E de uma forma bastante saliente. Podemos sentar à mesma mesa um sérvio e um croata, daqueles que tem a aspereza típica, a roçar a rudeza, similar à dos russos. E que, ainda por cima, nutrem uma rivalidade e uma antipatia entre si bastante evidentes. E ainda adicionar um bósnio (já parece uma anedota) e um montenegrino. E ainda um macedónio, cuja simpatia natural os coloca nos antípodas dos sérvios e croatas. É altamente provável que a reunião destas pessoas resulte em confusão e zaragata, próprias de quem consegue discordar de praticamente tudo. No entanto, é provável que, num aspecto muito particular, estejam em perfeita sintonia:
Albanians are strange
uma frase que ouvimos mais do que uma vez.
A tendência natural que temos de arrumar, organizar, etiquetar toda a informação com que nos deparamos é forçada, pelos albaneses, a trabalhar horas extraordinárias. Não são de todo como os restantes eslavos daquelas paragens. Mas também não são como os turcos ou como árabes. A língua, apesar de ser indo-europeia, ocupa um ramo próprio, isolada das demais. E, como se tudo isso não chegasse e não fosse suficientemente diferente, ainda pronunciam os “r” de forma enrolada, a fazer lembrar os brasileiros nordestinos.
De todos, a Bósnia é o país que sente mais diverso, eventualmente porque é o aquele onde a fronteira geográfica menos coincide com a da própria estrutura da população e, por isso, menos centrada numa única etnia, como nos restantes países. A organização político-administrativa é, também ela, diferente: ao conduzir no país, passamos pelas placas que assinalam a fronteira entre duas regiões, a fazer lembrar a forma como atravessamos as fronteiras da União Europeia. De um lado, a Federação da Bósnia Herzegovina, onde se localiza a capital Sarajevo, maioritariamente habitada por população bosníaca, essencialmente muçulmana, e croata; do outro lado, a República Sérvia, como o próprio nome indica, maioritariamente sérvia. A sede da Assembleia Nacional e do Governo desta última – que tem um presidente e um primeiro-ministro – e é Banja Luca. Finalmente, há ainda um pequeno distrito, perto da fronteira com a Sérvia, que é independente.
Parece haver claramente um espírito balcânico, que atravessa transversalmente aqueles lugares e aquelas gentes e os toca a todos, uma afirmação que tenho de acompanhar da devida ressalva de que se trata de uma perspectiva externa de quem é confessadamente pouco conhecedor da região e a da história. Da mesma forma que, pese embora me sinta manifestamente diferente de um espanhol, não deve haver muitos conjuntos de pessoas que nos sejam mais próximos.
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