quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Puma

À chegada à Casa Andina servem-nos chá. Não um qualquer: chá de mate de coca. Estimulante. O empregado de mesa aconselha-nos algo ligero para comer: dieta de pollo. Peço um chairo que, para o efeito, também serve perfeitamente.

O problema é o soroche, o mal de altitude. Passível de atingir quem sai dos menos de cem metros de altitude de Lima e, passado pouco mais de uma hora, aterra nos 3400m de Cusco, o umbigo do mundo. Dores de cabeça, náuseas, vómitos, diarreia, dificuldade de respirar, irritabilidade. Haganlo despacio, bebam muita água. E evitem o álcool, esqueçam o pisco sour, inca power.

Sinto um frio estranho. E, ao mesmo tempo, percebo que, por mais que me vista, não o vou deixar de sentir. É como se o corpo abrandasse, perdesse ritmo, se tornasse tão lento que nem conseguisse assegurar a sua própria temperatura. Depois habituo-me e, a partir daí, só sinto o ar seco que me fere a pele, os lábios, o nariz.

É uma questão de glóbulos vermelhos e hemoglobina. Os organismos dos locais já tiveram oportunidade de produzir mais para se adaptar às condições ásperas. Ficam com pulmões e corações maiores. De tal forma que puedo tener dos novios, afiança-nos uma das guias. Aquela que nos leva a Pisaq e Ollantaytambo, no Vale Sagrado dos Incas, aquele sulcada pelo rio Urubamba.

Cusco é o puma, Urubamba é a serpente. Só falta o condor.

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