quinta-feira, 30 de julho de 2009

Opacidade

The mirror says to the glass ‘I can see right through you”. The glass answers ‘ Don’t deflect’.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Uns minutos depois

Quantos zeros é que isso tem...?

Não vi ontem o debate.

Com alguma pena minha. Nem sequer estava a par da sua existência, ando incrivelmente distraído. Independentemente disso, convém relembrar este episódio, esta coisa, há falta de melhor definição. Dificilmente terá havido neste país maior demonstração de foleirice. Isto é provavelmente a maior pepineira de que há memória. Nem os azulejos da casa-de-banho da Ana Malhoa são concorrência à altura.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pilatos

Na casa-de-banho do meu local de trabalho afixaram um papel com as boas práticas em matéria de lavagem de mãos. Acho importante que lavemos todos correctamente as mãos mas, ainda acho mais importante do que isso, que lavemos todos as mãos. Porque há muito boa gente que trata da sua vidinha no WC e depois vai à sua vidinha sem passar pelo lavatório.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Foi isto que o jazz me ensinou

Há uma estrutura harmónica fixa onde todo o tema se alicerça. A melodia dá um mote, um tema de discurso, uma orientação. E depois a improvisação. A improvisação nunca é improvisação. Primeiro porque não existe. Não há nada novo. Assim como as linhas, as figuras, os sólidos já existem, também os sons, as notas, os acordes. Mas há a junção num discurso. Isso, sim, é novo. Segundo porque há regras. Há um tempo, uma estrutura (compassos, formas) e uma harmonia. A improvisação submete-se a estas características. É óbvio que, quanto maior o artista, maior a capacidade de manobrar estes limites, adulterá-los, contorná-los. Da mesma forma que o Saramago e o Lobo Antunes podem manipular as palavras e as regras da gramática apenas porque sabem o que fazem.

Esta é uma diferença fundamental face àquilo que se designa de música clássica (ou erudita, seja lá o que for). É claro que a interpretação da linguagem musical escrita é fundamental – senão não teríamos qualquer tipo de opinião sobre qual o melhor maestro para peças do Beethoven ou violoncelista para peças do Bach. Mas a margem de intervenção dos executantes é menor em relação à forma como a peça musical se vai desenrolar.

No fundo, é uma opção (um trade-off, para os economistas) entre diferentes níveis de duas dimensões: a rigidez e a flexibilidade. A rigidez das regras tem as vantagens de maior planeamento e credibilidade na medida em que aceita menos desvios ao estabelecido, mas tem a desvantagem de menor capacidade de encaixe de imprevistos, contingências. A flexibilidade permite uma melhor adaptação mas pode descambar em falta de rumo, orientação. Logo e concretizando, nesta discussão, a música erudita está mais próxima da rigidez e o jazz da flexibilidade.

E esta por esta razão que o jazz é uma forma de abandonar o control freakismo. Abandonemos a vontade de controlar tudo, ou seja, de ter a partitura completa, com todas as notas que vão ser tocadas. A ideia é apenas a cifra, ou seja, a estrutura harmónica do tema. Esta estrutura é um conjunto de regras relativamente sólidas, gerais, abrangentes mas que permitem uma relativa flexibilidade. Que dêem espaço de manobra, que não estejamos sempre a esbarrar nos limites que impõem. E é aqui que entra a liberdade. A não definição anterior de como se vai desenrolar a nossa intervenção.

domingo, 26 de julho de 2009

Abandonar o control freakismo.

Nem sequer estou a falar dos pormenores, das miudezas, das pequenas contingências que dificilmente se conseguem abarcar num plano de guerra, quanto mais chegar a vias de o executar. Essas rapidamente percebi que não estão ao alcance e, além do mais, pouco interesse têm, são pedritas no meio de calhaus. Os calhaus, esses sim. Estou a falar dos alicerces, das traves mestras. Das ideias centrais. É aí que está o freakismo. Em querer delinear tudo correctamente, em querer fazer correctamente a planta, burilar um plano da pólvora, com cenários hipotéticos, planos B e second-bests, contra-factuais e “suponhamos”. Largar a cortina e o palco porque tudo se esfuma.

