Há um bom par de anos atrás, meti-me numa discussão com o Renato sobre, grosso modo, qual o objectivo da música. À partida, tínhamos (e temos) divergências substanciais: para o Renato, há uma componente de busca ou procura religiosa importante na música. Ora, eu não tenho religião e isso é chato para me entender com ele porque, por definição, deita por terra essa última componente. E foi então que o Renato me perguntou qualquer coisa como – e ele que me perdoe se o tempo que entretanto passou não me o deixar citar com um correcto ipsis verbis – “então mas que raio procura um ateu na música?”.
Pois. Estou há este tempo todo para lhe responder. Porque se eu percebo que há muito que um ateu vai buscar à música e, de certa forma, me parece demasiado redutor que um propósito religioso seja o único que a música satisfaz, por outro lado, ainda não consegui pôr por palavras as razões pelas quais ponho CDs a tocar e, ocasionalmente, pego na minha guitarra.
Podia dizer apenas que o faço porque gosto. Mas não chega. E se este post pode ser uma forma de lhe dizer que não me esqueci, também pode ser uma forma de buscar inspiração em visões alheias. E é aqui que entra este trecho do Kerouac. Que eu prometo que é a última citação que faço do On the road. Não responde à pergunta inicial. Mas pode ser que seja um percurso até lá.
«’Now, man, that alto man last night had IT – he held it once he found it; I’ve never seen a guy who could hold so long.’ I wanted to know what ‘IT’ meant. ‘Ah, well’ – Dean laughed – ‘now you’re asking me impon-de-rables – ahem! Here’s a guy and everybody’s there, right? Up to him to put down what’s on everybody’s mind. He starts the first chorus, then lines up his ideas, people, yeah, yeah, but get it, and then he rises to his fate and has to blow equal to it. All of a sudden somewhere in the middle of the chorus he gets it – everybody looks up and knows; they listen; he picks it up and carries. Time stops. Hell’s filling empty space with the substance of our lives, confessions of his bellybottom strain, remembrance of ideas, rehashes of old blowing. He has to blow across bridges and come back and do it with such infinite feeling soul-exploratory for the tune of the moment that everybody knows it’s not the tune that counts but IT –‘ Dean could go no further; he was sweating telling about it.»
On the road, Jack Kerouac
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