domingo, 2 de agosto de 2009
A tua maior mágoa é não teres acabado de fazer a manta que disseste que me farias. Preocupada. Comprámos a lã, tratámos de tudo porque querias fazer-me qualquer coisa. Verde, um verde seco, e cinzento. E então lembrámo-nos da manta. Porque já havia uma lá em casa que eu usava nos dias mais frios sobre a colcha, quando o resto não chegava. Para fazeres aqueles triângulos com uma cor, encaixados noutros sucessivos com a segunda cor. E eu digo-te que não te preocupes com isso. Preocupe-se é em pôr-se boa. Primeiro ainda sorris timidamente, só depois franzes a cara, aquele esgar com as rugas acentuadas. As dores é que não. Os gritos. Mexer é um sarilho, qualquer posição que não seja estar de lado sobre o ombro esquerdo acaba mal. Desta vez, as confusões foram poucas. Estiveste connosco o tempo praticamente todo. Detesto que digas aquelas coisas como deixem-me ir em paz ou desta é que vou para melhor. Sobretudo porque estás, assim, preocupada. Tenho uma pega aqui na cozinha feita por ti, pendurada. Fora todas as outras que ainda não trouxe para aqui. E os naperons. Daqueles que se põem no cesto do pão. Os gritos é que não. Dilaceram os ouvidos. Os braços. As pernas. De repente não consigo fazer nada, dilacerado. Preocupe-se é em pôr-se boa. Era o que mais faltava agora preocupada com a manta. O verde seco, o cinzento. As agulhas grossas e os teus olhos nos bicos, a contar as carreiras. Mostravas-me os primeiros quadrados com o triângulo lá dentro. Para eu ver se gostava de como estava a ficar. E também para que visse que não estavas parada, que ias cumprir a promessa. A maior mágoa. Os gritos. Os ais. As dores. A agulha fina no teu braço direito. O verde seco, o cinzento.
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