Como se fosse uma engrenagem que inexoravelmente avança num determinado sentido, independentemente de quem, num dado momento, nela trabalha. Pitágoras escreveu um teorema mas esse teorema seria exactamente o mesmo se tivesse sido escrito por outra pessoa. Mais: se Pitágoras nunca tivesse existido ou se se tivesse dedicado à pesca e não a teoremas, seria uma questão de tempo até que outra pessoa se apercebe que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos.
Ora, isto significa que é irrelevante quem faz as descobertas, quem desbrava o caminho; pelo contrário o que é verdadeiramente importante são as descobertas em si, as teorias, os axiomas, os teoremas. E é por isso que existem casos de descobertas simultâneas.
Na arte, tudo se passa ao contrário. O fatalismo não está de todo presente. Se Camões não tivesse existido, Os Lusíadas tão-pouco teriam sido impressos. Podia existir um livro com o título Os Lusíadas mas não seria aquele que lemos na escola. Isto acontece porque o objecto é indissociável de quem o cria. A Capela Sistina só podia ter sido pintada por Miguel Ângelo; acaso tivesse sido pintada por outro artista, continuaria a ser a Capela Sistina mas não aquela que identificamos com a daquele pintor.
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