domingo, 22 de abril de 2018

Pole

Os termos North Pole e South Pole remetem para polacos a norte e a sul.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Mad women

Peggy: A pretty face comes along and everything goes out the window
Joan: Well I learned a long time ago not to get all my satisfaction from this job
Peggy: That's bullshit

quinta-feira, 19 de abril de 2018

segunda-feira, 16 de abril de 2018

domingo, 15 de abril de 2018

Tudo começou com um profundo estado de negação.

Vincado e, aparentemente, irredutível. Depois, lentamente, as brechas foram surgindo, como nuvens que se afastam deixando entrever o sol. Nessa altura, sem perceber bem e repleto e dúvidas, ficou reticente. Até que as reticências o conduziram a um misto de aceitação e conformismo: deu por si num estado de afirmação. Embora conseguisse agora dizer que sim, sentia-se vencido mas não convencido. Questionou-se, numa longa e árdua introspecção, sobre as razões e as motivações, num profundo estado de interrogação. Tudo terminou quando, repentinamente, após tropeçar na resposta, mergulhou num estado de exclamação. Daí para a frente, eufórico, munido da resposta que lhe dava uma certeza e lhe conferia uma certa autoridade sobre os demais, passava a vida naquilo que considera ser um modo indicativo sem, no entanto, tolerar uma reacção condicional. Por sua vez, os outros começaram a vê-lo como um tirano, constantemente em modo imperativo. Quando confrontado com essa opinião exterior, não aceitou e limitou-se a negar a evidência.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Core values

O termo "core" é um frequentador habitual de ginásios: fortalecer os músculos do "core" ou, unicamente, o "core", é um desiderato típico da patrulha do desporto. Na génese latina estava a palavra que significava "coração", palavra essa que está também na origem, por exemplo, do "coeur" francês e do "cuore" italiano. O que é interessante porque, com este ponto de vista em mente, fortalecer os músculos do "core" seria o equivalente a puxar pelo miocárdio ou coisa que o valha.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Puro instinto

Muitos (e longos) anos de uma vida a dar aulas de português no secundário faziam com que até na missa dividisse as orações.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Piada alavancada

O recurso a calão ou sexo no humor é equivalente a uma estratégia de investimento financiada por dívida: se correr bem, o retorno é maior; se correr mal, é uma treta porque continua a ser necessário pagar a dívida. É uma espécie de piada alavancada, onde o calão ou o sexo é a dívida.

domingo, 8 de abril de 2018

As doze tonalidades, em simultâneo, do parabéns

Quando um grupo relativamente composto de pessoas se junta para cantar (massacrar) os parabéns, acontece amiúde que cada uma das pessoas opte, de uma forma quasi-aleatória, por cantar numa das 12 tonalidades (e, se calhar, em algumas para além destas). A actuação pode ser vista como um exercício de contraponto complexo e elaborado, por vezes com alguns elementos de cânone à mistura, que é seguramente mais difícil de executar do que se, pura e simplesmente, toda a gente cantasse em uníssono, na mesma tonalidade. Essa convergência surge, por vezes, quando se inicia a segunda estrofe da canção, na mesma altura em que tipicamente se começam a bater palmas. Tenho sempre muita dificuldade em entrar e acompanhar a cantoria: nunca sei por quem devo afinar-me, são demasiadas escolhas possíveis.


sexta-feira, 6 de abril de 2018

Speak Low pregam o retro-futurismo acústico aos fiéis da Culturgest

(Publicado originalmente aqui)

A funcionária da Culturgest explica-me que o concerto foi transferido do Grande para o Pequeno Auditório. Nem é bem a mim, é a um cavalheiro desagradável, que, devido à circunstância, resolve furar a fila para reaver o diferencial do preço do bilhete enquanto a senhora me atende. A decisão de alteração da sala é acertada que, mesmo consideravelmente mais pequena, nem assim enche.

Lucia tal como Lucía em espanhol, Cadotsch como se tivesse acento na primeira sílaba e o “o” da segunda como se fosse um “u”, tal como nós, portugueses, gostamos de fazer, a torto e a direito, nos “o” que não acentuamos. A jovem cantora, de origem suíça, é acompanhada por Otis Sandsjö no saxofone tenor e Petter Eldh no contrabaixo, ambos suecos e também eles jovens. Os três entram vestidos de preto da cabeça aos pés: fico na dúvida se morreu alguém ou se vamos assistir à haka dos All Black.

