quarta-feira, 13 de junho de 2018

DMZ

Dois dias antes, recebo um email do Choi, o tipo da agência que contactei para fazer o tour à zona desmilitarizada, a dizer-me que, infelizmente, a visita à Joint Security Area foi cancelada por motivos que se prendem com a cimeira entre as duas Coreias. A probabilidade deste desfecho era relativamente elevada: o complexo de pequenas estruturas azuladas, literalmente sobre a fronteira militar entre os dois países, esteve fechado todo o mês de Abril. Na altura, a possibilidade de realizar visitas em Maio ainda não tinha sido afastada mas só tinha mesmo o primeiro dia do mês disponível e um prolongamento do encerramento daquele local ao turismo não seria de todo a descartar.

Como alternativa, optámos por fazer a visita mais curta, de meio dia, que passa por três atracções diferentes. Por mais do que uma vez, a guia pergunta-nos se temos os passaportes connosco. Vão ser necessários ao entrar na zona desmilitarizada, para mostrar a um militar que entra no autocarro e olha rapidamente para cada um e para a cara do respectivo portador, antes de autorizar a entrada do veículo.

A primeira atracção é um dos túneis de construídos pela Coreia do Norte para invadir o vizinho do sul. Há inúmeros túneis do género identificados (e seguramente mais uns quantos não identificados), que foram feitos tendo em vista uma infiltração surpresa de um contingente militar que rapidamente conseguisse avançar em direcção a Seoul, que fica a algumas dezenas de quilómetros da fronteira, e tomar a capital.

O túnel que visitámos chegou à atenção das autoridades da Coreia do Sul através do relato de um dissidente do norte. Na sequência, foi construído um túnel de intersecção, com um comprimento de cerca de 350 metros e uma inclinação de 11 graus, se a memória não me falha, e que desagua no túnel original. Este último é mais estreito e baixo, e aqui sentimos a necessidade dos capacetes que nos dão à entrada: mesmo caminhando de costas curvadas, por vezes não consegui evitar uma cabeçada no tecto ou nas estruturas de metal que suportam o túnel. É preciso fazer alguns metros até chegar a uma das três barreiras de betão que bloqueiam a passagem, perto da fronteira militar subterrânea.

Daqui seguimos para o Observatório de Dora que não é mais do que uma armadilha de turistas. Trata-se de um edifício no topo de um pequeno monte com uma espécie de terraço virado para a fronteira, repleto de binóculos que aceitam moedas de 500 wons. Daqui avista-se uma paisagem que poderia ser a do Alentejo, um descampado pontilhado por uma ou outra árvore.

Finalmente, a visita termina na estação de comboios de Dorasan. No meio de nenhures, rodeada de um parque de estacionamento vazio. Dentro do edifício apenas se encontram turistas, que tiram selfies com a placa que indica a linha para Pyongyang. Ao lado, está um placard luminoso onde se lê que esta estação foi inaugurada em 2002, após um acordo celebrado entre as duas Coreias em 2000 para a reconstrução de uma linha ferroviária que as une e que foi destruída durante a guerra. Há quinze anos que a infraestrutura está pronta mas ainda não é usada.

Um militar volta a entrar no autocarro e os passageiros voltam a empunhar o passaporte aberto na página da fotografia até o autocarro partir novamente. À vinda, o trânsito está infernal e demoramos mais tempo do que era previsto a chegar.

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