa, percebi que apenas tinha pensado que tinha comprado papel higiénico: era rolo de cozinha. Conclusão: não comprei guardanapos para gastar o rolo de cozinha.
domingo, 28 de agosto de 2011
Mareo
Descemos por uma rampa até à plataforma de metal de onde lançam os barcos para o rio. A ondulação obriga-nos a ter algum cuidado para não cair. Olho para o céu, nuvens escuríssimas, carregadas, está a ficar com cara de chuva. Diz-me Let’s go I’m getting seasick. Saimos pela rampa do fundo, sempre a lutar para manter o equilíbrio. E, de repente, ocorre-me:
How can you be seasick on a river?
How can you be seasick on a river?
sábado, 27 de agosto de 2011
Estão dez graus a menos
Assim, de repente. E só para chatear: logo agora que é fim-de-semana e podia finalmente enfiar-me nas águas plácidas da piscina descoberta do estádio, ao mesmo tempo que aproveitava para fintar as abelhas. Assim não. A dormitar e a tratar de coisas em casa porque no meio dos pingos da chuva e dos 20 graus à tangente não é me entusiasma muito. Ontem começou a festa dos museus. São Pedro roeu a corda e a carga de água temperada por relâmpagos foi tão grande que no caminho para lá resolvemos antes apanhar o metro e ir para outro sítio qualquer. Não percebo porque insistem em fazer coisas ao ar livre se, no fundo, não há ar livre nesta terra, está preso pelos arames da instabilidade do tempo. Das wetter, dizem eles, mas devia ser antes uma palavra feminina - só assim se entenderiam as variações súbitas de humor.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Ainda sobre esta cena da recompensa do Kadhafi
Tenho alguma curiosidade em saber se seria possível levantar a recompensar em camelos. E claro, qual o valor em duas bossas, ou seja, qual a taxa de câmbio euro/camelo.
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
S
Não sei bem explicar a tua voz. É talvez cheia. Quente. De cores quentes e fortes. E, ao mesmo tempo, suave. Resvalas por entre as palavras como se evitasses os pingos da chuva. Suavemente. Como o teu sotaque. Eu que tenho queda para apreender rapidamente e imitar sotaques alheios, não o consigo reproduzir. Há qualquer coisa nas sibilantes que me enternece. Que me hipnotiza, acho eu. Lânguidas. Se ficasses o dia todo a falar-me eu ficaria o dia todo a ouvir-te. Não interessa o quê. Não que não me interesse o que me dizes – não me leves a mal – mas a tua voz. Quente. E o sotaque cheio de sibilantes que não consigo imitar e que lentamente me hipnotizam. Às vezes lutas com as palavras um bocado, olhas para mim e nos teus olhos está um pequeno pedido de ajuda com qualquer coisa que não sabes dizer. As palavras fogem-te dos lábios como areia a escapulir-se lentamente pelos dedos. Eu ajudo-te, dou-te de bandeja a palavra que estás à procura só para ver o teu sorriso tímido. E ouvir-te dizê-la. Com esse sotaque, com essas sibilantes lânguidas. Cheias.
domingo, 21 de agosto de 2011
Esta terra está cheia de abelhas, infestada, uma autêntica praga.
Há constantemente uma daquelas coisinhas voadoras de rabo às listas amarelas e pretas a sobrevoar, a fazer voos rasantes à nossa cabeça, a zumbir irritantemente. Comer ou beber um copo na rua é uma autêntica aventura: insinuam-se por entre cada garfada, espreitam para dentro de cada copo. De abelhudas que são, por vezes põem uma pata em falso e mergulham no líquido. Depois agonizam até acabar afogadas dentro de copos meio bebidos.
A culpa disto tudo parece ser do tempo. O verão precoce que surgiu na primavera fez com que saíssem para a rua mais cedo do que é habitual no padrão sazonal. Por sua vez, isso levou a que se reproduzissem abundantemente e povoassem ferozmente o mundo. Para mim, que sou um mariquinhas que tem fobia destes bichos, só há um lado positivo para esta história. Segundo consta, a duração que têm inscrita nos genes está a começar a bater à porta e nas próximas duas semanas a Maia mais as amigas terão os dias contados.
Vão cair que nem tordos.
A culpa disto tudo parece ser do tempo. O verão precoce que surgiu na primavera fez com que saíssem para a rua mais cedo do que é habitual no padrão sazonal. Por sua vez, isso levou a que se reproduzissem abundantemente e povoassem ferozmente o mundo. Para mim, que sou um mariquinhas que tem fobia destes bichos, só há um lado positivo para esta história. Segundo consta, a duração que têm inscrita nos genes está a começar a bater à porta e nas próximas duas semanas a Maia mais as amigas terão os dias contados.
Vão cair que nem tordos.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
A melhor notícia dos últimos 30 anos
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
Dá-te asas
O facto da máquina de vending do local onde labuto estar repleta de latas de red bull – e a oferta de outro tipo de bebidas ser relativamente escassa – só pode querer dizer alguma coisa.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Never ending story
Cumprir o Ramadão em países muito distantes do Equador pode ser muito complicado: a luz solar no verão, pura e simplesmente, não tem fim.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
domingo, 14 de agosto de 2011
Auf der anderen Seite
‘tás a ver o chavão “os homens são todos iguais”? Aquela coisa que as mulheres costumam dizer e logo a seguir acrescentam que são básicos, que os topam à légua.
Por acaso não acho, tenho imensa dificuldade em conseguir entendê-los.
Mas isso agora não interessa. O que eu queria dizer é que não penses que as mulheres são diferentes.
Por acaso não acho, tenho imensa dificuldade em conseguir entendê-los.
Mas isso agora não interessa. O que eu queria dizer é que não penses que as mulheres são diferentes.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Nouvelles
«Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste, pois, numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida. Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida; é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz.
(…)
Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente.
(…)
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje.»
Citações e pensamentos de Fernando Pessoa
(…)
Parece, a princípio, que as cousas novas é que devem dar prazer ao espírito; mas as cousas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada, e não vibra indefinidamente.
(…)
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes de este hoje nunca houve este hoje.»
Citações e pensamentos de Fernando Pessoa
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Citações e pensamentos
De vinte e nove para trinta não muda nada assim de substancial mas atinge-se o estatuto de trintão. Que, aliado a um cabelito branco ou outro, até nem é mal esgalhado.
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
domingo, 31 de julho de 2011
Não percebo porque confio em ti.
