domingo, 23 de fevereiro de 2014

À minha frente estão duas senhoras de alguma idade.

Daquelas que vão às compras com carrinhos de rodas pequeninas para transportarem as coisas mais facilmente para casa. A primeira já acabou de arrumar tudo, já pagou. Passa por detrás da estrutura para onde escorregam as coisas que compramos antes de as enfiarmos nos sacos e vai cumprimentar a rapariguinha que se senta de frente para a caixa e para o tapete rolante preto. Deseja-lhe as maiores felicidades, que corra tudo bem. A menina sorri o que pode – seja o que for, não está manifestamente contente.
Recomeça o processo, as compras da senhora que está imediatamente antes de mim na caixa começam a ser processadas, vasculhadas em busca dos códigos e de barras que apitam quando passam em frente à menina da caixa, escorregam para aquela estrutura onde ela espera com o saco de tecido que trouxe de casa – esta não tem carrinho de duas rodas pequeninas. Quando chega ao fim, depois de anunciado o preço total, depois de pago o preço total, a menina volta a despedir-se.
A partir de amanhã não estou aqui.
A senhora faz um ar um pouco espantado, a menina explica que vai para outro sítio, que a colocaram noutra loja.
Eles também agora passam a vida a fazer-vos mudar de um lado para o outro.
E a menina diz-lhe que já estava nesta loja há quatro anos.
Entretanto as minhas compras começam a avançar, começam a apitar e ela diz-me o bom dia que diz a toda a gente, pergunta-me
Vai desejar saco?
o saco que oferece a toda a gente e
Tem poupa mais?
que deve ser um daqueles cartões que todos supermercados têm e eu, calculando que seja isso, digo que não, não tenho, e a senhora ainda está na estrutura onde se arrumam as compras, ainda não processou tudo, ainda tem coisas para lhe dizer, que corra bem e sobretudo que tenha saúde
O mais importante é a saúde.
A menina agradece com o mesmo sorriso forçado, dorido porque ela não está contente e aparentemente preferiria ficar naquela loja onde já está há quatro anos e não ir para outra, como lhe mandaram. Despede-se da senhora, passa os restantes artigos e diz-me
São dezasseis euros e vinte e seis cêntimos por favor.

Sem comentários:

Enviar um comentário