Arrumo rapidamente as últimas coisas, desço o lance apertado de escadas. Dez minutos depois estamos à porta do pequeno terminal, que dá para a pequena pista, aberta no meio da densa floresta.
Enquanto uns funcionários tratam dos trâmites do check in, outros pedem para verificar a bagagem. Abro o saco e a mochila para que o funcionário possa passar a mão enluvada pelo interior. Completas estas medidas de segurança, regresso ao local do check in, onde me devolvem o passaporte e a minha impressão da reserva do voo, acompanhados de um bilhete que apenas tem o número do voo escrito à mão.
Ao lado, uma porta metálica abre para uma pequena divisória, dentro da qual outros dois funcionários tratam de percorrer os passageiros com aparelhos detectores de metais. Para demonstrar que não tenho nenhuma substância estranha na garrafa metálica, um deles pede-me que beba um pouco.
Cuidado com o degrau,
acrescenta quando transponho a porta para a sala de embarque. Algumas cadeiras à direita, na parede da esquerda, ao fundo, um televisor passa, em loop, um anúncio da fábrica de chocolates do Claudio Corallo. Calor, apesar da forte chuva que cai.
E é por causa dela que, pouco depois, funcionários com coletes entram na sala e, de forma quase solene, fazem o anúncio de que o voo está atrasado, que o avião não sairá de São Tomé antes do meio-dia, devido ao mau tempo. Somando uns 40 minutos de voo, o aparelho só deverá chegar pelas 12h40, mais o tempo de saída dos passageiros de São Tomé e embarque dos do Príncipe, calculamos que só um pouco depois das 13h deveremos arrancar, cerca de 3 horas depois da hora original.
Estou separado dos meus amigos de circunstância por duas cadeiras, ocupadas por duas portuguesas, que se levantam amiúde e falam muito e, por isso, não me deixam passar convenientemente pelas brasas. Queixam-se do calor e conseguem convencer as funcionárias a abrir mais janelas e a ligar as três ventoinhas do tecto. Uma delas repara que há uma rede wifi e pede a password a uma das funcionárias. Sigo-lhe as pisadas para avisar o fulano da empresa de aluguer de veículos, que está à minha espera no aeroporto de São Tomé, para me entregar o jeep. Enquanto digita a password no meu telefone, reparo que olha em frente: o código está escrito, a caneta, em letras e algarismos toscos, na parede amarela.
Alguns dos passageiros vão-se embora, os motoristas dos resorts de luxo levam-nos novamente para as instalações para que aguardem aí. A debandada é maior quando, pouco antes das 12h, recebemos um novo comunicado, uma vez mais com alguma pompa e circunstância: afinal, o voo já não vai sair de São Tomé senão pelas 14h, dado que persistem as condições adversas. Entretanto, no Príncipe, já havia parado de chover.
De repente, estamos só nós no pequeno terminal: eu, os meus companheiros de circunstância belgas e as 2 portuguesas. Os próprios funcionários desaparecem e não há nenhum sítio nas redondezas para onde possamos ir. A electricidade falha, ficamos sem ventoinhas e wifi. O belga, bem-disposto, brinca com a situação, que é inadmissível e que quer um reembolso. Acrescenta, em relação aos que regressaram aos resorts de luxo
They are tourists, we are travelers.
É a diferença, não trazemos a impaciência de quem vem para estes locais com a expectativa de que não vai haver nenhum impasse ou inconveniente.
Perto das 14h, os funcionários começam a regressar mas ainda não nos sabem dar nenhuma informação sobre o voo. Mas, aos poucos, os passageiros que foram esticar as pernas para os resorts – os tais turistas, na linguagem do belga – começam também a reaparecer. Trazem a boa nova de que o avião terá mesmo saído pelas 14h30.
A certa altura, há quem confunda o barulho de um carro com o das pás do bimotor. Falso alarme. Qual Fata Morgana, o Saab 340 faz-se à pista pelas 15h e picos, deixando umas 3 dezenas de pessoas extasiadas. O desembarque e reembarque são rápidos e, pelas 15h40, estamos sentados na máquina. A hospedeira embirra com a minha mochila porque estou sentado numa saída de emergência mas, como não a consegue encaixar nos compartimentos por cima dos lugares, acaba por a enfiar novamente debaixo do banco à minha frente.
Às 16h30 lá está o fulano à minha espera, com o meu nome num papel. Dá-me algumas indicações sobre o jeep e sobre o caminho até Neves. O sol põe-se pouco depois e os 40 kms em estrada esburacada, sem iluminação e com muita gente, levam-me hora e meia. Chego à roça onde vou passar a noite e estendo-me uma hora na cama até me chamarem para jantar.
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