Não percebo mesmo. Tens tudo para eu te evitar, para me resguardar, fugir de ti a sete pés. E, no entanto, aqui estou, parado, à espera do embate.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Sector
Pela primeira vez senti a distância. Ou melhor, o problema da distância – porque a distância não é forçosamente negativa. As duas e tal, três horas de trajecto ganharam uma dimensão que ainda não tinham tido. Um entrave, um bloqueio. E pela primeira vez quis estar mais perto.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Repensar tudo.
De uma ponta à outra. Pesar prós e contras, vantagens e desvantagens. Repensar implica – ou deveria implicar – que já se pensou nisso. Nisso tudo. Quando penso em repensar, reparo que se calhar nunca houve um pensar no início. Quando penso nisso, reparo que provavelmente nunca pensei. E portanto, isto agora não pode ser um repensar. Por construção. Quando muito é apenas um pensar. E, na volta, o primeiro deles todos. Aquele que pensei que tinha feito quando provavelmente o deveria ter feito. E que agora me impede de repensar.
quarta-feira, 27 de julho de 2011
Petrus
O verão já passou, ocorreu naquele período de tempo que normalmente se designa por primavera. Dias (relativamente) quentes, céu azul sem nenhuma ameaça no horizonte. Agora a instabilidade é a palavra de ordem. Ora pode estar um sol simpático como na hora seguinte cai uma carga de água por entre relâmpagos ameaçadores. Isso e uma temperatura agradável que rapidamente se transforma em frescote – no domingo estiveram uns 15 graus. Nem parece Julho. A conclusão é que o São Pedro está um bocado desleixado em matéria de variações térmicas bruscas. Ou isso ou está na menopausa.
terça-feira, 26 de julho de 2011
Cenas
De repente ocorre-me que ainda me faltam colocar alguns textos sobre o Canadá. Que ainda precisam de uns retoques, deixei-os ficar na gaveta e depois, está-se mesmo a ver, acabaram por ficar mesmo lá porque entretanto surgem outras coisas e eu meto a carroça à frente dos bois. Mas fica prometido. Acho eu.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
A minha estranheza intriga-te.
Deixa-te a matutar. Perturba-te. Desconcerta-te. E leva-te a pensar que sou eu que a fabrico apenas para te produzir este efeito. E até certo ponto és mesmo capaz de ter razão. Cultivo-a e a exagero-a porque acho que é uma óptima companhia. E porque, sejamos honestos, adoro o teu desconcerto.
domingo, 24 de julho de 2011
Board of keys
Deixa-me que te escreva. Melhor: deixa-me escrever-te. Escrever-te a ti. Só a ti. Só para ti. Promete-me que lerás, que o lerás. Que te lerás.
sábado, 23 de julho de 2011
Porcaria
O exercício incidia sobre uma qualquer componente da gramática de que agora não me consigo lembrar. Era um conjunto de frases, para aí meia dúzia, e todas tinham uma ligação qualquer com circo. Imediatamente antes de mim, calhou ser o italiano a soltar um disparate que soou particularmente bem. Como a qualquer disparate são devidos, impunham-se alguns risos, necessidade que aliás foi prontamente correspondida por um bando de jagunços sempre à espera de um palhaçada qualquer para gozar um bocado.
E depois era eu. Nächste an der Reihe. Concentrado na correcta colocação das palavras – a colocação das palavras é um aspecto importantíssimo em alemão – disse a frase lentamente mas com convicção. Em troca, recebi um silêncio. Curto. Depois de uma espécie de advertência. E um pouco para repetir. E eu voltei a fazê-lo com a melhor cara possível, embora, claro, a convicção eventualmente já estivesse em queda, típico de quem é apanhado num erro sem conseguir perceber onde raio o está a fazer.
E desta vez, da segunda vez, riram-se. E eu sem perceber. Estupefacto. E aí um tipo pensar em todas as dificuldades possíveis e imaginárias do raio da gramática. Mas, aparentemente, era algo mais elementar, basilar. Os alemães urram “scheinwerfer” quando se querem referir a um holofote ou projecto (enfim, também pode ser o farol de um carro). Faz algum sentido: “schein” é brilho e “werfer” é aquilo que atira. Logo, coisa que atira brilho é um holofote. Ora acontece que – e eu continuo pouco convencido – o motivo da risota foi um lapsus linguae meu. Em vez do dito “scheinwerfer” saiu-me “schweinwerfer”, algo de que não me apercebi rigorosamente nada. Ora, seguindo a mesma lógica, “werfer” é aquilo que atira só que, neste caso, a primeira palavra, “schwein”, significa porco. Na cabeça de um alemão de imediato surge um homem a mandar porcos. Ainda para mais, dado o contexto de circo do exercício, de imediato se ouviram grunhidos, rufos e música de circo na sala de aula e coreografias do que seria um exercício na arena do circo que consiste em começar por atirar porcos pequenos e, como grande final, acabar com um grande porco.
Eu próprio também ri. Abundantemente. Com alguma dificuldade em parar. A verdade é que o Hans, um tipo meio estranho para ser professor mas que até se está a revelar indicado para a tarefa, ficou fascinado e colocou esta gaffe no topo do seu compêndio das asneiradas de alunos. O fascínio foi tanto que até conseguiu pôr frases que referem a expressão nos testes que periodicamente resolvemos e que mostram paulatinamente o quão temos dificuldade em lidar com as rasteiras da língua. De tal forma que até inventamos palavras novas.
E depois era eu. Nächste an der Reihe. Concentrado na correcta colocação das palavras – a colocação das palavras é um aspecto importantíssimo em alemão – disse a frase lentamente mas com convicção. Em troca, recebi um silêncio. Curto. Depois de uma espécie de advertência. E um pouco para repetir. E eu voltei a fazê-lo com a melhor cara possível, embora, claro, a convicção eventualmente já estivesse em queda, típico de quem é apanhado num erro sem conseguir perceber onde raio o está a fazer.
E desta vez, da segunda vez, riram-se. E eu sem perceber. Estupefacto. E aí um tipo pensar em todas as dificuldades possíveis e imaginárias do raio da gramática. Mas, aparentemente, era algo mais elementar, basilar. Os alemães urram “scheinwerfer” quando se querem referir a um holofote ou projecto (enfim, também pode ser o farol de um carro). Faz algum sentido: “schein” é brilho e “werfer” é aquilo que atira. Logo, coisa que atira brilho é um holofote. Ora acontece que – e eu continuo pouco convencido – o motivo da risota foi um lapsus linguae meu. Em vez do dito “scheinwerfer” saiu-me “schweinwerfer”, algo de que não me apercebi rigorosamente nada. Ora, seguindo a mesma lógica, “werfer” é aquilo que atira só que, neste caso, a primeira palavra, “schwein”, significa porco. Na cabeça de um alemão de imediato surge um homem a mandar porcos. Ainda para mais, dado o contexto de circo do exercício, de imediato se ouviram grunhidos, rufos e música de circo na sala de aula e coreografias do que seria um exercício na arena do circo que consiste em começar por atirar porcos pequenos e, como grande final, acabar com um grande porco.