As pancadinhas que soem, o Molière que se lixe.

sábado, 25 de julho de 2009

Uma espécie de one hit band.

E que hit: quantas vezes ouvi esta música aos berros, aos saltos com os amiguinhos pequeninos lá da escola. Mais tarde até arranjei a tablatura e cheguei a arranhar os acordes na guitarra. E depois desapareceram, nunca mais ouvi falar deles. Até agora, via Vieira do Mar, um post melancólico, saudosista. O mais curioso – ou não fosse eu um tipo assolado por coincidências – depois de ter visto no Controversa Maresia o youtube que aqui replico, nessa mesma noite ouvi a música no final de um concerto.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Lisboa by mid-afternoon

A loja não tem montra, é uma espécie de garagem que abre para o passeio da rua da Estefânia, quase a chegar ao Arco do Cego. À porta, de calça branca e pólo preto, um tipo asiático, meia-leca mas robusto, qual mestre de artes marciais, ensaia pontapés em frente a um manequim feminino. De repente, entusiasma-se e salta disparando um rotativo que passa a centímetros da cara do manequim. Ao mesmo tempo, com o impulso, uma máquina digital cinzenta sai-lhe disparada do bolso e cai no chão com um som metálico doloroso. Ainda com a perna esticada na posição do golpe, o Ninja da Estefânia vira-se para o aparelho e apanha-o do chão muito rapidamente, ao mesmo tempo que solta um riso sinistro para uma asiática que está no final do corredor.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Lisboa vista de dentro

Uns amigos espanhóis vêm a Lisboa e convidam-me para jantar. Combinamos encontrar-nos num destes dias à noite. Enviam-me um SMS “Podemos quedar en la plaza del comercio si quieres, que te parece?”. Acto contínuo, respondo que não, a Praça do Comércio não dá jeito nenhum e não há nada para fazer ali.

0,06%

Isto não faz um sentido doido: se há vírus que sofre mutações com frequência assinalável é o da gripe. Mas, se o objectivo for ficar em casa uma semanita de quarentena, a ver uns filmes, ler uns livros, ouvir música, malhar uns acordes, sonecar no sofá, entre outros, ainda vá que não vá.

P.S. - já agora, o rácio verdadeiramente interessante é 31/55000, que em percentagem dá aproximadamente o que está no título.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Dois aspectos que se destacam da lista de etiquetas que acrescentei à barra lateral

Os “jornais desportivos” portugueses têm a particularidade de ter 20, 30, 40 páginas sobre futebol e depois 2 ou 3 para todos os outros desportos que existem mundo fora. São, por isso, “jornais desportivos” e não jornais desportivos. Ora eu que sou um crítico dessa excessiva concentração, sou confrontado com os seguintes números: 40 posts com a etiqueta “desporto”, dos quais 35 têm a etiqueta “ténis” (isto porque não ponho a segunda etiqueta sem pôr a primeira). Lá se foi me a moral para criticar seja o que for.

Segundo ponto. Só tenho 3 posts com a etiqueta “Cromossoma X”. Este blog precisa de gajas. E urgentemente.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Lisboa by morning

Passo o Jardim Constantino e viro à direita para descer a Passos Manuel. Na esquina há uma mercearia. Uma senhora estica o braço em direcção a uma caixa e diz “afinal até estão rijinhos”. O dono da loja, à porta da dita, responde-lhe “vê, e a senhora a dizer que os meus tomates são moles”.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Estás mais magra. E as dores nas costas, do lado direito. Estás bem sentada em alguns sítios, não te ponham é no raio da cadeira de rodas. E deitada. De lado; sobre o lado esquerdo. Perdeste-te algures. Não estavas assim há dois meses: perdida. Nos meandros da tua memória que começou a ceder. Como um novelo que desenrola. Era o teu último bastião. Fortaleza inexpugnável. Mas até aí o peso dos anos chegou, galgou a muralha, derrotou a resistência feroz da tua vitalidade. Não sei o que custa mais, se a degradação física se a da tua cabeça: as confusões, os curto-circuitos. Já os conheço mas nunca os tinha conhecido em ti. Foi um alívio quando me reconheceste. Quando me fizeste perguntas indiscretas. Então, está a tirar nabos da púcara, é? E consegui que sorrisses. (Finalmente) aquela cara de malandra. Por entre as dores de costas e a posição lateral. Um ai fundo, um esgar profundo. Por entre os nomes trocados, a noção temporal desregulada, os desentendimentos. Sorriste. E eu pude sorrir de volta. (Finalmente).