Uma introdução no contrabaixo e, pouco depois, estamos a ouvir a voz de Cadotsch a cantar “Hush now, don’t explain, just say you’ll remain”. É um início directo ao assunto, sem papas na língua que, após a exposição do tema, prossegue para um solo de saxofone que, lentamente, desagua no “Speak low”, o tema que dá nome tanto a este trio, como ao seu álbum de 2016. Billie Holiday e Nina Simone são as grandes referências onde este grupo suíço/eco vai buscar as suas versões; mais à frente vamos ouvir, entre outros, “Ain’t got no”, “Deep song” e o clássico arrepiante “Strange fruit”.

Cortar a música às fatias, aos blocos e aos pedaços (não resisto: aos boCadotsch), numa espécie de dissecação de um ratinho numa aula de biologia. Com uma diferença relativamente importante: o objectivo não é deixar o pobre bicho esventrado, mas sim refazê-lo, voltar a colocar e colar tudo novamente no sítio ou, pelo menos, num qualquer sítio. Assim como o vaso de louça, uma coisa de valor, quiçá da dinastia Ming, que caiu ao chão e se escaqueirou e cujo valor – pecuniário, à partida, sentimental, à chegada – justifica um esforço aturado de puzzle acompanhado de um tubo de super-cola.

Com uma diferença: pese embora o vaso Ming que se partiu continue a ser reconhecível após ter passado pelo processo de montagem e colagem, não regressa à sua versão original. Tem agora formas um pouco diferentes, arestas aqui e ali. Sobretudo está menos liso, mais áspero e anguloso, contundente. No caso do bichito, a comparação levar-nos-ia até um rato de Frankenstein, com as marcas das cicatrizes e dos pontos onde os bocados foram cosidos.

E – apesar da estrutura da formação sem instrumento harmónico, apesar da sonoridade crua que alguns identificam com free jazz, apesar da severa desconstrução das músicas, apesar das frases repetidas na interação entre o contrabaixo e o saxofone, como se se tratasse de uma samplagem de hip hop ou do ritmo de uma bateria (ou caixa de ritmos) – o resultado final é inesperadamente melodioso, quase doce e delicado. Talvez pelo contraste, como no tema “Black is the colour of my true love’s hair”, no qual a suavidade da voz de Cadotsch sobressai na coabitação com o momento intenso do saxofonista, um solo quase rude, feito de frases entrecortadas, como um discurso espontâneo de pouco preparado, dito através de sons metalizados e repletos de harmónicos.

Pela primeira vez reparo no nome do ciclo “Isto é jazz?”, onde se insere este concerto e tantos outros. Um ciclo onde, quiçá, o mais importante é o ponto de interrogação. Uma boa pergunta, verdade seja dita, que já merecia, se não uma resposta concreta e cabal, pelo menos alguma reflexão, com a devida profundidade. “Retro-futurismo acústico”: na ausência de resposta à pergunta anterior, contentemo-nos com a auto-designação que o grupo faz da sua música. Um termo que mete algum respeito: trata-se, afinal de contas, de três palavras, que não são umas quaisquer palavras e que chegam a ter, inclusivamente, um hífen a justapor duas delas (digo-o sem, na verdade, ter uma preferência entre justaposição e a aglutinação, ambas têm os seus méritos e encantos).

Avancemos até ao final do set. Neste momento, acabamos de ouvir “Wild is the wind”, os artistas juntam-se ao fundo do palco para as vénias da praxe e saem pelo cortinado. O público aplaude com algum entusiasmo mas, antes que ficasse com ideias, as luzes da sala acendem-se e esfumam a expectativa de (sequer) um encore. Cá fora, na bancada do bengaleiro, há CDs, vinis e cassetes à venda – é oficial, o vinil (já) está démodé.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

XL

Em numeração romana, o quarenta é o maior. Claramente maior do que, inclusivamente, o mil.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Aprenda a tocar músicas pós-modernas, tal como no tempo das jukeboxes, no Coliseu de Lisboa, e sem sair de casa, com Scott Bradlee

(Publicado originalmente aqui)

É já bastante perto do final do set que Adam Kubota (possivelmente da família dos fabricantes de tractores e máquinas de jardinagem), o único dos membros originais da formação em palco, dirige umas quantas palavras ao público. Relembra que, de uma cave em Queens e de cachets pagos em sandes de falafel, o projecto, com cinco anos de existência, foi crescendo, sobretudo através das redes sociais. E que não tinha grandes dúvidas que a ideia de Scott Bradlee – escrever arranjos para canções pop e arranjar “world class entertainers” para as executar – era uma fórmula de sucesso.