Eu próprio também ri. Abundantemente. Com alguma dificuldade em parar. A verdade é que o Hans, um tipo meio estranho para ser professor mas que até se está a revelar indicado para a tarefa, ficou fascinado e colocou esta gaffe no topo do seu compêndio das asneiradas de alunos. O fascínio foi tanto que até conseguiu pôr frases que referem a expressão nos testes que periodicamente resolvemos e que mostram paulatinamente o quão temos dificuldade em lidar com as rasteiras da língua. De tal forma que até inventamos palavras novas.
sexta-feira, 22 de julho de 2011
Sentar-me a escrever.
Depois de mais um dia agitado, de uma ida ao ginásio extremamente ridícula – não passou do balneário, local onde me apercebi que me tinha esquecido de parte do equipamento necessário e não me apeteceu ir de boxers. Sentar-me a escrever. Depois de dias, vários dias, semanas, em que começo de manhã e acabo em casa às dez, onze da noite à luta com folhas de cálculo e linhas de programação. Hoje estou cansado – se calhar até não é mau que me tenha esquecido da porcaria dos calções e não vá ao ginásio – se calhar foi o meu subconsciente a providenciar esse momento de descanso. Hoje estou cansado e de certa forma aliviado porque não há mais um evento de sexta-feira à noite ao qual inexoravelmente acabe por ir – e isto de certa forma lembra-me que se calhar até é mesmo melhor desligar o telemóvel não vá alguém ter ideias e lembrar-se de ligar. E assim, sento-me aqui a escrever. Antes de abrir o frigorífico e decidir o que posso comer sem ter fazer nada, pensar nada. Sem ter que decidir, no fundo, hoje só me apetece ter uma sexta-feira calma, uma noite de sexta-feira porque o dia nem vos conto. Estou cansado mas com vontade de escrever, o que até me deixa bem-disposto, ando a descurar a escrita há algum tempo. E estou a escrever com uma fluidez que justifica a minha vontade de escrever. Há uma lista de coisas que tenho para fazer, ali à frente dos meus olhos e eu vou propositadamente ignorá-la, desrespeitá-la. Escrever textos não está na lista mas se calhar vou acrescentar. E assim posso legitimar esta vontade que me está a dar, este vaipe – acabei de abrir o dicionário para ver se esta palavra existe e curiosamente existe, eu que pensava que era uma modernice estrangeirada. Sim, cansado. Escrever e pôr um certinho à frente da entrada que vou adicionar à lista. Assim. E pronto. É capaz de ser tudo. Até amanhã.
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Sobre caixas de supermercado
A funcionária por detrás da caixa olha para mim mas não diz rigorosamente nada. Aproveita o momento de espera enquanto a tipa que está à minha frente na fila vasculha o interior da carteira à procura da quantia em dívida para passear um pouco os olhos. Mas sempre sem dizer nada. A tipa da lista negra momentânea finalmente cospe a quantia para um pratinho plástico, diz obrigado e retoma a tarefa de enfiar a tralha toda nos sacos. O tapete preto à minha frente mexe e as minhas compras chegam às mãos funcionária. Volta a olhar para mim e, só desta vez – agora que as minhas tralhas estão nas suas mãos – dirige-me um cumprimento que eu delicadamente devolvo.
terça-feira, 19 de julho de 2011
Vikings
A minha primeira verdadeira experiência hardcore com o IKEA - leia-se proceder à aquisição, transporte e montagem de cama, mesa e armário - nem sequer foi para benefício próprio. Mas deixou marcas. Profundas.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Sou o primeiro a chegar.
Cumprimento. Escolho o meu lugar, deixo tudo preparado enquanto espero. Vai arrumando enquanto os demais não chegam. Sento-me no chão numa posição de confortável. Fecho os olhos. Rodopio um pouco a cabeça. Estiro os músculos, sobretudo do lado direito, mexendo a cabeça para a esquerda. Depois de repetir o gesto algumas vezes, abro lentamente os olhos. Está a olhar para mim. Pergunta-me se me dói o pescoço. Digo que não, está apenas um pouco tenso. Diz-me que então preciso de uma massagem. Largo um sorriso.
quinta-feira, 14 de julho de 2011
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Chapter V
Saímos das montanhas e de repente o verde escandaloso desaparece, fica seco. A paisagem muda, mais árido, as árvores desaparecem. Tufos aqui e ali, parece tundra. Os rios arrastam o castanho da terra e da poeira nas águas turbulentas. Mas só por algum tempo, à medida que nos aproximamos do mar, o verde volta a ganhar vida, o arvoredo reaparece.
O ferry faz a ligação entre Horseshoe Bay e a povoação de Nanaimo na ilha de Vancouver em cerca de hora e meia de trajecto. O ar está parado e o dia quente mas rapidamente o mar e a deslocação de ar arrefecem os ânimos. O dia brinda-nos com um céu de um azul claro ponteado de nuvens leves e translúcidas. Fico no deck superior quase o tempo de máquina em riste. Ao fundo vejo um skyline de torres altas – possivelmente é Vancouver que só veremos no dia seguinte quando deixarmos a ilha para trás e terminarmos o percurso naquela cidade.
Ainda temos uma centena de quilómetros para fazer entre Nanaimo – onde não paramos – e o objectivo do dia – a cidade de Vitória. À medida que nos vamos aproximando da cidade e progressivamente entramos, nota-se uma certa “pacificidade” na paisagem, isto é, semelhanças com outras regiões banhadas pelo mesmo oceano. As casas fazem-me lembrar São Francisco: pitorescas, de madeira, coloridas e com uma vidraça de duas arestas na frente. Um pequeno jardinzinho e um logradouro para o carro citadino. No centro, o edifício do Parlamento é o grande marco da cidade. À frente, uma estátua da Rainha Vitória que lança um olhar sobra a baía repleta de barcos e, ao lado direito, uma árvore milenar que é enfeitada todos os anos por ocasião do Natal.
O ferry faz a ligação entre Horseshoe Bay e a povoação de Nanaimo na ilha de Vancouver em cerca de hora e meia de trajecto. O ar está parado e o dia quente mas rapidamente o mar e a deslocação de ar arrefecem os ânimos. O dia brinda-nos com um céu de um azul claro ponteado de nuvens leves e translúcidas. Fico no deck superior quase o tempo de máquina em riste. Ao fundo vejo um skyline de torres altas – possivelmente é Vancouver que só veremos no dia seguinte quando deixarmos a ilha para trás e terminarmos o percurso naquela cidade.
