quinta-feira, 24 de maio de 2012

Stolen moments

A placa de fundo azul tinha uma indicação em vermelho: chiuso, closed, fermé, gesperrt. Paramos num restaurante para nos certificarmos que a estrada está mesmo intransitável. A senhora italiana fica a olhar para mim quase condoída quando se apercebe da minha desilusão por não conduzir o Passo dello Stelvio.

Voltar para trás. Há outra estrada que nos vai permitir entrar na Suíça e atravessá-la até chegar ao sul da Alemanha, às margens do lago Constança. Porque razão estaria o Passo fechado, não perguntei à senhora. Pode ser mau tempo mas estamos na segunda metade de Maio.

Os quilómetros vão-se seguindo. Voltamos a subir, há outro passo, é preciso atravessar outra montanha. Este tem uma indicação em verde numa placa de fundo azul. Estradas sinuosas, voltamos a subir com ravinas impressionantes. As gotas de chuva tornam-se mais pesadas e lentas, desfazem-se contra o pára-brisas.

De repente a chuva é neve. Lá no alto – dois mil e tal metros – a escuridão é maior, a noite caiu e é inverno. Descer novamente, com cuidado, há algum gelo na estrada. Já passa das nove da noite, não faltam muitos quilómetros mas são estes quilómetros difíceis de curva contra curva.

À terceira placa de fundo azul foi de vez. Nova indicação vermelha. Está fechado. Desta vez vê-se claramente a cancela que bloqueia a passagem para o início da subida. Como raio se sai daqui outra vez? Não se sai. Estamos numa pequena vila (aldeia?), paramos num de dois hotéis com pinta de poiso para entusiastas de ski.

A senhora batalha com inglês, o alemão é suíço. Ouve-nos e diz: são portugueses? O filho que veio para a ajudar com a comunicação esboça um sorriso, sendo assim já não precisas de mim. Temos alojamento e temos jantar, bem servido, tarde e más horas.

No dia seguinte falo com o filho. Tenta em italiano e eu pergunto-lhe se podemos mudar para alemão. Auf jeden Fall. Diz-me que a estrada ainda está fechada. Pergunto se é a neve a derreter, ele diz que não é bem isso mas não percebo exactamente a explicação que me dá. A saída? Comboio para Klockers. Um túnel de quase vinte quilómetros percorrido por um comboio que nos leva dentro do carro. Vinte minutos de escuridão que termina no outro lado da montanha. No lado onde as estradas estão abertas.

Seguimos viagem.

Sem comentários:

Enviar um comentário