sexta-feira, 28 de agosto de 2009

The F-word

Juro que não sei onde está o limite. Não faço ideia. É daquelas coisas que só se sabe quando se dá o embate. Choque frontal, de preferência. Com força, convicção. E não pode ser doutra forma. Doloroso. Cruzar o limite com passos curtos e pouco incisivos é o mesmo que chegar ao balcão da Portugália e pedir uma água mineral. Natural.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Mirar o Miró

Desta vez não falhei a Fundação do Miró. Cheguei a horas de apanhar aquilo aberto. E estava mesmo aberto. Com uma pequena nuance: estão a decorrer obras e a exposição permanente estava particularmente encolhida.

Depois o Palácio da Música. Fechado em Agosto. Eu, que só tinha feito a visita guiada, estava morto por desta vez poder assistir a um espectáculo ali dentro e apreciar a acústica convenientemente.

Salvou-se o Jamboree. Salvou-me o Jamboree. Tem nome de cena de escoteiros mas foi ver um trio de espanhóis a tocar na batata.

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¡Afinal há til! Alt Gr + 4. ¿Quem havia de dizer...?

domingo, 23 de agosto de 2009

Pontos ginastas

O que eu mais gosto nos teclados espanhóis é a pontuacao ginasticada que faz o pino. Nao têm o til, mas têm coisas destas ¿ e ¡, que nao me canso de reproduzir. ¿Querem ver? ¡Ora aí está! ¡É giríssimo!

Acho muito estranho que os espanhóis precisem destas sinalefas no início para saberem qual o tipo de frases que começam a ler. Parece relativamente óbvio e nao me ocorre mais nenhuma língua em que sejam empregues este tipo de coisas ou semelhantes. ¿E depois, se existem pontos de exlamaçao e interrogaçao de pernas para o ar, onde estao, por exemplo, os pontos e as reticências de pernocas para cima?

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Truncated existence

Tenho duas malas abertas, escancaradas, no chão do quarto. De tamanhos diferentes, uma média, outra bem maior. Roupa de dois registos diferentes de temperatura. E de formalismo. E depois aquelas coisas típicas: a máquina fotográfica, livros, o meu mini-disc. É verdade, não tenho um iPod ou mp3, tenho um mini-disc. Que é muito maior e menos prático. A pele da capa protectora estalou este ano com o frio da Islândia. Bocadinhos de material preto esfarelam-se quando pego nele, suja-me a mão. Já há 5, 6 anos gozavam comigo por ter um mini-disc. Não me importo. É um companheiro insubstituível. Vivo as semanas de cada ano para as três ou quatro ou cinco de férias. Vivo para estas coisas. Pôr roupa dentro de malas, com máquinas fotográficas e mini-discs pelo meio. Ultimamente, pelo menos. A aridez dos dias é compensada pelas quebras abruptas de rotina. Estará à minha espera, quando voltar.

Feu rouge

Os recentes outdoors do PS (leia-se, do Sócrates) são perigosos. Ou melhor, há determinados locais onde a sua colocação fomenta comportamentos indesejáveis. Por exemplo, ao lado de semáforos. Dei por mim a queimar vermelhos depois de ler o “Avançar Portugal” do engenheiro (leia-se, “engenheiro”).

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

E, no entanto, reconheceste-me logo. Sempre foi um bom rapaz. Agarro-te a mão assim que entro no quarto, de imediato. Lutas com a correia que te segura, prende, amarra. Para que não te aleijes. Agarro-te logo. Para tentar que esqueças por um pouco a correia. Que te segura, prende, amarra. Eu agora levantava-me. Tira-me isto. Mas depois devolves a firmeza com que agarrei a palma da mão esquerda, devolves no meu punho. E não largas. Sempre foi um bom rapaz. A balbuciar, tartamudear, o meu nome pelo meio. Misturado com uma série de outras coisas. Confusas, dispersas, ilógicas. Que não têm nada a ver. Não entendo tudo, não consigo perceber. Tira-me isto. E não adianta perguntar, pedir para repetir. Só quero que esqueças a correia. Que acalmes. E consigo. Consegui que esquecesses a correia. A luta para retirar a correia que te prende, amarra, segura. Momentaneamente adiada. E é então. Naquele momento. Em que não pensas na correia. Que puxas a minha mão na direcção dos teus lábios.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A maçaneta escura, o metal frio e pesado.

