terça-feira, 5 de abril de 2011

Foram capazes de ter sido estes quadros. É possível, não nego.

Num deles o Armstrong. Sentado, o corpo ligeiramente cortado, o alto da cabeça também. Segura o trompete perto do bocal, o instrumento poisa no chão perto dos pés. Os sapatos pretos, as meias brancas, um laçarote. O olhar está concentrado em qualquer outra coisa, lá longe, fora daquilo que conseguimos ver. Não tem nada a ver com aquela expressão bonacheirona com que é associado, aquele sorriso enorme. Parece velho e cansado.

No outro quadro, o Ellington. Com uma pose de duque, claro, sentado de costas para o piano. Vemo-lo pelo reflexo do espelho de um camarim, na bancada uma série de frascos – um deles diz baby powder – e produtos, a gravata pendurada a um canto. Ao fundo, um armário, repleto de fatos pendurados. Impecáveis, exactamente como aquele que veste e o cabelo muito penteado para trás, com brilhantina.

No último, Sonny Stitt, desconhecido para mim. É uma daquelas imagens típicas de jazz: um saxofonista fotografado por entre fios espessos de fumo de um cigarro pousado num cinzeiro infecto: o cinzeiro, mais perto, desfocado, o músico, mais longe, focado. Um holofote projecta um feixe de luz por detrás, que faz disparar o brilho do metal do saxofone e dos dedos a pressionar as válvulas.

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