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Não faças hoje o que podes deixar para amanhã.

Estou cada vez melhor a levar à letra a sabedoria popular. Não é bem preguiça, é uma letargia pesada, arrastada. Como qualquer boa letargia. E depois deixo mesmo tudo para amanhã. Ando há meses para fazer coisas pequenas, pequeninas, daquelas que rapidamente poderia resolver em três tempos e fazer um certinho na lista que, por acaso, até cheguei a fazer.

Apetecer. Não me apetece. E desta vez apetece-me fazer-me a vontade de não me apetecer. Chego a não fazer aquilo que me apetece só porque não me apetece fazer. E faço alguma questão, faço disso um certo ponto de honra.

Procrastinar. A forma mais chique e a roçar o científico. Para já estou a conseguir. Sem grande esforço, diga-se. O que faz algum sentido, já que o objectivo é deixá-lo de fora da equação. Ronha. Não é que o tempo passe mais devagar, continua com a mesma velocidade que só parece elevada quando olhamos para trás, por cima do ombro. Sou eu que estou mais lento. Às vezes é um estado quase catatónico. Alheamento, a não reacção a estímulos do exterior.

Estímulo. Por vezes, sinto uma certa inquietude pela inactividade. Um nervoso miudinho. Não estou habituado a isto. E então tentei enganar-me. Deliberadamente. No topo da minha lista, letras garrafais, bem redondinhas: “Não faças nada de jeito”. E, portanto, é só continuar a cumprir.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A diferença entre britânicos e irlandeses num único anúncio de aeroporto

«Attention please. For security reasons, unattended baggage will be removed and destroyed»

Aeroporto de Heathrow


“Attention please. For security reasons, unattended baggage will be removed and may be destroyed”

Aeroporto de Dublin

Insónia

Só lhe falta uma.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dublin é como um pub gigantesco.

Uma cidade onde em cada esquina há uma daquelas fachadas coloridas, com letreiros de nomes engraçados, escritos em letras bem desenhadas. Onde as poucas pessoas que não estão a beber estão a trabalhar nas gigantescas fábricas que produzem os preciosos líquidos. A cidade gira em torno das garrafas de cerveja e whisky, dos copos de pint, vive de e para eles. Se, do dia para a noite, retirassem todos os pubs ou locais onde se fabricam bebidas alcoólicas, seria certamente reduzida a menos de metade da já de si reduzida dimensão. Estou convencido que aquilo a que chamam “água” dos rios, com um tom escuro denunciador, é no fundo um tipo de stout que é obtida a partir da cevada torrada. O Médio Oriente esguicha petróleo; a Irlanda esguicha cerveja.

Os irlandeses contam-se entre os povos mais relaxados, laid-back na sua própria autodefinição. Mas também, como todos os outros, têm a sua contradição. Neste caso, traços de uma extrema seriedade. A protecção da família, constitucionalmente garantida, é uma característica interessante que os tipos levam muito a sério. Talvez até demasiado a sério, lá está. Parece que, até aos trinta anos, os irlandeses não querem saber de casamentos. Aliás, quem casa antes dessa idade marcante, casa nitidamente cedo. E isto acontece porque quem casa é para de imediato desatar a ter uma família e, muito mais grave do que isso, literalmente fazer um corte drástico com a anterior vida de solteiro. Há uma demarcação enorme entre os comportamentos associados aos dois estados civis, do dia para a noite.

