As ruas do Soho estavam repletas de mesas a ocupar o asfalto, onde gente descontraída conversava, enquanto bebia. Galgámos, em passo estugado, as centenas de metros de distância a que o Uber (ou Free Now ou Bolt) teve de nos deixar, devido a um trajecto temporariamente bloqueado. Já passava das 17h30 a que as portas abriam e os lugares não eram marcados, apenas a zona dos bilhetes era pré-definida. A hora não era a melhor, mas a segunda sessão da noite, assim como as datas de sábado, já só tinham zonas de visibilidade reduzida disponíveis. Foi assim que decidimos optar por esta solução de final de tarde de 6a feira, cientes de que seguramente iria envolver uma correria para conseguir despachar o trabalho e sair a tempo de navegar na hora de ponta.
Pela segunda vez, dei por mim na fila para entrar no Ronnie Scott's. Desta vez para o espectáculo principal: da primeira vez, estive no espectáculo de menos destaque, que tem lugar no "upstairs". Dei o meu nome ao recepcionista e uma funcionária levou-nos às cabines disponíveis para sentar. Ficámos do lado direito do palco e aproveitámos para pedir jantar de imediato e evitar fazê-lo depois da música começar.
O espectáculo em causa foi escolhido em função das datas em que estaríamos em Londres e não - sem qualquer desprimor, mais uma consequência de ignorância - porque conhecesse os artistas em causa. Enfim, em boa verdade, resultou de uma busca online dentre as várias alternativas existentes: a possibilidade de ver uma banda homenagem a Jimi Hendrix é sempre difícil de descartar.
E depois há as características da banda, que só se tornam possíveis num local destes. Uma big band que, para além do guitarrista, líder da banda, de um teclista e da secção rítmica, tem três naipes de sopros, de quatro elementos cada: saxofones (barítono, tenor e alto), trompetes e trombone de varas. Ou seja, um total de 16 (sim, dezasseis) músicos em palco. Esta não é uma formação típica de bar de jazz, pelo menos aqueles que associamos a caves pequenas e escuras; em alguns, nem caberiam no palco. É necessário uma audiência grande e bem pagante, com jantar incluido, e duas sessões por noite, para que uma formação do género possa ser rentável.
Ou seja, dito de outra forma: entre bilhetes e jantar, gastámos uma pipa de massa. Mas valeu bem a pena. O concerto arrancou com o Ain't no telling (primeiro vídeo abaixo), que me pôs de imediato a cantar e, no final, a responder à pergunta "quem sabe o nome desta música?", o que mereceu um gesto de aprovação do saxofonista alto. Depois disso foi uma enxurrada de temas de Hendrix, com óptimos arranjos, que deram uso e exploraram os inúmeros recursos que uma formação destas permite. Passado umas duas horas, regressámos à movimentadas ruas do Soho com uma barrigada que era mais de groove do que do jantar em si.
(o segundo vídeo é de uma gravação de um espectáculo feito no início do ano, sem público, durante o confinamento)
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