Há uma certa confusão na discussão em torno do assunto do piropo que veio agora à baila e que está relacionada com a própria definição. Um piropo é suposto ser um galanteio, algo agradável. Ora isso não se coaduna de forma nenhuma com aquilo que vai designado por “poesia de andaime” – expressão que em si encerra um enorme estereótipo – e que é efectivamente o tipo de “piropo” que mais se ouve na rua. Parece-me relativamente óbvio que este tipo de abordagem não prima propriamente pela simpatia. Ainda assim, para quem não está totalmente convencido, basta atentar que ainda está para nascer a primeira senhora que, de tão lisonjeada, decida aceitar as propostas do cavalheiro e passar das palavras aos actos. Eu pelo menos nunca vi um final feliz do género. Tanto quanto me lembre nunca fui alvo de nenhum “piropo” (já piropo até me atreveria a dizer que sim) mas, daquilo que já ouvi dirigido a terceiros – perdão, terceiras –, não estou a ver que aceitasse caso fosse eu o visado – perdão, visada. E aqui é que está a questão: a poesia de andaime não tem como objectivo central conquistar a donzela a quem se destinam as quadras. A não ser que, dada a fraquíssima taxa de sucesso desta estratégia, queiramos admitir que nenhum dos poetas é capaz de perceber que vai a algum lado insistindo na mesma tecla, qual treinador que teima no mesmo onze perdedor.
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