segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Ainda sobre a escolha da Kamala

Um dos comentários que Obama fez quando escolheu Biden para o seu "ticket" foi a diferença de opiniões entre ambos. O antigo presidente frisou os aspectos positivos de ter, ao seu lado, alguém com opiniões distintas em vários assuntos para o aconselhar. Não preciso de ninguém que concorde comigo. É uma postura refrescante, característica de quem aprecia a discussão e o confronto de opiniões. E, sobretudo, de quem tem a confiança e a coragem para não se rodear de yes men e women, que se limitam difundir o discurso que emana do lugar cimeiro, ao mesmo tempo que abanam a cauda, numa subserviência calculada. Uma lição neste país onde, como referiu António Barreto na entrevista à RTP de há algumas semanas atrás, existe o resvaladiço conceito de "confiança política".   

Biden aposta na mesma complementaridade: Kamala deve ter sido quem mais o atacou durante a campanha democrata e alguns desses ataques, durante os debates, tornaram-se soundbytes. Derrotada nessa circunstância, é agora repescada para uma possível vice-presidência, que pode vir a ter uma preponderância maior que o cargo normalmente implica, por razões estritamente naturais: Biden tem quase 80 anos. Mesmo que o resultado das eleições seja diferente e Trump permaneça um segundo mandato na Casa Branca, este convite tem o potencial para cimentar a hipótese de Kamala vir a ter sucesso numa futura candidatura à eleição democrata. 


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