De facto, a receita desta Postmodern Jukebox, ou PMJ no acrónimo pelo qual também é conhecida e que faz lembrar uma sociedade de advogados, parece ser relativamente simples: pegar em temas que todos conhecemos e dar-lhes uma volta com arranjos que remetam para meados do século passado, para perto dos anos 20 e 30, por altura da Lei Seca nos EUA. O resto é um cuidadíssimo mise en scène que pretende retratar algo parecido com um speakeasy e – atrevo-me a acrescentar – aqui e ali, com requintes de cabaret.

Abundam no youtube filmes com interpretações que vão do “Lovefool” dos Cardigans e do “Ops I did it again” da Britney Spears, ao “Nothing else matters” dos Metallica e “Black hole sun” dos Soundgarden. A formação apresentada é maleável, adapta-se ao tema e ao respectivo arranjo: a somar à secção rítmica, que normalmente conta com o próprio Scott Bradlee ao piano, podemos ter naipes de sopros a fazer lembrar big bands, coros masculinos e femininos, formações de cordas, até soluções menos ortodoxas, como uma harpa e o sapateado a cumprir o papel de percussão.

O elemento central é, no entanto, a voz (ou, melhor dito, vozeirão) de uma ou mais divas que, elegantemente caracterizadas à época, ocupam o papel principal (e não, não me estou a referir ao da Adelaide Ferreira), projectada através de um daqueles microfones quadradões, à boa moda antiga, que relembram os primórdios da rádio.

E como se transporta esta ideia da cave do apartamento de Scott Bradlee em Queens e do youtube para um palco? Mais ou menos assim: mantém-se uma secção rítmica de base, assim como o piano (electrónico) e acrescenta-se um guitarrista (que, por vezes, pega num banjo). A estes, junta-se um trombonista e uma clarinetista que também tem um saxofone. E, posso desde já avançar, sem estragar (muito, quase nada) o que aí vem, também canta. Finalmente, arranjam-se três senhoras cantoras, munidas de três portentosas vozes, e um cantor careca que tem ainda a tarefa importante de ser uma espécie de apresentador dos Oscáres: aquece o público, introduz os restantes elementos da banda, diz piadas, etc. E, claro, como não podia deixar de ser, há um tipo que faz sapateado em cima da barra metálica, colocada no lado direito do palco, lá à frente para se ver bem, e com um par de microfones a captar o som das solas.

As luzes do Coliseu apagam-se com alguns minutos de atraso. Os elementos da banda assumem as suas posições e o tal tipo careca (vou assumir esta designação ao longo do texto porque o nome Coonio (parecido com Coolio) que tenho nas minhas notas não produz nenhum resultado aceitável numa busca no Google) surge com a energia típica de um coelho da Duracell, desejando as boas noites ao público ao mesmo tempo que, à la Cab Calloway, arranca uns quantos “hi-de-hi-de-hi-de-ho” do “Minnie the moocher”, antes de iniciar o primeiro tema da noite, “Thriller” de Michael Jackson, acompanhado ao sapateado. Detentor de uma tessitura notável, o nosso amigo careca tem uns agudos algures entre Axl Rose nos primórdios e metaleiro dos que gritam “heaaavvyyy meeetaaall” a fazer corninhos com as mãos: mais depressa parecem conseguir ferir tímpanos alheios do que produzir danos nas próprias cordas vocais.

“Lisbon, make some noise” e, após a normal reacção do público, “now that sounds like a party”. Seguem-se três temas que funcionam como apresentação, uma a uma, das três divas da noite: ao primeiro tema “You give love a bad name” de John Bon Jovi, segue-se o “Single ladies (put a ring on it)” da Beyoncé e “I’m not the only one” de Sam Smith.

