Mesmo assim não estou muito cansado. O voo mais longo apanhou grande parte da noite e, por isso, consegui dormir umas boas seis a sete horas que, embora me deixem a cabeça mais leve, pesam-me no pescoço e nas costas, tensos do desconforto do assento do avião.
E, enquanto percorro os corredores do aeroporto em direcção à saída, vem-me à cabeça a primeira vez que ouvi o Christian falar sobre o Japão e dou-me conta de que foi há quase vinte (!!) anos atrás que, sentado no canto da mesa rectangular, de frente para a porta da sala de aula. Era frequente ouvi-lo falar sobre as suas viagens, tinha passado grande parte do início da idade adulta a viajar pelo mundo, munido de uma máquina de escrever que usava para a profissão de jornalista. As minhas preferidas eram sobre o Brasil, de quando fez a cobertura da inauguração de Brasília – acompanhou a comitiva da qual o próprio Niemeyer fez parte – e de quando foi mordido por uma cobra num tornozelo e um dos locais de imediato lhe fez um corte na pele, chupou o sangue e queimou a ferida com um cigarro acesso. Esta última aventura era contada com a exibição do tornozelo, perna das calças ligeiramente para cima e meia para baixo.
Mas sobre o Japão acho que aquela foi a primeira vez. A pedido, alguém lhe perguntou, um dos outros alunos. E ele parou um pouco antes de responder, uma pequena pausa antes de
Die Japaner sind wie Ameisen
e nós rimo-nos um pouco. A analogia é engraçada e, mais do que isso, facilmente conseguimos perceber como os nipónicos podem ser comparados a formigas, faz parte de uma ideia pré-concebida de uma sociedade com um elevado nível de organização e onde as pessoas têm um código de conduta bastante vincado.
Donde o que vem a seguir é um spoiler alert que, no fundo, não é um spoiler alert, a não ser para os mais distraídos: é exactamente essa a sensação com que se fica do país do sol nascente. É um lugar-comum que, de uma forma abusiva, pode ser generalizado como diferença entre grande parte das sociedades asiáticas e ocidentais: um equilíbrio diferente o individual e o colectivo, os asiáticos mais abnegados e com maior entrega para o colectivo, os ocidentais com maior propensão para olhar para o umbigo. Claro que não estou imune a um certo condicionamento que me tenha levado a descobrir essencialmente aspectos que confirmem a minha ideia original – um comportamento típico e cada vez mais presente no mundo actual das redes-sociais e do jornalismo sem tempo e dinheiro para investigar. Ainda assim, fazendo esta última ressalva, não me parece de todo descabida a atribuição de uma certa formiguidade aos japoneses.
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