Ainda temos uma centena de quilómetros para fazer entre Nanaimo – onde não paramos – e o objectivo do dia – a cidade de Vitória. À medida que nos vamos aproximando da cidade e progressivamente entramos, nota-se uma certa “pacificidade” na paisagem, isto é, semelhanças com outras regiões banhadas pelo mesmo oceano. As casas fazem-me lembrar São Francisco: pitorescas, de madeira, coloridas e com uma vidraça de duas arestas na frente. Um pequeno jardinzinho e um logradouro para o carro citadino. No centro, o edifício do Parlamento é o grande marco da cidade. À frente, uma estátua da Rainha Vitória que lança um olhar sobra a baía repleta de barcos e, ao lado direito, uma árvore milenar que é enfeitada todos os anos por ocasião do Natal.
terça-feira, 12 de julho de 2011
segunda-feira, 11 de julho de 2011
Chapter III
O autocarro segue em velocidade cruzeiro na estrada que ombreada por árvores que formam uma densa e espessa vegetação. De repente, uma travagem algo brusca e o condutor encosta à direita de imediato. Ainda não consegui perceber a razão da guinada quando olho e vejo, do outro lado da rede que impede a passagem de animais para o alcatrão, um urso que pacatamente mordisca umas ervas. Impávido e sereno, não mostra qualquer interesse nos veículos que passam rápido na estrada nem naqueles cujos curiosos param na berma para o observar mais de perto.
O nome vem do som do vento na montanha. Whistler. Parece que assobia. A cidade parece uma Disneylandia dos turistas de neve. Os hotéis, as lojas, os restaurantes, tudo é plástico e artificial. Albergou a aldeia olímpica dos jogos de Inverno de 2010e resumiu a sua actividade de estância de esqui. Mas nem por isso está vazia no verão, quando normalmente não há “inverneantes” neste tipo de locais porque as pistas estão impraticáveis. Conseguiu diversificar a sua oferta. O teleférico – mais outra “gondola” – é partilhado entre os turistas que querem por momentos fugir do sol e pisar a neve nos picos e uns quantos de capacete e joelheiras que descem a encosta de bicicleta. Os viciados em adrenalina ficam num nível intermédio onde a neve não chega enquanto os de máquina fotográfica em riste continuam mais outro nível até lá em cima onde o chão está totalmente branco e a temperatura desce acentuadamente.
O nome vem do som do vento na montanha. Whistler. Parece que assobia. A cidade parece uma Disneylandia dos turistas de neve. Os hotéis, as lojas, os restaurantes, tudo é plástico e artificial. Albergou a aldeia olímpica dos jogos de Inverno de 2010e resumiu a sua actividade de estância de esqui. Mas nem por isso está vazia no verão, quando normalmente não há “inverneantes” neste tipo de locais porque as pistas estão impraticáveis. Conseguiu diversificar a sua oferta. O teleférico – mais outra “gondola” – é partilhado entre os turistas que querem por momentos fugir do sol e pisar a neve nos picos e uns quantos de capacete e joelheiras que descem a encosta de bicicleta. Os viciados em adrenalina ficam num nível intermédio onde a neve não chega enquanto os de máquina fotográfica em riste continuam mais outro nível até lá em cima onde o chão está totalmente branco e a temperatura desce acentuadamente.
domingo, 10 de julho de 2011
Chapter II
Banff está escondida no trilho escavado pelas montanhas. Não se lhe pode dar a designação de cidade – uma rua principal ladeada de casas e hotéis – sobretudo hotéis. No troço final da rua, a zona central a que os locais chamam “downtown”, como se uma rua principal ladeada de casas e hotéis pudesse ter uma baixa. Um edifício administrativo (enfim, uma casa), uma igreja, algumas lojas e restaurantes. Umas senhoras japonesas entram no autocarro da linha 1 e saúdam o condutor na linha materna enquanto lhe mostram o passe: “Konichiwa”. Percorrida a baixa, atravessada a ponte, o autocarro segue por entre a vegetação até chegar ao sítio onde se apanha o teleférico. Por alguma razão estranha e pouco perceptível, os canadianos chamam “gondola” a este meio de transporte que em poucos minutos nos despeja no alto de uma das inúmeras montanhas. A vista (quase) vale os vinte dólares do bilhete de ida e volta.
sábado, 9 de julho de 2011
Eyes wide shut
A propósito da cobrança das portagens na ponte 25 de Abril no mês de Agosto, vejo uma reportagem que termina com um vox populi. Extremamente enviesado, toda a gente contra a medida. Um dos tipos entrevistados, sem querer, dá uma das melhores lições de ciência política dos últimos tempos. Diz qualquer coisa do género acho isto errado porque para mim e para quem usa a ponte faz diferença e não é por mais um bocado que se gasta aqui que o Estado fica sem dinheiro; o que é preciso é atacar os pequenos gastos que o Estado tem, aqui e ali, e que somados perfazem demasiado.
Como, por exemplo, a isenção de portagens na ponte 25 de Abril em Agosto.
Como, por exemplo, a isenção de portagens na ponte 25 de Abril em Agosto.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Foie gras
A primeira vez que vi a cara de satisfação dele quando o cumprimentei achei um pouco estranho. Depois vi a forma como um colega o despachou quando parou à porta do gabinete dele e deixei de estranhar. Sou incapaz de não lhe dar um hallo ou abend enquanto despeja o meu caixote do lixo e mando-lhe um tchuss para o caminho. Um dia, despejei uma garrafa de água em cima do tampo da secretária quando ele estava para entrar a porta e prontamente me ajudou a limpar a porcaria. Agradeci-lhe, claro está, ainda mais do que o normal.
E depois há a senhoria do café. Que mesmo servindo-o a conjunto de mânfios potencialmente rudes e indelicados – daqueles que se acham demasiado lá em cima para perder tempo com a senhora do café – presenteia toda a gente com o mesmo sorriso escancarado. De início falava-me em italiano, por vezes em alemão. Agora já sei que é grega e se chama Dimitra e ela já sabe o que peço, nem preciso de dizer. Ti kanis? Pergunto-lhe eu e ela kala! Agradeço como o meu efaristo e ela parakalo.
E depois há a senhoria do café. Que mesmo servindo-o a conjunto de mânfios potencialmente rudes e indelicados – daqueles que se acham demasiado lá em cima para perder tempo com a senhora do café – presenteia toda a gente com o mesmo sorriso escancarado. De início falava-me em italiano, por vezes em alemão. Agora já sei que é grega e se chama Dimitra e ela já sabe o que peço, nem preciso de dizer. Ti kanis? Pergunto-lhe eu e ela kala! Agradeço como o meu efaristo e ela parakalo.
