São pouco mais de oito da manhã, o céu limpo, o sol escandinavo incide sobre as águas plácidas do Báltico, um espelho enorme. Procuro como subir ao convés, ir lá em cima exposto ao ar livre e ao frio não me parece particularmente confortável a não ser pela possibilidade de tirar fotografias. Rapidamente percebo que não vou ter essa sorte: o ferry não tem zona aberta no convés superior. Conformado, procuro um lugar entre os inúmeros disponíveis. Dou-me ao luxo de escolher com critério, só me contento com um que tenha um banco corrido com um estofo convidativo, do género daqueles onde algumas pessoas se deitaram ao comprido para dormi. Leio. De vez em quando inspecciono a janela, olho para a luz reflectida que vem lá de fora.
O maior contraste ao entrar na Estónia é a misturada. Trinta por cento da população é russa. Ouve-se a língua por todo o lado. O mesmo não acontece na Finlândia, os russos são turistas. Estou sentado numa banquinha do mercado de Helsínquia a almoçar uma sopa de camarão e uma senhora de meia-idade dirige-se em russo à rapariga que está a servir. Leva uma resposta fria em inglês; a russa de meia-idade na cidade velha de Tallinn leva uma explicação na língua dela sobre os vários tipos de amêndoas que estão à venda numa banquinha de rua.
Como é que vocês resolveram isto? A vossa história, a vossa opressão é tão recente, isto tudo ainda está tão fresco e a repulsa que vejo por exemplo nos búlgaros e nos romenos em relação aos russos ainda devia ser a vossa repulsa. Regra de marketing – há três tipos de pessoas, as que estão a favor, contra e as que estão indiferentes. Podes tentar convencer os dois primeiros tipos de pessoas do contrário daquilo que defendem mas, em relação ao último grupo, esquece, nem sequer tentes. Somos demasiado indiferentes, aceitamos e toleramos os russos sem nenhum problema. Quando saímos do restaurante onde comemos uma sopa de peixe, o céu tinha escurecido, finalmente proporcionando a verdadeira experiência de uma viagem nesta latitude.
Filas de pessoas a fazer fila para o check-in no barco. Na maioria homens e de aspecto duvidoso. Levam sacos desportivos ao ombro, mochilas às costas, trolleys na mão, carregados de garrafas de bebidas alcoólicas que tilintam à medida que andam. O álcool é consideravelmente mais barato na Estónia e o diferencial fomenta este tipo de turismo alcoólico. Desta vez o barco vai cheio. Tão cheio que não encontro um lugar onde me sentar. Sigo o exemplo de outros passageiros e sento-me no chão, na alcatifa, sempre é mais confortável. À minha volta, latas e garrafas de cerveja são abertas, alguns chegam mesmo a deitar-se no chão, possivelmente efeito secundário. Outros, ainda não contentes com o carregamento, ainda compram mais bebidas na loja tax free do barco. É domingo, são nove da noite, vamos chegar por volta das onze, já vão bem abastecidos para a semana toda.
Chego a Helsínquia e chove uma chuva fininha.
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