quarta-feira, 4 de março de 2009

Deixou de sentir frio mas continuava a sentir calor.

De início, pensou que não iria ter problemas de maior com a sua nova condição. Afinal, vivia num país quente, não tinha que se preocupar com temperaturas baixas. O resultado mais expressivo – excluindo as banais e insignificantes constipações – foi uma pneumonia. Durante umas semanas, sentia-se arder em febre mas nunca chegou a aperceber-se dos suores frios.

Depois percebeu que não era apenas incapaz de sentir frio sensorialmente. A frieza desapareceu-lhe por completo do alcance, do radar. O cinismo, a hipocrisia que passavam-lhe totalmente despercebidos. Deixou de conseguir interpretar pessoas. Chegou a um ponto em que não conseguia distinguir os verdadeiros amigos daqueles que se passam por tal com determinada finalidade.

E então, dada a sua incapacidade de avaliação, foi invadido por um sentimento de uma enorme desconfiança. Não confiava em ninguém com medo de tiros ao lado e erros de casting. Só assim se sentia suficientemente protegido.

E foi então que ele próprio se tornou num bloco de gelo.

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