Entro no elevador juntamente com um tipo cuja cara reconheço dos corredores ou de uma reunião qualquer. Espanhol, se a minha capacidade de julgar aparências e sotaques não me falha. Andamos dois andares, o elevador faz a primeira paragem e entra outro tipo. Alemão, também pela aparência e o sotaque. Aparentemente, os dois conhecem-se. Cumprimento de circunstância, conversa da chacha. O alemão diz ao outro que leu qualquer coisa que deveria ter sido feita pelo espanhol e o outro nega, diz que foi feito por uma terceira pessoa. O alemão, como bom alemão, faz qualquer som supostamente em inglês que é o equivalente ao “ach so” que era aquilo que ele no fundo queria dizer. E depois cala-se. O tópico esgota-se. Faltam alguns andares até à primeira paragem e o fim daquele silêncio incómodo, constrangedor. De repente, o alemão diz-lhe “your badge is upside down”. De facto, o espanhol levava o cartão pendurado ao pescoço e tinha a fotografia e o som de pernas para o ar. Estupefacto com a chamada de atenção do outro – que ainda por cima encheu o peito como alguém que acaba de salvar o amigo de morte certa – lá conseguiu fingir que lhe agradecia.
O elevador faz aquele som como quem diz chegámos, as portas abrem-se e o alemão sai, fica a composição original, eu e o espanhol. Eu esboço um sorriso e o tipo olha para mim com uma cara “já viste esta merda…?”
quarta-feira, 6 de julho de 2011
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