Expectavelmente, devo dizer, nenhuma deslocação é tão curta como o apregoam. A estrada piora consideravelmente de qualidade, são várias as secções onde o asfalto é substituído por pequenas pedras, que colmatam a ausência de alcatrão e evitam a acumulação de terra e lama. À medida que se segue para sul, cada vez mais sentimos a crueza da natureza da ilha.
Pouco depois de uma das poucas povoações nestas paragens, está uma placa a indicar a saída para a Ponta Baleia, onde também se lê Pestana. Um local pede-me para parar e tenta negociar comigo uma travessia e refeições no ilhéu; quando lhe explico que sou cliente do Pestana e tenho tudo isso incluído (enfim, o transfer de barco acaba por me ser cobrado), aceita facilmente a ausência de possibilidade de um acordo mutuamente vantajoso e despede-se.
Com alguma (bastante) sorte, o barco está quase a chegar ao ancoradouro quando estaciono o jeep no local onde ficará duas noites. Há uma excursão numerosa, de uma nacionalidade que não consigo identificar, e calculo que seja por isso que seja realizada esta travessia extraordinária do barco do Pestana, à qual acabo por me juntar (venho a saber mais tarde que o barco só tem duas travessias diárias agendadas e que, àquela hora, a da manhã já tinha tido lugar).
Depois do check in na recepção mesmo à saída do cais, sou acompanhado por um funcionário ao meu quarto. O interior está gelado e a primeira coisa que faço após ficar sozinho é desligar o ar-condicionado esforçado. No pequeno televisor, para além do canal da televisão local, tenho acesso à SIC notícias, bem como a Al Jazeera.
O restaurante onde são servidas as refeições buffet fica logo a seguir à piscina, à distância de um lance de escadas. Há vários pratos à escolha, incluindo arroz de pato, vitela, caldo verde e sopa da pedra. Na secção de grelhados na chapa, para além de pedaços de frango, há também umas postas de peixe muito desengraçadas, que mais parecem medalhões congelados da Pescanova. Vai ser a única vez que não vou comer peixe em quinze dias.
Este é um antro de homens grisalhos, de cabelo penteado para trás, calções garridos e camisas vermelhas às riscas, sapatos de vela sem meias. Na mão, para além do telemóvel e da carteira, trazem um maço de cigarros. Elas lêem livros daqueles de capa vistosa dos escaparates das novidades, põem lenços por cima do biquíni antes de percorrer os metros que separam a espreguiçadeira do quarto e, ao jantar, aparecem maquilhadas e de vestido negro.
Estes vão ser os meus dias de verdadeira détente. Troco o papel que me deram por uma toalha e deito-me numa espreguiçadeira, entre a piscina e água azul muito claro. Por esta altura, estou a ler um livro do Norman Mailer sobre o combate entre Muhammad Ali e George Foreman, no antigo Zaire. Sem nunca ter ligado nenhuma a boxe, dou por mim a ver o combate no youtube, algo que a ligação wifi, neste local, permite. Numa das tardes, dou uma pequena volta ao ilhéu e visito o célebre marco do equador. Tiro umas fotografias, que o iPhone localiza no Ilhéu Gago Coutinho.
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