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Badge
Entro no elevador juntamente com um tipo cuja cara reconheço dos corredores ou de uma reunião qualquer. Espanhol, se a minha capacidade de julgar aparências e sotaques não me falha. Andamos dois andares, o elevador faz a primeira paragem e entra outro tipo. Alemão, também pela aparência e o sotaque. Aparentemente, os dois conhecem-se. Cumprimento de circunstância, conversa da chacha. O alemão diz ao outro que leu qualquer coisa que deveria ter sido feita pelo espanhol e o outro nega, diz que foi feito por uma terceira pessoa. O alemão, como bom alemão, faz qualquer som supostamente em inglês que é o equivalente ao “ach so” que era aquilo que ele no fundo queria dizer. E depois cala-se. O tópico esgota-se. Faltam alguns andares até à primeira paragem e o fim daquele silêncio incómodo, constrangedor. De repente, o alemão diz-lhe “your badge is upside down”. De facto, o espanhol levava o cartão pendurado ao pescoço e tinha a fotografia e o som de pernas para o ar. Estupefacto com a chamada de atenção do outro – que ainda por cima encheu o peito como alguém que acaba de salvar o amigo de morte certa – lá conseguiu fingir que lhe agradecia.
O elevador faz aquele som como quem diz chegámos, as portas abrem-se e o alemão sai, fica a composição original, eu e o espanhol. Eu esboço um sorriso e o tipo olha para mim com uma cara “já viste esta merda…?”
O elevador faz aquele som como quem diz chegámos, as portas abrem-se e o alemão sai, fica a composição original, eu e o espanhol. Eu esboço um sorriso e o tipo olha para mim com uma cara “já viste esta merda…?”
terça-feira, 5 de julho de 2011
Chapter I
À medida que vamos percorrendo os corredores de alcatifa clara e feia, senhoras e senhores com idade para serem meus avós, com coletes vermelhos e camisa branca, gravatinha pequenina à série televisiva Dallas e chapéu de cowboy, vão passando em carrinhos de golfe. Dizem o “welcome to Calgary” da praxe e indicam-nos o já de si óbvio caminho em direcção à alfândega e, claro, a saída do aeroporto. Respondo às perguntas do “what is the purpose of your stay” e “how long are you staying” e, em troca, recebo um carimbo.
Como a maioria das cidades do Canadá, Calgary nasceu com o progresso da linha do comboio de este para oeste. Teve outro ímpeto, em anos idos, que foi a corrida do ouro. Depois o ouro escureceu e o desenvolvimento da cidade passou a vir a reboque da corrida ao ouro negro. O petróleo é hoje em dia a seiva que corre nas veias da cidade: as torres que rasgam o céu são maioritariamente dos escritórios das empresas exploradoras de recursos naturais e de instituições financeiras atraídas pelo mesmo negócio. O subsolo é a razão de ser não só da cidade mas do próprio estado de Alberta e que o torna no estado mais rico do país e com os impostos mais baixos.
Mas os marcos e os traços do provincianismo continuam muito visíveis, do aspecto das pessoas às carrinhas e pickups de quem trabalha no campo e precisa de um veículo de trabalho adaptado. Assim como o símbolo do cowboy está bem vivo. A Calgary Stampede é uma festa que se realiza todos os anos e que, tirado por miúdos, é basicamente um rodeo. Corridas de cavalos e carroças, tipos a tentar sentar o rabinho no lombo do touro o máximo de tempo possível e animações deste género aparentemente geram o interesse a muita gente que se desloca de longe para vir a este festival que dura cerca de uma semana.
Vinte dólares dão acesso ao elevador que leva ao alto da Calgary Tower, uma daquelas torres que todas estas cidades parecem desesperadamente precisar mais que não seja para levar os tais vinte dólares por cabeça ao incauto turista. Lá de cima, ao fundo, para lá do alto das torres dos escritórios, vislumbram-se os cumes de neves eternas das Montanhas Rochosas. É para lá que o autocarro se dirige no dia seguinte.
Como a maioria das cidades do Canadá, Calgary nasceu com o progresso da linha do comboio de este para oeste. Teve outro ímpeto, em anos idos, que foi a corrida do ouro. Depois o ouro escureceu e o desenvolvimento da cidade passou a vir a reboque da corrida ao ouro negro. O petróleo é hoje em dia a seiva que corre nas veias da cidade: as torres que rasgam o céu são maioritariamente dos escritórios das empresas exploradoras de recursos naturais e de instituições financeiras atraídas pelo mesmo negócio. O subsolo é a razão de ser não só da cidade mas do próprio estado de Alberta e que o torna no estado mais rico do país e com os impostos mais baixos.
Mas os marcos e os traços do provincianismo continuam muito visíveis, do aspecto das pessoas às carrinhas e pickups de quem trabalha no campo e precisa de um veículo de trabalho adaptado. Assim como o símbolo do cowboy está bem vivo. A Calgary Stampede é uma festa que se realiza todos os anos e que, tirado por miúdos, é basicamente um rodeo. Corridas de cavalos e carroças, tipos a tentar sentar o rabinho no lombo do touro o máximo de tempo possível e animações deste género aparentemente geram o interesse a muita gente que se desloca de longe para vir a este festival que dura cerca de uma semana.
Vinte dólares dão acesso ao elevador que leva ao alto da Calgary Tower, uma daquelas torres que todas estas cidades parecem desesperadamente precisar mais que não seja para levar os tais vinte dólares por cabeça ao incauto turista. Lá de cima, ao fundo, para lá do alto das torres dos escritórios, vislumbram-se os cumes de neves eternas das Montanhas Rochosas. É para lá que o autocarro se dirige no dia seguinte.
segunda-feira, 4 de julho de 2011
Plenitude
«A Leonor foi um ser humano incompleto; faltaram-lhe as indispensáveis doses de imperfeição e de desarmonia.»