Rodo – é daquelas de rodar, não das outras de pressionar para baixo – e a porta de madeira escura abre para dentro. A luz vem da persiana mal fechada, a janela ligeiramente aberta expõe o telhado sujo que está logo ali, quase se alcança esticando um braço. As duas camas pequenas, com pernas de metal. Azuis, muito azuis. Lembro-me dos móveis, a cómoda, o armário, castanho escuros, muito escuros. A madeira comida pelo tempo e pela utilização. Os puxadores eram umas meias-luas que, quando os largava, embatiam contra uma protecção de metal e soltavam um ruído característico. Estranho mas característico. Ouço-o ainda agora, passado todo este tempo. Distintamente. Trago-o. Comigo. Não sei porquê, de nada serve, de nada me serve. E nem sequer consigo deixá-lo para trás. Há coisas que lentamente se apagam e outras que seguem agarradas a nós como lapas nas rochas. Não descolam. Não nos largam. Não quero nada com o som do puxador a embater na protecção de metal mas ele não me larga. Uma lapa e eu a rocha. Os dias, meses, anos, sei lá há quanto tempo isto foi e aquelas camas de metal azuis e os móveis escuros de um castanho gasto com os puxadores que faziam aquele som. Metálico. Característico. As porcarias que acumulamos e das quais não nos largamos. Não nos soltamos. Queria despejar isto tudo, nada disto me interessa, não é importante, não é relevante e, no entanto, está sempre, pronto a disparar assim que qualquer coisa despolete aquele som na minha cabeça. Que está cá, continua cá, não sai de cá mesmo quando já nem sequer tenho a noção que ele ainda aqui andava. Precisei do catalisador. E, assim que ele surgiu, lá estava o som na minha cabeça, mais os armários daquele castanho. Escuro. Gastos. E as camas metálicas. Azuis.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

«Economists have only partly captured what is meant by trust or belief. Their view suggests that confidence is rational: people use the information at hand to make rational predictions; they then make a rational decision based on those rational predictions. Certainly people often do make deciosions, confidently, in this way. But there is more to the notion of confidence. The very meaning of trust is that we go beyond the rational. Indeed the truly trusting person often discards or discounts certain information. She may not even process the information that is available to her rationally; even if she has processed it rationally, she still may not act on it rationally. She acts according to what she trusts to be true.»

Animal Spirits, Akerlof e Schiller

SMSs à la festival de verão

“Onde é que andas caralho?”

domingo, 16 de agosto de 2009

Lightning strikes twice

«[…] QWERTY keyboard, named for the left-most six letters in its upper row. Unbelievable as it may now sound, that keyboard layout was designed in 1873 as a feet of anti-engineering. It employs a whole series of perverse tricks designed to force typists to type as slowly as possible, such as scattering the commonest letters over all keyboard rows and concentrating them on the left side (where right-handed people have to use their weaker hand). The reason behind all those seemingly counterproductive features is that the typewriters jammed if adjacent keys were struck in quick succession, so that manufacturers had to slow down typists. When improvements in typewriters eliminated the problem of jamming, trials in 1932 with na efficient laid-out keyboard showed that it would let us doubleour typing speed and reduce effort by 95 percent. But QWERTY keyboards were solidly entrenched by then. The vested interests of hundreds of millions of QWERTY typists, typing teachers, typewriter and computer salespeople, and manufacturers have crushed all moves toward keyboard efficiency for 60 years.»

Guns, germs and steel, Jared Diamond

sábado, 15 de agosto de 2009

A curva logarítmica

O exercício era chato e, em si, pouco interessante. Servia apenas para ganhar destreza e velocidade nos dedos, era um exercício de técnica. Para ter noção da evolução, pediu-me que fosse tomando nota da velocidade (em batidas por minuto) a que conseguia executá-lo (e limpinho, não vale fazer a uma velocidade em que não consigas verdadeiramente controlar) por datas. No final, o objectivo seria traçar um gráfico com uma unidade de tempo no eixo das abcissas e uma de velocidade no das ordenadas. Aquilo que iria obter era um gráfico côncavo, mais inclinado no início e, depois, progressivamente menos inclinado para o final: de início, é possível ter grandes ganhos de velocidade em pouco tempo; depois, cada vez é preciso mais tempo para obter ganhos menores e, no limite, infinitesimais.

Esta curva descreve grande parte dos processos de aprendizagem. Muita informação e progresso rápido de início, muito trabalho para ligeiras melhorias no final. Aquele milésimo de segundo que os atletas profissionais querem retirar ao tempo actual pode demorar anos a obter. E é aqui que a motivação adquire uma importância muito grande. É mais fácil encontrá-la na parte mais inclinada da curva em que a proporção entre resultados obtidos e tempo e esforço dispendidos é mais favorável do que no final em que este rácio é menor.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Darth Vaders

Que estes gajos têm graça, acho que já é um dado adquirido. A macacada desta coisa da bandeira monárquica na CML tem sido muito divertida. Agora, afastando as diversões e aproximando as convicções, gostava que de saber quais os argumentos que suportam as supostas vantagens de uma monarquia para o nosso país (ou para qualquer outro).

