Ainda não são sete da manhã e já mostramos os nossos cartões de embarque e de cidadão ao funcionário por detrás do computador com um leitor que apita a cada registo. Descemos as escadas que levam até ao exterior do terminal para aceder ao autocarro. Está frio e, pouco depois, desatará a chover.
Esperamos ainda um pouco até o autocarro iniciar o percurso – que parece sempre longuíssimo – até ao avião da Sata, estacionado no alcatrão, para lá do terminal 2 do aeroporto. Parados ao lado do Airbus 320, de portas fechadas. Até que, estranhamente, ao invés de ouvirmos o som das portas a abrir e do piso do autocarro a descer ligeiramente, ouvimos novamente o som do motor e o autocarro arranca novamente.
Rimo-nos, assim como as pessoas ao nosso lado – lembro-me em particular de um homem que viríamos a encontrar mais tarde na Casa da Montanha com a esposa após uma tentativa falhada de ascensão. Que se enganaram no avião, onde já se viu isto, só mesmo nesta terra. Mas o comentário que melhor registei foi aquele que ouvi a um dos companheiros de viagem: “isto não é bom sinal”.
E não era. Somos largados na chuva para chegar à escadas que dão acesso ao terminal pelo condutor que nos informa que, “por motivos operacionais”, o voo está atrasado. À passagem pelos funcionários que permanecem na porta de embarque, os passageiros perguntam o que aconteceu. A resposta é caricata: faltaram alguns membros de tripulação necessários para que o voo se efectue.
Esperamos mais um bocado. Talvez uma hora, hora e meia. Pelo meio, um dos passageiros, pertencente a um grupo ou excursão relativamente grande, tira do estojo uma guitarra portuguesa e toca-nos umas quantas músicas, que têm o condão de afastar alguma da irritação. O mesmo não se poderá dizer de uma senhora enfermeira, que não parece achar graça nenhuma à música que o trovador lhe dedica, em jeito de serenata.
Finalmente, somos novamente enfiados dentro do autocarro, que percorre o mesmo trajecto até ao mesmo avião e, desta feita, abre mesmo as portas para que possamos entrar no aparelho. Cerca de 2h30 depois aterramos no aeroporto da ilha do Pico.
A tarde é passada a dar a volta à ilha. Das estradas costeiras, enveredamos pelas mais estreitas e sinuosas, polvilhadas de vacas que, à nossa passagem, arregalam os olhos, num misto de curiosidade e receio. O contraste da cor escura da terra e das rochas com o verde gritante da vegetação é esmagador. O sol intenso esconde-se, por vezes, por entre nuvens espessas e cinzentas ou no nevoeiro que faz a temperatura, de imediato, cair.
Perguntamos a um pastor qual o caminho para as lagoas. Depois da explicação, aproveitamos para lhe perguntar se o nevoeiro e as nuvens que cobrem a montanha se irão manter. Explica-nos que se não se dissiparem até ao final da tarde, deverão permanecer a noite toda.
Seguimos em frente, a contar o número de barreiras para os animais na estrada como referência até chegar às massas de água. O trajecto termina com o regresso à vila da Madalena, onde fazemos as compras para o dia de amanhã (que mais parece a noite deste) e jantamos. Ao final do dia, as nuvens deram tréguas e o topo da montanha está visível.
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