Elegia para um caixão vazio, Baptista Bastos
Elegia para um caixão vazio, Baptista Bastos
quinta-feira, 30 de junho de 2011
Back in black
Mas só de raspão, a sério mesmo a sério, só no início da semana que vem. Prometidos ficam posts sobre dez dias em viagem e seiscentas e tal fotos. Esperemos que uns dias mais relaxados passem tudo à escrita. Até lá.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
domingo, 19 de junho de 2011
Saturday night lecture on the Universe (reprise)
Uranus was discovered with a telescope in 1780s. Before that, people were unaware of the existence of Uranus. NASA sent a probe to Uranus. They found that Uranus is made of gases. There is no life on Uranus. They are training “asstronauts” to go to Uranus.
sábado, 18 de junho de 2011
Follow up
O presidente português está para o primeiro-ministro francês como o presidente francês está para o primeiro-ministro português.
quinta-feira, 16 de junho de 2011
Auschwitz/Birkenau II
Só quando entrámos na sala onde uma montra enorme expõe os montes de cabelos humanos – usados para fazer roupa – é que comecei a sentir a angústia. Um nó na garganta, uma dor. Que não tinha sentido ao olhar para as montanhas de óculos e de outros utensílios pessoais, como escovas e pentes. Depois disso, a parte pior: uma sala com roupas de criança, sapatos de criança. Aí senti a necessidade de afastar a cara daquele inofensivo vidro que guarda o maior dos horrores. Fui surpreendido com a forma como tudo aquilo me atingiu. Afinal, sabia ao que ia e sabia perfeitamente o que ia encontrar. Já tinha visto na televisão, já me tinham explicado, já tinha ido a outro campo de concentração. Mas há coisas para as quais simplesmente não nos podemos preparar de antemão, como a morte de alguém próximo.
É uma visita guiada de três horas, a maior parte das quais passada em Auschwitz propriamente dito – o campo original – e cerca de uma hora em Birkenau – o segundo campo construído para expandir o primeiro e albergar o extermínio. A guia tem um microfone na lapela e nós ouvimo-la através de uns auscultadores ligados a um pequeno receptor que se pendura ao pescoço, para ser mais fácil de seguir a explicação no meio da confusão. Tem uma voz doce e suave que, de vez em quando, treme nos momentos mais difíceis. É, a guia sofre connosco. Sofre enquanto nos desbobina a mesma lengalenga que já desbobinou a inúmeras outros turistas. O que é curioso: seria de esperar que já estivesse relativamente imune como um médico que já viu demasiadas doenças e mortes.
A questão dos campos de concentração é a incompreensão. E é a interrogação. Perceber como é que pessoas podem fazer aquilo umas às outras. Não se esqueçam – diz-nos a guia – que foram pessoas como eu e vocês que fizeram isto. E isso acarreta ainda mais interrogações, ainda mais duras e que são a verdadeira provocação. Será cada um de nós capaz de fazer algo de semelhante se estivesse inserido no mesmo contexto que estes alemães? Capaz de tamanho ódio e desprezo se for ensinado a cultivá-lo? A psicologia das multidões funciona contra a nossa resposta preferida mas eu não a consigo aceitar.
É uma visita guiada de três horas, a maior parte das quais passada em Auschwitz propriamente dito – o campo original – e cerca de uma hora em Birkenau – o segundo campo construído para expandir o primeiro e albergar o extermínio. A guia tem um microfone na lapela e nós ouvimo-la através de uns auscultadores ligados a um pequeno receptor que se pendura ao pescoço, para ser mais fácil de seguir a explicação no meio da confusão. Tem uma voz doce e suave que, de vez em quando, treme nos momentos mais difíceis. É, a guia sofre connosco. Sofre enquanto nos desbobina a mesma lengalenga que já desbobinou a inúmeras outros turistas. O que é curioso: seria de esperar que já estivesse relativamente imune como um médico que já viu demasiadas doenças e mortes.
A questão dos campos de concentração é a incompreensão. E é a interrogação. Perceber como é que pessoas podem fazer aquilo umas às outras. Não se esqueçam – diz-nos a guia – que foram pessoas como eu e vocês que fizeram isto. E isso acarreta ainda mais interrogações, ainda mais duras e que são a verdadeira provocação. Será cada um de nós capaz de fazer algo de semelhante se estivesse inserido no mesmo contexto que estes alemães? Capaz de tamanho ódio e desprezo se for ensinado a cultivá-lo? A psicologia das multidões funciona contra a nossa resposta preferida mas eu não a consigo aceitar.
quarta-feira, 15 de junho de 2011
terça-feira, 14 de junho de 2011
Krakow II
As centenas de quilómetros depois da fronteira alemã fazem-se sem grande problema, por entre auto-estradas largas que rasgam campos de cereais enormes, a perder de vista. Nas estações de serviço, camionistas e uma fauna duvidosa. O inglês deve ser falado com pouca frequência, o sotaque e as dificuldades levam a crer que não é língua franca. A entrada na cidade cheira a regime, caixotes cinzentos, feios, quadradões, a fazer de blocos de apartamentos. Mas é uma questão de tempo até o charme chegar, lá ao fundo, quando o centro surge, protegido pela muralha.
Uma frota de carrinhos de golfe com tipos chatos a oferecer um serviço de sightseeing a turistas. Rejeito sempre tudo, de mapa na mão. O empedrado das ruas pedonais, a fervilhar de pessoas, cafés, bares, restaurantes. Lojas de todo o tipo. O pitoresco da cidade de Cracóvia vive lado a lado com muita animação. Na praça central, o público senta-se para assistir a um concerto. Nas costas do palco, um bar tem um palco onde tocam jazz. Do outro lado da praça, uma multidão aglomera-se em torno de um grupo de mangas que fazem uma demonstração de break dance enquanto o sol se põe lentamente.
Uma frota de carrinhos de golfe com tipos chatos a oferecer um serviço de sightseeing a turistas. Rejeito sempre tudo, de mapa na mão. O empedrado das ruas pedonais, a fervilhar de pessoas, cafés, bares, restaurantes. Lojas de todo o tipo. O pitoresco da cidade de Cracóvia vive lado a lado com muita animação. Na praça central, o público senta-se para assistir a um concerto. Nas costas do palco, um bar tem um palco onde tocam jazz. Do outro lado da praça, uma multidão aglomera-se em torno de um grupo de mangas que fazem uma demonstração de break dance enquanto o sol se põe lentamente.