Ora segundo consegui apurar, curiosamente, o álcool tem um papel preponderante naquela transição. Dada a habitual e tradicional timidez daquelas gentes, o líquido precioso cumpre o desígnio de soltar a língua, propriedade terapêutica sobejamente conhecida e reconhecida – pese embora o discurso eventualmente pouco eloquente e a fala meio entaramelada. Ou seja, se antes de casar precisam dos pubs para que, de facto, cheguem a casados, depois de casados precisam dos pubs para sobreviver à base de recordações. É caso para dizer que os pints são a alegria e a desgraça dos irlandeses.

domingo, 12 de julho de 2009

I have no time to justify to you #2

A culpa não é minha, é do T.. Eu não conhecia nada da (de…?) Dave Matthews Band e ele emprestou-me o Before These Crowded Streets. E tinha razão quando disse que ia gostar. Agora, se eu pensar a frio sobre a questão, não faz muito sentido que eu goste. E não é só o facto de que, musicalmente, por vezes a banda roce o duvidoso ou, inclusivamente, ultrapasse de facto essa barreira: as músicas com muito “love” e coisas do género são o melhor exemplo disso. É todo o resto. As piadinhas e grunhidos que o Dave faz ao microfone. O Tim Reynolds na guitarra, com aquele aspecto muito Midwestern, com o bottleneck a deslizar pelas cordas de afinação não convencional. O violinista com aquele som azeiteiro do folclore americano, que veio direito das ruas de Dublin e hoje em dia estacionou na música country. O baixista monocórdico, insípido, que dá uns passos de dança quadrados ao som do que está a tocar. Os sopros que susbtituiram o falecido LeRoy, o americano negro e muito gordo, gordo à MacDonalds, e o americano branco de cabeça rapada e pêra comprida, mais parece um convívio entre um racista e a vítima. Escapa-se o baterista, Carter, destaca-se dos demais com as luvinhas brancas e o sorriso Pepsodent.

Uma lista de críticas fundamentadas e não fundamentadas, preconceituosas e não preconceituosas. Tudo razões para não ter ido ontem ao passeio marítimo de Algés. E, no entanto, fui.

P.S. - Uma chamada de atenção para o seguinte facto. O Chris Cornell perto do final do seu set, tocou um pouco do Good Times Bad Times. O David Mateus fechou com o típico All Along the Watchtower, mas sem antes o baixista ter aberto o tema com a melodia do Stairway to Heaven e, lá mais para o final, o Tim Reynolds ter tocado o solo do Jimmy Page nota por nota. Os Led Zep têm mesmo que fazer uma tournée. Para o bem de todos, da Humanidade.

I have no time to justify to you

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Warfare

«The importance of lethal microbes in human history is well illustrated by Europeans’ conquest and depopulation of the New World. Far more Native Americans died in bed from Eurasian germs than on the battlefield from European guns and swords. (…) For instance, in 1519 Cortés landed on the coast of Mexico with 600 Spaniards, to conquer the fiercely militaristic Aztec Empire with a population of many millions. (…) What gave the Spaniards a decisive advantage was smallpox, which reached Mexico in 1520 with one infected slave arriving from Spanish Cuba. The resulting epidemic proceeded to kill nearly half of the Aztecs, including Emperor Cuitláhuac. Aztec survivors were demoralized by the misterious illness that killed Indians and spared Spaniards, as if advertising the Spaniards’ invencibility. By 1618, Mexico’s initial population of about 20 million had plummeted to about 1.6 million.»

Guns, germs and steel, Jared Diamond

terça-feira, 7 de julho de 2009

Carrinhos de supermercado

Era muito novinho quando perguntei à minha mãe a razão de ser necessário pôr moedas nos carrinhos dos supermercados para os poder usar. Foi no início das grandes superfícies porque no Polisuper lá ao pé de casa os carrinhos eram usados à vontade do freguês. Ela lá me explicou, com a paciência de mãe que fala com o miúdo, que era para que as pessoas deixassem o carro arrumado depois de o usarem. E a explicação dela lá me terá feito sentido na cabeça imberbe da altura.

