O exercício incidia sobre uma qualquer componente da gramática de que agora não me consigo lembrar. Era um conjunto de frases, para aí meia dúzia, e todas tinham uma ligação qualquer com circo. Imediatamente antes de mim, calhou ser o italiano a soltar um disparate que soou particularmente bem. Como a qualquer disparate são devidos, impunham-se alguns risos, necessidade que aliás foi prontamente correspondida por um bando de jagunços sempre à espera de um palhaçada qualquer para gozar um bocado.
E depois era eu. Nächste an der Reihe. Concentrado na correcta colocação das palavras – a colocação das palavras é um aspecto importantíssimo em alemão – disse a frase lentamente mas com convicção. Em troca, recebi um silêncio. Curto. Depois de uma espécie de advertência. E um pouco para repetir. E eu voltei a fazê-lo com a melhor cara possível, embora, claro, a convicção eventualmente já estivesse em queda, típico de quem é apanhado num erro sem conseguir perceber onde raio o está a fazer.
E desta vez, da segunda vez, riram-se. E eu sem perceber. Estupefacto. E aí um tipo pensar em todas as dificuldades possíveis e imaginárias do raio da gramática. Mas, aparentemente, era algo mais elementar, basilar. Os alemães urram “scheinwerfer” quando se querem referir a um holofote ou projecto (enfim, também pode ser o farol de um carro). Faz algum sentido: “schein” é brilho e “werfer” é aquilo que atira. Logo, coisa que atira brilho é um holofote. Ora acontece que – e eu continuo pouco convencido – o motivo da risota foi um lapsus linguae meu. Em vez do dito “scheinwerfer” saiu-me “schweinwerfer”, algo de que não me apercebi rigorosamente nada. Ora, seguindo a mesma lógica, “werfer” é aquilo que atira só que, neste caso, a primeira palavra, “schwein”, significa porco. Na cabeça de um alemão de imediato surge um homem a mandar porcos. Ainda para mais, dado o contexto de circo do exercício, de imediato se ouviram grunhidos, rufos e música de circo na sala de aula e coreografias do que seria um exercício na arena do circo que consiste em começar por atirar porcos pequenos e, como grande final, acabar com um grande porco.
Eu próprio também ri. Abundantemente. Com alguma dificuldade em parar. A verdade é que o Hans, um tipo meio estranho para ser professor mas que até se está a revelar indicado para a tarefa, ficou fascinado e colocou esta gaffe no topo do seu compêndio das asneiradas de alunos. O fascínio foi tanto que até conseguiu pôr frases que referem a expressão nos testes que periodicamente resolvemos e que mostram paulatinamente o quão temos dificuldade em lidar com as rasteiras da língua. De tal forma que até inventamos palavras novas.
sábado, 23 de julho de 2011
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