quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Nevereverland
Descias as escadas, cruzavas a cozinha, a porta aberta de par em par à tua espera, sempre à tua espera. Nunca houve porta que te segurasse, mesmo fechada, o trinco com todas as voltas. Nem assim. Nada te conseguia segurar, arranjavas sempre maneira de dar a volta àquelas voltas do trinco, chaves e fechaduras, tudo aberto de par em par, a luz da rua escancarada sobre a mesa da cozinha, a madeira e o cheiro a óleo de cedro. O passo acelerado, o teu passo acelerado, a forma como galgavas as escadas, subias e descias, dois três degraus de cada vez, nunca ficavas num sítio, numa divisória, sempre só te vi passar, cruzar o meu olhar com uma palavra curta a dizer-me olá e adeus numa única onomatopeia, não tinhas tempo para deixar de passar ou cruzar e apenas ficar, tinhas sempre onde ir, onde estar e nunca era ali. A porta, a luz invadia a mesa, o cheiro do óleo de cedro faz-me lembrar madeira. Eu fico, eu ainda aqui estou, a cadeira, sento-me, vejo-te passar, passada larga, passo estugado, degraus para cima, degraus para baixo. Até abrires a porta que já estava aberta e saíres.
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