E esse é talvez o motivo pelo qual me custa a perceber as moedas de plástico que o Continente faculta aos clientes. Porque se eu posso ir à menina do balcão à entrada e pedir-lhe uma dessas moedas vermelhas que simulam as de cinquenta cêntimos, então onde está o meu incentivo a arrumar o carrinho no final? Se o deixar abandonado no parque de estacionamento depois de me ter servido dele não perco os cinquenta cêntimos ou os cem paus do tempo em que fiz a pergunta à minha progenitora paciente. Ou será que a força do hábito se instalou ao ponto de superar a ausência de incentivo?

segunda-feira, 6 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

World Record

Pelo amor de Deus

Graças a Deus e à lei do recenseamento eleitoral, a partir de agora voto para a Câmara de Lisboa. Que é como quem diz, voto contra esta estirpe multi-resistente de vírus. De qualquer das formas, na eventualidade de ser eleito em Outubro – e Deus queira que não – dificilmente conseguirá outro mandato: não há subsolo que chegue na cidade para que consiga desencantar mais um suposto “programa”, apelidado de “eleitoral”.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Não tenho muita experiência a escrever textos em bloco. Ou seja, sem criar parágrafos de dimensão relativamente constante e não muito grande. Uma forma de pensar esquemática, visual: arrumar palavras, ideias, argumentos em gavetas, prateleiras. É mais forte do que eu, parece que tenho que sentir que seja possível colocar alíneas em cada parágrafo porque cada um define algo suficientemente diferente do anterior. Sou demasiado organizado, arrumadinho, é uma chatice. Talvez por isso tenha sido invadido por esta vontade doida de escrever este texto em bloco, grande, longo, espesso, difícil de ver no ecrã, daqueles que rapidamente as linhas parecem todas iguais e começamos a trocar e quando mudamos para a seguinte e estamos a ler a primeira palavra e não percebemos qual a relação com aquela que acabámos de ler e é então que nos apercebemos de que, na realidade, trocámos a linha. Nada disto verdadeiramente interessa, só preciso de carregar estas teclas e digitar estas palavras para garantir que, de facto, este texto fica longo, mesmo longo, sem dúvida o suficiente para criar aquele efeito que leva a que pessoas troquem as linhas. E depois há a punchline. Isto sim já interessa. Não há nada como punchlines. Há todo o resto de um texto, pode ser um livro inteiro, um romance, mas se não tiver uma punchline decente não presta. Adoro punchlines. Adoro a sensação de ter uma punchline e espremer um texto de propósito para a aplicar no final como a última frase isolada, exposta, aquela frase corajosa que carrega o estandarte pelo meio do campo de batalha e enfrenta o fogo inimigo sem medo de levar com a bala contra a qual não pode ripostar porque não tem arma. Mas também adoro a sensação de começar a escrever um texto sem saber como ele vai acabar. Deixá-lo evoluir e ver que punchline ele tem para me oferecer. Claro que, se o processo não corre suficientemente bem, fico pior que estragado, a punchline, feliz ou infelizmente, tem o poder para me destruir o bom humor. Mas quando resulta… quando resulta justifica todas as outras tentativas frustradas que faço para escrever textos com parágrafos espaçados, delineados, constantes, regrados, equilibrados, daqueles que dá para colocar alíneas à frente porque as ideias estão tão arrumadinhas, limpinhas, penteadinhas, no fato de domingo para ir à missa. Às vezes tenho esta vontade de acabar com isso, não levar mais as minhas ideias à missa, tornar-me numa espécie de herege e tentar quebrar pelo menos algumas dessas regras que, de uma forma quase subreptícia, aplico aos textos que costumo escrever. Acabar com a facilidade de leitura, tornar difícil, fechar as portas e as janelas, as entradas e as saídas.

E acabar com a punchline.