Como qualquer aluno de secundário tive que passar pela experiência marcante de dividir orações na disciplina de Português (B, no meu caso). Normalmente, as melhores recordações que guardamos desse período escolar não estão associadas a essa tarefa e eu não sou excepção. Lembro-me de um caso concreto que me parecia particularmente difícil de destrinçar, o das frases relativas e integrantes. Sem conseguir perceber o que as distinguia, a minha estratégia, sempre que questionado directamente – de outra forma não me atrevia a abrir a boca – era apostar na Lei de Laplace: um caso favorável e dois possíveis davam-me cinquenta por cento de probabilidade de acertar.
Só mais tarde e à custa de algum francês, entendi qual a dificuldade de perceber se o “que” é relativo ou integrante. É que, enquanto em português tudo é “que”, em francês temos não só o “que”, mas também o “qui”. O primeiro é integrante (“je pense que”) e o segundo refere-se ao complemento de objecto directo, ou seja, é relativo (“L’homme, qui est vieux, (…)”). Percebido isto, acabaram-se as dúvidas.
O mesmo é válido para alemão (russo também segue a mesma lógica). Neste caso com uma precisão ainda maior no caso do “que” relativo porque a forma é diferente para os três géneros que esta língua tem: masculino (“Der Mann, der alt ist, (…)”); feminino (“Die Frau, die alt ist, (…)”) e neutro (“Das Auto, das alt ist(…)”). E, para distinguir do caso em que é relativo, “dass” é o equivalente ao “que” integrante em português (“Ich denke dass”).
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