No terceiro andar da Avenida de Roma.

Na sala, no canto direito, junto ao sofá e às prateleiras carregadas até mais não, naquela zona onde o móvel arredonda para não evitar o canto e preenchê-lo. Era aí que estavam os discos. Vinil. Retiraste-o de entre a pilha de discos na vertical, deslizando na madeira pintada, e puseste-o no gira-discos, mesmo lá ao lado. Eu era miúdo, a roçar o muito miúdo. Não te posso jurar que tenha conseguido perceber as piadas todas. Mas a memória. Ficaram todas cá, aquelas que tu mais gostavas. Queres ver? O “subi dois anos”, o “ainda a guerra estava fechada”, as “portas onduladas da guerra”, o corno da vaca que caía para a rua e “este corno é seu? Sei lá!”, “o meu pai era escafandrista em Beja” e dois anos sem vir a casa, “mas a minha mãe foi a Beja”. E rias-te.

Por isso o Solnado me lembra sempre de ti. Projecto-te nele e é como se eu fosse – como se eu tivesse sido – outro neto dele.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Escreveram mal o teu nome.

O acento está trocado, não é na penúltima é na antepenúltima sílaba, é uma palavra esdrúxula, não é grave. Ao menos que acertassem no teu nome. Braços cruzados a olhar. A olhar para o chão, para o tecto, o relógio, o telemóvel que sai do bolso para a chamada no momento certo. Olhar para o infinito, para o vazio, para as moscas, para ontem, para a morte da bezerra. Não é um nome fácil mas, caramba, não é grave, é esdrúxula, é só passar o acento para trás, não custa nada, já que estão de braços cruzados. A olhar para o infinito, para o vazio, para as moscas, para ontem, para a morte da bezerra. Custava muito descruzar os braços? Pegar na caneta, trocar o raio do acento. Está errado, não vêem que não está bem? O relógio, é tarde, o telemóvel toca, com licença, desculpem e saem da sala e era tudo uma questão de caneta e trocar o acento, o raio do acento. E podiam voltar para os braços cruzados, o tecto e o chão, o infinito e o vazio, as moscas e ontem, a morte da bezerra. Não vêem que o raio do nome está mal escrito?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Not my cup of tea

Esta coisa de ler o livro do Rossi é meio estranha, não é propriamente o meu tipo de leitura. Convencido, li e achei piada às histórias que ele conta. É certo que a parte das motas é chata e repetitiva, podia ter metade do tamanho; aquele toquezinho de arrogância de quem já conseguiu tudo também é dispensável. Agora, a verdade é que o Rossi está para as motas como o Federer está para as raquetas mas com muito mais graça: a Polleria Osvaldo, o teste do F1 da Ferrari, a cena de batatada com o Baggi, as comemorações das vitórias e os pódios, as negociações para a mudança para a Yamaha. Tudo isso (e muito mais) dava um filme.

Ou seja, gostei da irreverência. A irreverência em si, quase desculpa tudo. Mesmo as coisas mais brutas e descabidas, malcriadas e de gosto muito duvidoso. E, claro, é um mecanismo de mandar muros abaixo e mandar pedradas em charcos. E também pode ser divertida. Por isso tenho vontade de ir ver o Sacha Baron Cohen. Naquelas cenas insuportavelmente incorrectas que ele faz. Mas, lá está, no fundo está tudo desculpado.

domingo, 9 de agosto de 2009

«É mais excitante comer um gelado com uma nova namorada do que fazer amor com uma namorada que temos há anos!»

Autobiografia de Valentino Rossi

P.S. – mais frases de antologia estão disponíveis naquelas páginas, à mercê de olhos atentos. Fico-me por esta que me parece o auge.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

João Bonifácio, O Público, Provedor

Ao provedor, porém, não parece curial que o jornal envie para criticar um espectáculo quem a priori assume a sua aversão aos artistas. Não é crível que um crítico com tal parti pris consiga manter o mesmo tipo de abordagem e distanciamento que terá perante intérpretes que aprecie ou lhe sejam indiferentes.

Mas o crítico que aprecia um dado artista ou obra sofre do mesmo problema de (falta de) distanciamento do que aquele que não gosta. Ou seja, isto é o mesmo que dizer que só pessoas totalmente indiferentes ao artista ou à obra que vão apreciar poderão verdadeiramente fazer uma crítica correcta.

