São quilómetros atrás de quilómetros de nada. Não há povoações e não se vê vivalma, poucos são os carros com que nos cruzamos. A vegetação é escassa e rasteira, as árvores quase inexistentes. O rádio do carro atravessa a frequência toda em busca de postos e só tropeça em estática. Não que fizesse uma diferença doida. Há um som que domina tudo o que fazemos: o som do vento forte que abana o carro, que constantemente parece querer escapar-nos, fugir-nos das mãos. O ruído é tal que nos obriga a ter que falar alto para nos ouvirmos. E a fazer força para abrir a porta e ter cuidado para não voar nada.
No rent a car dão-nos um número de telefone de emergência para utilizar caso nos aconteça alguma coisa – no Chile, não devemos contactar a Hertz local mas sim aquele número (mais um sinal da inimizade dos países?). Aquilo que parece uma medida perfeitamente normal rapidamente se transforma numa espécie de piada de mau gosto: não há rede na maior parte do trajecto desolado e inóspito. Caso precisássemos de ajuda, aquele número de telefone daria tanto jeito como uma guitarra num enterro.
E depois há os animais. As vacas – os bifes têm que vir de algum lado – as ovelhas – o cordeiro patagónico tem que vir de algum lado – os cavalos. E os guánacos que, num misto de curiosidade e apreensão, vão acompanhando a deslocação dos carros de soslaio. É preciso algum cuidado porque, por vezes, atravessam a estrada numa corrida desajeitada, com movimentos desconjuntados, e saltam as vedações que separam a estrada dos terrenos que a ladeiam com uma facilidade surpreendente. Sinais de trânsito alertam para este perigo e alguns dão indicações sobre como lidar com estes bichos: abrandar (recomendação totalmente inesperada), acender os faróis e não buzinar.
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