quinta-feira, 9 de junho de 2011
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ver comentário ao post de 7 de junho
Estou senil e repito textos. E já não é a primeira vez. Normalmente arrasto os ficheiros com textos já postados para uma pastinha que serve para, vá, guardar os textos já postados. Acontece que – seguramente que é isto que acontece – há dias em que os posto e depois esqueço-me de os arrastar para a tal pastinha que serve para os tais textos já postados. E depois é isto que acontece. Vou ali fustigar-me e já venho. Mas antes disso vou meter este texto na tal pastinha dos tais textos.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Sargento
Ligo o cabo USB do disco externo ao computador e vejo o cursor a mexer, a assumir aquele formato de quem está a pensar. Pouco depois, surge uma janela e uma das opções é “reproduzir automaticamente”. O que quer que seja que isto quer dizer.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
domingo, 5 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Your call
Surges-me do nada. Assim de repente. Uma lufada de ar fresco, entre pessoas chatas e desinteressantes. É um cliché dizer este tipo de merdas mas a chatice dos clichés é que têm sempre um fundo de verdade – e dizer isto é sim mesmo um cliché. Mas donde raio é que tu me saíste? Tento perceber por entre perguntas mascaradas de piadas parvas – as piadas parvas são um instrumento para fazer as perguntas sem que se perceba que estão a ser colocadas. Lá vou conseguindo que respondas por entre mais um whisky e um cigarro – fumas praticamente um maço inteiro à minha frente enquanto o diabo esfrega um olho – e sem perceber que estás a responder. Se calhar percebes que estás a responder e sou eu afinal quem não percebe que tu percebes que eu quero que não percebas. Ofereces-me um cigarro – não fazes ideia se fumo ou não – e eu tenho a coragem de recusar. De vez em quando também percebo os teus pontos de interrogação – que se calhar não queres que eu perceba. Ou então não percebo mesmo porque não são verdadeiramente pontos de interrogação. Pontos finais, outra porcaria qualquer. Ou reticências. Reticências porque deixam sempre tudo no ar. É Como o fumo dos cigarros, um maço inteiro a voar enquanto o diabo esfrega um olho. É preciso é perceber quando são reticências. Não sei se queres que eu perceba se são reticências ou não. Não sei se queres perceber se disseste reticências ou não.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
terça-feira, 31 de maio de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Em directo do 16ème
Á espera de entrar em campo. Amanhã, às onze.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Tag
Dou uma olhadela pelas notícias e vejo que alguns aeroportos do norte da Alemanha por causa da “#(/$#(% da nuvem de cinzas do !#(U$%”$(% do vulcão da “#(%”#( da Islândia. Stresso. Abro os sites dos comboios. TGV para Paris. 200 e tal euros. Tento perceber as condições, nomeadamente, se é passível de reembolso caso o espaço aéreo não fique fechado. Olho para os comentários que a minha chefe pôs no meu texto. Tento incorporá-los de forma a que não corrompa o que eu queria dizer. Procuro documentar-me para rebater os argumentos dela. Passo umas duas horas nisto. Ajudo o meu colega a perceber uma carta que recebeu da seguradora. Despeço-me dele – vai a uma conferência em Creta – e ele deseja-me boa sorte para chegar a Paris. Vou para a aula de alemão. Discuto a proposição de “hoffen”, faço de vendedor num role play e leio um texto sobre compras. Almoço. Entre garfadas, mandamos piadas porcas e gozamos com a única senhora sentada à mesa. Volto para a secretária. Trabalho em Excel a tarde toda. Gráficos, tabelas, populator. Ligo a uma colega que se vai embora no final da semana. Recebo a visita de um colega de outra divisão que agora vem para a minha. Reunião. Discussão sobre perspectivas de evolução nos EUA. Comércio. Petróleo e reunião da OPEP. Taxas de câmbio. Volto para os ficheiros. Luto mais um bocado. Ligo a outra colega que já se foi embora e que está só hoje de passagem na cidade. Não atende. Saio tarde. Vou às compras, não tenho nada no frigorífico. Vou a casa. Preparo qualquer coisa para comer. Ligam-me. Rendez-vous no Hit. Compramos umas cervejas. Fazem-me ir até à residência para nos juntarmos todos no parque a beber uma bejeca. Andamos de balouço e contamos piadas parvas. Despedida. Muito pouco emocionante. Volto para casa. Ando 20 minutos. Chego a casa e acabo de fazer a mala para Paris. Escrevo este texto. Xixi cama.
terça-feira, 24 de maio de 2011
BUS
Ligo o cabo USB do disco externo ao computador e vejo o cursor a mexer, a assumir aquele formato de quem está a pensar. Pouco depois, surge uma janela e uma das opções é “reproduzir automaticamente”. O que quer que seja que isto quer dizer.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Walk away
Não olhes para mim. Não faças esse olhar. Não sorrias enquanto fazes o olhar. E me acenas. Não venhas falar comigo. Com entusiasmo. Sentar-te ao meu lado. Não aproveites quando a conversa geral se distribui para outro sítio para iniciares uma conversa bilateral. Comigo. Para te meteres comigo. Muito menos para te meteres comigo. Não te metas comigo. Aliás, sabes que mais? Ignora-me. Se me vires, ignora-me. Nem precisas virar a cara, basta só não olhar com esse olhar, sorrir com esse sorriso acompanhado de um aceno. Muito menos sentar ao meu lado e meter comigo.
Faz-me esse favor. Faz-te esse favor.
Faz-me esse favor. Faz-te esse favor.
domingo, 22 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Obra de regime
A Sagrada Sofia é uma mesquita improvisada. Construída sobre uma igreja, a subjugação religiosa poupou alguns pormenores interessantes, como alguns dos anteriores mosaicos ortodoxos que o interior ainda preserva. A Mesquita Azul é um símbolo de competição. Construída séculos mais tarde, pretendia ofuscar o esplendor da primeira pelo seu tamanho e imponência.
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Minaretes por todo o lado.
Os megafones pendurados, pendentes, soltam o cantar a reza do almuadem. A escala harmónica dá-lhe uma cor exótica, parece que prolonga as notas mais tempo. Inertes e melancólicas. Quase parece que chora a reza. Uma reza que percorre ukm pedaço de cidade até ao som dos megafones de mais outro minarete. Foi preciso reparar na quantidade imensa de mesquitas em Istambul para conseguir perceber que Lisboa também tem imensas igrejas.
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Margem sul
O barco faz uma daquelas voltinhas típicas de uma hora e meia pelo Bósforo. Custa meia dúzia de patacas e por isso resolvemos ir. As pessoas vão fazendo fila entrando uns bons minutos antes de arrancar para conseguir ficar com uns lugares no andar de cima. Ao mesmo tempo, o homem de voz cavernosa vai cuspindo “Bosfur, bosfur, bosfur”. Ecoa pelo embarcadouro, pela ponte com tantos restaurantes como pescadores. Em formato lengalenga. Sempre em blocos de três, com um curto intervalo entre os blocos, em que aproveita para fumar o cigarro ou debicar o chá.
terça-feira, 17 de maio de 2011
domingo, 15 de maio de 2011
Backhand
Ando a adiar um post sobre o Djokovic mas acho que chegou o limite. A vitória de hoje eleva a temporada dele a um nível para lá de estratosférico. E se eu pensei que em Paris não havia pai para o Nadal, agora já começo a achar que pode haver um padrasto.