Para além de achar difícil encontrar tamanha indiferença, não me parece muito útil ler críticas de quem é indiferente. Prefiro quem tenha verdadeiras opiniões. A indiferença (ou viés positivo) não é dever do crítico, mas sim informar-nos sobre qual a sua posição em relação a determinado tema, para que possamos ler o que escreve com essa perspectiva em mente.

Mais ou menos aquilo que cada jornal deve fazer. Há uma linha orientadora transversal a uma publicação que, mesmo não se manifestando explicitamente nas notícias, nos textos, expressa-se pela via das opções, dos alinhamentos. Por isso os jornais têm editoriais e por isso penso que não deveriam ser assinados (já escrevi sobre isto no pasquim anterior, não sei exactamente quando). São a voz do jornal, não devem ser a de uma dada pessoa em concreto.

Toda a gente sabe que A Bola é do Benfica é do Benfica, o Record é do Sporting e o Jogo do Porto. Ninguém se chateia com esse enviesamento porque os leitores têm a perfeita consciência disso e lêem esses jornais com essa orientação. E isto não é só um exemplo de viés positivo: quem grama o Benfica normalmente não grama o Sporting e vice-versa; não há muita indiferença neste tipo de assunto.

Quanto às apreciações de João Bonifácio sobre o clube do Restelo e o seu público, os protestos foram mais violentos.

E, por falar em futebol, há uma coisa que me parece interessante neste “caso”. É que, caramba, ninguém diga mal – e resta saber se, de facto, as palavras de João Bonifácio são dizer mal – de um clube de futebol neste país. Cai logo o Carmo e a Trindade.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

E depois querem que eu comemore.

Eu. Que lido tão mal com o envelhecimento. Como podem estar à espera que sopre as velas com um sorriso? Sorriso verdadeiro, não dos outros, esses sei fazê-los bem mas porque tenho que os fazer. Contem comigo para qualquer outra comemoração. Até os aniversários alheios são porreiros. O meu é que é particularmente desengraçado.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ela não vende isto nada barato

Hoje de manhã, a propósito de qualquer coisa que agora me escapa (da possibilidade de pessoas acusadas de crimes concorrerem em eleições?), vi na SICN a Manuela Ferreira Leite dizer o seguinte (citação feita de memória, logo sem aspas): estamos em campanha e portanto não quero discutir esses temas porque são temas muito sérios. Eu juro que quero gostar dela – muito por causa da minha vontade de não gostar dele, do engenheiro – juro que quero tentar racionalizar e desvalorizar os disparates que ela vai dizendo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A inércia é o pior disto tudo.

A inércia é o mesmo que puxar uma cadeira mesmo para a frente do relógio e sentar. A admirar o movimento ritmado dos ponteiros. Certo, metronómico. E fatal.

domingo, 2 de agosto de 2009

A tua maior mágoa é não teres acabado de fazer a manta que disseste que me farias. Preocupada. Comprámos a lã, tratámos de tudo porque querias fazer-me qualquer coisa. Verde, um verde seco, e cinzento. E então lembrámo-nos da manta. Porque já havia uma lá em casa que eu usava nos dias mais frios sobre a colcha, quando o resto não chegava. Para fazeres aqueles triângulos com uma cor, encaixados noutros sucessivos com a segunda cor. E eu digo-te que não te preocupes com isso. Preocupe-se é em pôr-se boa. Primeiro ainda sorris timidamente, só depois franzes a cara, aquele esgar com as rugas acentuadas. As dores é que não. Os gritos. Mexer é um sarilho, qualquer posição que não seja estar de lado sobre o ombro esquerdo acaba mal. Desta vez, as confusões foram poucas. Estiveste connosco o tempo praticamente todo. Detesto que digas aquelas coisas como deixem-me ir em paz ou desta é que vou para melhor. Sobretudo porque estás, assim, preocupada. Tenho uma pega aqui na cozinha feita por ti, pendurada. Fora todas as outras que ainda não trouxe para aqui. E os naperons. Daqueles que se põem no cesto do pão. Os gritos é que não. Dilaceram os ouvidos. Os braços. As pernas. De repente não consigo fazer nada, dilacerado. Preocupe-se é em pôr-se boa. Era o que mais faltava agora preocupada com a manta. O verde seco, o cinzento. As agulhas grossas e os teus olhos nos bicos, a contar as carreiras. Mostravas-me os primeiros quadrados com o triângulo lá dentro. Para eu ver se gostava de como estava a ficar. E também para que visse que não estavas parada, que ias cumprir a promessa. A maior mágoa. Os gritos. Os ais. As dores. A agulha fina no teu braço direito. O verde seco, o cinzento.