Um deles aproxima-se mais do alcatrão e, com uma placa redonda na mão, agita-me um sinal de stop. Abrando e encosto ao lado da estrada, perto do carro deles. O polícia que me mandou parar chega-se ao meu vidro, dá-me um “dobro den” e eu devolvo-lhe um “good morning” acompanhado dos passaportes, documentos do carro e carta de condução. Inspecciona-os durante uns instantes, devolve tudo e, num inglês carregado de eslavo,
Daniel, problem is speeding.
Numa primeira reacção, a acusação até nem me parece má, tendo em conta que, pouco antes, tinha atravessado um traço contínuo para ultrapassar um camião lento. Informa-me que ia a 82 km/h quando o limite era 60 km/h. O limite, naquela estrada, devia ser 80 ou 90 km/h mas, nas curvas, é costume ser reduzido para 60 km/h, o que eu, pura e simplesmente, não reparei. E, por isso, – e à semelhança do que me aconteceu há mais de dez anos, na Croácia, a única outra multa de velocidade que recebi – os polícias colocam-se à saída destes percursos de velocidade temporariamente inferior para apanhar os incautos.
Pede-me para sair do carro e diz-me que terei de ir até Pale, uma localidade a algumas dezenas de quilómetros, pagar uma multa de 100 marcos conversíveis (ou seja, 50 euros) na estação da polícia, e regressar àquele local. Esta parte devia ter-me feito sorrir porque, de pouco provável ou, mesmo surreal, ajudou a clarificar rapidamente o que se estava a passar.
O polícia sentou-se no seu carro e começou a passar a multa. Enquanto escrevia, o colega aproximou-se do nosso carro para dar uma olhadela de aprovação, a única intervenção que teve em todo o processo. Expliquei-lhe que íamos para Belgrado naquele dia para entregar o carro e, no dia seguinte, tínhamos um voo de regresso bastante cedo, pelo que não teria tempo para regressar ali. Pagaria a multa em Pale e seguiria caminho. Acrescentou qualquer coisa, dando a entender que tinha entendido o que lhe tinha dito, mostrando alguma simpatia com o argumento,
Sorry, my English bad
acompanhado de uma cara franzida e um gesto com a mão direita a oscilar lateralmente.
Pediu-me para assinar a multa e mostrou-me o código da estrada onde estavam discriminados os montantes da multa para um excesso de velocidade superior a 20 km/h face ao limite estipulado: de 100 a 300 marcos conversíveis, para que tivesse noção que me estava a aplicar o mínimo previsto por lei. O que ainda não lhe tinha dito nesta altura é que só tinha 20 euros na carteira e pouco mais de 40 dinares sérvios, que perfazem a módica quantia de cerca de 35 cêntimos.
Mas, pouco após a consulta ao código da estrada,
I help you
e chama a minha atenção para o número 25 que digita num bloco de papel que tem no colo, seguido da fracção 1 sobre 2. E escreve este valor na multa, enquanto continua a repetir
I help you
Confirmamos com ele que não temos de ir a Pale e digo-lhe que só temos os tais 20 euros. De imediato, esvazio a carteira à frente dos seus olhos, mostro-lhe a (apetecível) nota e ainda retiro os 40 dinares sérvios.
No problem
Diz enquanto rabisca um 0 por cima do 5 que já tinha feito na multa e altera o valor para os 20 euros. Acena negativamente aos dinares sérvios e segura na mão a multa e a nota de 20.
I deliver this for you in Pale Police Station
Frase à qual ainda acrescentamos um agradecimento quase tão falso quanto a sua vontade de ser solícito.
Antes de voltarmos ao carro para retomar o caminho, deixou-me a advertência
Drive slowly
À saída, na fronteira, perguntam-nos em que dia entrámos no país, porque não temos o carimbo de entrada.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário