National Gallery, algures lá para as traseiras do Trafalgar. Seguindo a numeração das salas repletas de quadros, entro, vindo da direita, numa sala onde está um quadro com uma tela grande na parede do fundo. Olho para ele. É um retrato de dois homens com umas boas centenas de anos em cima, bem-apessoados, bem vestidos. Olho para a descrição, em baixo, à direita. Os tipos retratados são representantes diplomáticos – um inglês e do outro não me lembro da nacionalidade – e o quadro representa as relações diplomáticas tensas entre os países que representam. Logo em seguida, referem o tapete cinzento que se pode ver entre as duas figuras. E explicam que há mais nele do que ser apenas um tapete. Visto do lado esquerdo, com uma perspectiva diferente, os olhos humanos vão conseguir aperceber-se de que está também ali uma caveira, a simbolizar as tais relações complicadas. Depois de ler esta indicação, voltei-me novamente para o quadro e, de repente, lá estava a caveira que eu ainda não tinha visto e provavelmente não veria caso não me tivessem dito que ela estava lá. Mais: a partir desse momento, não mais consegui ver o tapete, independentemente da posição – vindo da direita, da esquerda.
Isto também acontece com músicas. Há dias ensinaram-me a ouvir o Kurt Cobain dizer “não há pão quente” com sotaque açoriano na primeira frase do Smells Like Teen Spirit. E não é que é mesmo isso que ele diz? Eu só conhecia o “cá vou eu” gutural que o Eddie Vedder diz no Tattoeded e o “cavalinho na feira a correr” dos Men at Work.
Ora isto embica direitinho na questão de como a forma como vemos, ouvimos, sentimos as coisas pode ser condicionada ou manipulada com relativa facilidade. Não é algo de mecânico porque os nossos órgãos continuam a captar informação da mesma forma. A interpretação dessa informação por parte das células cinzentas é que sofre as consequências.
As línguas maternas têm esse impacto. Moldam e influenciam a forma como processamos informação e como comunicamos e nos expressamos.
domingo, 11 de outubro de 2009
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