Explicar isto? Há dias vi um excerto da final de Madrid (e estou ansiosamente à espera que alguém ponha alguma coisa da de Roma no youtube): primeiro, a condição física do Djokovic melhorou imenso, o tipo não fica sem gás como ficava dantes; segundo, finalmente alguém que acredita que pode vencer o Nadal em terra; terceiro, mais técnico e se calhar mais importante que tudo o resto, a esquerda. O jogo clássico do balear é despejar imenso top spin na esquerda do adversário. Para um jogador como o Federer, esquerda a uma mão, isso é um verdadeiro inferno porque fica sem conseguir atacar e é uma questão de tempo até deixar uma bola mais curta e levar com as consequências. O Djokovic aprendeu a apanhar as bolas quando estão ainda a subir, evitando que o top spin actue e as torne muito mais difíceis de controlar, meio caminho andado para desmontar a estratégia do Rafa. Melhor: consegue mesmo transformar uma pancada dessas num ataque, algo que o Nadal não está habituado.
Explicar isto? Há dias vi um excerto da final de Madrid (e estou ansiosamente à espera que alguém ponha alguma coisa da de Roma no youtube): primeiro, a condição física do Djokovic melhorou imenso, o tipo não fica sem gás como ficava dantes; segundo, finalmente alguém que acredita que pode vencer o Nadal em terra; terceiro, mais técnico e se calhar mais importante que tudo o resto, a esquerda. O jogo clássico do balear é despejar imenso top spin na esquerda do adversário. Para um jogador como o Federer, esquerda a uma mão, isso é um verdadeiro inferno porque fica sem conseguir atacar e é uma questão de tempo até deixar uma bola mais curta e levar com as consequências. O Djokovic aprendeu a apanhar as bolas quando estão ainda a subir, evitando que o top spin actue e as torne muito mais difíceis de controlar, meio caminho andado para desmontar a estratégia do Rafa. Melhor: consegue mesmo transformar uma pancada dessas num ataque, algo que o Nadal não está habituado.
sábado, 14 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
quarta-feira, 11 de maio de 2011
Tenho duas secretárias soterradas em papéis
Uma no gabinete, outra em casa. Ando constantemente a passear papelada de um lado para o outro, como se estivesse a semear. A confusão, claro, vai tão alta como a dos dois tampos de madeira que praticamente não chego a ver. Estou naquele ponto em que me custa desligar, estou a trabalhar 24 sobre 24, nem que seja só o back burner. Cansa. Um bocadito. E é uma boa desculpa para eu agora ir para a cama.
terça-feira, 10 de maio de 2011
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Qual Madoff qual quê
«A particularly dramatic story emerged in Albania in 1996 and 1997 when a number of Ponzi schemes promising fantastic rates of return enticed a good share of the people of that country. Seven Ponzi schemes accumulated some $2 billion, or 30% of Albania’s annual GDP. »
Irrational exuberance, Robert Schiller
Irrational exuberance, Robert Schiller
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Presunção e água benta
O xadrez é o único contexto onde é socialmente aceitável que um bispo coma um peão. Ou dois, até um máximo de dez. Ou uma torre. Ou duas. Ou uma rainha. Ou um cavalo. Ou dois. Ou um rei. Ou outro bispo. Ou dois. Ou mais do que uma das figuras supracitadas – desde que, obviamente, o rei seja o último. Ou, inversamente, ser comido por qualquer umas destas figuras.
terça-feira, 3 de maio de 2011
Se isto não é a coisa mais geek que existe
«Near the peak of the market, around 1999, it seemed that conversations about the stock market were everywhere. I used to play a game then with my wife when we went out to a restaurant to eat, I would predict that someone at an adjacent table would be talking about the stock market. I did not listen to others’ conversations, but I developed an ability to hear the word “stock market”. Usually I was able to catch it. Bringing up the stock market was seen then as an accepted, even mildly exciting, conversational gambit.The market was an agreeable topic. Five years later, bringing up the stock market at a social occasion no longer seemed so appealing; it might have seemed like an intrusion, a faux pas, a poorly judged attempt to mix business with pleasure. By 2004, one was more likely to hear about the housing market. The difference between 1999 and 2004 is subtle, but nevertheless revelatory of the fundamental change in investor enthusiasm for the market.»
Irrational exuberance, Robert Schiller
Irrational exuberance, Robert Schiller
segunda-feira, 2 de maio de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
No portão da entrada principal a inscrição “Jedem das seine”
Legível pelo lado de dentro do campo. Os prisioneiros eram confrontados com a frase duas vezes por dia, na parada ao início da manhã e ao final da tarde, como que para serem relembrados da sua constante presença. Significa “a cada o seu”, uma espécie de cada um merece o que tem. Que é pior do que isso, porque esta expressão normalmente assume que aquilo que as pessoas têm depende das acções que levaram a cabo: se tiverem sido boazinhas, então a vida sorri; se tiverem sido mazinhas, então sofrem as consequências. Ora, no caso de Buchenwald, não é nada disso que se trata. Ninguém está ali senão por aquilo que fez mas sim por aquilo que é, ou seja, sobre aquilo que não depende de uma escolha e que não passível de ser controlado. Logo, é mais uma espécie de cada macaco no seu galho. Mas um cada macaco no seu galho muito cínico.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Pouca terra
Foi a primeira vez que fui a um campo de concentração. Um crime chegar a esta idade, tanta porcaria de sítio onde já fui, e só agora meti os pés num sítio como este. E este nem sequer é um campo de extermínio, era um campo essencialmente de trabalhos forçados. Claro que foi o local de morte de muitos milhares de pessoas, também tinha um crematório e um laboratório – chamemos-lhe assim – onde se faziam experiências com cobaias humanas injectadas com febre tifóide. Também tinha um posto médico falso para onde os prisioneiros de guerra russos eram levados ao engano para serem fuzilados. Mas não tinha câmaras de gás. As pessoas que não eram dadas como aptas para trabalho forçado eram tipicamente enviadas para outros campos como Auschwitz, esses sim com câmaras de gás. Dito de outra forma, tenho que visitar mais.
Fica uma foto dos carris por onde chegavam os comboios com vagões de animais carregados de gente para povoar este campo. Segundo reza, estes dez quilómetros foram construídos em pouco mais de 100 dias, a um ritmo alucinante e a custo de muitas vidas.
Fica uma foto dos carris por onde chegavam os comboios com vagões de animais carregados de gente para povoar este campo. Segundo reza, estes dez quilómetros foram construídos em pouco mais de 100 dias, a um ritmo alucinante e a custo de muitas vidas.
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