Seguiu-te quando saíste pela porta fora. Não consigo alinhavar três linhas que goste, que façam sentido. Escrevo e fico com um amontoado de palavras, frases, sem o mínimo interesse. Comida sem sabor. Cinzento. Levaste-me a força. A intensidade. O Groove, a verve. Sem isso, as palavras e as frases não valem nada. E por isso levaste-me isto tudo, a escrita. Saiu atrás de ti, não viste?, seguiu-te pela porta que bateste com toda a força quando saíste intempestivamente. Podias ter levado tudo. Podias ter ficado com tudo, que me interessa a mim essa porta ou o dinheiro, a honra ou o orgulho? Mas as palavras, as frases, passo os dias a lutar para as recuperar, para que voltem a entrar, pé ante pé, pela porta que bateste, o estrondo quando saíste. E não consigo. Comida sem sabor. Já não é o preto das letras no branco do papel, é o cinzento das palavras e frases ocas, desprovidas de vida, força, intensidade.
Não valem nada, levaste-me tudo.
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