Um pequeno comentário “passadeira-vermelha” ou próprio de um programa da SIC Caras: as senhoras com deslumbrantes vestidos – que, assim como o nosso amigo careca, vão trocando inúmeras vezes, ao longo das várias entradas em palco, como se estivéssemos numa passagem de modelos – quais Jessicas Rabbit, arrebatam a audiência não só com a voz sensual, mas também com o andar e os gestos lânguidos. “Gentlemen, hang on to your hats; ladies, hang on to your men”. Relembram-me a célebre imagem da Audrey Hepburn no “Breakfast at Tiffany’s”, com o cigarro na ponta de uma cigarrilha gigante.

O quinto tema é clássico dos Jet “Are you gonna be my girl”, interpretado pelo nosso amigo careca que, em abono da verdade, foi um dos seus destaques e praticamente mandou a casa abaixo, fazendo uso de toda a sua extensão vocal. A meio do tema, de joelhos no chão, tronco para trás com as costas quase a tocar no chão, a clarinetista/saxofonista faz um solo, desta vez com o segundo daqueles instrumentos, com o pé apoiado na perna estirada do cantor.

E é assim que termina aquilo que pode ser considerada a primeira parte do concerto. Feitas as apresentações iniciais e o devido aquecimento da audiência, o espectáculo entra em velocidade cruzeiro e as interacções com o público são reduzidas. Ouvimos o enorme clássico “I will survive” de Gloria Gaynor, assim como uma versão com ritmo latino do “This love” dos Maroon 5, o “Toxic” da Britney Spears, “Where are you now” do Justin Bieber, entre outros. Lembram-se quando disse que a clarinetista/saxofonista também cantava? Pois é verdade e a única vez que o fez, pelo meio dos outros temas que referi, deu-nos uma interpretação do “No surprises” dos Radiohead que, para os meus ouvidos, foi um dos grandes momentos da noite.

Tenho inevitavelmente que destacar o tema de Meghan Trainor “All about that bass”, cuja adaptação foi uma das conquistas de Scott Bradlee. Os músicos deixam os seus lugares e avançam todos até à beira do palco, já de si bem composto, uma vez que este é um tema que envolve as três cantoras. Parecem uma marching band de Nova Orleães e executam um conjunto de coreografias que, no final, conseguem arrancar uma gargalhada de umas das cantoras. E, não consigo não o fazer, tenho que voltar a destacar um tema de Radiohead, desta vez o “Creep”.

Há uma certa teatralidade em todo o desenrolar dos acontecimentos, um pouco à semelhança dos musicais americanos. A performance é toda ela planeada ao mais ínfimo pormenor, desde a set list aos números de sapateado, do guarda-roupa até, inclusivamente, às piadas, daquelas que apenas necessitam de trocar o local do concerto para funcionar em qualquer sala de espectáculos. Dos poucos momentos que me parecem ter sido fora do guião: a escorregadela e subsequente (perdoem-me a terminologia técnica) bate-cú do homem do sapateado quando fez a entrada em cena no Thriller, logo ao início. A ter sido intencional, o tipo é mesmo bom.

Chegamos ao final do set com o “Tomorrow” do filme “Annie”, uma música que tinha o condão de alegrar a pequena quando se sentia triste no orfanato. Os músicos virão ao palco ainda para dois encores: “Chandelier” de Sia e “Shake it off” de Taylor Swift. Nesta última, é pedido ao público do Coliseu, que tinha ficado de pé após uma ovação ao primeiro encore, para não se sentar e “shake what your mama gave you”.

Scott Bradlee criou uma espécie de franchise. Sem sair do conforto do lar, lança as tournées da sua banda que, apesar da rotatividade dos elementos que a compõem, mantém as características-chave do conceito de espectáculo que delineou. Esta jukebox pós-moderna leva-nos, com tanto de vintage como de kitsch, até há 100 anos atrás, mas com músicas deste presente ou, pelo menos, passado bem mais recente. Lá está, como o próprio nome indica, músicas da pós-modernidade, uma jovem nascida após a queda do Muro de Berlim. O negócio não deve estar a correr mal: apesar das cerca de duas horas de espectáculo, algo me diz que, se desse para meter mais uma moeda na jukebox e escolher mais um tema, o público não teria hesitado.